terça-feira, 31 de maio de 2011

Notas sobre o meu existir N° 12

Se os padres e os seminaristas esperavam algum gesto de medo, covardia ou mesmo arrependimento, equivocaram-se. Levantei de cabeça erguida antes que viessem me prender pelos braços como se fosse ter que ser arrastado ao cadafalso, receoso do castigo e da situação, como geralmente ocorria em situações semelhantes.  Comecei a andar, mesmo mancando, arrastando um pouco as pernas, e o corpo dolorido do flagelo fazendo andar com vagar, mas firme. Foi então que fingi um desmaio e caí sobre os livros na mesa. Nada poderia dar mais dramaticidade à cena do que essa minha atuação majestosa diante de uma platéia incrédula de crédulos. Confusão geral, gritaria, todos correndo para me socorrer. Nisso já havia escondido o livro Vida e Máximas de Diógenes, o cínico, debaixo da batina.
Foi então que bradei:
 - Deixem-me em paz! Foi só um momento de fraqueza diante da dor do flagelo que passei. Não preciso de ajuda!
Afastaram-se assustados. Levantei altivo, novamente com a cabeça erguida, passei pela minha mesa e peguei minha “bíblia”, e fui em direção ao meu local de castigo. No íntimo, carregava certo sentimento de alívio. Uma semana sem missa seria um presente. Verdade que passar a pão e água não é lá muito apropriado para a formação corporal de um adolescente, como era o meu caso. Naturalmente, como sempre, minha capa de bíblia portava internamente, dessa vez, a obra de Nietzsche, Para além do bem e do mal. E foi com esses dois livros e autores que acabei convivendo uma semana de forte efervescência de idéias e tomando a decisão definitiva que me fez ser o que sou agora: um homem comum, que não se destaca dos demais pela profissão ou pela posição social. 
O fato é que se ainda tinha certa relutância em aderir ao cinismo, tais dúvidas se dissiparam. Ora, mesmo tendo poucas horas de luz ao dia, uma vez que só entrava claridade das 10:00 da manhã às 4:00 da tarde, por uma minúscula janela perto do teto e sem que pudesse olhar por ela, li e reli as duas obras mais de duas vezes. E em cada leitura novas descobertas e profundas mudanças interiores. Definitivamente abandonaria uma cidadania nacional e seria um cidadão do mundo, cosmopolita, internacionalista, humanista. Abandonava qualquer sentimento de posse sobre coisas ou pessoas, e mesmo não podendo viver como Diógenes, conhecido como o Sócrates louco, nu ou semi-nu, morando num barril, plantando alfaces nas margens dos rios, ainda assim poderia aprender a vida natural preconizada pelos cínicos, uma vida que se afasta e critica a degeneração que a vida social causa nos homens, criando gostos, vontades e necessidades que aprisionam as pessoas a cumprirem funções sociais que as tornam medíocres, mesmo que ricas, famosas ou poderosas.
E com Nietzsche, superava definitivamente a velha dicotomia entre o bem e o mal, o certo e o errado, percebendo que é preciso transvalorar os valores humanos, que presos aos arcaísmos místicos, vêem tudo em preto e branco e perdem a multiplicidade dos matizes de cores de que é composta a vida. Não há um senhor a ser vencido, mas antes um escravo a querer ser liberto. Enfim, tornava-me além de um cínico, um sátiro, que andaria pelos campos, bosques e cidades a divagar sobre a vida, e ao invés de buscar a sabedoria, talvez, uma antiga ilusão, buscaria ser menos ignorante.
Por fim, mas não menos importante, afastar-me-ia (o máximo possível, o que nem sempre é possível) definitivamente do dinheiro, pelo menos do trabalho e dos carnês de prestação que ele acarreta. Da vida social só desejava a convivência humana, aquilo que se troca nas conversas e nos contatos humanos para além da vida profissional. Por mais tola que considere a vida e as crenças das pessoas, não deixo de admirar e respeitar a inteligência, a justiça, a verdade e a humanidade nos ditos e feitos de qualquer um, de uma alta autoridade ao homem comum, independente de suas crenças particulares. É que independente das crenças que ouço, vejo mais os gestos que realizam, e nestes deposito maior valor.
Sim, agora todos sabem como me tornei o que sou, um cínico, adepto da ironia e do escárnio como forma de despertar reflexões. Um sátiro que flauteia pelos bosques obscuros onde ocorre a convivência humana, a revelar o rebanho assustado que segue qualquer pastor, e que antes de procurar melhorar a si, procura o culpado para tudo de errado que não consegue fazer certo.
Bom, mas nem tudo foi festa. No terceiro dia descobri que o pinico não foi feito para comportar a carga de nossas descargas diárias por mais que esse tempo, por pouco que comamos ou bebamos. Quando fui informado que não aliviariam a carga do mesmo, muito menos forneceriam um novo recipiente, fui obrigado a tomar uma atitude radical, mesmo sendo contra meus princípios: esvaziei o conteúdo líquido pela porta. Com isso, não apenas peguei mais uma semana de cerceamento de liberdade, como ainda nem pude receber a visita dos meus pais que vieram me visitar, mas foram impedidos pelo monsenhor devido à minha situação de “punição educativa” (mal sabe ele como esses termos se contradizem), que só permitiria visita no mês seguinte, isso caso estivesse fora daquele lugar, o que ele não tinha certeza que ocorreria, pois acreditava que meu temperamento exigia um tratamento mais duro e constante, para não dizer permanente.
É claro, que depois de 3 semanas me libertaram daquele lugar, pois ninguém mais conseguia chegar perto com o cheiro de urina e fezes que reinava absoluto pelo lugar, afora a fedentina que se espalhava com o vento por todo mosteiro.  Na batalha com o monsenhor, venci devido a minha resistência aos odores fétidos, ajudado também pela futura visita de um padre fiscal do bispo para observar suas instituições de “ensino”: seria notório que a fedentina local chegaria às suas narinas, era só uma questão de capricho da direção dos ventos, e o monsenhor poderia ser acusado de crueldade. Como continuava a urinar pela vão da porta, além de pacientemente empurrar a merda por debaixo da mesma, para o corredor (o que alguém trancafiado num cubículo tem para fazer o dia inteiro, senão ficar pensando em merda?) com alguns gravetos lá deixados, mesmo porque para mim ficava mais aliviado por para fora essas substâncias, que as reter junto comigo num local pouco ventilado, assim foi forçoso soltarem-me. Por fim, vitorioso e triunfante, tiraram-me, mas, sofri uma breve derrota: jogaram-me debaixo da água fria e fui obrigado a esfregar com força todo o meu corpo. Entretanto, confesso, foi uma das poucas vezes que apreciei um banho mais profundo. Verdade que foi o último banho com sabão, pois esse seria um dos luxos sociais a serem abolidos da minha vida.
De fato, entrou um jovem ainda imaturo no cadafalso, mas saiu Outro Alguém.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Observador

