segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Estudos comparados

Estou cansado de ver “cientistas” realizarem estudos comparativos entre homens e animais, quase sempre com símios, sendo chimpanzés e orangotangos os preferidos, e tirarem um monte de conclusões obsoletas ou estapafúrdicas.  Creio que estão equivocados. Se for para fazer comparações ou analogias que escolham os vermes, seres rastejantes ou os parasitas, muito mais apropriado para entender a alma humana.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Ruminação n° 2

Muitas vezes fico calado e parece que incomodo as pessoas com o meu silêncio; deveria dizer alguma coisa ou perguntar. Posso até desaparecer temporariamente, o que muitos acham estranho. É que a minha vida interior me dá algo que pouco gosto: trabalho. Sim! Ela me ocupa por mais tempo que gostaria, desafiando a tomar atitudes, assumir verdades, esclarecer o meu comportamento em diversas situações, enfim, a voz da consciência me atormenta, e nem tanto porque fiz algo errado com os demais, mas porque não me portei certo comigo mesmo, ou fui injusto com alguém por algum tipo de imaturidade emocional. Por vezes, demoro a pedir desculpas porque só percebi meu erro muito tempo depois. Tem vezes que gostaria de voltar no tempo e refazer o que fiz, e a impossibilidade do retorno rumina na minha mente a minha incapacidade de fazer o certo em determinados momentos. Não que cobre a perfeição de mim mesmo, longe de mim tal pretensão, o que é lamentável são os erros grosseiros, frutos da insensibilidade ou da inteligência estreita, ou de alguma precipitação. Tais revisões internas tomam tempo, me torna arredio e ocupado, pois quando sou eu mesmo o centro das minhas atenções, trato-me como o mundo, como algo que não merece clemência por seus equívocos rasteiros, e fico investigando todos os meandros, até mesmo as coisas insignificantes. Sei que, com isso, me torno cada vez mais solitário e que venho aumentando esses momentos de solidão, talvez, perigosamente. Mas, se não consigo ser surdo aos demais, como seria surdo comigo mesmo? Tenho uma amiga que fica preocupada com minha solidão, temendo que enlouqueça e me aconselha a falar o que sinto e penso, senão para ela, para alguém, o que digo que não há muito que dizer, visto que não tenho frases para muito do que sinto e penso, e que tudo são fluxos de imagens, que se alteram ou por vezes se repetem, de coisas que gostaria ou de coisas a ser feitas. Verdade que também sonho muito, imaginando um mundo melhor, menos humanizado e mais arborizado. Também passo muito tempo olhando plantas e bichos, que por vezes tenho mais simpatia do que com os humanos. Tudo isso me distrai por algum tempo de alguns engasgos sentimentais, quando nem sei o que sinto ou o que deveria sentir. Se me perguntam se temo a loucura, digo não, temo antes uma aguda consciência da realidade e a minha incapacidade de aceitá-la e conviver harmonicamente com a vida. Tenho sérios conflitos com a existência!

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O vício da virtude

Nada mais enganoso que as virtudes morais, prontas a limitar nossas vontades e nossos desejos, a nos impor modos e comportamentos, a nos tornar falsos e afetados, criando em todos uma clandestinidade de sentimentos e desejos. Todos querem parecer bons e justos, sem ao menos saber se são possíveis tais fenômenos entre humanos, que voltados para si mesmos, mas se comparando aos demais, querem ser melhores que os outros, mostrando qualidades mesmo que não as tenham. Alguns falam que a honestidade é uma virtude, para mim é obrigação; outros falam que a piedade seria outra virtude, o que pode ser cruel quando empregada impropriamente, e representa um sentimento de petulância ao achar que está acima daquele ou daquilo que tem pena. A virtude política é a única que nos é dado possuir, mas essa a maioria quer distância, quando não tem também muita desconfiança da sua possibilidade, e mais ainda de sua efetividade. Quanto a mim, há muito desisti das virtudes, para não adquirir vícios, que sempre as acompanham; tudo na minha vida tem o objetivo de me deixar feliz e não tornar ninguém infeliz, e, quando possível, compartilhar da felicidade e infelicidade dos demais, assim como a minha. Não sou escravo de regras e modelos, nem ambiciono ser considerado moralmente bom. Não me comparo aos meus iguais, seja para perceber alguma superioridade ou inferioridade, nem acho que possa ser melhor ou pior que os demais, apenas defendo com pouco esforço meu ponto de vista, que sem a pretensão de ser certo para todos, é para mim, o que no fundo é o que mais importa, pelo menos assim o sinto. Particularmente, propugno a amoralidade social numa ética republicana: que cada um cuide de sua vida privada e que se porte bem publicamente!

