quinta-feira, 30 de junho de 2011

Saindo da caverna platônica

Segundo o bom Platão, o filósofo depois de iluminado pela luz da sabedoria, volta à caverna e realiza um trabalho árduo e, em minha opinião, inglório, de tirar a ignorância das pessoas acorrentadas às sombras. Ele não percebeu que as pessoas gostam das sombras e de assombrações, que elas escolhem ser ignorantes. Enfim, essa coisa de caverna me parece coisa dos homens das pedras, assim como Platão é coisa antiga, tanto que nem tocou, em sua República, na questão das fraldas descartáveis, mais uma coisa não biodegradável a emporcalhar esse nosso imundo mundo. Se Platão tivesse observado o mundo em profundidade, perceberia quanta sabedoria existe no fato de os homens serem superficiais; se profundidade houvesse, as pessoas se entristeceriam com as cagadas humanas. Uma coisa que se esclarece deixa de interessar, pois, ou preferem as coisas obscuras, ou corre-se atrás de outras coisas fantasiosas. E quem fala a verdade da vida, que é algo absolutamente trivial, sequer é ouvido, pois os ouvidos preferem aqueles discursos que falam do que deve ser, misturado com que quer que seja, com o que é, o que dá mais uma expectativa da vida, do que uma suposta descrição. Buscam o complexo no simples, buscam grandes questões nas pequenas questões, buscam o fantástico e não propriamente a realidade nua dos fatos. Eis porque estou destinado ao ostracismo social, não tenho fantasias a compartilhar, apenas uma abordagem realista da existência humana. Não digo que o homem progride, mas que faz merda; não afirmo que a vida é boa, mas sim que ela melhora e piora em diversas circunstâncias; não menciono alguma genialidade humana, mas alerto para a imensa ignorância das pessoas. Mas, que interesse pode ter a verdade para aqueles que vivem fantasias onde verdadeiro, falso e mentiroso se misturam? Enfim, uma das coisas que mais me faz sentir um inútil, é quando enuncio alguma verdade.

Não tenho respostas, tenho perguntas

Tem gente que acredita que, porque tenho posições contundentes sobre algumas questões, tenha por isso também a certeza da vida, ou respostas para tudo. Muito cego teria que ser para aceitar que sei tudo, ou que possa ter conselhos a serem dados aos demais, pois, quando muito, posso apenas colocar os conselhos que a minha consciência me fornece. Mas, isso nunca me impediu de sair por aí bradando e propondo princípios políticos ou posições civis, ainda que nunca tenha obtido seguidores, sequer apoiadores. No entanto, se colocar a mão na cabeça e abri-la, vejo claramente quantas perguntas tenho sem respostas, quantas dúvidas diárias, a dificuldade de decidir até mesmo coisas simples, como, por exemplo, o que fazer para o jantar. Todavia, não é isto que faz com que não me levem a sério, mas o fato da radicalidade das minhas propostas não poder ser encarada seriamente por pessoas com concepções arcaicas da existência humana. Só aqueles que percebem que as escolhas são ilimitadas e que a todos é dado o poder de construir as próprias escolhas e o seu lugar no mundo, pode entender e aceitar alguns dos meus princípios.
Entretanto, verdade seja dita, estabeleço minhas máximas pelas dúvidas que tenho com relação ao que está estabelecido. Tenho sérias dúvidas sobre a capacidade de amar, não só minha que já a declarei em outros escritos, mas de todos, além de considerar um sentimento moral antes que natural, portanto, proponho o celibatarismo para todos; tenho não apenas dúvidas, mas desconfianças do progresso econômico, portanto, proponho o fim do trabalho, do consumo e do dinheiro. E os valores então, tenho muitas dúvidas do que se estabelece como certo, justo, verdadeiro e até mesmo honesto, e assim sigo, e proponho que cada um siga, os próprios valores, e lute para que o Estado ou mesmo a sociedade civil não estabeleça coercitivamente valores. Propor não é ordenar.
Minhas certezas são momentâneas, movediças e incertas, ainda assim mantenho algumas convicções: que a humanidade precisa diminuir sua procriação, sua produção econômica e modificar seu estilo de vida. Como, quando e outras dúvidas também tenho. Mas, meu exemplo talvez sirva para mostrar um caminho de virtudes humanísticas, afinal, não procriei por amor à humanidade, pouco compro para não produzir nem o lixo da embalagem, não ambiciono nem ocupo posições sociais cobiçadas, não trabalho e contribuo com o trânsito da cidade por pouco sair de casa. Talvez, meu pouco fazer pode ser muito fazer pela humanidade.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Da série pensamentos evacuados

Ler pode não trazer sabedoria, mas tira muita ignorância. Mas, quem lê? A merda da educação alfabetiza, porém não ensina a ler; lê-se o necessário para sair da escola ou ter uma profissão, no mais, apenas bulas de remédio, revistas de entretenimento ou manuais de eletrodoméstico.