Como fico a maior parte do tempo parado e observando tudo, já me chamaram de voyeur, algo muito sofisticado para mim que tenho alma de garimpeiro. Busco a materialidade da vida, vasculho os meandros da terra bruta na busca dos indícios da substância crua da humanidade: não quero lapidá-la, quero extrair a essência humana da terra indefinida que se encontra. Que pessoas mais refinadas lapidem e dêem brilho, só consigo atingir a substância primária da sua aparência.  Certamente há pessoas melhores para estabelecer o preço, mas sei o valor.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Debate religioso

Indagado a respeito da reza, da religião e da fé, expus essa resposta. Minha hipótese sobre a reza é que atrai coisa ruim, não afasta. Verdade que não acredito em santo, senão no Santo do Pau Oco, nem que haja divindade; tudo isso tem um cheiro forte de passado, coisa que vem dos antigos e que envelheceu. Mas, observo que a fé não traz certezas, pois quase todos temem a morte, mas impede de realizar perguntas importantes a respeito de tudo, principalmente sobre os valores. E a religião ainda hoje produz guerras, alucinados, fanáticos e aloprados. Na minha conta dá o seguinte resultado: se em idos passados amenizou os hábitos e costumes, hoje pouco pode sobre os mesmos, e a religiosidade é tocada na folga da agenda. Mais ainda, ela estreita a sensibilidade humana, fazendo acreditar que há uma entidade responsável por tudo, livrando a consciência da maioria de boa parte de suas responsabilidades. E isso, sabe-se, não é possível, visto que qualquer ação repercute por todos os demais, inclusive a omissão, e como dizia o bom Sólon em idos passados, não se deve atribuir à divindade o que pertence aos homens, fazendo crer num destino, antes de alertá-los sobre as responsabilidades de suas ações. Por fim, disse, a existência ou não de divindades ou entidades me é indiferente. Como sempre, após esse discurso, fui chamado de ateu, o que longe está de ser verdade, pois não quero acabar com as religiões, ou combater as crenças das pessoas, permito-me apenas manifestar minha opinião, quando indagado, ou aqui, onde as pessoas podem escolher ler ou não. Religião não se acaba com decretos, com forças ou combatendo-a, tudo isso a faz crescer, unir o rebanho, que na maior parte do tempo está disperso e pouco participativo, quando não se desgarrando. Afora o fato de acreditar que a religiosidade está diminuindo e tende a acabar no mundo, sei também que religiões só acabam através da indiferença das pessoas, logo, jamais faria esforço para acabar algo que está em estado terminal, e que demorará mais algum tempo para findar. Dedico-me a observar o fenômeno da decadência das instituições culturais, sociais e políticas passadas, diante de um mundo novo que parece dar a possibilidade de tudo para todos, ainda que só alguns consigam os supostos bons frutos. Um mundo de comprimidos, de filas, de pressa, de stress, de computadores e de celulares, onde as grandes felicidades estão nos pequenos encontros, ainda que a maioria busque nas grandes coisas, e a satisfação está ao alcance de todos, mas poucos percebem isso.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Metamorfose

