segunda-feira, 11 de abril de 2011

Notas a respeito de uma filosofia intestina – abertura

Há muito desenvolvo uma filosofia que entende o homem como um grande produtor de excrementos, que passo, a partir desse momento, a expor ao grande público. Quase tudo que é idolatrado, que para muitos parece ser motivo de orgulho, serão colocadas como coisas execráveis, inclusive muitos sentimentos que são frutos de alguma doença moral a ser sanada. Essa filosofia não afirma tanto o certo, do qual tem muitas dúvidas, mas antes designa com alguma certeza coisas erradas da convivência humana. Não é tola para afirmar grandes verdades, contenta-se com as pequenas, aquelas que envolvem o ordinário, a vida comum, nunca o extraordinário; de extraordinário só avisto a ignorância humana e suas inúmeras cagadas. E fala mais das coisas que não existem, inventadas pelo ideário cultural, do que acusa a existência das coisas supostamente concretas. O mundano é a sua temática.
Além disso, longe de mim a pretensão da originalidade, satisfaço-me apenas com as pequenas verdades retiradas do profundo intestino e que evacuo como uma espécie de desabafo. Mas, não se iluda, não é uma filosofia barata. É antes uma filosofia gratuita! E não apenas por ser acessível à grande maioria que tenha conexão na internet (própria, gratuita ou alugada) e se disponha a ler o desenrolar de uma proposição filosófica a respeito da idéia de vida.
É uma filosofia intestina porque profunda, extensa, enrolada, grossa e delgada, objetivando evacuar os restos da superstição, dos preconceitos, dos falsos temores e da ignorância que persistem a ruminar o pensamento comum, e assim absorvam o máximo com um mínimo. Essa filosofia visa que as pessoas se misturem no solo humano e adubem-se mutuamente, e aprendam a fincar suas raízes num lugar mais apropriado no mundo, mas principalmente em si mesmos. Brada para que a pessoa deixe de ser um tipo de vegetal que se acomoda aos ventos da moda e do gosto sempre volúvel e duvidoso, e ouse viver a animalidade de criar um lugar próprio e também caminhar pelas grandes extensões de terra e de água do planeta: a todos é dado ficar parado e andar.
É intestina porque além de longa e profunda, exalará gases e merda ao tocar nas coisas nojentas que a humanidade realiza e escancarará a superficialidade epidérmica da grande maioria, que forma a massa amorfa das pessoas que ocupam as ruas e os lugares, trotando daqui para ali, na busca de possuir mais ou não perder o que tem, máquinas desejantes que cobiçam coisas e pessoas, mas principalmente se vendem: lamentam mais a perda dos bens do que das pessoas.
É também uma filosofia minimalista: visa o mínimo esforço mental e físico, descartando todo excesso que a vida contemporânea tão arduamente acumula, um luxo que é um lixo. Mostrará como poucas coisas são absolutamente necessárias para uma sobrevivência e convivência saudável, e que a maior parte dos desejos são artificiais, decorrentes de hábitos culturais que se tornam mais complexos no decorrer dos séculos, porém mais decadentes pela ostentação do tolo luxo e da imensa quantidade de lixo que cria. Que a riqueza material tem acarretado em empobrecimento espiritual e num rebaixamento ético, que o progresso advém da futilidade antes do que das virtudes de algum povo. Uma filosofia que irá escancarar toda merda que advém do dinheiro, do poder, das crenças cegas das pessoas, revelar o lado obscuro dos sentimentos que envolvem o vil metal, onde até a desgraça gera lucro, transferindo o sentimento para o estômago ou para o fígado, por vezes, os dois.
Epistemologicamente sustenta-se ao não almejar a verdade e satisfazer-se com a veracidade, além de também de não visar tanto à racionalidade das pessoas, mas antes sua razoabilidade. Eticamente tem 3 limites: não mentir, pois a confiança é a base comum das relações humanas; não roubar, pois as coisas devem ser comungadas, nunca apossadas, e o esforço próprio nunca pode ser usurpado; não matar, já que ninguém consegue conviver com aquele que ameace. E poucas coisas deveriam ser proibidas, no máximo regulamentadas, inclusive os diversos vícios, pois que desses os homens não abrem mão nem com castigos. E muita coisa regulamentada deveria sofrer diversas desregulamentações, do limite de velocidade das estradas ao limite de idade para se assistir algum filme. Defendo um mínimo de lei e um máximo de civilidade nas pessoas, começando de cedo; menos governo e mais autogoverno.
Assim, com uma profundidade intestinal, onde se obra a carga a ser aliviada nas merdas das palavras evacuadas ao léu, falarei de como é e de como deve ser a vida, e esboçarei uma filosofia para a apreciação pública. Sentirão a fedentina do que foi dito? Não sei. Para o evacuante filósofo só cabe vir à praça e falar com o público. Expressar suas percepções, enunciar seus princípios e enumerar suas razões para realizar suas afirmações são suas principais preocupações, outra coisa é se será lido, ouvido ou levado a sério. Ele mesmo talvez pouco saiba se será mesmo um filósofo, pois tal título via de regra é atribuído pela posteridade. Mas, se realizar um diálogo, se for ouvido e ouvir, então saberá se o que diz é realmente razoável, visto que a todos, e não apenas aos filósofos, é dado delirar eventualmente, quando não sempre, e o limite e o alcance do que é dito só se estabelece pelo contato mútuo.
Todavia, devo alertar, o conhecimento entristece. O grande Hipócrates já dizia, os filósofos são compostos pelo humor da melancolia, e nem tanto porque o conhecimento só revela as cagadas da vida, o que de fato ocorre, mas porque se dá conta dos limites do que pode fazer apenas tentando tocar a razoabilidade das pessoas. Não é o meu caso que acho interessante até a tristeza e a melancolia, e não acredito que possa convencer os demais sobre qualquer verdade, e me entretenho ao explanar sobre o que é ruim da pior forma possível, para divertir quem se proponha a debater a intestina animalidade humana. Como epígono do grande cínico Diógenes, defendo que a verdade brota antes da gargalhada do que de uma face sisuda.

5 comentários:

  1. Vai ser muito bom Outro Alguém!
    Será um prazer vir até aqui ler e absorver um pouco desses pensamentos, dessas idéias.
    Suas palavras têm força e sabedoria.
    Eu me coço cada vez que venho até aqui, as vezes saio até meio torta :) pois são verdades nem sempre agradáveis de ler ou se pensar a respeito.
    Só pela entrada já deu para ver que esse menu filosófico promete.

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  2. Bem vinda a esse exercício mental e intestinal.

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  3. Será que alguém aventou a possibilidade de ser uma filosofia barata? Pode ser ... a gente é capaz de tudo, ou melhor de quase todas as cagadas. Eu aprendi a gostar de usar o termo cagadas. É mentira! Eu já gostava. Tinham me ensinado ou aprendi errado. Não seria de bom tom.
    Quanta hipocrisia!

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  4. Você fala de filosofia gratuita. A generosidade sempre foi característica importante dos filósofos. Gostaria de destacar a minha total concordância com isto: "Defendo um mínimo de lei e um máximo de civilidade nas pessoas".
    Um abraço!

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  5. Bem vindos a esse exercício intestinal! Filosofaremos!

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