Mensagem para ninguém

Você que não ouve e nem vê, muito menos sentirá o cheiro do que se cozinha no cotidiano e saberá apreciar o paladar do prato que nos é servido. O gosto é amargo, o sabor é apimentado, o aspecto é nojento e o som é um ruído tosco de pessoas se apertando por um lugar ao sol ou à sombra. Sou dos que preferem a sombra. E o pior é o cheiro, desagradável seria até um elogio diante da calamidade que é. Todavia, há uma multidão nos escondendo nos cantos do mundo, passamos invisíveis nas ruas e avenidas, enquanto cada um, do seu computador, tenta se mostrar ao público. Se quer contatos, se quer ampliação de horizontes, se quer encontrar pessoas que façam alguma diferença, mas, como, se são todos iguais? De qualquer modo, se quer transcender o canto que se encontra, falar aos demais que também pensa e que tem coisas para serem ditas. Mas, de que adianta, se estão todos surdos para tudo que não lhe dizem respeito? Num mundo em que se pode dizer tudo sem impedimentos, não temos, no entanto, ninguém disponível a ouvir. É que todos falando, fica-se ensurdecido, sendo mais um ruído a fazer a barulheira geral. No mais, trabalha-se muito para se ter coisas a serem roubadas, ou fica-se no canto do mundo que se pode dizer seu, o que prefiro. Diversão é apenas uma ilusão dos alucinados que não percebem a encrenca que se encontram. E a ilusória felicidade é tão somente uma esperança para aqueles que se encontram na merda, ou seja, quase todos. De resto, tem muito lixo do resultado da nossa sobrevivência.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Quando falam do povo, falam de mim?

Tenho asco quando escuto políticos, intelectuais, artistas ou desportistas falando do povo, falando de mim, membro da multidão que erroneamente chamam de nação, como se suas conquistas pessoais fossem minha ou de outro qualquer, de todos. Nada disso, cada um luta pelo seu, pelo menos no quesito verbas e nos louros da fama, e ainda que dedique à nação, ao povo, aos familiares ou a todos suas conquistas, cada um de nós sabe que independente da glória daqueles que querem ser ou apenas parecer grandes, são nossos pequenos esforços que nos levam aonde estamos ou conseguimos chegar, e a glória dos políticos, desportistas, intelectuais e artistas em nada facilita o nosso cotidiano, ainda que possa render algumas fotos nos jornais dos premiados, que possamos eventualmente ver. Naturalmente ninguém é maldoso para desejar o mal de todos, todos parecem desejar o melhor para todos, mas lá no fundo estamos realmente preocupados é conosco mesmo, o que é natural, pois se os grandes são pequenos, nós que somos pequenos somos o que? Resto de bosta? Não! Revoltemo-nos contra esse lugar menor, sem crítica, sem bom senso, ignorante ou meramente estúpido que colocam o povo, categoria que cabe tudo que é gente diferente e que cada um enaltece e ridiculariza como bem quer. Falemos quem somos, pessoas comuns, é verdade, mas com discernimento suficiente para sentir o mau cheiro de tudo, principalmente das coisas escondidas por trás da política, ou das artes, ou dos esportes, ou das academias e da imprensa. Sou do povo e posso afirmar que não me encaixo na maior parte das definições que querem me impor, salientando que nem todos amam o mesmo estilo musical, ou festa, ou costume, ou ocorrência esportiva, enfim, há gente que tem horror a tudo isso, principalmente pela imundice que fica após as comemorações, pelas vitórias ou pela derrotas, pois o povo também comemora suas derrotas. E como membro do povo luto para escapar aos lugares comuns que incluem essa esgarçada categoria, quero revelar a multidão de indivíduos em busca de sua felicidade que não são as mesmas para todos. Não merecemos rótulos ou generalizações que nos reduzem a um rebanho de gente manipulável, mostremos nossa individualidade, não com a digital, mas com nossa sobrevivência gloriosa, ainda que humilde, no meio de tanta mediocridade daqueles que se sentem à parte do povo, por se considerarem superiores, ou iluminados, ou imunes aos acontecimentos do dia a dia da grande maioria. Construa o seu lugar no mundo, pois só assim se assina a existência.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Visitas esperadas

Você que chegou nesse blog, não sei como e nem sei por que, que tem a paciência de ler e ouvir o que digo, e talvez até procure algum sentido mais profundo para a infeliz existência humana, repleta de tristezas, depressões, stress, insatisfações, medos, violência, enfim, merda, informo que aportou um lugar incerto, e não tenho receitas ou doutrinas para se atingir o humor ou a alegria, e a única coisa profunda no homem é o intestino. De certo modo temos que aprender a conviver com a tristeza com alguma satisfação e dignidade. Não trago esperanças, nem alentos, quanto mais certezas. Tenho sérias dúvidas sobre a capacidade humana para a convivência massiva no planeta, aliás, tenho dúvidas sérias sobre a capacidade de convivência de qualquer nível. E quanto ao altruísmo para salvar a todos, considero apenas um conceito vago no imaginário popular. Não há nada para ser feito, nem mesmo lamentar. Eis porque sugiro a todos, como faço comigo, salve-se! Para ser honesto, salvando-se a si, poderão salvar alguns mais, e esses, outros, e os outros, os demais. No mais, quando estamos ocupados no salvamento próprio, aprende-se que nada há para ser salvo, senão a auto-estima, pois o maior perigo vem de um acovardamento diante da vida, e não de algum empecilho externo. Por fim, sou daqueles que acha que ninguém vale muito, e eu, menos ainda, e que o problema está naqueles que acreditam ter muito valor, pois algum valor, todos têm um pouco. Não sei se isso é suficiente para entreter atentos leitores, se o público quer ouvir os intestinais problemas da convivência, mas posso garantir que eles existem, são sérios, e não me furtarei dessa urânica função de arauto das mudanças radicais. O luxo é um lixo, o culto é insensível e o rico é de uma pobreza espiritual que só permite o mau gosto! Livre-se de tudo! Livre-se de velhas idéias e antigos costumes! Só não pode livrar-se das pessoas, já que a liberdade se vive entre homens, nunca isoladamente, que seria mais apropriadamente designado de solidão.
Essas palavras aqui cravadas para todos e que podem não atingir a ninguém, ou atingir poucos, são ditas segundo um princípio simples, que as pessoas gostam de pensar e que a vida ultrapassa nosso intestino e os fatores econômicos. Porém, não esperem grandes coisas de um mero narrador da vida, senão a descrição crua dos eventos. E o que espero com tudo isso é a satisfação de ter algo que possa ser lido e pensado. Esse blog serve como um ponto de parada para pessoas com narinas sensíveis, dispostas a vasculhar os odores das ações humanas, mas também pessoas dispostas a desenvolver seu olfato, para não serem atraídos para odores mais fétidos, mas disfarçados em suaves perfumes, só serão percebidos quando já se está metido na merda até o nariz. Sou como um farol a iluminar o caminho para aqueles que querem desviar dos excrementos espalhados por toda parte.
Fico grato com a visita e convido para outras mais, para outras partes já publicadas. Se quiser, comente. Se gostar, divulgue. E se puder, desfrute os odores aqui exalados.
Salve navegante!
Saudações internaúticas!