Raramente defendo uma idéia da mesma forma em situações distintas. Posso, como já fiz inúmeras vezes, negar ou despojar-me de uma idéia que por algum momento defendi aferradamente. Minhas convicções mudam (e sempre mudaram) com o decorrer da conversa ou da leitura, dependendo dos argumentos do interlocutor. E o que hoje defendo e acredito, posso algum dia no futuro negar, pois não tenho dogmas ou fé, tenho teorias que tentam se aperfeiçoar ou são abandonadas pela inconsistência que apresentaram. Tento evoluir com o conhecimento humano, que muda de certeza a qualquer momento. Mas, devo confessar, abandonar teorias também se deve à minha filosofia do despojamento, que prima por não carregar peso à toa, principalmente os dogmas e o excesso de coisas fúteis da vida moderna. Por saber que as certezas são passageiras, defendo que confie só em si mesmo(a), que não leve a sério as certezas alheias, e, principalmente, que não me leve a sério, afinal, tenho mais palpites que teorias.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Falta de educação

Há uma antiga petulância de querer "entender" os outros, quando a maioria não se entende a si mesmo. Não há sensibilidade para perceber a diferença enquanto uma soma, e não uma diminuição. E a divisão então, quantos desacordos! Não aprendem a multiplicar! Deveríamos ter algumas coisas mais bem estabelecidas em nossas consciências: que a convivência nos enriquece e que se devem comungar os interesses. São coisas elementares que, no atual estágio da humanidade, já deveriam ser lugar comum há décadas.
Eis por que pergunto: o que fizeram com a bosta da educação? O ensino está uma merda, mesmo havendo ora aqui, ora lá, algum tipo de bom ensino, pois a grande maioria não aprende nem as regras básicas de uma etiqueta mínima, e a maior parte nem sabe ler, muito menos escrever ou fazer contas. Se a educação não consegue socializar o pequeno e o jovem cidadão, muito menos fornecerá uma maturidade política, algum tipo de civismo. Provavelmente, não aprenderá qualquer coisa sobre tolerância. Talvez, além de não perder os antigos preconceitos ou os preconceitos domésticos, aprenderão novos! Não estamos a todo o momento vendo os jovens realizarem barbaridades, formarem gangues? Que coisa primitiva, digna de homens da caverna. Ao invés de multiplicarem suas diferenças com a pluralidade, querem aniquilar outros, pior que canibais. Nada mais tolo e ignorante do que levar a vida como um combate contra outras vidas. Talvez, seja um caso para a saúde pública; isso parece doença. O fato é um só, aqueles que mais absorvem as diferenças da pluralidade humana, que conseguem se misturar no caldo cultural que se dá de forma planetária, mais conseguem alongar os horizontes. Uma educação realista prepararia o jovem para conviver sem hostilizar, além de ensinar a ler, escrever e fazer conta. O resto cada um pode buscar por si, desde que queira.

terça-feira, 24 de maio de 2011

GRITE!

Grite! Reclame! Quem ouvirá? E se ouvirem, atenderão ao pedido? E se atenderem, será o que precisava ou queria? Pouco importa, o que deve ficar saliente é que, sem o grito, não se obtém ouvidos para recepcionar o desejo ou a necessidade. Grite, em geral, as pessoas são surdas, além de cegas, para perceber sua reles existência. Mas, o pior é que, sem olfato, as pessoas não conseguem sentir a fedentina de tudo e emporcalham-se em suas próprias bostas.
Eu, por exemplo, estou gritando o cheiro insuportável que entra pelas minhas narinas, principalmente quando passo na frente de palácios, igrejas, bancos, repartições públicas, grandes corporações, com a grande quantidade de veículos, vendo cenas urbanas temerárias ou simplesmente assistindo televisão na casa de algum amigo. Um amigo disse que o cheiro da fedentina é mais acentuado para mim, porque fico metendo meu nariz em tudo que é lugar, até nos difíceis orifícios, falando cruamente de tudo e tirando os encantos. Mas, ele não percebe que há certo encanto em desencantar. E que desencantados tendem, quando não são suicidas, a buscar novos encantos, e é melhor descobrir-se desencantado, do que continuar se iludindo a respeito de um encanto falso. Sempre preferi que me avisassem que estava pisando na merda, ou que tinha pisado, do que me deixando inconsciente do ocorrido ou da ocorrência.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Da série pensamentos evacuados

Não se limite, expanda seus horizontes, abra as narinas! Sinta o odor de tudo e depois me diga se não estou certo: predomina o cheiro de merda.

