sábado, 30 de abril de 2011

Uma estranha característica

Possuo uma característica que vem se acentuando desde a adolescência: ou me amam, ou me odeiam. E quem me ama hoje, por vezes, amanhã, me odiará, e quem antes me odiava, de repente, pode começar a me amar. Não promovo sentimentos amenos nos demais, nem mesmo a indiferença, quando conhecido. Contudo, como tudo, posso ser esquecido ou abandonado, ou, mais contemporâneo, deletado, via de regra, como uma reação intempestiva a algo dito ou não dito por mim. Sendo eu mesmo incapaz de amar ou de odiar, como poderia corresponder seja ao amor seja ao ódio alheio? E de pouco vale afirmar que cultivo os afetos amenos como a amizade, alguns esperam algo que sou incapaz de dar: o monopólio de minhas atenções.

Meu otimismo

Não poucas vezes fui acusado, erroneamente, que carrego algum tipo de pessimismo, já me chamaram até de amargo, estigma que carrego só porque descrevo a realidade. É verdade que tendo a achar que a vida está piorando, ainda que mais pessoas se tornem consumistas e o padrão de vida econômica mundial esteja melhorando, pois o fato relevante nessa história é que as praças de alimentação dos Shoppings estão cada vez mais ocupadas, e você terá que ficar esperando, com a comida esfriando, por um lugar. Compra-se mais embalagens, compra-se mais porcarias que não se usa, só para ter, todos empacotados e produzindo lixo.
Pessimista seria se achasse que deveria ser diferente, ou se fosse viver tempo suficiente para assistir o caos de lixo e merda flutuando pelos oceanos. Felizmente meu fim será bem mais breve e daqui pouco tempo já estarei morto, mesmo porque, de natureza frágil, adoeço com facilidade. Além disso, pouco sofro com as crises econômicas, ou de guerra. Na verdade, se fosse para temer alguma coisa, o que mais temo são catástrofes nucleares, pois que essas circulam pela atmosfera. Mas, nem isso temo realmente, é só uma especulação. Logo, considero-me um otimista, sem preocupação com o futuro, ou pelo menos com o meu futuro. E se descrevo o que está ruim da pior forma, é porque sei que o que está ruim pode piorar. Não torço por isso, apenas observo e relato o que vejo do alto da minha insignificância. E o que sei é que o homem está semeando hoje uma catástrofe imunda para o futuro, que deixará todos atolados no lixo e na merda.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Terra à vista!

Olhe para frente, olhe para os lados, depois olhe para trás, e se não avistar alguma terra em nenhuma direção, posso garantir, merda é pouco para a sua situação.

Um princípio

Considero que todos têm o direito legítimo de viver com sua imundice com toda dignidade. Desfruto deste direito sem muito esforço; de todos direitos, o mais fácil de desfrutar, basta nada fazer. E eu surto com o barulho da limpeza alheia, aquelas faxinas que ligam os diabólicos eletrodomésticos logo cedo, despertando-me do sagrado sono a que todos temos direito. Ruído é uma sujeira que não aprecio. Como realizaram a loucura de comprar tamanho disparate de instrumentos, não sei. Sei apenas da loucura que é toda vez que se utilizam dessas máquinas escravizantes, seja no carnê da prestação, seja no seu uso diário.

Numa reunião social

Fui convidado para uma reunião social na casa de um amigo. Lá encontrei vários conhecidos e pessoas novas. Uma dessas pessoas ficava perguntando que tipo de macho cada homem seria. Tentei fugir o quanto pude de responder tal questão, mas quando fazia menção de sair da roda, um amigo fez questão de lembrar:
 - Falta Alguém responder o tipo de macho dele.
Sendo inevitável o confronto, pus-me a expor a questão do meu modo. Disse que, em primeiro lugar, não era um macho, mas antes um reles homem com todas as idiossincrasias que isso acarreta. Em segundo lugar, se fosse possível ser um macho, não seria do tipo alfa, aliás, de qualquer letra, afinal sou contra a reprodução. Em terceiro lugar, essa coisa de macho é coisa de pessoas inseguras de sua sexualidade. Em quarto lugar, mas não menos cruel, afirmei que os poucos machos que conheci, andavam de quatro. Ao fim, chamou-me de bicha, e todos riram. Depois muitos agradeceram a forma como encerrei a tola discussão.

Sobre autores

Aqueles que retiram palavras do lugar comum e usam para expressar suas idéias e defenderem suas posições, a estes é dado o nome de autor de palavras. E, no entanto, quanto não deve a tantos autores antes dele? Quantas idéias não lhe ocorreram se não tivesse lido este ou aquele outro autor? Os autores de palavras são úteis porque provocam outros tantos, que de tanto ler as merdas ditas por aí, já não teme vir na praça e falar as próprias.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Da série pensamentos evacuados

Os tolerantes que agüentem o peido alheio; eu mal suporto o meu............

Não me joguem na vala comum!

Não coloque rótulos em mim, sou um frasco muito liso para que grudem. Não me defina, nem sequer expresse julgamentos, cometerá equívocos. Nunca me estabilizei num conceito, nem sequer num nome, já tive vários durante a vida; muito menos busque algum enquadramento social para mim, logo eu que sou tão socialmente insociável.
Não me venha querer colocar em algum rebanho, seja torcendo por um time, seja por um candidato ou mesmo alguma religião: tenho erros próprios para serem cometidos. E detesto a multidão trotando pelos lugares, cega e surda a tudo que não seja seu interesse particular, passando sem me cumprimentar, ignorando a minha humanidade, passando por mim como se fosse algum tipo de obstáculo.
Como então devo ser visto? Como alguém sem adjetivos, que tem mais substância que qualidades, aquele que atravessa a merda da vida falando das cagadas humanas.  Enfim, devo ser visto como alguém que tem um futuro, além do passado e do presente, de merda! E veja que nisso sou muito parecido à grande maioria.... Há tão pouca originalidade entre as pessoas, apenas diferenças miúdas e epidérmicas que procuram engrandecer diante do pouco exigente mercado de afetos, que não poucas vezes compra gato por lebre.
Meu grande destaque é nada ter a ser destacado. Alguém comum, mas por ser diferente de uma ervilha, pensa. Uns se consideram incomum pelo seu físico, outros pelo seu profissionalismo, outros pela inteligência, uns por serem honestos, outros por serem leais, outros tolerantes, e tantas outras qualidades que se encontra no dicionário, enquanto eu, se não anuncio qualidades, também não escondo meus infindos defeitos. Sou tão humano....
Fiz muito esforço para ser ninguém. Tentações não faltaram para desviar-me da minha trajetória ininterrupta a ser alguém não afamado, não assalariado e um não consumidor contumaz. Um homem comum e cidadão do mundo é o que ambiciono para mim.