Inconsistências mentais

Se somos todos iguais, por que temos que aprender a conviver com as diferenças? Ou não somos iguais ou nossas diferenças de alguma forma nos igualam, ou o problema seja que ocorram os dois ou nenhum deles. Nem somos tão diferentes em nossas singularidades quanto gostaríamos, nem somos iguais em nossas potencialidades como almejamos. A igualdade parece mais uma ambição que uma efetividade. E, no entanto, sou grato às diferenças que me permite ser como sou, um bosta, é verdade, mas que assume suas cagadas e posso falar das merdas dos demais com liberdade e autonomia, de uma distância prudente por não estar participando apenas como mais um, mas, fundamentalmente, como menos um. E com certo desprezo pelo que fazem com a vida, uma atividade meramente econômica, fico sobrevivendo com suas sobras, que são muitas, tamanho o desperdício, enquanto vou falando da fedentina de muitas das ações que avisto espantado do alto da minha ignorância, que não é tanta para não se perceber também ignorante. Talvez, a igualdade não passe de um velho conceito esgarçado pelo uso e não se refira a nada possível ou mesmo almejável. De fato, poucos gostam de ser tratados como um qualquer, todos querem alguma distinção, todos almejam sair do lugar comum onde está a maior parte de nós pessoas comuns. De minha parte, posso garantir, aprecio as diferenças, e a igualdade me parece uma ilusão. Nem diante da lei somos iguais, tudo depende muito do dinheiro para as coisas tramitarem de formas diferentes. Eis porque ando razoavelmente distante da legalidade ou da ilegalidade, trafegando pelas suas brechas, por aquilo que não foi legislado; as leis pouco valem para aqueles que não sabem dos seus direitos ou não luta pelos mesmos, o que não é o meu caso, que nem esses direitos medíocres quer; para mim que não tenho negócios, de pouca serventia são. Sei que no fundo só conto comigo mesmo para defender-me seja do que for, o que me torna igual a todos, mesmo que muitos não saibam.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A merda da vida

Cada um de nós sabe as cagadas que se mete no decorrer da existência, ainda que muitos próximos de nós jamais venham a saber da merda em que estamos atolados. É verdade que muitos estão satisfeitos com tudo e com todos, que muitos parecem realizados e sem respingos de bosta, mas mesmo assim não pode afirmar que não tenha dado sua patinada na merda, ainda que de raspão e por muito pouco tempo. Ora, viver é uma merda e evitar cometê-las impossível. Para começar, todo dia é preciso acordar, e é sabido que o melhor da vida está em dormir e ficar sem fazer nada. Depois se aprontar para o infeliz trabalho de todo dia, tediosamente indo atrás da sobrevivência ou escalonando os status sociais, ou pior ainda, batendo cartão ou teclando códigos no relógio de ponto, ajoelhando-se às obrigações sociais que coagem ao trabalho, a família, a pátria, ao chefe, ao negócio e sabe-se lá mais o que se inventa para rastejar atrás de poder e fama, tudo muito imundo, como se sabe. Então, volta-se para casa já esgotado, e tem a chata da família a querer um monte de coisa que não pode ou mesmo não quer dar, mas arrancam-lhe com fórceps emocionais terríveis. E quando pensa em dormir, vem a maldita discussão da relação. Se fôssemos sãos ou normais, nos mataríamos, mas alucinados nos mitos culturais vemos perfume na nojenta indústria dos cosméticos, vemos virtudes na vida monásticas dos lares, e se acredita que se vence na vida. No entanto, pouco sabem que a vida não é uma luta, que não há competição, e que portanto não é uma questão de vencer ou perder, mas de construir seu lugar, que pode ser só, mal acompanhado, como muito ocorre, comungando e convivendo com um ou mais, e que a merda só existe porque quando cada um faz o seu, não percebe que joga sujeira para o lado, ou pega o que está do lado como se não tivesse dono, enfim, porque muitos acham que tem que ter muito, mesmo quando muitos tem pouco.
Mas, eu que tenho um nariz afinado e refinado, atento aos cheiros que exalam nos diversos tipos de relações humanas, pois todas exalam gases nos seus intrincados e intestinais intercâmbios de afetos, na maior parte negativos, consigo desviar dos montes de bostas que se encontra por toda parte. Não me encantei com o mito do casamento, nem sequer fui chamado pelo primitivo sentimento de procriar que a tantos atrai, alguns de forma meio selvagem. Também não me atraiu a fortuna ou o poder, nem sequer algum posto social. Do trabalho há muito tempo tenho uma distância saudável de nunca ter praticado ou submetido a esse exercício escravocrata, ainda que assalariado. Enfim, tento contribuir com o mundo, não pus, nem ponho, filhos no mundo, mais consumidores contumazes a devorar nosso meio ambiente, como a maioria faz; não tiro o emprego ou trabalho de ninguém, nem aumento as estatísticas governamentais; sempre que possível escapo das estatísticas e nem sequer me encaixo nos formulários por falta de designação, seja de minhas opções, seja da minha forma de viver. Ser alguém que não se conta, se não ajuda as estatísticas, não atrapalha. Mas ser assim conta muito para mim, ao menos não sirvo para nada, e se não consigo melhorar a merda vida, pelo menos não contribuo com a merda de todos estatisticamente computadas pelos dados governamentais.
Saudações vulnerável pessoa!
Veja onde pisa! O campo está minado!
E a cidade também.....