Mundo minúsculo

Tudo parece grande num mundo de pequenos. O mundo é pequeno porque o homem faz tudo girar ao redor do seu egocentrismo e etnocentrismo. E alguns só se tornam grandes (se é que existe algum grande entre tantos pequenos) porque quase todos se sentem pequenos, e qualquer aventureiro que fale mais alto ou que seduza e atinja mais pessoas, se torna, ainda que pequeno, grande: todos os pequenos assim o elegeram. Por vezes, lastimo essa pequenez, afinal, desde jovem percebi que só existem pequenos, a começar por aqueles que se acham grandes. Nada mais pequeno que a pretensão de ser grande, e fica menor ainda se ganha com isso pouco ou muito dinheiro. Fosse de fato grande faria, não de graça, porque as grandes atitudes não têm preço, mas porque teve a grandiosidade de realizar. Para ser honesto, conhecendo boa parte do passado que está registrado nos livros, poucos foram os grandes; há mais sabidos que sábios; há mais carniceiros e conquistadores cruéis que pessoas com virtudes, enfim, elimino muito dos grandiosos da lista dos grandes, tidos assim para a maioria das pessoas.
Quanto a mim, além de tentar não ser pequeno, o que não é fácil, torço e tento contribuir para que os pequenos se percebam pequenos, e assim possam ser maior. Eis porque, todo tempo, estou apontando a pequenineza de quase tudo, para alertar a todos dos riscos que se corre ao buscar outra grandeza que não seja a própria, e que se deve tentar eliminar a pequeneza que nos habita. Naturalmente, falo do alto da minha pequenez, mas o mundo para ser grande precisa de grandes pessoas, de grandes gestos e atitudes, de grandes ditos. Pouco vejo disso. Para mim, o certo seria não ser pequeno e não ambicionar ser grande, e buscar o meio termo, para que sejamos iguais e os conjuntos dos homens tratem-se como iguais, e que sejam pessoas que busquem ter valor. Tenho ambições diferentes.........

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Niilista é a mãe!

Há pessoas que teimam em me chamar de niilista, por salientar as merdas da vida ao invés de enaltecer as futilidades das “conquistas” humanas, ou por ficar apontando para a decadência moral, cultural e social tão visível às narinas, e pouco mencionar as qualidades humanas. Mas, não considero a existência como alguma coisa sem sentido ou utilidade como os niilistas, pelo contrário, acho no máximo que o sentido é tolo e que a utilidade é fútil. Também não acho que tudo irá cair numa catástrofe, mas apenas que isso possa acontecer se continuarmos emporcalhando o mundo com nossas imundices. Tenho até um pensamento positivo, que algum dia a grande massa de trabalhadores venha a exigir menos horas de trabalho no dia, na semana e no seu exercício no decorrer da vida. E vejam meu otimismo, acredito que crescerá o número daqueles que querem mais tempo para si e menos para tudo mais que não seja seu interesse. O difícil é retirar o vício do trabalho e a ilusão das “conquistas” que se obtém através desse servilismo. Conquistas com carnê de prestação!

A respeito de uma suposta misantropia

Não posso negar que algumas vezes aparente carregar um lado misantropo. Mas, mesmo nisso, se for o caso, seria comedido e despojado. É verdade, detesto a multidão e raramente saio de casa quando sei que ocorrerão encontros massivos. Todavia, gosto de encontrar pessoas e conversar. Frequento encontros com amigas e amigos, viajo com eles. Logo, não tenho tanto um ódio à humanidade, mas medo da multidão, que por qualquer motivo se enlouquece e se mata atropelando uns aos outros. O fato de preferir morar só é só porque prefiro, visto que compartilhar o mesmo teto, ainda que pobre e com goteira, far-me-ia sentir em multidão, pois multidão, para mim, é tudo que ultrapassa a mim mesmo. Mas, morar só não é novo nesse mundo, o que é novo, é o crescimento de pessoas que preferem morar só! Viva os solteirões e as solteironas, reis do seu lugar na terra, e ainda que não tenha a quem pedir, também não tem a quem atender! Cada um sabe o seu limite de viver junto ao próximo, até onde e por quanto tempo, consegue manter a convivência sem oprimir o seu espaço vital, que varia de pessoa para pessoa. Além disso, cada um tem uma missão que se impõe, a minha é fazer o menor esforço em tudo e ficar conversando a respeito das merdas da vida, e casamento é uma das coisas mais trabalhosas que existe na vida humana.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Ruminação

Se retirarmos as fantasmagorias do mundo, o que resta? Apenas o fluxo de matéria em perpétuo movimento com momentos sucessivos. E o que é a vida, senão um fluxo de matéria em movimento através de sucessivos momentos? Porém, a vida é mais que um reles amontoado de matéria, como parece ser a pedra, mas matéria com vontade própria, que consegue moldar tudo para si e construir seu próprio habitat. A vida dá a possibilidade de participar e interferir no entendimento, ou nos costumes, que, de tempos em tempos, precisam ser abandonados, modificados ou mesmo criados. Sou daqueles que acham que os costumes atuais estão arcaicos, e beneficiam mais o progresso econômico do que o pessoal. Defendo que cada um crie seus próprios hábitos e costumes!