Notas sobre o meu existir N° 10

Não pense que é fácil relatar o ocorrido. Reluto em lembrá-lo, descrevê-lo é quase um masoquismo. Mas, a verdade tem lá seu encanto, ainda que no mais das vezes nos desencante com a crueza dos fatos escancarados em suas miudezas tão humanas.
Enfim, na terceira hora entrou o monsenhor em sua pose triunfante de quem tem a força do castigo nas mãos, seguido de um séquito de parasitas a concordarem submissos com todas as suas observações.  Estranhei carregarem todos os livros que mantinha no meu claustro. O texto manuscrito e ensangüentado encontrava-se nas mãos do padre vigilante, meu chicote imundo de tantas baratas mortas também estava, além de alguns cadernos de anotações.
Monsenhor, sem pedir licença a ninguém, começou a falar.
- O padre professor passa bem e lembra vagamente do que ocorreu. Sua única certeza é que este infeliz – apontando nitidamente para mim – levantou uma tese absurda de que se faz bem a um cristão ao matá-lo. Depois ele lembra que a turma estava dividida entre se concordava ou discordava dessa heresia. Logo após foi atingido e acordou diante do médico. Bom, meus caros seminaristas, quem concorda com o ponto de vista deste indivíduo, levante a mão!
Nenhuma mão se levantou, a não ser, é claro, a minha. O monsenhor olhou com rancor, ou até mesmo ódio, para mim e disse:
- O senhor tem alguma coisa a dizer?
- Gostaria de saber o que está acontecendo.
- Então você não sabe? O senhor provoca uma tragédia, que só não foi maior graças à intervenção divina, e não sabe o que está acontecendo?
- O senhor vai me desculpar, mas nada provoquei. E a graça divina, se existiu, foi pífia, poderia ter impedido o ocorrido, caso quisesse ou achasse necessário. Não fui quem atingiu o professor, nem nada ordenei nesse sentido, basta interrogar meus colegas. Apenas, defendia uma leitura heterodoxa das escrituras, fundamentada na Carta Acerca da Tolerância de Locke......
Ele gritou:
- Basta, chega de autores não católicos! Basta desta argumentação demoníaca! Olhem o que encontramos entre as coisas desse pecador insaciável: O Livro Negro do Satanismo, Malleus Maleficarum, naturalmente, na sua vulgata portuguesa “Manual da Caça às Bruxas”, pois até o momento é uma nulidade em latim, Corpus Hermeticum e Discurso de Iniciação de Hermes Trismegistos, O Livro dos Mortos do Antigo Egito, O Grande Alberto, História da Magia.....
Interrompi o monsenhor.
- Mas, senhor, esses livros são em decorrência dos estudos que estou elaborando em colaboração com o professor de História.....
- Cale-se!
Dirigiu-se ao professor de história e indagou:
- É verdade?
- Sim, ele está fazendo alguns apontamentos para mim, auxiliando-me nos meus textos didáticos.
- O senhor tem certeza que ele usa esse material apenas para suas pesquisas, não fará ele, secretamente, uso indevido desse material, cultivando um culto secreto ao escuro, ao demônio?
- Para ser honesto, não acredito. Ele simplesmente não acredita em nada, mas lê sobre tudo.
- Devo entender, então, que o senhor o está defendendo. Mas, está fazendo uma acusação ainda mais grave ao seminarista, pois não só não cultiva deus, mas nada, sendo, portanto, um ateu incurável, é isso que devo entender?
- Bom, se for para recriminá-lo, diria que ele nem ateu é. Para mim, ele nem se dá ao trabalho de querer destruir a crença dos outros. Ele é um indiferente com as questões religiosas e só as estudas para se divertir com aquilo que classifica da infinda ignorância humana. É fundamentalmente um cínico, epígono de Diógenes.
O monsenhor ficou meio perplexo. Parte de suas certezas foi por terra. Calado, olhava para os demais para saber que rumo dar as “investigações”, ou seja, estabelecer um culpado e uma pena. Um murmúrio corria a sala onde estávamos. Foi, então, que meu padre confessor se manifestou.
- Senhores, verdade que não avistaremos nenhuma das virtudes cristãs de forma típica nesse seminarista, mas acredito que não é capaz de provocar ou mesmo cometer vícios, com exceção, talvez, da leitura. Certamente, não mata, não rouba e não mente. Aliás, sua honestidade é o seu maior defeito. Creio que devemos começar a interrogar os alunos, separadamente, para tentar entender o que ocorreu. Mas, devemos interrogar o acusado em primeiro lugar, antes de tentar atribuir-lhe uma culpa que não lhe cabe e correndo o risco de nem descobrir o erro que cometeu.
E aqui sim começa a parte cruel, quando todos os seus colegas saem, e você só, diante de quinze ou mais inquisidores, tem que responder várias perguntas simultaneamente, todas ardilosamente feitas para te confundir. Arcaicamente acreditam que a verdade brota da dor e aplicam os suplícios nos infelizes que, por um motivo qualquer, muitas vezes banal, caem sob suspeita. Antecipo que resisti com todas as minhas forças, tanto quanto pude, ainda que, ao fim, sucumbi, como qualquer mortal diante da dor. Friso que a crueldade foi coletiva, pois cada um, trancafiado no seu claustro, sem escutar senão gritos dos supliciados, fica a imaginar o que o outro está contando, o que ele sabe sobre você e possa revelar para aliviar a dor própria, enquanto demoradamente espera a sua vez de ser interrogado. Muitos vomitam, mas a grande maioria, invariavelmente, se caga.

Pensando em você

Todo dia penso em você e em alguma coisa para ser escrita. Tendo a achar que há pessoas que esperam minha manifestação. Por isso dizem que sou um desocupado, que ao invés de fazer alguma coisa útil, findo constrangendo alguém com meus escritos fedorentos, e aumentando a desocupação alheia, já que por vezes abandonam o trabalho pelas besteiras aqui escritas. Se consigo afastar as pessoas do trabalho, não sei, mas todo esforço é para esse intento. Sou um franco defensor do ócio criativo. Assim, pensando em você, venho quase todos os dias falar alguma merda, para que a identifique e não pise, e nem tanto para evitar sentir a fedentina, que é inevitável, afinal, a sabedoria tem lá seus odores.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Quanto menos vale, mais apreciam

O casamento em si já é uma coisa arcaica, que deveria ser feita escondida. Mas, um nobre, ou mesmo um príncipe casando é potencialmente muito mais arcaico e decadente, para não dizer ridículo. Que os britânicos apreciem a sua realeza é até aceitável, afinal eles que são explorados. Porém, os outros povos, as outras nações republicanas, os cidadãos (e não súditos!) do mundo como podem dar tanto destaque para esse rito bárbaro, arcaico e degradante? Esses parasitas da casa real que vivem da usurpação dos impostos para manterem-se na sua arrogância, soberba e decadência, deveriam ter o tratamento dispensado aos soberanos, o desprezo. E se acha cruel minha sugestão é porque não percebe a crueldade que é mantê-los na sua pose e circunstância, encastelados em seus palácios ostensivos, repleto de lacaios. Naturalmente, não podemos negar o direito de casar e ostentar, assim como vender imagens e chaveirinho, da realeza; decadente mesmo é ver milhões de pessoas querendo assistir essa coisa degradante ou comprando essas porcarias.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Porque celibatário

Não apenas recuso-me a casar, sou contra o casamento. Uma instituição em decrepitude. Afora o fato que também me recuso a ter filhos. Mas, não se enganem, ao ser celibatário está interdito a convivência, não as relações sexuais, que o diga o afamado celibatário e atual presidente do Paraguai, pai de inúmeros rebentos de consumistas. Entretanto, o que realmente me levou a essa posição radical em tão tenra idade, foi constatar que era incapaz de amar, ou pior ainda, que o amor em si mesmo é uma grande cagada, um sentimento moral e uma alucinação cultural. Constatei que o afeto que realmente me toca é a amizade, os afetos amenos e os bons gestos, e estes estão distribuídos entre todos. Ainda que os amigos achem louvável da minha parte (um a menos no mercado do amor), algumas amigas acreditam que só falo isso porque ainda não encontrei minha cara metade, algumas até tentaram curvar-me aos seus encantos. Ao que respondo que para encontrar alguma coisa é preciso procurar, e uma cara inteira ou pela metade não está no rol das coisas que procuro, que são poucas coisas: paz e sossego.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Meu humanismo

Prova maior do meu humanismo não há do que me recusar a ter filhos. Não aumento o número de consumistas contumazes que se arrastam pelas ruas das cidades. E não se iludam aqueles que crêem ingenuamente que podem “educar” seus filhos, para deixarem de cultivar a futilidade da vida diária e passem a cultivar valores mais altos, por exemplo, os cívicos, pois o caldo cultural é bem maior do que qualquer carisma pessoal. Tenho amigos que não quiseram dar brinquedos em forma de arma para o filho, por serem pacifistas, ao fim gastaram muito com psicólogos. Como para viver há um custo caro ao planeta, e como somos muitos, e quase todos querem ter filhos, quem os evitam, contribui mais com o meio ambiente do que qualquer ecologista gastando combustível para protestar por aí, e fazendo filhos. Quer contribuir com a humanidade, não a aumente!

Autodescrição sumária

Se fosse possível descrever-me com simples palavras, diria que sou apenas alguém atemporal, visto que cago e ando para o tempo. É apenas uma coisa que passa tediosamente para sempre. Enquanto eu, uma pessoa comum do povo, apenas assisto e evito participar das barbáries humanas se atualizando nas ações cotidianas de todos afobados para ter mais, seja que porcaria for, fama, poder, fortuna ou mesmo pessoas.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A respeito da suposta santidade humana

Não acredito em anjos ou santos, e desconfio de quem queira ser: admiro a humanidade com suas fraquezas, com seus ódios, com suas invejas, com seus ressentimentos. Não vivo com pessoas sobrenaturais, mas com homens que amam e odeiam, são leais e infiéis, que admiram e querem ser admirados. Penso que as pessoas sofrem por um homem ideal ao invés de procurar em si a dor do homem real.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Um texto para a semana santa (sic!)