domingo, 19 de junho de 2011

Notas sobre uma filosofia intestina – Do desapego ao despojamento

Defendo o desapego com as coisas e com as instituições desde a adolescência, acreditando que as mesmas devem deixar de ser algo para se ter, e se tornem algo para só usar, caso possível e até onde seja possível, sem sofrer por não ter, pois se pensarmos bem, poucas coisas são realmente necessárias para viver: alguma água, algum alimento, algum tecido para agasalhar o corpo do frio, um canto sossegado para se abrigar das intempéries do clima e da sociedade e algum contato humano. Tudo mais são necessidades que a humanidade foi inventando e que foram naturalizadas, e que assim como se apegou, pode desapegar-se. Sentimentos, pensamentos, desejos e coisas, todos podem escolher dentro de uma rica oferta de possibilidades que frutificam pela cultura e pela sociedade, ou pode criar os próprios, ou criar outras coisas, e pode desapegar-se de todos e de tudo. Pode escolher casar ou não, pode escolher casar muitas vezes; pode escolher que o tecido além de esquentar o corpo, lhe enfeite; pode escolher passar a vida trabalhando para ter muitas coisas e pode escolher pouco ou mesmo nada ter. Nada está interdito para aqueles que constroem seu destino e tudo é possível, o que significa que pode tanto ocorrer o bem como o mal, ainda que o que mais ocorra sejam equívocos.
Todavia, o apego só é importante com as pessoas, das quais não se pode desapegar-se, sob pena de perder a humanidade. De tudo mais deve desapegar-se, buscando uma vida mais simples, sem muitas coisas a vigiar e livre para os encontros com amigos. O apegar-se às coisas, aos sentimentos, pensamentos e desejos se deve ao fenômeno de serem educados para a posse, que finda perpassando todas as ações e sensações humanas.
Eis porque muitos não acreditam que proponha o desapego de sentimentos caros à maioria, como o amor, um sentimento moral, que se caracteriza pelo fato de que a pessoa que o compartilhe, adquire o monopólio da posse do outro e pelo outro é monopolizado. E, pior ainda, em não poucas vezes, pode resultar em muito ódio, seu irmão gêmeo. Além de algo confuso, visto que as pessoas que amam seu par, não poucas vezes dizem também que amam seus filhos, que amam os pais, que amam os avós, que amam o cachorro, a planta, a cidade, o filme, o lanche e tantas outras coisas que se observa associado ao ambíguo amor, muitas vezes, por amor, fazem coisas cruéis, pois ele jamais dá boas medidas, na medida em que torna a todos parciais, ao preferir alguém em detrimento dos demais. Fundamentalmente, o amor não é nem democrático, muito menos republicano, vive num mundo privado, exclusivista, tornando os demais em desiguais e excluídos, e os envolvidos deixam de ser pessoas públicas e tornam-se um casal, uma entidade tentando criar uma identidade comum ou se matando para isso. Desapegar-se dos sentimentos morais é uma das tarefas que essa filosofia intestina, que aqui está sendo exposta, pretende realizar.
No meu caso, apenas o desapego da adolescência não me satisfez, tive que avançar até ao despojamento das coisas, dos sentimentos, desejos, pensamentos e muitas instituições, como família ou nação. O despojamento veio com o cinismo, já no começo da maturidade. Sei da radicalidade dessa proposta, pois se dependesse de mim ninguém teria nada, o que impediria ou limitaria muito a vida econômica, porém, por outro lado, praticamente acabaria a disputa humana pelas ninharias que produz, e, talvez, atingíssemos a paz. Ficar sem trabalho só é um problema quando o mundo é regido pelo dinheiro e acreditam que precisa comprar tudo que necessita para a sua sobrevivência. Com certeza, não é o meu caso, que raramente tenho dinheiro nas mãos, e ainda assim sobrevivo bem e sem trabalhar.
O fato é que, com o meu desapego associado ao meu despojamento, eu que nada procuro e pouco ambiciono, ocorre das coisas chegarem até mim, sem esforço, apenas passeando pelas casas de amigos. Caem na minha mão boiando nas ondas da moda e seus descartes de roupas, eletrodomésticos, móveis e tantas outras coisas que se troca. Primo por ter mais do que preciso através da reposição de algo novo de alguém, que precisando abrir espaço no armário, na casa ou por não querer mais o antigo, descarta em minhas mãos. Aquela calça antiga, aquela meia que não gostou, o liquidificador antigo, aquilo que para muitos para nada serviria, serve para mim. Infelizmente, creio que a única coisa realmente descartável na realidade contemporânea são as pessoas, tudo mais se recicla. Mas, assim como não descarto as coisas, não descarto as pessoas, eis o que me faz ter uma rede de amigos. E ainda que goste mais das pessoas, não nego que as coisas também têm seu encanto. Logo, sobras, restos e raspas me interessam! Detesto desperdício. Tem tanto trabalho humano sendo jogado fora em cada coisa que se descarta. Não sei se por certa afinidade de alma, tenho mais pena do lixo (abandonado ou jogado para todo lado) do que de muitas pessoas que conheço, que são verdadeiramente um lixo.
Naturalmente, tudo serve para a minha sobrevivência, pois que me despojei de ter bens de valor e optei por ter bens de uso tão somente. Aliás, pelos meus padrões, tenho muito mais que necessitaria para sobreviver, reflexo dessa época farta. Eis um motivo porque é fácil viver sem trabalhar, não faço carnês de prestação para satisfazer algum desejo tirânico de ter coisas! Não ambiciono senão o dia de amanhã, que sei que um dia não ocorrerá. Das coisas, poucas são as que desejo. Dos sentimentos e pensamentos, poucos são preservados incólumes por muito tempo, pois assim como os conhecimentos mudam, mudam também as emoções que nos causam pensamentos e sentimentos. O desapego é uma prova de maturidade emocional e intelectual, mostrando uma independência das coisas e das pessoas, das instituições que dão um sentimento forte de pertencimento, além de um sinal de autonomia moral e liberdade política, e a sabedoria de perceber que o importante na vida está no contato humano. Já o despojamento é sinal de ousadia filosófica e uma prática política que visa à transformação do mundo, dos negócios para os ócios.
Se não posso mudar o mundo, nem posso coagir aos demais para aquilo que considero acertado, não estou impedido de lutar pelo que considero, senão certo, menos errado. Que importância pode ter não ser levado a sério, num universo de tão poucas pessoas sérias? Não conto com a melhora do mundo, conto apenas em enumerá-las para que os mais próximos possam contemplar a riqueza que é nada ou pouco ter. E percebam que uma vida com pouco trabalho árduo é superior a uma vida dedicada aos aumentos salariais ou dos lucros, e o conseqüente trabalho exaustivo e diário que essas coisas exigem.