Notas a respeito do roubo no Brasil

Ainda que o roubo e a corrupção sejam mais visíveis no universo político, o fato é que todos roubam e se corrompem. É que a estranha cultura brasileira cria seus cidadãos com uma reserva moral, que parece que merecem não respeitar as leis, ou interpretá-las, digamos, de forma frouxa, em determinadas circunstâncias e quando pode tirar proveito. Assim, tirar dos ricos, dos patrões, do estado parece legítimo, já que, para cada um, todos são ladrões mesmo, e num universo de bandidos nada melhor que roubar um ladrão. Confesso que conheço poucos que consideram verdadeiramente um roubo, levar um saleiro de um lugar, ou um cálice de outro lugar, ou uma tolha que se encantou, ou qualquer outra porcaria. E todos falam, nunca roubei. É que as pessoas roubam e nem se dão conta. Liga do escritório ou da repartição para avó, cunhada, mãe, tio, namorado, para o folgado de genro. Pega o clipe, imprime o trabalho do filho no escritório, leva papel, caneta, lápis, borracha. Usa internet.
Portanto, o roubo é um fenômeno social, antes que político neste país, e na política apenas se torna público o que está latente na sociedade. No entanto, não se é menos ou mais ladrão. Roubar em si é o qualificativo, colocar um mais ou um menos depois não altera a realidade crua da roubalheira generalizada. Roubar alguns clipes ou milhões de reais é um ato de usurpação. Por isso que digo, o problema da roubalheira nacional é social, as pessoas acham que seus "pequenos" roubos são um pecadilho de menos, e só se ofendem com os "grandes" roubos. Mas, é por todos estarem roubando um pouco que todos acabam roubados, encarece a vida e destrói a confiança mútua, a base de uma vida social sadia. Nem as empresas privadas conseguem evitar os roubos praticados pelos seus funcionários, ainda que tenha mais vigilância e controle. No cálculo dos seus custos operacionais, estimam um índice de roubo praticado e transferem o custo para o preço do produto final. Assim, como os mercados, que sempre roubados, transferem seus custos com a usurpação ao preço das mercadorias. Não há santos, nem na empresa privada, muito menos na vida pública, e a grande maioria acha que pegar coisas de pouco valor é pegar coisa sem valor, desde que não seja dele, é claro. A mentalidade nacional é bandida. Querem que os "grandes" parem de roubar, quando todos devem fazê-lo. É de grão em gão que o roubo fica gigantesco.
Num país com pessoas desonestas, paga-se muitos selos nos cartórios, além de perder tempo nas suas filas; cartórios, por sinal, muito pouco confiáveis, ainda que caros. São essas as pequenas coisas que aprecio, não porque goste, mas porque existem. E como sempre digo, são de pequenas cagadas que se chega às grandes merdas: veja se você não faz parte dos que espalham excremento.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Notas sobre o meu existir N° 11