Porque deus prefere o infanticídio às praticas abortivas.
Há uns anos passou-se um infeliz julgamento sobre a humanidade. Não vale a pena repetir pormenores. Escorre hipocrisia e cinismo por todos os lados, e sem dúvida parece coisa de pessoas desajustadas toda essa estória de criação, queda, pecado, enfim, uma perda de tempo. Mas, dizem os livros em vários idiomas que ele, o inominável, vulgarmente denominado Deus, ou mais recentemente Jesus Cristo - J.C. (para alguns mais íntimos e entusiasmados), resolveu punir a todos pelo erro de um, que respondia pela alcunha de Adão, obrigando à humanidade a procriação.
E ela procriou, procriou, procriou até infestar o mundo das mais variadas gentes, umas matando e perseguindo as outras por toda parte. É impressionante a quantidade de coisas que se consegue esconder dentro da carcaça de um ser humano. E deus ficou zangado por haver muitos homens que ele mesmo mandou procriar, cada um fazendo da sua forma a felicidade própria.
Não muito tempo depois, e não se sabe porque, esse mesmo deus enervou-se com a teimosia de certo faraó por este não querer rever a lei das migrações. Para isso encarregou um tal de Moisés para se deslocar ao palácio e apresentar a exigência e as ameaças que decorreriam devido ao seu descumprimento. Resumidamente, o faraó mediu o embaixador de alto a baixo, e pondo a cabeça de perfil como atesta abundante iconografia da época, mandou o Moisés falar com as múmias.
Profundamente irado com a tolice dos mortais e usando os seus poderes, deus decidiu então organizar uma lista de pragas. Da lista consta o uso de armas químicas e biológicas que envenenaram as águas e limparam as searas com gafanhotos transgênicos. Não satisfeito e divinamente alterado, não contendo em si seu desejo de vingança, esse infeliz decidiu também matar todos os primogênitos e assim se fez. Para grandes males, grandes remédios.
Os tais migrantes saíram do Egito para a Terra Prometida. O faraó mandou os exércitos atrás deles. Consultando o seu manual de física quântica aplicada e chegando à conclusão de que não havia tempo para construir um muro ou uma ponte, o todo poderoso abriu o Mar Vermelho para o povo passar com o pé devidamente e ainda por cima divinamente enxuto. Os outros que os perseguiam, afogaram-se. Ficou tudo registrado num filme chamado "Os Dez Mandamentos". Um dos mandamentos diz: não matarás! Não se percebe a lógica. Os desígnios de deus são, de fato, insondáveis.
Uns anos à frente, um tal de Herodes, preocupado com uns boatos sobre o nascimento de um rei que lhe tiraria o poder, repete a façanha. Mais outra carnificina de recém-nascidos machos. O suposto rei escapou-se para o Egito sem tirar as devidas conclusões dos fatos supracitados. Não aconteceu nada. Ou já não havia faraó, ou tinha mudado a lei das migrações. Outros tempos. Ficou tudo registrado noutro filme daqueles que passam na Semana Santa. Uma vez esse tal rei teria dito: "Deixai vir a mim as criancinhas". Não se sabe se elas foram. Há demasiado desastres com crianças nesta e noutras histórias.
Mas, o que estava escondido até o momento e que foi revelado bruscamente para a humanidade, é que aquele que tudo pode, sem saber se deve matar antes – induzindo uma prática abortiva massiva - ou depois do nascimento as crianças primogênitas, fez uma consulta aos anjos celestiais. Estes após longo debate deliberaram que deus não deveria se privar do seu prazer de exterminar as crianças, em suas fúrias contra os homens, mantendo assim a proibição de práticas abortivas pelos homens, para que se proliferem mais que o recomendado pela sã consciência, havendo assim mais vítimas para serem atingidas, criando espetáculos cada vez mais audaciosos e cruéis.
Aquele deus então descobriu, porque o povo diz que “ele escreve certo por linhas tortas”: preferia matar primogênitos, ou mandar matar, o que sempre é mais fácil para alguém poderoso como ele, do que deixar ao livre arbítrio humano a morte dos seus fetos, ainda mais quando a decisão última está na mão das mulheres, sempre tão difíceis de tomarem decisões.
Bem aventurados os simples que podem gozar de sua santa inocência!
Conclusões intempestivas:
- Deus prefere matar ou mandar matar as criancinhas ao invés de deixar nas mãos humanas uma decisão tão simples, que a grande maioria se recusa a realizar uma ou outra vez durante a vida.
- O tema da chacina de crianças presta-se muito para filmes.
- A moral judaico-cristã tem um currículo pouco recomendável.
- O Oriente Médio tem um desassossego de milênios.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Notas a respeito de uma filosofia intestina – O mundo, a vida e a bosta do homem

Se estiverem certos alguns cientistas ao afirmarem que a matéria está em expansão pelo universo, quanto mais a matéria do universo se expande pelo nada fazendo tudo, mais se estreitam nossas possibilidades de conhecê-lo. Naturalmente, o problema não está em não conhecê-lo, afinal, estamos na Terra há tanto tempo sem saber muita merda, que não fará muita diferença, quando desapareçermos da face do planeta, pouco ou mesmo nada saber. Podemos continuar sem saber a verdade do mundo por muito tempo ou para sempre, e nem por isso deixaríamos de levar a vida como estamos levando, como fizemos até agora. O problema não é não saber, mas atribuir ao que não se entende, algo que se entende menos ainda. Uns acreditam que o mundo foi criado, muitos que há um criador, outros que ele sempre existiu. Para mim, não faz a menor diferença.
O universo é o paridor, parido ou não; pode ter sempre existido, sem início e sem fim, apenas a realizar uma transformação material eterna. Como parte deste universo e como seres desfrutando da liberdade, somos paridores de mundos no diálogo dos nossos palpites sobre a existência. Não obstante, o universo é repleto de coisas que não conhecemos e talvez nem venhamos a conhecer; pode não ter uma explicação ou não encontrarmos uma designação. Afirmar mais do que isso, é afirmar algo sobre o que não se sabe e talvez não se possa saber, ou mesmo haja o que saber.
Para o universo é indiferente a existência ou não da divindade, uma questão colocada por crenças antigas arraigadas no imaginário do homem comum. Na infância da humanidade, criaram-se as diversas divindades, algumas ainda sobrevivem até os dias atuais, como algo que era os olhos a tudo ver e punir os injustos, garantidor da justiça e da ordem social; a religião, assim com o militarismo, foram as primeiras formas de organizar as sociedades civilizadas no mundo antigo, até a criação da política. Milhares de deuses sucumbiram junto com os povos que os cultuavam. E tudo que se pode saber sobre essa criação antiga é o que os homens do passado disseram e os presentes acreditam. Assim, aculturados desde o início da amamentação em alguma religiosidade, só com muito esforço uma pessoa pode se libertar das doutrinas domésticas e ousar pensar por conta própria. Só esses exercem a liberdade de andar desamparado e tropeçar com pernas próprias.
Como são as crenças que movem as pessoas, não a verdade ou sequer uma suposta realidade, toda ela arquitetada pelos valores morais, mais do que por uma suposta percepção das coisas, seja lá o que se diga, as divindades persistem pela humanidade, adoradas sobre diversos nomes e permitem, até hoje, sob sua égide, cometer as mesmas barbáries que ocorrem desde a antiguidade. A laicização social advinda da criação política amenizou as manifestações religiosas, mas não impediu que pessoas mais fracas e imaturas, inspiradas por suas alucinações, cometam enormes cagadas até nos dias atuais em nome de alguma divindade. Nesse sentido, ainda que possa existir ou não uma ou várias divindades, o problema é o que os homens fazem com elas.
Logo, nesse mundo material que cria um mundo natural e a vida, e cria o homem, dessa espécie decorre inúmeros mundos, em grande parte apenas imaginários, e cada um desses mundos imaginados coletivamente se tornam um mundão, e em seu mundinho tenta solopar, se apropriar, expropriar, usurpar, ou mesmo liquidar o mundo alheio. Cada um agarrado ao mundo do seu deus ou deuses, se acredita superior aos homens e ao deus ou deuses adorados nos outros mundos, a tal ponto que pode até fazer guerra contra os demais. E como é impossível haver um só deus ou deuses para todos, na medida em que cada mundo imagiado pelos diversos homens fica fechado sobre si, confirmando mutuamente suas crenças, os homens se matam por seu deus ou seus deuses. Um desperdício de gente.
Proporia a descrença na divindade como uma espécie de proposta humanitária, se isso pudesse ser discutido, mas creio que tal hipótese sequer será levada a sério. Assim, uma das coisas do mundo com a qual temos que aprender a conviver, é com as lutas religiosas que se dão não apenas com armas, mas com a pressão sobre governos e Estados para fazerem proibições sociais e individuais, ou impedirem manifestações religiosas ou laicas dos demais. A religiosidade é um fenômeno do mundo humano com o qual todos se deparam, mas principalmente os ateus e agnósticos, que, como minorias, raramente são levados em conta nos cálculos sociais a respeito do que permitir ou proibir.
É óbvio que é impossível saber quantos mundos existem, talvez, tantos quanto somos nós, e mais difícil ainda seria enumerar o que existe e não existe em cada um deles, e impossível seria chegarmos a um acordo sobre a realidade das coisas, ou sua importância, ou a importância dos homens. Ainda assim, conversamos, debatemos, discutimos, tentamos estabelecer um entendimento comum. Éramos bem mais brutos há alguns séculos passados e estamos amenizando nossos debates, e conseguimos conviver com discordâncias de opiniões, pelo menos dentro de certos limites. Se alguma coisa for possível fazer para amenizar ainda mais as discussões humanas, de tal modo que a discordância não chegue no ódio, ou pior ainda, na punição do contrário, a mesma emergirá de algum debate civilizado.
Falar é o que nos distingue das demais espécies. Ainda que falar demais ou de menos seja a razão porque vamos à guerra, é também falando que se pode estabelecer a paz. Falar fez a humanidade se emancipar de muitos medos e temores, de inúmeras superstições, ampliou seu conhecimento e autoconhecimento, e tem permitido uma certa prosperidade material e também espiritual, com as trocas individuais e culturais que se ampliam com o desenvolvimento dos meios de comunicação. A fala comunga os esforços em função de algum bem comum, a fala traduz nossos interesses e gostos aos demais, e nos faz entender os interesses e gostos dos outros. E permite também ofender e separar as pessoas.
Portanto, a fala, assim como a divindade, depende do uso que se faça para estabelecer seu valor. É um instrumento que, por mais que se anseie a precisão ou a evidência ao se enunciar alguma coisa, dificilmente consegue um entendimento unívoco. O dito é interpretado e daí tudo pode ocorrer, se entende, se deforma, se distorce, se perde o sentido. Não basta saber falar, é preciso aprender a recepcionar o dito, buscar um entendimento completo antes do que o sentido. Isso se aprende ainda que haja poucos a ensinar.
E assim falando em falar já disse muito sobre o mundo. Disse que falamos sobre o mundo e discordamos a seu respeito. Disse que o homem, filho da vida natural, é um falante. Disse muito sobre a vida, mas não disse o que é a vida. Ainda que vivo esteja, que dela desfrute ou padeça, não sei dizer o que seja, ainda que possa descrevê-la com minúcias. Creio que ocorre mais ou menos assim, todos queremos permanecer vivos ainda que pouco saibamos sobre a vida propriamente falando. Há o temor da morte, mas não é isso propriamente que faz a maior parte se agarrar a vida. Creio que seja suas possibilidades o que encanta: viver é ter a possibilidade de realizar o que ainda não foi feito, mas se deseja realizar. A vida é uma espécie de desejo de continuar desejando. O fato é que da vida pouco se sabe e muito se deseja.
Tenho para mim que a vida é simples, ou se come, ou se é comido, e mesmo um grande comedor, acabará comido. E o homem é apenas parte da cadeia alimentar, um onívoro, é verdade, mas palatável à várias espécies, além dos abutres que afinal comem qualquer porcaria morta, até eles mesmos. Isso do ponto de vista da natureza. Do ponto de vista humano a coisa se complica, a vida pode passar de algo sagrado à algo desprezível da noite para o dia, de século para século, de pessoa para pessoa. Um feto pode passar de um aglomerado de células à uma coisa sagrada dependendo do lado do muro que se está. E há quem possa decidir a verdade da vida diante de tantas verdades distintas? Bom, tenho a minha verdade, a vida é o que faço dela.
E ainda que todos sejamos homens, o que seria o homem? Falo da espécie e não do gênero, pois daí mais merda encontraríamos. O homem é um ser que fala, e grande parte do que diz pouco vale, o resto vale menos ainda, eis minha suscinta definição da humanidade. O que não quer dizer que a humanidade não seja capaz de grandes ditos e grandes feitos, mas isso é raro, o comum é ver massas de pessoas lutando para sobreviver ao canibalismo natural e humano, ou não serem ludibriados pelas falas alheias, ou tentando ludibriar os ouvidos dos demais. Há sentimentos, mas esses, em grande parte, ou são confusos, ou são mutáveis, ou são volúveis, ou são fúteis, ou são inúteis, e nas vezes que oferecem algum conforto emocional, em grande parte são instáveis e suscetíveis aos pequenos gestos. O amor à uma pessoa pode se transformar em ódio por um pires quebrado. Via de regra os melhores sentimentos são construídos juntos, mas é difícil, pois que os homens competem, até mesmo entre os sexos. Competir se aprende de pequeno, brigando com os irmãos pelo melhor presente dos pais.
Falando assim pode parecer meio melodramático, mas para ser honesto acho trágico. O homem é um bosta e, o pior, faço parte dessa merda. Sofrerei na carne todas as cagadas humanas, mesmo que de povos distantes, ainda que seja mais perceptível pelos que me são mais próximos. Seja o progresso, seja a recessão me atingem, mesmo que nada faça ou queira me salvaguardar. Mesmo eu, que nada tenho, é mais fácil viver quandos todos têm e jogam coisas fora, do que quando ninguém tem e todos querem pegar o que encontram.
Para ter o homem faz o possível, o impossível e a safadeza, bem usual. O homem apossa-se de tudo, de cada parte, das minúcias, das miudezas e até das coisas minúsculas, mas principalmente das grandes extensões, e, infelizmente, de pessoas. Isso é a maior bosta que faz e pode fazer, mas é feito por gigantescas massas de gente. Mesmo o famigerado sentimento de amor é um tipo de posse, um tipo de escravidão mais amena, voluntária. E pessoas amam até sanduíche. Quando dizem que me amam, por vezes, tenho a sensação de ser tão somente um sanduíche que, como todo sanduíche, acabará em bosta evacuada.
Alguém poderia alegar que estou depreciando a mercadoria para vendê-la barata, que o homem é capaz de grandes gestos e nobres atitudes. Não nego essa possibilidade, apenas observo a raridade de sua ocorrência nos eventos cotidianos. E nem preciso assistir os noticiários ou ler os jornais, pois daí é que veremos só desgraça mesmo, já que isso é que alimenta as notícias diárias, pouco afeita aos grandes gestos, que são na verdade pequenos, como a reles honestidade. Mas, não! Não quero vender o homem, ele não tem preço, tem valor. Quem pensa que compra alguém, vende uma imagem pior de comprador, e quem se deixa vender, é porque não vale nada mesmo, e aí se pode estabelecer qualquer preço.
Por fim, os que atravessaram esse pântano de bosta até aqui exposta, que sobreviveram às minúcias da descrição de parte da fedentina humana, que acredito que sejam poucos, poderiam deduzir ou induzir que tenho algum tipo de ressentimento com relação à humanidade. Ao contrário, tenho uma imensa gratidão de ter nascido após tantas e cruéis cagadas humanas; se não impedem de ser um cagão na atualidade, ao menos permitem que não cometa as cagadas passadas. Além do que permitem que possa dizer qualquer bosta, o que até algum tempo atrás não se podia. E se não enuncio grandes positividades sobre o homem e aparentemente saliento muitas negatividades, o fato é que acho tais categorias impróprias ao fenômeno humano: o homem faz o que pode, não o que quer. Apenas não me limito a ficar patinando na merda alheia calado, que por aí estão para os incautos pisarem despercebidamente. Se falo da bosta é para não pisarem, nem tanto para sentirem o cheiro, que todos conhecem.
Isso é parte da discussão do que acontece com nós, pobres mortais, seres evacuantes. Há consequecências terríveis a serem verificadas por uma análise mais minuciosa. E isso será feito nas próximas partes deste fétido tratado filosófico.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Eu não só falo bosta!