Perfumaria cultural

As pessoas se disfarçam com perfumes, pintando o cabelo, maquiando-se, com roupas que salientam ou escondem partes do corpo, com sapatos para aumentar os pequenos que são, e até mesmo com plástica. Todos travestidos para passar a imagem de mais jovens, mais belos, mais esbeltos, menos tristes. E para parecer mais rico ou capaz, adquirem coisas de grife e ostentam algum status; empunham carros para se mostrarem autônomos; vão aos lugares afamados para serem (ou tentarem ser) vistos, enquanto estão ocultos por de trás de uma máscara perfumada e cara.
Vão comprando xampu, condicionador, sabonetes, cremes aos montes, tinturas, desodorantes, vários perfumes, gel, filtros solares, mais cremes, esmaltes, maquiagem, algodão para por ou para tirar todo tipo de meleca que os ignorantes acreditam serem úteis ou necessárias. Compram roupas diferentes para se disfarçar de várias formas, havendo uma roupa para cada ocasião. Em certo local se quer passar por fatal, em outros sóbrios, em alguns de forma informal, enfim, justificativas não faltam para terem tantos uniformes para legitimar suas fantasias pessoais.
Enquanto eu fico entristecido, vendo todo esse mau gosto e todo esse gasto inútil, na minha forma de entender, desperdiçado num disfarce inútil. Não sabem que se abrissem mãos dos gastos com a futilidade, poderiam ficar mais horas sem trabalhar por dia, na medida em que parte do nosso esforço vai para a nossa sobrevivência e sustento, outro para os impostos gulosos do governo, mas outra parte significativa vai para a futilidade de enfeitar a si mesmo, assim como sua casa. Se fosse apegado ao dinheiro ou ao trabalho, poderia guardar uns 30% da renda do trabalho, pois nada gasto com esses ungüentos medievais travestidos de cientificidade, nem penduro coisas na parede. Mas não! Tenho asco do trabalho. Minha roupa é usada e de segunda mão, e nada uso senão água e bucha para me limpar. É que nada tenho para esconder, nem mesmo meus odores e algumas sujeiras. Na verdade, tenho mais coisas a mostrar do que aquelas que querem ver, via de regra, algumas verdades e muita fedentina.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Fedentina política

Querem manter secretos os documentos antigos que foram sigilosos. Por que? Dizem que é porque podem prejudicar a nação.... Acredito nisso, porém não porque se colocaria em xeque a “segurança” do Estado, mas porque se colocaria em xeque o caráter dos nossos governantes. Há uma máxima que diz, que tudo que não pode ser colocado em público é porque é desonesto ou injusto, e nisso acredito mais ainda. Com certeza há muita merda que querem deixar escondida......