Será preciso dizer que a crueldade humana só não é maior que a ignorância, essa ainda mais universal, abrangente e ilimitada? Acreditem, sei o sabor amargo de sua manifestação e guardo, enquanto não me decompuser após a morte,  as marcas e cicatrizes do seu exercício. Naturalmente, a dor física chama mais a atenção e parece mais saliente, mas infinitamente pior foram as dores morais.
Quando todos saíram, me despiram. As explicações científicas para tal decisão só não perdem em tolice para as explicações canônicas; acreditam que despidos, não temos onde esconder a nossa vergonha. Bom, envergonhado fiquei, não porque meus dotes físicos sejam pífios, o que, no momento, pouco levei em consideração, mas porque ficar nu na frente de um monte de homens cuja ortodoxia sexual não passava de sermão da missa de domingo, não era uma situação propriamente agradável ou confortável.
Aí me fizeram ajoelhar e lá se foram 5 chibatadas com o meu próprio chicote imundo de baratas mortas. Batem primeiro e perguntam depois; a verdade se arranca com a dor, todos eles acreditam. A primeira pergunta realizada pelo monsenhor, ainda preocupado com todos os livros encontrados no meu claustro, era como estava com 30 livros quando era permitido que cada aluno retirasse no máximo 3 da biblioteca. Bom, a pergunta constrangeu mais alguns dos professores que a mim propriamente, pois com exceção dos 3 que tinha direito (e exercido esse direito), todos os demais eram para ajudar os professores nas suas aulas, ou mesmo nos seus estudos. Foi então que o monsenhor tomou ciência do que considerou a minha influência nefasta no seminário por ele dirigido. E lá vieram mais 10 chibatadas nas costas e nas nádegas. E, é claro, logo depois a pergunta:
 - O senhor acha que não tem problema matar um cristão?
 - Nunca fiz essa afirmação.
 - Mas, o senhor diz claramente que não se faz um mal ao cristão ao matá-lo.
 - Exatamente, não se comete um mal ao cristão ao matá-lo, mas um bem, pois o aproxima de deus.....
E lá vieram mais 10 chibatadas pelo resto do corpo.
 - O senhor está brincando?
 - Se estou, não estou me divertindo....... Mas, creio que nem o senhor, nem muitos dos demais entenderam minha posição teológica. Claro que há um problema quando se mata uma pessoa, mas isso independe da religião ou de sua ausência, é algo que atenta contra a vida social e a confiança mútua. Apenas, que não se faz mal ao cristão quando se mata um, pois a ser verdade as escrituras, o mesmo irá para perto de deus, e isso, segundo essas mesmas escrituras, é um bem supremo..... O assassino é um pecador, a se continuar a dar crédito a essas mesmas escrituras, mas a vítima nada de mal sofreu ou sofrerá, e um bom cristão jamais vinga a morte do seu suposto irmão, pois a rigor não fez um mal ao outro, mas a si mesmo....
Não deu tempo para continuar o argumento, novas chibatadas estalaram pelo meu corpo já bem avermelhado, com sangue em algumas de suas partes. E dessa vez não foi apenas o monsenhor, mas mais alguns se juntaram nessa sessão de suplício. Alguns com muita raiva e ressentimento. Ainda assim, agüentei sem gritar durante toda a extensão das dores que se espalharam de forma indiferenciada por todo corpo. No fundo, queriam que meus gritos ecoassem pelos corredores silenciosos para que os demais seminaristas ouvissem, mas raramente atendo as expectativas que esperam de mim. Tenho um rumo próprio traçado pelo meu entendimento e dele pouco me afasto.
E ainda que os estalos pudessem ser ouvidos de longe, os gritos que o sucedem, como era o costume, na medida em que não ocorriam, começou a preocupar alguns professores, pois ou demonstraria a fraqueza dos padres ou a minha força de resistência, quando não os dois simultaneamente.  De qualquer modo, chegaram à conclusão que não seria interessante continuarem nessa linha de “investigação”, uma vez que nem esclareciam o caso, nem obtinham o resultado esperado, choros, gritos, imploração e pedidos de clemência, ou mesmo a confissão de algum tipo de culpa e um conseqüente arrependimento.
Um dos padres sugeriu minha sumária expulsão do seminário, mas os demais ponderaram que o bom dinheiro que recebem mensalmente do meu pai para me manterem aqui, seria uma perda irreparável, além de que isso poderia demonstrar aos demais seminaristas uma prova de fraqueza dos mestres, que não conseguem dobrar um reles seminarista desvirtuado. E enquanto discutiam e ponderavam sobre o que fazer comigo, sentei no chão para aliviar as dores do joelho que há uma hora estavam apoiando o peso do corpo. Feridas ardiam por todo lado.
Mas, logo se deram conta da minha presença e mandaram me vestir e sentar numa cadeira. Vestido, as feridas e as marcas das chibatadas desapareciam aos olhos do mundo.
Foi então que o monsenhor mandou chamar os seminaristas. Quando se acomodaram, olharam atentamente para minha figura minúscula, cercado por todos os professores e pelo monsenhor, me contorcendo um pouco com as dores, ficaram espantados com a situação inusitada, uma vez que todos esperavam que saísse depois da “investigação”, como era usual, gritando aos quatro cantos uma culpa e implorando algum castigo, o que não ocorrera. Monsenhor quando levantou as vistas, silenciou os murmurinhos que se espalhavam por todo sala. Altivo, falou:
 - Senhores, de hoje em diante, considerem tudo que esse seminarista disser como loucura, pois esse pobre cristão tem sérios problemas psicológicos e distúrbios insanáveis de pensamento. Uma cabeça alienada, eis o que tem esse pobre rapaz. Logo, nunca devem dar vazão a que exponha suas idéias, pois que sua perturbação própria, pode perturbar as boas idéias que aqui se cultiva de forma tão harmoniosa. De hoje em diante, ele não falará nas aulas, nem lerá seus trabalhos para todos, e deixará de servir à biblioteca, pois que, com certeza, foram os livros que desvirtuaram a cabeça do infeliz, e servirá na parte agrícola do seminário.
Um silêncio sepulcral ocorreu. Todos pensativos, entreolhando-se admirados com a sentença, com o diagnóstico e com a decisão, até mesmo alguns professores (principalmente o de história e o de filosofia) que pareciam triste com a perda do seu monitor.
Foi quando intempestivamente pedi a palavra.
- Monsenhor, peço meu direito de exercer minha opinião.
É óbvio, que se ódio e raiva matasse, já estaria morto e não poderia estar aqui relatando esses fatos da minha vida. O monsenhor enraivecido bradou:
 - Levem esse louco e insolente para a solitária e deixem-no trancafiado por uma semana.
Não foi uma semana fácil e agradável.

Cotidiano

Quando vejo as pessoas amontoadas nas ruas, nas calçadas, nos carros, nos ônibus, indo e voltando em sua rotina de labuta diária, penso que o homem fez tanto para no fim acabar vivendo num imundo formigueiro, com imensas galerias de esgoto a escoar seus odores mesmo para narinas pouco apuradas. Formigas consumistas que compram pseudo felicidades e vendem suas vidas, ordenadamente, e todos querendo ser originais e nisso são tão iguais. Nesse mundo obscuro ambiciono passar despercebido.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Um ignorante

Dentre todos que avisto no espetáculo público de artistas, celebridades, famosos, políticos, intelectuais, especialistas, autoridades, confio apenas em mim, um desconhecido. Ora, ignorância por ignorância, prefiro a minha, que nem pretende explicar tudo a todos, nem pretende ensinar o que cada um deve saber: o que é melhor para si.