Alguém que acompanha desde o início minhas postagens, poderia legitimamente indagar: “Mas que merda! Você só fala bosta?” Responderia que não é verdade, falo também do usual, informal, casual e cotidiano coco, da sofisticada e aristocrática fezes e ainda do acadêmico excremento. Se há algo bem distribuído pela humanidade é sua capacidade de fazer cagadas. Se posso por vezes parecer insistente ou mesmo repetitivo, tal fato se deve à repetição e insistência da ocorrência da merda diária. Ora, vem alguém e realiza uma bosta. O que, inadvertidamente, pisa na mesma, ao invés de limpá-la, faz merda encima, então, chama-se o Estado, e daí a cagada está feita. O fato é que me sinto o papel higiênico que limpa o urânico anus, passando e repassando o papel várias vezes, tentando retirar a sujeira encravada e expondo tudo até que pareça limpo.
Não! Não é um papel agradável, é solitário, causo muito asco. Remexer na merda, pegá-la, por vezes agarrá-la, é coisa que poucos narizes conseguem, e mesmo assim só após muito treino. Sei que isso traz estigmas difíceis de serem superados; sei que isso me torna odiado por muitos, mas é a missão que assumi diante da consciência que sentia da fedentina por toda parte: avisar as pessoas da existência, extensão e consistência da bosta para não baterem ou pisarem. Mas, como muitos estão chafurdados na merda, se lambuzando e nem se dão conta, quando aponto para o fato, dizem que sou eu o nojento, ou que só falo bosta, acusações sempre à mão contra os filósofos.

Outro pesadelo

Essa noite tive outro pesadelo horroroso. Era candidato à presidência e todos iriam votar em mim, pois, merda por merda, acreditavam que pelo menos disso eu entendia até com certa maestria. Nos debates da TV, não só trazia à tona a merda toda, como lhe dava o destino adequado para aqueles que sabem não patinar na bosta. E era adorado pela elite e pela plebe, que acreditavam que tinha o poder do papel higiênico.
Mas, essa era a parte agradável desse pesadelo de proporções diluvianas. Cheguei a ser eleito. Minha ministra da justiça queria por todo mundo na cadeia e colocar cada um na linha; vagabundos aos montes pediam asilo político nas embaixadas e filas quilométricas se espalharam pelo país em todos os consulados. A ministra de higienização com suas essências e doces odores retirava a fedentina de todo lugar e de cada repartição. A limpeza era tanta que poucos ousavam adentrar os prédios públicos sem antes passar por um banho e apresentar a ficha de antecedentes criminais. Já o ministério de assuntos diversos, aquele que levantava a ficha corrida de tudo e todos que aparecem pedindo favores, era para quem, ao não saber o que fazer com um problema, empurrava o trabalho sujo. O ministério de assuntos estratosféricos foi criado para que o povo tenha o que pensar, nem que seja bobagem, porque o vácuo mental é gigantesco, e era responsável pela cultura e diversão. Quanto a mim, do alto do poder, ia assistindo a merda sendo canalizada para o devido caminho, adubando a horta e as frutas. E então o país entra no primeiro mundo, um país onde havia uma privada para cada duas pessoas: eis o mínimo necessário para que todo cidadão possa defecar em paz. O mundo estava tão feliz comigo, que acendeu o sinal de alerta: tem algo errado.... É um pesadelo, que merda, pensei no sonho. E, não deu outra, como todo pesadelo de final infeliz, acordei cagado.
Se Freud explica, não sei, mas até o momento acredito que ainda não sou um caso de polícia. Mas, se por acaso, verem algum santinho de campanha política com a minha feição sombria, internem-me: se não estou louco, perdi o caráter, o que é bem pior.......