Cagatina

Tem gente que caga na entrada, tem quente que caga na saída, tem gente que caga durante, tem gente que se caga e tem gente que caga nos outros. Tem gente que caga antes e tem gente que caga depois, tem gente que só caga. O fato é que se caga. E não é caganeira, pois daí bastava um remédio para curar, é uma questão de atitude imprópria no momento incorreto, o que nem sempre se aprende a evitar. De minha parte, posso garantir, aprendi muito com minhas cagadas, talvez, mais do que com os acertos. Mas, cagar, não é algo inevitável, pode-se errar de formas menos grotescas, pode-se remediar a maior parte dos equívocos e se desculpar pelos que não pode; pode-se também acertar algumas vezes. O problema não está em cagar, pelo menos não quando se percebe que cagou e tenta corrigir ou remediar, o problema é quando se descarrega ou se distribui a merda própria aos demais, e não reconhece a própria cagada: espalha a fedentina ao invés de saneá-la.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A falta de radicais

Não há mais idéias radicais, ainda que haja idéias extremistas. Não há propostas de fim do governo, do Estado ou das leis, como advogo desde a juventude, nos partidos ou nos organismos políticos. Não há aqueles que defendam o fim do desenvolvimento econômico ou social. Existe uma aceitação quase universal da crença de que o contínuo avanço tecnológico e econômico, a ininterrupta expansão dos recursos econômicos, o padrão constantemente crescente do bem-estar material, são os principais propósitos da vida social e da ação política, sendo também os principais critérios para se julgar o sucesso e a validade de uma ordem social. Não existem grandes partidos ou grupos de pressão verdadeiramente radicais. O desejo de não perturbar o equilíbrio, por incômodo que ele seja, continua poderoso, avassalador. A tranquilidade política e o consenso tornaram-se, aparentemente, o interesse dominante. O tédio que sinto não é à toa. Ninguém mais quer discutir, todos se apressam em aderir.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Indignados do mundo, uni-vos!

Estou gostando de ver, um monte de gente sem fazer nada, senão reclamando da vida endividada em que nos metemos, acampados diante dos grandes centros financeiros e estatais. Governos e financistas na berlinda, eles que sempre assim nos puseram, e nos põem, ainda que se proteste, agora ao menos estão sendo cobrados a fazerem sua parte do sacrifício. Alguma coisa está no ar, fedendo, apodrecendo, e o novo urge diante de tantos que já não avistam lucros, ainda que enriquecendo; não se quer mais restabelecer a ordem econômica e social, mas alterá-la ainda que não se saiba para onde. Parar a roda econômica será com certeza um grande ganho de vida. Deixar o dinheiro e sua lógica para o passado, será um lucro existencial! Não se quer mais dinheiro, se quer mais qualidade de vida! Não se quer que Wall Street ocupe mais as manchetes dos jornais, mas as flores dos jardins e das praças, ou as frutas da estação! Não queremos ser informados sobre a cotação do ouro ou os índices das bolsas de valores, mas antes dos lugares encantadores desse mundo que se tem que conhecer. No mais, se tivesse barraca e como chegar até lá, montaria tenda com os companheiros que lutam contra o que está acontecendo e a favor de qualquer coisa que seja diferente e menos estressante.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Ruminação n° 1