A infelicidade da felicidade

Todos procuram, antes de tudo, ser felizes e nisso tornam-se infelizes, angustiados, frustrados, tristes. Acreditam que tenham um suposto “direito” à felicidade, e ao menor sinal de um não, deprimem-se. Na verdade a felicidade é um luxo contemporâneo. Até bem recentemente, todos tinham tanta dificuldade de sobreviver, que se dava por satisfeito por atravessarem as intempéries das estações sem fome. Os tempos mudaram, agora que todos têm uma série de seguranças sociais, muitos têm recursos econômicos, ingenuamente acham que se tem que garantir também a felicidade, como se ela não dependesse de esforço próprio, muito mais que um falso “direito” externo.
Não! Não compartilho dessa ilusão coletiva. Só quando muito jovem compartilhei da busca da felicidade. Mas, logo percebi que deveria satisfazer-me com apenas em não ser triste e sabendo que a tristeza me pegará em algum momento e em algum lugar, como tem ocorrido desde que me conheço por gente. Mas, a dor, assim como as satisfações são breves, e por vezes se sofre mais do que deveriam, ou ampliam a dor e pouco percebem das satisfações. Se puder servir de exemplo para alguém, o que duvido, satisfaço-me com as pequenas coisas, com os pequenos encontros, com aquilo que consigo falando com as pessoas. E meu mundo não ultrapassa a mim mesmo e algum punhado de gente amiga. O quintal da minha casa, mesmo pequeno, é mais do que ambicionei. Só haveria uma forma de ser infeliz, ter que me calar diante das merdas que vejo.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Uma Visão

Não posso negar que tenho uma visão nojenta da vida, mas é apenas um reflexo das cagadas que avisto da janela de casa à janela da condução. É merda para todo lado, as pessoas tão corruptas vendendo-se por bosta, gente se ajoelhando diante de um coco, pessoas esmolando atenção ou lambendo algum pé imundo e tantos invejosos a carregarem sua carga de infelicidade se arrastando pelos encontros sociais. Todos querem aparecer e ser visto, ao fim, ninguém é visto, a não ser quando olha para a bosta do espelho, mas, cego, vê o que quer ser, não o bosta que é. E eu que não tenho pretensão a nada, posso acabar morto pelas pretensões alheias: todos querendo seu carro e eu tendo que respirar toda essa fumaça, e suportar as ruas entupidas. O que o progresso mais produz é lixo ou coisas descartáveis. Logo, tenho motivos suficientes para sentir nojo, ou até mesmo asco da vida, por ter que ver a decadência moral de todos, ou quase, que têm preço, mas pouco ou mesmo nada de valor possui. Assim, como um cavaleiro solitário venho bradar a futilidade de tudo, ou quase, do crescimento econômico que promove uma diminuição das exigências morais sobre o indivíduo, mais preocupado com o sucesso pessoal e aumentar sua capacidade de ter, do que com os meios a que se chegará a conseguir realizar seus desejos. E não deixarei de aproveitar qualquer oportunidade para alertar os mais próximos sobre as nojeiras da vida e seus ilusórios encantos. É claro, isso não impede que a pessoa continue a patinar na merda sem perceber.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Notas sobre uma filosofia intestina – no reino da opinião: a coisa e a palavra