Aos que de alguma maneira se sentem incomodados

Se o que digo te incomoda é porque há algum fundo de verdade, ainda que não possa ser o absolutamente verídico. Se o que falo te ofende é porque foi levado para o lado pessoal, quando estou falando com a humanidade, pois ainda que as pessoas incorram em uma ou mais merdas aqui descritas, não considero que por alguém incorrer em uma ou mais ocorrências seja um bosta, apenas que comete alguma cagada, como todos, principalmente eu. E pode-se cagar num lugar e ser perfeito em outra ocasião. Se descrever algo da vida de forma que parece que aquilo é uma coisa menor, não é porque seja ou me sinta maior ou superior, é porque tem gente que fala do tempo, de flor, de si, de amor, e eu falo das bostas da vida. Agora, há aqueles que ficam bravos de qualquer modo, seja lá o que se diga, por vezes, só por saber que é a minha voz. Para esses não há muito que ser dito, mas se quiserem ouvir, fiquem à vontade: as orelhas de minha mãe estão acostumadas a ficarem vermelhas por ofensas a mim dirigidas......

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Da série pensamentos evacuados

A grande cagada da vida não é propriamente cagar, mas feder. Cagar todos cagam, mas poucos deixam os excrementos e seus odores transcenderem o sagrado reino do trono da privada, onde está e deve ficar toda realeza humana.

Notas sobre o meu existir N° 9

O padre vigilante entrou na sala assustado, quase todos amontoados sobre o professor e sem saber o que estava acontecendo, e o que é mais preocupante e importante para os vigilantes, sem saber quem era o culpado. Agarrou um aluno gago para explicar o que estava acontecendo, mas depois de pouco tempo percebeu o equívoco e convocou o líder da turma para relatar o ocorrido. Infelizmente, era o líder que tinha realizado tal ato contra o padre professor, e estava quase que tomado de um êxtase estranho. O que estava com a estaca na mão foi descartado, para o vigilante, por motivos óbvios.  Os dois agarrando um terceiro e desesperadamente tentando conter um delirante não pareciam disponíveis para obter informações.
Foi então que ele olhou para mim, sentado calmamente no meu canto desde que tive o texto brutalmente arrancado das mãos, e perguntou:
- Que diabos aconteceu aqui!
- Não sei. Estava expondo meu trabalho, quando começou uma discussão sobre matar o cristão, e o líder da turma pegou a cadeira e quebrou no professor. Acredito que ele estava querendo aproximá-lo de deus...
Aí todos os seminaristas começaram a falar ao mesmo tempo e ele mandou todos ficarmos calado. Mandou alguém atrás de socorro, retirou o aluno transtornado com ajuda de mais dois alunos, que logo voltaram, e nos trancou na sala à espera do monsenhor.  A espera foi longa. 3 horas. Estávamos famintos. A maioria muito preocupada com o ocorrido e muitos fazendo acusações seriíssimas contra mim, que me defendia na medida do possível.
No entanto, o mais estranho, os alunos mais místicos da turma, de repente, tomaram meu partido e comecei a ser defendido como uma espécie de profeta. Bloquearam a tentativa de me elegerem culpado do ocorrido, afirmando que não poderia ser responsabilizado pela ação de outros, que em nenhum momento tinham visto qualquer tentativa de incitamento à mortandade cristã, como muitos me queriam impingir. E após muita discussão entre as partes, perguntaram minha opinião:
 - Penso que devemos dizer a verdade. O problema é: qual verdade? A única possível, descrever o ocorrido.....
 - Vamos ter que escutar seu texto outra vez? Gritou alguém no fundo.
 - Não necessariamente. Mesmo porque está um pouco ensangüentado.
Respondi prontamente.
 - Então tudo bem. Se continuasse escutando aquele texto era capaz de matar a pessoa que mais gosto só para aproximá-la de deus, disse aliviado.
Enfim, foi unânime. Contaríamos apenas o ocorrido, estava expondo meu trabalho sobre a morte cristã, quando se iniciou uma acalorada discussão e nosso líder, por algum motivo desconhecido, perdeu a cabeça e partiu a cabeça do professor.
Mal conseguimos chegar a essa decisão, isso após duas horas debatendo, entrou um padre bastante bravo e foi logo gritando:
 - Cadê o maldito texto!
Pegou o meu texto e se retirou. Todos olharam para mim e fizeram o sinal da cruz. Acreditei que era desnecessário tentar convencê-los a mantermos uma opinião comum. Senti que todos já tinham escolhido um crucificado, a ter que enfrentar uma crucificação massiva. Então, na outra hora seguinte, foi a mais demorada da vida, sozinho, ainda que alguns olhos compadecidos, por vezes, pareciam querer trazer algum alívio ou solidariedade, ao longe.... Mas, a maior parte dos olhos parecia dizer que a morte não seria tão ruim, quanto acreditavam que iria sofrer com os castigos. Neste ponto, temos que dar nossa mão a palmatória para a igreja, em termos de castigos, a palmatória é o mais brando dentre tantos que utiliza, principalmente para nossas confissões.

Explicando o inexplicável

Algumas amigas entendem perfeitamente, porém quase todos meus amigos não conseguem entender, como alguém que só fala merda, não trabalha, não toma banho, um celibatário convicto, e, principalmente, um homem que não tem carro ou cartão de crédito, nem grandes dotes físicos ou beleza, desarrumado, quando não mal vestido, consegue despertar paixões arrebatadoras nas mulheres só com os ditos, a ponto de invejarem ao verem o número delas que se declaram apaixonadas por mim, pedindo que intercedam por elas. Creio que sejam mulheres sensíveis e percebam a profundidade dos odores por mim exalados, e acabam purificadas pelas minhas impurezas tão arduamente cultivadas. Além disso, todos têm o direito de ser desumano em algum momento na vida. E se apreciam o masoquismo, quem sou eu para dissuadi-las de tal fim ingrato, rastejando nos meus imundos pés.... Não fico feliz com isso. Causa mais preocupação do que qualquer tipo de satisfação. Posso ter algum prazer na vaidade, mas sei que é efêmero como tantos outros. Se pudesse escolher, ficaria com sentimentos mais amenos. Por que não algo mais usual, uma simples e comum (hoje incomum!) amizade?
Infelizmente (ou felizmente?), minha escolha pela vida celibatária é decorrência de uma existência dedicada integralmente à pesquisa e investigação da quantitativa e qualitativa ignorância humana, infinitamente superior as sabedorias. Mesmo as sabedorias, de tempos em tempos, passam para o campo da ignorância. Alguém tem que fazer o trabalho sujo de recolher as miudezas dos homens, pois a maioria fica entorpecida pelas pequenas conquistas, assim mesmo, só no campo cientifico e tecnológico, pois moralmente somos tão bárbaros como antigamente, e não percebe que todos estão a carregar merda daqui para ali. Com isso não tenho tempo para o amor, ou melhor (o que é pior!), casamento, o que via de regra parece ser sinônimo para a grande maioria das mulheres. A todas corajosas que expressam suas paixões, digo que gosto muito de todos para fazer mal com a minha presença imunda, mesmo que digna, a alguém em particular. E não suporto viver em multidão. Não moro em multidão e multidão é tudo que ultrapassa a mim mesmo. Suporto apenas os encontros entre amigos e amigas, com doces ou amargas conversas sobre qualquer coisa, e a certeza da convivência apenas temporária, mesmo com pessoas boas.

Evidências não evidentes

Atribuem desejos, vontades e coisas que não possuo e pouco captam da minha essência elementar, e não porque a esconda, mas porque procuram o que não tenho, nem quero. Procuram uma psique em mim com vários complexos, vaidades, desejos de atenção e sei lá mais o que, no entanto, tenho reafirmado que não tenho qualquer tipo de alma: minhas emoções e reflexões mais profundas originam-se no intestino, no resto sou epidérmico e rasteiro.
O fato é que normalmente ouço mais do que falo. E via de regra sei mais dos outros que os outros de mim. Não porque tenha o que esconder, mas porque pouco tenho a dizer, e quando conto as coisas e as arrumo do meu modo, pensam que sou triste ou que preciso de algum consolo, ou ainda que alguma coisa precisa ser consertada. Nada! Se não despejo sorrisos pela vida, jamais me verão chorar por ela.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Sobre fotos na internet

Rosto hoje nada vale, todo mundo tem o que quer. O que interessa é o que tem por trás da foto. E quem garante que o rosto que vê corresponde à pessoa? Nesse pedaço do mundo virtual as aparências é que são essenciais! Eis porque sou apenas mais uma nuvem...... que chove! Infelizmente, não sou uma nuvem passageira, mas também não sou estacionária, deixo os ventos fortes me levarem e viajo com eles por toda parte. Não estou aqui nesse toró de palpites palpitando? Mas, a foto também revela que sou uma nuvem furacônica, uma mistura de gases, líquidos e sólidos a revolver a atmosfera e tudo na terra por onde passa. E aquilo que estava quieto, grita; aquilo que estava parado, se move; aquilo que estava escondido se escancara na sua crua vulnerabilidade. Meus ventos, minhas nuvens, minhas águas e mesmo meu buraco revelam a força da natureza a desestabilizar os artifícios humanos..... Creio que faz jus à minha pessoa..........