Gostaria de dizer coisas tão sábias quanto leio; gostaria de falar coisas tão belas quanto ouço; gostaria de esclarecer tanto quanto fui por tantos, porém, coube a mim apenas o papel de falar das merdas dos homens, enquanto pessoa, enquanto o que faz. Papel esse que muitas vezes pode ser usado como papel higiênico, o que significa, ao fim, de alguma maneira, que ainda pode ser útil. O outro fim natural dos meus escritos tem sido a fogueira ou o lixo, o que talvez dê no mesmo. Naturalmente, reivindicaria um fim melhor se pudesse, mas vivo no mundo real e não tenho ilusões, jamais poderia ser o que não sou, alguém que serve aos demais. Minha função nessa vida não é ser útil, ainda que isso possa eventualmente ocorrer, mas antes mostrar a inutilidade de quase tudo. Não falo do bem, pois que o assunto seria pouco; falo do mal que é bem mais extenso, e porque não dizer, instigante. Não falo do belo porque sobre esse há pouca concordância; falo do feio, bem mais abrangente, e sobre o qual ocorre às vezes até unanimidades. Não falo do justo, assim como não falo de deus; não falo de coisas que não existem senão como termos da linguagem. Falo do injusto que a todos envolve, seja sofrendo, seja praticando. Por fim, mas não menos importante, por vezes sou mais sincero calando-me do que falando; sou daqueles poucos que ainda acredita que toda merda deve ser transformada em adubo, e não simplesmente ser exposta ao público.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A condenação futura da atualidade

Fomos condenados pelas gerações anteriores a viver as idiotices atuais, e estamos condenando as gerações futuras a permanecerem tais e quais, talvez, apenas um pouco mais rápido e ávido. O que consola é saber que alguns poucos, como eu, escapa dessa aparente inexorabilidade: não fiz filhos e não posso ser responsabilizado pelas gerações futuras, pelo menos não pela sua existência. Quanto à sua forma de ser, tivesse possibilidade de influir nos destinos humanos ou nas gerações futuras, faria parar para pensar no que estamos fazendo, pois nada fazer é melhor que fazer coisas erradas. Mas, quem me dará ouvidos? Quem ouvindo, concordará? Quem concordando, agirá? E quem agindo, fará o certo? O fato é que, uma das razões que me levaram a não ter filhos, afora o trabalho de quem nunca fui amigo, é não ter dor de consciência de condenar um ser humano à mediocridade de nossa existência. Basta a mim para carregar essa dor de assistir, não calado, pois não sou disso, mas ainda assim impotente, vendo como tudo caminha para o caos e nada poder fazer para alterar esse destino, sofrendo antecipadamente o que invariavelmente acaba ocorrendo, quando sofro mais ainda. Não fosse isso, seria uma pessoa feliz, viveria em paz no meu mundinho, cuidando tão somente da minha sobrevivência e dos meus poucos afazeres. Mas, não! O mundo barulhento e fedido ofende meus ouvidos e minhas narinas, afora que não consigo ser insensível à dor alheia, que se revela para todo lado que se olhe. Quem poderia ser feliz num mundo de infelizes? E o que é pior, inconscientes de suas infelicidades, disfarçadas pela ilusão da necessidade de se esforçar para conseguir e da esperança de algum sucesso no futuro. Se não é a esperança que move o mundo, sua ilusão torna todos acomodados às mudanças que ocorrem para tudo permanecer igual. Fazer é o que sempre se faz, e nada mais antigo do que fazer o novo; proponho, portanto, que nada se faça! Não lute, nem contra, nem a favor. Não compre nada que não possa comer. Não planeje, deixe de fazer! E quando pensar em fazer, desista ou adie o mais que possa. Fale mais não do que sim. Deixe sempre para amanhã, ou mais tarde, o que pensa em fazer hoje ou agora. Durma bem mais de 8 horas por dia; quanto mais dormir, mais tempo ficará sem fazer coisas, pois é só acordar que coisas aparecem para serem feitas, a começar pela difícil decisão de levantar da cama, que deve ser adiada o máximo possível, até pelo menos a fatídica necessidade urinária ou evacuante. E nada impede de depois voltar para a cama. No mais, faça menos; se acha que é pouco, diminua ainda mais, e verá como era muito o que fazia. Viver deve ser algo vagaroso e preguiçoso, nunca de forma apressada e angustiante. Não apenas a pressa é inimiga da perfeição, é inimiga de uma vida boa e sossegada; o único motivo que legitima a pressa é para parar de fazer o que se está fazendo, ou para se dirigir e dedicar a nada fazer. Menos negócios e mais ócios! Eis a palavra de ordem para qualquer momento, mas fundamentalmente para o momento atual, e que singelamente deixo para a posteridade.