Nada é tão público como as palavras, que sem dono ou senhor acabam significando o que queremos, e fazem existir ou deixar de existir tudo que há no mundo. Essas palavras fazem-me ocupar um espaço próprio quando falo, pois com palavras consigo apontar para coisas em mim ou no mundo, que não consigo indicar com o dedo ou fazer aparecer na foto. Ao falar se ouve, por vezes se entende e outras nem tanto. E falando o mundo se enriquece, podemos expressar nossa opinião, podemos convencionar novos termos e novas expressões. Sabemos que existimos porque falamos, ainda que pouco se saiba propriamente a respeito do existir.
O mundo, por exemplo, cabe numa reles palavra – mundo – , assim como a vida e tudo mais. Mas, ainda que cada coisa tenha sua palavra, tem palavra que não tem coisa, e tem coisa para a qual não encontramos palavras. Ainda assim, insistimos em dobrar o universo e a existência às idéias que irradiamos e absorvemos no alegre conviver pelas palavras que estabelecem sentido. Somos uma máquina de significação! Aprendemos significações e criamos nossas próprias, de tal modo que nada está estabelecido para sempre. A palavra e a sua troca subjetiva entre os indivíduos faz com que cada um possa utilizá-las para convencer ou ser convencido de novos sentidos para coisas antigas, transformando as compreensões ou criando novas.
Com as palavras podemos tudo, até mudar as essências das coisas, pelo menos na sua significação. E só significação é que fazemos, nunca atingimos a coisa mesma. Quando perguntamos "o que é um charuto?", ou "o que é um distúrbio?", veremos que a resposta depende da recepção que se faz deste objeto ou desta ação, ou seja, da pessoa que recepciona, do contexto, da época e da situação, e ainda que existam as coisas (Charuto e Distúrbio), nos guiamos pelo sentido que estabelecemos sobre as coisas, não pelas coisas mesmas.
Veja o charuto, quantas significações não teve? Churchil e Freud ostentavam os seus, hoje está banido da maior parte dos recintos, e aí do chefe de Estado que o ostente (tudo é apreciado na alcova). Assim, charutos e distúrbios perambulam por aí e por aqui, e nem esse charuto que aqui apareceu, nem o distúrbio que aí pode ter ocorrido, são mais que palavras que querem estabelecer uma significação. E os objetos ou ação que se referem as palavras não deixam de direcionar a nossa sensibilidade sobre o meio, a perceber isso e não reparar naquilo, a salientar um aspecto e, talvez, desconhecer por completo outros. Quanto mais coisas conseguimos designar, mais objetos terá o nosso mundo. Mas, como a visão acaba sempre parcial, eis que precisamos do outro para nos fazer ver o que não vemos na nossa forma de descrever.
Enfim, tudo tem o sentido que se atribui e os demais concordam. E basta acreditar numa palavra para a coisa a que se refere passe a existir, pelo menos para quem acredita; quem acredita em inferno vê o demônio agindo pelo mundo; quem acredita em fantasma assusta-se com sombras que denomina de assombrações.
Todavia, a comunicação tem limites e as coisas podem não ser percebidas, ainda que tente descrevê-las. Há um problema de referência que limita a percepção do dito. Por exemplo, falo do cheiro acentuado do pequi, mas para conhecê-lo é preciso experimentá-lo; falar que o cheiro é singular é o mesmo que nada dizer, pois cada coisa tem o seu cheiro singular. Assim como a cor para o cego, ele pode saber a cor da árvore ou do pássaro, mas nada saber da cor, pois que para a percepção da cor é preciso da experiência da visão. Palavras não substituem a vida, a descrevem e servem para nos comunicar. Mas, sem elas, como saberíamos da existência do pequi e que ele tem um cheiro peculiar, mesmo que nunca venha a conhecer essa peculiaridade? Ou, ainda que o cego não saiba o que é verde ou vermelho, não é desprezível que ele saiba do fato da árvore ser verde e o pássaro vermelho, mesmo que não possa saber exatamente o que é a cor, seja verde ou vermelho. Ora, não deixa de haver um enriquecimento conceitual.
Fazemos significações, em grande parte significações insignificantes, é verdade, e procurar o sentido de tudo pode parecer sem sentido e chato, concordo, mas o interessante e o que importa é tornar tudo aberto para novas significações que vamos dando às palavras. E que importância pode ter o sentido obtido, se será mudado? Mas, é com essas palavras que agora escrevo e que agora lê que acabamos dando a significação de nossa própria existência. O fato é que de todas as brincadeiras inventadas pelo homem, é a mais democrática, a única verdadeiramente pública, pois todos munidos delas podem mudar a forma de significar. E a ninguém está vedado ou vetado falar, ainda que merda. A todos está dado emitir sua opinião e problemático é não emiti-la. E tudo nesse mundo é tão somente opinião, seja do cientista, seja do religioso, seja do político, seja do homem comum.
Com palavras produzimos alucinações coletivas e não apenas individuais, sentimentos cívicos, a sensação de pertencimento. Ainda que por vezes as palavras parecem não ter referência direta com objetos ou eventos que elas significam, promovem impulsos emocionais coletivos, e realizam um papel de instrumento organizador da experiência, onde as coisas que conhecemos são efetivamente, no imaginário coletivo, nossas concepções e são concepções de alguma coisa real, o que é uma objetividade para nós, ainda que possa ser idiossincrático a outro. A linguagem formata as coisas, os fatos, as relações e está ela própria condicionada pelo ambiente que a desenvolve. Não há elementos nesse mundo que não sejam modelados de algum modo por nossos conceitos!
O fator aglutinante e desaglutinante da palavra, sua capacidade de nos fazer entender e desentender, de promover a comunhão e a excomunhão, de possibilitar a certeza e a dúvida não deve ser motivo para pânico ou exaltação; só serve de constatação. Problemático é calar-se, principalmente, diante da injustiça.
Saudações verborrágicas!

domingo, 8 de maio de 2011

Da série pensamentos evacuados

Quem acredita em beleza interior é porque nunca viu uma endoscopia: por dentro somos bem nojentos.

Explicações a respeito de um suposto sumiço

Recebi muitas mensagens perguntando por que sumi ou desapareci. Não tenho esse poder, quando muito posso me ausentar. O fato corriqueiro é que adoeci na última semana, como ocorre com todos, mesmo os saudáveis. Realizado os exames que vasculharam minhas entranhas, nada foi encontrado, então, recebi o diagnóstico médico para aquilo que não sabem: virose. O fato é que pelos exames morrerei saudável, visto que a febre continua.