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Notas a respeito de uma filosofia intestina – abertura

Há muito desenvolvo uma filosofia que entende o homem como um grande produtor de excrementos, que passo, a partir desse momento, a expor ao grande público. Quase tudo que é idolatrado, que para muitos parece ser motivo de orgulho, serão colocadas como coisas execráveis, inclusive muitos sentimentos que são frutos de alguma doença moral a ser sanada. Essa filosofia não afirma tanto o certo, do qual tem muitas dúvidas, mas antes designa com alguma certeza coisas erradas da convivência humana. Não é tola para afirmar grandes verdades, contenta-se com as pequenas, aquelas que envolvem o ordinário, a vida comum, nunca o extraordinário; de extraordinário só avisto a ignorância humana e suas inúmeras cagadas. E fala mais das coisas que não existem, inventadas pelo ideário cultural, do que acusa a existência das coisas supostamente concretas. O mundano é a sua temática.
Além disso, longe de mim a pretensão da originalidade, satisfaço-me apenas com as pequenas verdades retiradas do profundo intestino e que evacuo como uma espécie de desabafo. Mas, não se iluda, não é uma filosofia barata. É antes uma filosofia gratuita! E não apenas por ser acessível à grande maioria que tenha conexão na internet (própria, gratuita ou alugada) e se disponha a ler o desenrolar de uma proposição filosófica a respeito da idéia de vida.
É uma filosofia intestina porque profunda, extensa, enrolada, grossa e delgada, objetivando evacuar os restos da superstição, dos preconceitos, dos falsos temores e da ignorância que persistem a ruminar o pensamento comum, e assim absorvam o máximo com um mínimo. Essa filosofia visa que as pessoas se misturem no solo humano e adubem-se mutuamente, e aprendam a fincar suas raízes num lugar mais apropriado no mundo, mas principalmente em si mesmos. Brada para que a pessoa deixe de ser um tipo de vegetal que se acomoda aos ventos da moda e do gosto sempre volúvel e duvidoso, e ouse viver a animalidade de criar um lugar próprio e também caminhar pelas grandes extensões de terra e de água do planeta: a todos é dado ficar parado e andar.
É intestina porque além de longa e profunda, exalará gases e merda ao tocar nas coisas nojentas que a humanidade realiza e escancarará a superficialidade epidérmica da grande maioria, que forma a massa amorfa das pessoas que ocupam as ruas e os lugares, trotando daqui para ali, na busca de possuir mais ou não perder o que tem, máquinas desejantes que cobiçam coisas e pessoas, mas principalmente se vendem: lamentam mais a perda dos bens do que das pessoas.
É também uma filosofia minimalista: visa o mínimo esforço mental e físico, descartando todo excesso que a vida contemporânea tão arduamente acumula, um luxo que é um lixo. Mostrará como poucas coisas são absolutamente necessárias para uma sobrevivência e convivência saudável, e que a maior parte dos desejos são artificiais, decorrentes de hábitos culturais que se tornam mais complexos no decorrer dos séculos, porém mais decadentes pela ostentação do tolo luxo e da imensa quantidade de lixo que cria. Que a riqueza material tem acarretado em empobrecimento espiritual e num rebaixamento ético, que o progresso advém da futilidade antes do que das virtudes de algum povo. Uma filosofia que irá escancarar toda merda que advém do dinheiro, do poder, das crenças cegas das pessoas, revelar o lado obscuro dos sentimentos que envolvem o vil metal, onde até a desgraça gera lucro, transferindo o sentimento para o estômago ou para o fígado, por vezes, os dois.
Epistemologicamente sustenta-se ao não almejar a verdade e satisfazer-se com a veracidade, além de também de não visar tanto à racionalidade das pessoas, mas antes sua razoabilidade. Eticamente tem 3 limites: não mentir, pois a confiança é a base comum das relações humanas; não roubar, pois as coisas devem ser comungadas, nunca apossadas, e o esforço próprio nunca pode ser usurpado; não matar, já que ninguém consegue conviver com aquele que ameace. E poucas coisas deveriam ser proibidas, no máximo regulamentadas, inclusive os diversos vícios, pois que desses os homens não abrem mão nem com castigos. E muita coisa regulamentada deveria sofrer diversas desregulamentações, do limite de velocidade das estradas ao limite de idade para se assistir algum filme. Defendo um mínimo de lei e um máximo de civilidade nas pessoas, começando de cedo; menos governo e mais autogoverno.
Assim, com uma profundidade intestinal, onde se obra a carga a ser aliviada nas merdas das palavras evacuadas ao léu, falarei de como é e de como deve ser a vida, e esboçarei uma filosofia para a apreciação pública. Sentirão a fedentina do que foi dito? Não sei. Para o evacuante filósofo só cabe vir à praça e falar com o público. Expressar suas percepções, enunciar seus princípios e enumerar suas razões para realizar suas afirmações são suas principais preocupações, outra coisa é se será lido, ouvido ou levado a sério. Ele mesmo talvez pouco saiba se será mesmo um filósofo, pois tal título via de regra é atribuído pela posteridade. Mas, se realizar um diálogo, se for ouvido e ouvir, então saberá se o que diz é realmente razoável, visto que a todos, e não apenas aos filósofos, é dado delirar eventualmente, quando não sempre, e o limite e o alcance do que é dito só se estabelece pelo contato mútuo.
Todavia, devo alertar, o conhecimento entristece. O grande Hipócrates já dizia, os filósofos são compostos pelo humor da melancolia, e nem tanto porque o conhecimento só revela as cagadas da vida, o que de fato ocorre, mas porque se dá conta dos limites do que pode fazer apenas tentando tocar a razoabilidade das pessoas. Não é o meu caso que acho interessante até a tristeza e a melancolia, e não acredito que possa convencer os demais sobre qualquer verdade, e me entretenho ao explanar sobre o que é ruim da pior forma possível, para divertir quem se proponha a debater a intestina animalidade humana. Como epígono do grande cínico Diógenes, defendo que a verdade brota antes da gargalhada do que de uma face sisuda.

Sobre uma suposta virtude de ter um emprego

Vivo à toa, como sempre quis e procuro fazer. Um amigo preocupado com a minha sobrevivência, que no seu entender é precária, ofereceu um emprego, e fez questão de frisar, que era um emprego público e não um trabalho, visto que conhece o meu asco por essa atividade humana. Trabalho seria horrível, é verdade, mas um emprego seria terrível..... Emprego me faria sentir morto e um anti-republicano, e traria mais asco ainda...... Não quero nem o trabalho de retirar o salário no fim do mês........ Pensei que gostasse de mim e fica arrumando (só de imaginar e debater já fiquei exausto de trabalhar) um emprego (escrevo esse termo com o gosto de vômito na boca), e ainda por cima público. Sou uma pessoa honesta e detesto quem mama nas tetas do Estado. Aliás, o Estado é algo desprezível, uma instituição arcaica. Tenho dignidade, prefiro ser mendigo a trabalhar. E prefiro continuar a ser íntegro a espoliar o pobre cidadão para benefício e usufruto próprio ou alheio.

Se houver vida após a morte, me mato!

Algumas amigas estavam falando o que gostariam de ser na próxima reencarnação. Naturalmente, supunham a existência deste “fenômeno”. Eu só escutava. Quando perguntaram para mim, um dos poucos que acredita que realmente morremos, em particular o espírito, visto que a matéria apenas se transforma, respondi: "Se houver vida após a morte, eu me mato! Uma vez me basta para ver a porcaria que se faz entre os humanos. Para que ver a barbárie sobre outro perfil, se os acontecimentos nefastos que assistimos cotidianamente não desaparecerão sendo eu outra pessoa? Assim como não sou compreendido hoje, também não serei depois. E o que vi até agora, me faz pensar que a coisa tende a piorar: se a Terra é um organismo vivo, creio que somos o câncer que mata devagarzinho, mas que entrou em metástase, espalhando-se pelo mundo. Há coco do homem por toda parte!". Riram, mas se entristeceram. Não sei, talvez devesse ter respondido, que reencarnação para mim é tolice de pessoas ignorantes, um raciocínio primitivo. Enfim, não tinha como ser gentil diante de pergunta tão sem sentido. E ficar calado, não é uma das minhas qualidades, se é que tenho alguma.

A ignorância

Não importa a idade em que se percebe a ignorância, desde que a encontre e busque a sabedoria (se é que existe), a pessoa recebe algum mérito. Tem gente que nem isso se dispõe a fazer em qualquer idade. O ser humano é mais tolo do que burro. E creio até que é uma ofensa aos burros, associá-los aos homens, animais que têm muita sabedoria e empacam quando estão cansados, e não se esforçam até a morte, como os cavalos e muitos humanos, para carregar o peso dos homens.