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Notas sobre o meu existir N° 13

Muitos no meu lugar pensariam em vingança, que chamariam de justiça, em denunciar todos para as autoridades e buscar alguma punição. Não digo que não pensei, mas dei-me conta que, o que me distinguia da igreja, era achar que mesmo o mal deve ser retribuído com o bem. Que o erro vem mais da arrogância, que decorre da ignorância, do que de algum tipo de maldade intrínseca. Também não tenho frustrações, nem ao menos rancor. Não que seja capaz de perdoar ou que não me lamente pela vida perdida, ou que não amaldiçoe os castigos sofridos, enfim, sou um homem, tenho fígado e estômago, além dos intestinos, de onde acredito brotarem minhas idéias (hipótese absolutamente revolucionária e nunca aceita como uma tese pela academia). Simplesmente nunca levei a sério a vida, pois a única coisa séria nesse mundo é a falta de seriedade das pessoas, não excluindo a mim mesmo. O fato é que nada procurava ou ambicionava, e se uma vontade me fosse possível ter, era ser esquecido, mas isso era impossível quando alguns dos meus superiores me desejavam alçar a fantasma da biblioteca.
Alguns seminaristas vieram me confidenciar que iam denunciar, na primeira oportunidade, quando de lá saíssem para visitar aos familiares, as coisas ultrajantes e repugnantes que comigo fizeram. Logo fiz entender que não pretendia, nem nunca pretendi me vingar dos meus algozes. Que pouco valor via em se matar o tirano e que o certo é acabar com a vontade de se deixar tiranizar, e que a indiferença era a melhor arma para acabar com a tirania. Além disso, destituído que fui da capacidade de amar, consequentemente fiquei incapacitado de praticar seu irmão gêmeo, o ódio, portanto, não pretendia combater o mal com o mal, mas sendo bom, não querendo a mesma coisa que eles. Verdade que ser bom é relativo, o máximo que consigo afirmar, é que é não fazer ou desejar mau nem aos ruins.
Perguntavam os seminaristas, por que das punições cristãs, e ainda mais físicas? Já escrevi duas teses a respeito, mas não foram aprovadas. Afirmei na época apenas que, talvez, pela verdade elementar que enunciava aos quatro ventos: a ignorância! De minha parte, tão somente defendi um ponto de vista cristão: a morte não é um mal para um cristão e nenhum cristão deve senti-la assim, nem desejar ou lutar pela punição de alguém pela sua ocorrência. Não disse que é certo matar, disse apenas que não é ruim morrer. Outra coisa é se levo a sério isso ou qualquer outra coisa cristã.
Por incrível que possa parecer, essa minha resposta fez crescer ainda mais certa fama que comecei adquirir ainda preso e que desconhecia até então. De fato, minha hipótese teológica foi aceita por muitos seminaristas e comecei a ser visto como uma espécie de profeta. Além disso, quando foram realizar a queima dos meus manuscritos retirados do claustro, o aluno que ajudava o monsenhor acabou surrupiando e salvando um deles, que acabou sendo lido clandestinamente por todos. O título pouco digestível aos estômagos mais sensíveis era: “Sobre o uso dos excrementos e do escarro na magia natural e negra”.  E todos acreditavam que tinha usado a magia descrita na seção “De como usar as fezes para obter a piedade ou favores do inimigo”. De pouco valeram minhas negativas, afirmando que o texto não passava de uma compilação dos textos de Paracelso e do Grande Alberto para o professor de teologia, pois alegavam que, segundo uma das máximas que estava no texto por mim escrito, um mágico jamais afirma que é mágico, e que não tem pruridos em usar de mentiras e subterfúgios para negar sua condição. Isso naturalmente era absolutamente certo na época dos senhores por mim estudado, uma vez que se queimavam os feiticeiros. Se bem que, o que era derradeiro para eles, a evidência certeira dos meus poderes mágicos, era o fato de afirmar no texto que um verdadeiro mágico ou feiticeiro jamais cobra por seus serviços, e como já era notório, desde aquela época, o meu asco pelo dinheiro, deduziram que isso advinha porque com os meus poderes não precisava dele para obter as coisas, se é que não fazia as pessoas me darem com algum tipo de encantamento.
Verdade que quase todos meus textos foram incendiários, ou melhor, incendiados, mesmo porque nunca repercutiram por muitas pessoas. Ninguém lastima mais do que eu essas perdas, ainda que para a humanidade, é verdade, pouca diferença fez ou fará. E os lamentos que enunciava pela perda dos mesmos, que chegaram a dizer que eram exagerados, eram no máximo resultado de alguma dramaticidade da minha parte, afinal, também sou humano. O fato é que acreditava que não merecia tais castigos, sempre fui bem comportado, aluno estudioso, ainda que muitas vezes reprovado. Não fui, nem ambicionei ser o capeta como se alegava no mosteiro; tivesse ambições desse tipo de transcendência, seria deus.
Enfim, virei uma espécie de profeta e mago simultaneamente, adorado por alguns, odiado por muitos, mas temido por todos, pois acreditavam que pudesse usar meus “poderes” (sic!) para enviar a alma das pessoas para o inferno, assim como salvar dele. E o monsenhor ficava cada vez mais preocupado com a minha influência ou ascendência até mesmo sobre professores. Sua atitude para comigo não era apenas de ódio, mas de impotência, pois mesmo a maldade parecia não me atingir, ou pelo menos não surtia o efeito desejado.
Tentando me afastar de um contato maior com os demais seminaristas e professores, fui designado para as atividades campestres, cuidar de horta, de plantações, de criação de animais, enfim, uma vida agrícola: o mínimo de aula e o máximo de trabalho (só de escrever essa palavra sinto vontade de vomitar). Até então, nunca tinha saído do lado de fora do seminário e tinha visto o rio apenas na chegada ao mosteiro. Nada sabia da vida fascinante que ocorria a revelia do meu campo observacional. Descobri porque muitos preferiam o trabalho “duro” do campo, ao trabalho bem mais leve dos estudos. Ora, o que tinha perto? Alguns índios, mas principalmente índias, que por mais que insistissem, raramente estavam vestidas, e todos ficavam vendo (e babando) as tetas nuas balançando daqui para lá. Fiquei sabendo inclusive que chegaram a ocorrer estupros, mas como tudo que envolve a igreja, as coisas foram abafadas. Mesmo eu, quase sempre dotado de um autocontrole de fazer inveja a qualquer padre, tive que conter até meus olhos que tendiam a se direcionar para os seios e para tudo mais desnudo.
Todavia, os índios ajudavam nesses trabalhos agrícolas e recebiam uma porcentagem que levavam para suas aldeias espalhadas ao redor do seminário. E nós ficávamos sob a supervisão de um padre agrônomo, que nunca dispensou a companhia de uma das índias que até quis mudar para a sua casa, que ficava na parte administrativa da parte rural do seminário, distante dos altos muros do mosteiro propriamente dito. Ele nos fazia carpir, roçar, colher verdura, dar comida para porco, galinha, enfim, qualquer dessas coisas horrorosas além de outras mais.
Foi assim que descobri porque todos queriam se alistar para os serviços de carregador dos produtos do barco para o mosteiro, uma caminhada carregando carga por mais de 800 metros: o barco trazia 2 prostitutas, e os noviços faziam fila para utilizar seus serviços: 5,00 para punheta, 10,00 para o boquete, 15,00 para por dentro da perseguida e vintão para o cu. E como tudo nessa vida, havia discriminação, os padres raramente tinham que pagar pelos serviços; até para isso esses velhacos pedem isenção de taxas, ainda que não se cansem de passar a sacolinha nas missas ou em visitas ao pobre rebanho.
Enfim, a vida parecia bem agitada fora do seminário. Naturalmente, sempre dei um jeito de ficar sem trabalhar: comecei sendo ajudante do padre agrônomo, fazendo as anotações nos seus registros, logo me pôs para organizar a sua biblioteca, depois como monitor dos demais seminaristas, por fim, fiquei como fiscal de tudo, e até os índios tinham que prestar contas comigo, enquanto ele prestava total assistência à pobre índia. Meus conhecimentos agronômicos, florestais, geográficos e até mesmo geológicos e biológicos foram significativamente ampliados. Tive acesso aos diversos mapas hidrográficos, geológicos, geográficos de toda região. De repente, sem sair do seminário, conhecia melhor a região que muitos mateiros, com os quais sempre conversava e trocava opiniões sobre a floresta circundante e seus caprichos.
Foi assim que amadureceu a idéia de fugir. Estava para fazer 18 anos e com a maioridade meus pais não poderiam continuar a me obrigar a lá permanecer. Segundo as poucas cartas que recebi deles, pretendiam me manter aqui até os 21 anos, pelo menos. Ou seja, se dependesse deles seria um padre. E se meu plano tivesse êxito, apareceria na casa deles para dizer que não precisava mais da tutela deles depois da maioridade, e que viveria por conta e risco próprio. Já havia escrito pedindo a liberação dessa tutela e tinha recebido um rotundo não, certos que não tinha como fugir e seria obrigado a me submeter às circunstâncias geográficas de não poder escapar do seminário. Mas, decididamente, não nasci para ser domesticado ou para a obediência.

