terça-feira, 19 de abril de 2011

Um texto para a semana santa (sic!)

Porque deus prefere o infanticídio às praticas abortivas.
Há uns anos passou-se um infeliz julgamento sobre a humanidade. Não vale a pena repetir pormenores. Escorre hipocrisia e cinismo por todos os lados, e sem dúvida parece coisa de pessoas desajustadas toda essa estória de criação, queda, pecado, enfim, uma perda de tempo. Mas, dizem os livros em vários idiomas que ele, o inominável, vulgarmente denominado Deus, ou mais recentemente Jesus Cristo - J.C. (para alguns mais íntimos e entusiasmados), resolveu punir a todos pelo erro de um, que respondia pela alcunha de Adão, obrigando à humanidade a procriação.
E ela procriou, procriou, procriou até infestar o mundo das mais variadas gentes, umas matando e perseguindo as outras por toda parte. É impressionante a quantidade de coisas que se consegue esconder dentro da carcaça de um ser humano. E deus ficou zangado por haver muitos homens que ele mesmo mandou procriar, cada um fazendo da sua forma a felicidade própria.
Não muito tempo depois, e não se sabe porque, esse mesmo deus enervou-se com a teimosia de certo faraó por este não querer rever a lei das migrações. Para isso encarregou um tal de Moisés para se deslocar ao palácio e apresentar a exigência e as ameaças que decorreriam devido ao seu descumprimento. Resumidamente, o faraó mediu o embaixador de alto a baixo, e pondo a cabeça de perfil como atesta abundante iconografia da época, mandou o Moisés falar com as múmias.
Profundamente irado com a tolice dos mortais e usando os seus poderes, deus decidiu então organizar uma lista de pragas. Da lista consta o uso de armas químicas e biológicas que envenenaram as águas e limparam as searas com gafanhotos transgênicos. Não satisfeito e divinamente alterado, não contendo em si seu desejo de vingança, esse infeliz decidiu também matar todos os primogênitos e assim se fez. Para grandes males, grandes remédios.
Os tais migrantes saíram do Egito para a Terra Prometida. O faraó mandou os exércitos atrás deles. Consultando o seu manual de física quântica aplicada e chegando à conclusão de que não havia tempo para construir um muro ou uma ponte, o todo poderoso abriu o Mar Vermelho para o povo passar com o pé devidamente e ainda por cima divinamente enxuto. Os outros que os perseguiam, afogaram-se. Ficou tudo registrado num filme chamado "Os Dez Mandamentos". Um dos mandamentos diz: não matarás! Não se percebe a lógica. Os desígnios de deus são, de fato, insondáveis.
Uns anos à frente, um tal de Herodes, preocupado com uns boatos sobre o nascimento de um rei que lhe tiraria o poder, repete a façanha. Mais outra carnificina de recém-nascidos machos. O suposto rei escapou-se para o Egito sem tirar as devidas conclusões dos fatos supracitados. Não aconteceu nada. Ou já não havia faraó, ou tinha mudado a lei das migrações. Outros tempos. Ficou tudo registrado noutro filme daqueles que passam na Semana Santa. Uma vez esse tal rei teria dito: "Deixai vir a mim as criancinhas". Não se sabe se elas foram. Há demasiado desastres com crianças nesta e noutras histórias.
Mas, o que estava escondido até o momento e que foi revelado bruscamente para a humanidade, é que aquele que tudo pode, sem saber se deve matar antes – induzindo uma prática abortiva massiva - ou depois do nascimento as crianças primogênitas, fez uma consulta aos anjos celestiais. Estes após longo debate deliberaram que deus não deveria se privar do seu prazer de exterminar as crianças, em suas fúrias contra os homens, mantendo assim a proibição de práticas abortivas pelos homens, para que se proliferem mais que o recomendado pela sã consciência, havendo assim mais vítimas para serem atingidas, criando espetáculos cada vez mais audaciosos e cruéis.
Aquele deus então descobriu, porque o povo diz que “ele escreve certo por linhas tortas”: preferia matar primogênitos, ou mandar matar, o que sempre é mais fácil para alguém poderoso como ele, do que deixar ao livre arbítrio humano a morte dos seus fetos, ainda mais quando a decisão última está na mão das mulheres, sempre tão difíceis de tomarem decisões.
Bem aventurados os simples que podem gozar de sua santa inocência!
Conclusões intempestivas:
- Deus prefere matar ou mandar matar as criancinhas ao invés de deixar nas mãos humanas uma decisão tão simples, que a grande maioria se recusa a realizar uma ou outra vez durante a vida.
- O tema da chacina de crianças presta-se muito para filmes.
- A moral judaico-cristã tem um currículo pouco recomendável.
- O Oriente Médio tem um desassossego de milênios.

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