A presidenta e seu cão

Vi uma foto da presidenta Dilma andando com o seu cão. Para mim, o cão é a única coisa digna da foto. Infelizmente, parece muito comigo, um membro do povo, de língua de fora e acorrentado pela garganta.

domingo, 10 de abril de 2011

A respeito da tragédia escolar no Rio de Janeiro

NINGUÉM ATIRA PARA ERRAR. O ACERTO DO ALVO É QUE É DIFÍCIL.
Mas, por que é preciso atirar? É verdade, existe a arma e há quem se disponha, ou mesmo goste, de empunhá-la e disparar contra alvos vivos. A grande maioria das pessoas considera normal a existência de armas: ela está regulamentada por leis e costumes. Há quem produza, há quem comercialize, há quem compre e há quem use. A sociedade recebe impostos nas três primeiras fases, quando não há sonegação, mas quando se usa a arma, pode perder uma ou mais pessoas, e muita arrecadação, além de ampliar os gastos governamentais.
Sei, não é uma conta matemática, pois em sociedade uma soma pode se tornar uma multiplicação, e uma divisão uma diferença irreconciliável, porém quem se arma torna a nossa igualdade original muito desigual, e meu argumento, antes que investigado, eliminado, e mais do que a afirmação, a minha pessoa.
Enfim, em campanha pela paz mundial, proponho tão somente o desarmamento mundial.

Verdade singela

Não sou lindo, forte ou inteligente; chamo a atenção pelos defeitos que cultivo e pela liberdade com que trato peidos e arrotos.

Desejo

Gostaria de ser um maluco beleza, mas fiquei um doido feio. Mas, não reclamo da natureza. Cada um faz o seu melhor, e o meu não está em ser capa de revistas ou estar à frente dos holofotes da fama. Sou apenas uma nuvem furacônica que chove no molhado da tempestade tropical.

Da série pensamentos evacuados

Eu não tenho conflito de existência, muito menos acho que haja qualquer enigma nela, mas, por vezes, acho que a existência tem algum conflito comigo. Principalmente a existência dos outros....

Notas sobre o meu existir N° 8

O professor de teologia nunca gostou de mim, desde o primeiro encontro. Talvez, pelo fato de pouco ou mesmo nada entender da bíblia, novo testamento, religião, sequer entendia de fé. Aliás, nunca pus a menor fé na fé. Achava tudo muito chato e ainda acho. E nunca escondi o fato de ninguém. Só não escarnecia de tudo e todos, porque após a terceira chibatada depois da primeira tentativa, percebi que não seria ouvido naquele recinto e que estava em franca minoria, para não dizer que era único, além, é evidente, das chibatadas a estalar na frágil carne humana.
Mas, se resignado estava nas aulas, quase calado, respondendo apenas as questões das provas e chamadas orais, por dentro restavam inquietações. Ora, falavam tanto da morte, da vida após a morte (uma clara contradição de raciocínio), que tal temática foi se formando na minha mente como uma obrigatoriedade a ser trabalhada. Sem dúvida, foi decisivo o professor exigir de mim, como monografia da disciplina, que tratasse a morte de forma cristã. Isso ocorreu porque certa vez perguntou para mim o que achava que era a morte, e disse que era o fim da vida. “E o espírito?”, perguntou. Respondi: “É exatamente o espírito que morre ao morrermos; a matéria é eterna, apenas se transforma”. Bom, tive que escrever 1500 vezes “O ESPÍRITO É ETERNO! A MATÉRIA NÃO!” Nem assim fiquei convencido de tal afirmativa; continuo achando que Lavosier está certo: “Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma!”
Dada a temática que foi imposta pelo professor, fiquei um mês fazendo minhas pesquisas na biblioteca e apareci com o pequeno opúsculo, manuscrito – SOBRE MORRER E MATAR ENTRE OS CRISTÃOS. Foram 15 folhas escritas de ambos os lados versando sobre a questão. Comecei fazendo distinções entre o deus do velho testamento e a mensagem cristã, onde o deus judaico punitivo finda num deus cristão caridoso, tolerante, piedoso. Até aqui o professor era só elogios pela clareza da minha exposição, pela erudição das distinções e pela rigorosa argumentação teológica. Fez questão de salientar que era o único a ter lido toda bibliografia fornecida por ele e que tinha entendido a “revolução” da teologia cristã sobre a mística judaica. Mas, isso foi só até a quinta folha. Já na sexta o professor, assim como o restante dos alunos, começaram a ficar aterrorizado com as minhas conclusões.
Em primeiro lugar, deduzia que a morte nunca é um mal para um cristão, que sempre terá o reino do céu. Assim, ao matar um cristão, ainda que cometesse um pecado capital, de forma alguma fazia um mal ao mesmo. Pelo contrário, com a sua morte o aproximava de deus, e assim, na verdade, estava fazendo um bem. E todo cristão verdadeiro, também deveria sentir e pensar assim. Deus não quer o mal de ninguém e só ele tem o direito de punir, pois é o único que seria capaz de perdoar. E um cristão verdadeiro nunca deveria buscar a vingança ou a punição de um irmão morto, mas antes, deve perdoar, ver que o morto descansa na santa paz, desfruta um bem melhor que o nosso árduo labor da vida diária, cheia de armadilhas a desviar os homens. Mesmos seus pais ou seus filhos, seus cônjuges devem considerar um bem para ele ou ela, antes de terem raiva pela perda do patrimônio familiar. É um pecado grave o egoísmo de querer as pessoas para si, quando todos pertencem a deus, a dar crédito o que diz as escrituras.
Em segundo lugar, pelo que se intui da mensagem de cristo, deve-se apontar caminhos, valores, princípios gerais de orientação do comportamento dos homens, mas nunca punir. Atire a primeira pedra aquele que nunca pecou, dizia o bom cidadão. Não estamos aqui para punir quem erra, mas para ensinar a não errar; ao todo poderoso cabe o julgamento. A justiça humana é imperfeita e um bom cristão, ainda que julgue, não pode condenar, pois deve ser tolerante e piedoso; condenação, se houver, será divina. Pode no máximo buscar que o pecador se arrependa dos seus pecados. Tanto que quando pensa que está a punir a morte com a morte, não pune, beneficia essa pessoa. E, simultaneamente, comete um pecado capital.
Em terceiro lugar, em nenhum lugar avistava cristo defendendo a constituição de interpretes oficiais de sua mensagem, sabendo dizer como um cristão deve se portar nas diversas circunstâncias e minúcias da vida. Suas últimas palavras – perdoai! Eles não sabem o fazem! – dizia tudo sobre os homens, todos são capazes de errar, e quem saberá dizer quem está certo? Assim, não consegui encontrar na mensagem de cristo, ainda que encontrasse em vários supostos cristãos, qualquer intenção de buscarmos meios punitivos para sermos convencidos de que não devemos pecar, sendo que a morte é sempre um bem, e assim nunca se pune ninguém quando se mata, a ser verdade a mensagem cristã; se é um homem mau e o matamos, livramos o mundo de um traste, por outro lado, se é um bom homem e vai para o céu, que maior bem pode desejar um cristão?
Naturalmente, vinha sentindo o crescer de um mal estar geral conforme avançava na leitura e explicação do trabalho, e não me deixaram expor nem a quarta ou a quinta conclusão. Uma discussão acalorada fez-se na sala. O professor perplexo arrancou meu manuscrito e quando ia começar a falar, recebeu uma cadeirada na cabeça e caiu desfalecido. O seminarista quase tomado de êxtase dizia: “Vamos matá-lo! Ele que acha que sabe tanto sobre deus!”. Retiraram o resto da cadeira que ia usar como estaca para perfurar o coração do professor, e imobilizaram o pobre coitado. Mas, a confusão, o barulho e a situação já tinham transcendido os domínios da prosaica sala de aula de teologia.

O Lixo

Eu que não sou exigente com as pessoas ou com as coisas, que me satisfaço com qualquer encontro de gente e utensílios, pois que aprendi a ver a utilidade de tudo e a futilidade da maior parte, por vezes vejo-me desolado pelo que encontro pela frente: nem para lixo serve! Isso dói de alguma forma e cuspo o amargo da boca na grama da praça deteriorada pelo vai e vem do gado humano.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Flacidez de Caráter

Vejo tanta gente reclamando da vida, falando mal dos governantes, da sociedade, do patrão, do cônjuge que por vezes parece que estão certos, mesmo sabendo que reclamar é, em si mesmo, um erro. Só reclama quem não sabe o que fazer, e ao invés de buscar saber, busca um culpado para suas dificuldades próprias. Quanto ao suposto confinamento humano que bradam alguns indignados, afirmo que só os fracos ou imaturos se deixam acorrentar. Sou daqueles que acha que o problema não é haver correntes, mas sim pessoas que pegam as mesmas e colocam em si.

Palpitando

Nascemos com igualdade de condições diante da realidade, mas cada um acaba fazendo do seu jeito. Por isso que conselhos são inúteis e receitas impossíveis. Logo, não toco a vida: acompanho a sua toada e busco meu próprio lugar em algo que já existia antes de nascer e continuará depois de morrer. E há lugar para todos, desde, é claro, que não sejam preguiçosos ou covardes; esses seguem a manada dos reclamantes e não dão os palpites necessários para mudar os problemas.

Uma fedentina no ar

Das notícias que leio ou assisto, considero mais preocupante aquelas  referentes à economia, cada vez mais governos não terem recursos para honrar suas dívidas. Há décadas nada se paga, apenas joga-se mais títulos na praça, substituindo antigos títulos e lançando novos. São os trilhões jogados no mercado pelos Estados em 2008/2009 para sair da recessão, que começam a ser cobrados: há dinheiro para pagar todo mundo? Isso com certeza dará em merda.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Ensinando e Aprendendo

Comigo se aprende muitas coisas, mas a maior parte delas pouco vale, o restante menos ainda. Entretanto, uma coisa é certa, se aprender alguma coisa comigo, dificilmente servirá para te engrandecer, apenas para te apequenar, para perceber a insignificância de tudo, além de nós mesmos, visto que uma de minhas máximas predileta é, que a arrogância individual é que cria o conflito social. Se todos soubessem seu devido valor, não quereriam tanto da vida ou do mundo, nem reconhecimentos, que, ao fim, poucos merecem de fato.