Da série pensamentos evacuados

Estava pensando que depois de ter nascido não lembro de outra cagada tão significativa na minha vida. Para tudo mais sempre houve algum papel higiênico para limpar. Quanto a mim, enquanto viver, parece que gastarei muito papel, não porque seja um cagão, mas é um fato que faço muitas cagadas.....

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Não fui feito, eu me faço

Não fui feito para o trabalho, seja pesado, seja leve, nem mesmo para um emprego onde só se recebe o salário. Não fui feito para enfrentar filas para pagar carnês de prestação e contas, ou competir com os demais por um posto ou cargo de prestígio. Não fui feito para correr atrás de pessoas ou coisas, menos ainda para ter stress ou ansiedade para a realização de meros e banais desejos. Não fui feito para sofrer de amor ou inveja de pessoas aparentemente melhor localizadas na escala social degenerada da vida atual. Não fui feito para os sacrifícios ou suplícios que praticam para a ascensão social. Eu me fiz alguém que vive em função do desfrute do momento presente, sem me preocupar com o depois, sem ambicionar ser diferente do que sou, uma pessoa despojada dos valores usuais, que se esforça apenas para não ter esforços, e que antes de participar da barbárie diária, deprecia o cotidiano. Não deixo a sociedade tiranizar minha vontade e faço meu próprio destino, que não pretende a grandiosidade, no máximo, uma calmaria emocional e alguma maturidade espiritual que não permita que os desejos molestos da sociedade voluptuosa dominem meu ser. É que há muito tempo descobri que não há superiores ou inferiores, e que ninguém tem assegurado o dia de amanhã. Assim, vivo hoje sem nada temer ou lamentar, nem mesmo a morte, pois uma vez perdida a vida, já não podemos lamentar, seja a vida, seja a morte.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Pensamento rasteiro

Não sei quando estou certo, talvez, nunca, mesmo porque pode não existir certo, senão o que os homens assim convencionam e a maioria concorda. Mas, sei quando estou errado, quando todos concordam comigo.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Uma doença internacional

Vivemos dias obscuros. Por todo lado os adoradores da prática primitiva criada pelos bárbaros da Grã-Bretanha, vulgarmente conhecida como futebol, saem pelas ruas e avenidas emporcalhando tudo, após os jogos. Embriagados, puxam os inocentes transeuntes para uma alegria desmedida pelo pequeno acontecimento. Essa prática futebolística consta de um retângulo gramado razoavelmente grande, onde ficam dois grupos de onze indivíduos correndo atrás de uma bola, cada um ocupando metade deste campo, tentando encaixar num retângulo vertical bem menor e com rede em cada extremidade do campo, oposto ao seu campo, ou tentando evitar que o outro consiga tal intento no seu lado do campo. Perto desse local colocam um membro do time para segurar, até mesmo com as mãos, a bola na sua trajetória para o gol. Mas, esses, pelo menos, estão brincando de bola, ainda que de forma bem infantil, disputando a pobre coitada com chutes cruéis contra tão inocente objeto. O pior é ver uma multidão, ora sentada, ora em pé, ora berrando e falando alto, ora calada e hipnotizada, idólatras desvairados a ficar assistindo a brincadeira boba com a bola desses 22 jogadores. E isso passa na televisão, e quase todos ficam vendo essa brincadeira infantil. Então, não há lugar que se vá onde se possa ter algum tipo de conversa civilizada e inteligente: todo assunto gira ao redor dessa prática bárbara. Um pobre coitado, como eu, pode morrer sem ter com quem conversar durante a ocorrência de tais eventos.

Gases nossos de cada dia

Arrotos e peidos, os excluídos da vida social! Por que dessa repugnância pelo fervilhar da natureza humana? Por que esconder o que se é? E disfarçam cheiros, se escondem em roupas, e fingem ser o que não é: um animal que não peida ou arrota, como qualquer mamífero. A repugnância é majoritariamente feminina, mas suficientemente forte para castrar os mais inseguros.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Odores que exalam

Veja o homem comum, aquele que luta pelos seus prazeres diários e tem força para conquistá-los, senão todos, parte deles. Creio que sejam aqueles todos que têm como sobreviver com o seu esforço e tempo para o saudável ócio para se entreter e pensar na vida, mesmo ciente que a vida é algo que se sabe pouco e fala-se muito. No homem comum salienta-se que, com exceção daqueles que realizaram sua auto-formação, ninguém é formado nas virtudes necessárias à vida livre e autônoma. Falta: 1) a coragem, sem a qual a pessoa não se defende dos ataques alheios ou não defende seus interesses; 2) a prudência, para saber onde por ou não o nariz e o olho guloso; 3) a persistência, para não ver na dificuldade, impedimento, e decair na preguiça ou na passividade; 4) a temperança, para que haja comedimento, mais do que desperdício como ocorre. O mundo contemporâneo contenta-se com homens que tenham alguma habilidade técnica para a autonomia econômica, pessoas razoavelmente honestas e confiáveis, que transitam em paz na busca dos seus interesses entre todos. Seria isso suficiente se as pessoas não fossem em boa parte medrosas, quando não covardes, com idéias vãs e ingênuas. Todavia, o pior é quase todos plasmados para trabalhar e comprar eletrodomésticos, carros, roupas, sapatos, cremes e tantas outras coisas que se inventa para parecer “diferente”, “único”, “além dos demais”, e, ao fim, tornando tantos tão iguais. E desse hábito grotesco frutifica muita embalagem, plásticos, enfim, merda, digo, lixo, contando inclusive com as coisas compradas, pois tudo que se compra, logo quebra ou estraga e é jogado fora.
Pergunto-me, de que adianta haver uma grande maioria de pessoas boas no mundo, se não sabem como agir ou impedir o mal, se diante dele treme ao invés de lhe mostrar o certo? De que adianta ter acesso a tantas informações, se ao mesmo tempo não se sabe retirar o substrato, separando a porcaria da informação útil? Crescer não é fácil, exige largar crenças queridas, mas, tolas. Além disso, a maioria prefere delegar a alguém a resolução dos grandes problemas, pois que tem seus pequenos problemas para resolver, e, assim, cada um preso e resolvendo o seu problema, poucos vêem problema em tudo ser dessa maneira e menos ainda sabe o que fazer, caso perceba. Só sei que o desenvolvimento econômico tem levado a humanidade a perder qualidades morais e virtudes, além de por preço em tudo, e o cheiro horrível do dinheiro tampa as narinas que possibilitariam sentir a bosta de só pensar em comprar e vender. Há coisas muito melhores para se fazer, por exemplo, ficar sem fazer nada ou apreciando a manhã, a tarde ou a noite. Ao invés de só buscar ter coisas, ter mais encontros com pessoas, pois acredito que a vida merece celebração, e não apenas ficar construindo os minúsculos castelos de cada um. Defendo o despojamento das coisas, dos títulos, dos diplomas, do emprego, com um mundo com menos convenções e mais acomodações emocionais.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Dever ser

As coisas deveriam ser assim, ou bem feitas, ou não feitas, como prefiro, pois que acertar é raro. Mas, como a maioria se satisfaz com qualquer porcaria, acabam fazendo qualquer merda, e se iludindo de grandes feitos. A fedentina fica para aqueles de narinas mais apuradas, como eu, que têm que desviar das futilidades e quinquilharias produzidas para a felicidade supérflua de quase todos, quando, na verdade, o que mais se produz no mundo atual é lixo!

Os jornais

A maior parte das coisas que avisto nas manchetes dos jornais, via de regra, são coisas de pouco valor. A desgraça, a catástrofe, o baixo, o raso, o desprezível, o roubo, a morte é o que se destaca no jornalismo. E o bom, a virtude ou a vida aparece como algum tipo de exceção na vida social, escondidos em pequenas notas marginais dos jornais. Por que será que só as porcarias atraem a atenção do público? Por que será que se presta mais atenção no que está errado praticado por poucos do que nos acertos diários de quase todos? Acredito que seja porque se prefere ver a merda alheia a própria......