Apontamentos soltos

No mundo há muitas questões e muitos problemas. Todavia, a solução está ao alcance de todos, pois está em nós mesmos. Nada há para além de nós, até o inconsciente nos pertence, e nossa mente e nossas mãos, sós ou em conjunto, são capazes de muitas coisas, fundamentalmente, do imprevisível ou do inusitado. Deixemos a vida pulsar e irradiemos nosso toque pessoal. Ora, nada está parado e todos são dotados do poder instituinte. Outra coisa é se será utilizado, e se utilizado, se fará de forma apropriada. No entanto, tudo começa soando utópico até que se torna uma realidade. Mas, são precisos alguns arautos da nova idéia para que ela cresça sobre a mentalidade dos homens, até que se torne um lugar comum. Logo, digo, preparem-se para o ócio, pois os negócios esgotaram-se. Pouco fazer é pouca merda causar!

Notas sobre a morte

Alegre-se!
Faça um brinde à morte, essa ilustre rejeitada que a todos abraça em algum momento.
Nem tudo está perdido por mais perdido que esteja: sempre pode haver alegria na morte, ainda que alguns possam ficar tristes. A morte não é a pior coisa que pode acontecer, mas sim o sofrimento, que muitas vezes só pode findar com a morte.
Brindemos! Afinal, o problema não é morrer, mas sim o caminho até a morte, via de regra, com algum sofrimento....... A vida nos brinda todo dia, todo instante. A morte uma única vez; por que damos tanta importância, para algo que não tem a menor importância, principalmente depois de morto? Particularmente, não tenho preocupação com a morte, apenas com a forma como chegarei lá, tanto que faço um brinde para a mesma, um sinal de educação para essa amiga que nos acompanha desde o nascimento. Dizem os medievais que ela está sempre do nosso lado esquerdo, tanto que, se virar bem rapidamente, ainda dá para avistar seu manto escuro indo mais à esquerda. Mas, isso até ela não mais sair da nossa frente. Naturalmente, tudo bobagem. Acho que quando ela vem, nós não veremos mais nada.
E seja lá o que diga, jamais resolverei o caso particular das pessoas com a morte; tenho o meu próprio para cuidar. Apenas, para mim, a morte é um assunto sempre vivo. E sei que não se evita o inevitável: adia-se o encontro dentro das nossas parcas possibilidades.
E brindar a morte é brindar a vida também, já que dela faz parte.
Saudações fúnebres! Não temam o nosso encontro final, experiência única e última, da qual não consta reclamações de ninguém que a experimentou. O mesmo não podemos dizer da vida...... Quantas reclamações e lamúrias se ouve!

terça-feira, 5 de abril de 2011

Pensando no futuro

Como último desejo quero que me enterrem em qualquer canto e plantem uma amoreira encima. Não coloquem placa, aviso, nada, e que a natureza e a ação dos homens sigam seus ritimos. O que menos quero é o aprisionamento de um túmulo com uma placa com o meu nome. Faço parte do caldo natural da vida e dele não quero me afastar, quero ser sorvido pela matéria de que me sorvi. E quero o esquecimento.
Mas, como sei que nem morto se atinge a plena liberdade, visto que os homens legislam até sobre os próprios restos, e como estava pensando sobre o futuro, cheguei à conclusão do que escrever na minha lápide: "Aqui jazo a sua espera". Creio que faz jus ao meu realismo.......

Visão do Cotidiano

Da janela da condução vejo a confusão; é uma batida de carro que acaba em discussão e morte. Da janela de casa vejo alguém quebrando a janela de um carro e levando o aparelho de som. E tenho que me contentar de não ser eu a vítima de tudo que assisto. Por que será que não me sinto feliz com a vida, nem me sinto privilegiado?

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Dos encantos do mundo

Por mais encantos que o mundo tenha, e tem, o que é mais saliente são as cagadas humanas, a fedentina que sobressai do caminhar da humanidade, além dos seus cadáveres, que sempre lhe acompanha no seu caminhar histórico, pois que é descartável (mais que as coisas), ou, o que é mais atual, deletável. E não falo apenas do sangue, do sacrifício, da fome, dos desperdícios, da vaidade, da mentira, da ingratidão, da vingança e demais bostas do gênero, falo do coco nosso de cada dia. É de se notar que ainda que seja pouco notado e até estigmatizado, há cagada humana de pólo a pólo, do alto da mais alta montanha até o deserto mais árido, na selva mais fechada, nas savanas mais abertas, nos pântanos, nos montes, nos vales e nas praias; no campo e na cidade nem é preciso mencionar, bosta para todo lado. Pode-se pisar, sem querer, é claro, em merda humana em qualquer lugar do planeta, que carrega não apenas fezes humanas, mas de todas as espécies. A diferença é que os demais animais nem cagam tanto, nem cagam tão fedido, nem podem ter consciência que cagam, e nós continuamos a cagar de forma inconseqüente, porque não temos o mérito de pensar, ainda que se tenha a potência para tanto.

Da série pensamentos evacuados

Por mais refinada ou gostosa que esteja a comida, sempre acabará em bosta. E o preocupante não é isso, é se não acabar nisso. Por vezes, só com a radicalidade de um supositório se liberta a aprisionada......

Porque um Blog

Mandei o link desse blog para vários amigos e amigas, e muitos indagaram por que criava esse espaço, ou por que não publicava um livro. Bom, a escolha foi simples, blogs são gratuitos e livres, e podem ser refeitos e armazenam indefinidamente as palavras escritas; livros, por exemplo, petrificam os textos enquanto duram nas estantes (e que editor publicaria minhas merdas?). Blog é um local que se pode acrescentar diariamente novas frases ao mundo. E, mais importante, permite uma interatividade com o leitor. O fato é que torna os textos acessíveis a todos. Outra coisa é se muitos acessarão essa página. E devo confessar que a propaganda não é o meu forte, mesmo porque não tenho a pretensão de um negócio, mas tão somente de um sublime ócio. Para divulgação conto com aqueles que gostem indiquem aos amigos, e os que não gostem indiquem aos inimigos.
Perguntaram também quem seria meu leitor. Não escrevo para ninguém em particular e, no que depender de mim, falo para todos, mesmo sabendo que nem todos quererão ouvir-me, assim como não quero ouvir um monte de coisas que são ditas por aí. Mas, escrevo para discutir, porque se achasse que detinha a verdade e o certo, não perderia tanto tempo discutindo sobre ambos em tantas ocasiões. E escrevo porque sou livre e quero manifestar minhas idéias!
Quem me ouve ou lê? Não sei. Mas, sei que escrevo para a humanidade e para a pessoa comum, ou seja, que pensa e sente, que peida e arrota. Por que escrevo? Porque tem coisas que só podem ser ditas para o público que pode ouvir quando tem o seu tempo livre (matando o trabalho, por exemplo) e pode então pensar e instigar seu ser com as coisas do mundo para além das aparências imediatas.
E indagaram ainda se não tinha receio de ter “minhas” idéias roubadas, pois o que mais se vê são pessoas dando ctrl C/ ctrl V pela internet. Quase ri, para não chorar. Quem seria tolo para tanto? O aprisionado no imediato não percebe que tudo acaba pertencendo a todos. Não há criação individual que não finde por pertencer também à humanidade, dissolvida na sabedoria comum. E por mais que o indivíduo brade seu direito de posse ou soberania, na medida em que se torna público o invento ou criação, escapa-lhe até mesmo a significação de sua própria realização. Não almejo ser dono de nada e tudo que tenho são palavras para serem comungadas com pessoas que se disponham a ouvir e falar.
Ora, a grande virtude da internet é ser um evacuante universo de discussão sobre qualquer merda. Posso afirmar que tem sido um espaço para qualquer porcaria humana, que são inúmeras. Aqui posso exercer meu lado libertário e desacorrentar as pessoas dos preconceitos que circundam a pobre merda, que é tão somente um resultado. Sinto-me realizado por, pelo menos, tentar contribuir com o fim do estigma que acompanha o nosso cagar de cada dia, ainda que num espaço público restrito. De fato, pelo menos nisso, somos todos iguais, sempre realizamos alguma bosta. Não há quem possa afirmar, honestamente, que nunca cometeu uma ou mesmo inúmeras cagadas no arrastar cotidiano da sua existência.
Naturalmente, toda merda aqui exposta de forma escancarada, não poderia existir sem as cagadas de todos que evacuam eventualmente, quando não sempre, pelo mundo virtual e principalmente pelo real. O fato é que sem a bosta de todos não poderia ser o bosta que sou. Agradeço do fundo dos intestinos toda bosta depositada nas manchetes diárias, pois que adubam saudáveis discussões que, se não levam a merda nenhuma, ao menos frutifica em alguma diversão e, por vezes, emoções, que é mais uma bosta que incorremos.......
Saudações evacuantes de um blogueiro libertário!