domingo, 16 de dezembro de 2012

Uma estranha função social

Sou um decifrador dos sinais, dos signos e dos símbolos humanos, ainda que nem seja sábio, muito menos tenha competência em alguma ciência. Tento traduzir a incompetência humana para a convivência pacífica, seja consigo mesmo, seja com as demais criaturas, seja com a natureza para o pouco entendimento das pessoas, que mais do que não saber, sentem asco pela sabedoria e mergulham fundo na mais profunda ignorância. Confesso que não tenho sucesso, nem mesmo êxito. O amor a ignorância é tão arraigado, a preguiça mental é tão habitual, a falta de coragem para descobrir a verdade é tão forte, que meus esforços na maior parte das vezes resultam em palavras faladas sem serem ouvidas, ou odiadas, ou ainda desprezadas, o mais usual. Ainda assim prossigo esforçadamente mostrando como o ódio decorre do amor, como a tristeza é o resultado mais imediato da alegria, que a igualdade não passa de um símbolo matemático, que a liberdade é responsável pela construção das prisões e que a razão é uma ilusão e um mito recorrente quase tão antiga e arcaica como a divindade. É que no mundo humano, quase todo formado de coisas não palpáveis (amizade, felicidade, amor, poder, justiça, liberdade etc.) ou materiais, ou tangíveis, coisas que não tem um ser específico, mas é antes uma forma de estar e agir, coisas que só existem ou decorrem de estarmos entre homens, do contato entre as pessoas, quando se fala alguma coisa, muitas coisas distintas podem ser entendidas, assim, da mais inocente ação pode ocorrer repercussões imprevisíveis e pode significar coisas muito diferentes, dependendo do nível informacional dos receptores. Logo, quando digo que o problema político é ético, que o crime é um problema de saúde pública e a saúde pública vem se tornando caso de polícia, poucos entendem. De fato, dos símbolos inventados pelo homem, o mais esotérico e exotérico, sem dúvida, além da certeza, está a verdade, que sempre comportou inúmeras mentiras e infindas falsidades, pois assim como dizem que há várias falsidades e formas de errar e só uma verdade e uma forma de acertar, ocorre de não se acertar, nem verdades descobrir, visto que a mentira sempre pode prevalecer. Sinais da ocupação humana do planeta: há merda humana de polo a polo. Signos da ocupação humana do planeta: as línguas diferenciadas que se escuta pelas diversas partes da Terra. Símbolos evidentes do domínio humano do planeta: a produção cultural da humanidade. Sinais, signos e símbolos são quem promovem o entendimento e o desentendimento, a emancipação das pessoas ou sua submissão, a libertação ou escravização a algumas verdades e as inúmeras mentiras, além da ocupação planetária. De resto, só peço que não interpretem esses sinais, signos e símbolos, como se fossem “A” Verdade, mas que entendam antes que expressam minhas verdades, que ainda que possam não ser verídicas, são certamente honestas. Para encerrar, é preciso que se diga que, o que mais simboliza nosso existir, sinal claro de nossa estranha permanência na existência, signo unívoco de nossa inconsistência é o mito recorrente do fim do mundo, que encanta e espanta o imaginário supersticioso dos homens e sua consciência pesada há milênios, e nem o mundo nem o mito têm fim. O que todos deveriam saber é que só uma forma de acabarmos com o mundo, excluindo essa palavra dos dicionários dos homens, no mais só petulância simbolicamente frágeis, repleta de signos com significações insignificantes e sinais confusos da pressa de ocupar o silêncio do desconhecimento, já que não poucas vezes querem explicar o que não sabem com coisas que sabem menos ainda.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A merda brasileira


O Brasil não tem problema, já o brasileiro é muito problemático. Sua elite ascendeu pelo dinheiro, pela força ou pela violência, não por méritos políticos ou por virtudes morais; assemelha-se mais a uma oligarquia do que a uma aristocracia. Sua suposta elite intelectual ambiciona fama nacional para tentar conseguir glória (efêmera) internacional. Mais do que inculta e ignorante, é fundamentalmente burra, mesquinha e medíocre. Sinal claro disso é o lugar (ou não-lugar) da educação em solo brasileiro, uma coisa improvisada desde sempre e, como tudo indica, para sempre: segue os oportunismos governamentais, mais do que atender as necessidades nacionais; sempre na mão de leigos, de apadrinhados, de amigos, de familiares, de políticos, nunca na mão de educadores. O oportunismo e o improviso é a marca mais significativa do espírito brasileiro. Não acredita no trabalho (ainda que trabalhe como um burro), no estudo, no esforço, mas na sorte e nas relações pessoais que trava para vencer na vida, nem que para isso tenha que cometer uma ou várias canalhices. Suas virtudes morais são tão baixas, que basta ver alguém simplesmente honesto, o que todos deveriam ser, para colocá-lo nas manchetes dos jornais e televisões como herói, um modelo, não para ser seguido, pois no Brasil poucos acreditam na honestidade como uma prática comum, mas para dar uma leve expectativa que entre tantos bandidos, há ainda esperança de haver alguns poucos que se salvam. O brasileiro tem a alma de garimpeiro, daquele que espera fazer fortuna rápida explorando a natureza, sem se importar com os custos dessa busca; tem um caráter covarde que o faz silenciar diante das injustiças ou quando tem que agir para que ocorra o certo, que alienadamente delega ao Estado, ou pior, ao governante realizar; é um preguiçoso quando se trata do bem comum ou da coisa pública; é um pervertido moral, pois a moralidade é algo do reino da aparência, nunca de essência, e o importante não é ser, mas parecer honesto, bom e justo – via de regra, aquele que mais cobra moralidade é quase sempre o mais imoral, e quer se qualificar, desqualificando o outro. Quando age certo, dificilmente é pelo motivo correto, e quando tem um motivo correto, acha que não precisa agir certo. Que alguns possam achar virtude numa aparente alegria ou numa suposta cordialidade brasileira (que o digam os descendentes de escravos, que muitos não encontraram até hoje um lugar descente para morarem), ou ainda em algumas manifestações artísticas ou esportivas onde alguns indivíduos possam se destacar, que não seja pelo dinheiro, pela força ou pela violência os outros fatores que destacam os brasileiros para eles mesmos, tendo a discordar, ou pelo menos relativizar a qualidade dessas virtudes, uma vez que se continua a privilegiar as ações individuais, quando as verdadeiras virtudes, ou pelo menos, as mais importantes não são aquelas que destacam os indivíduos, mas aquelas que são produzidas em conjunto com os demais, aquelas que se faz entre homens como a amizade – não a cumplicidade como se entende em solo brasileiro a amizade; a coragem de enfrentar as adversidades e as injustiças; a justiça de saber agir de forma certa no momento apropriado, antes que a vingança por maldades supostas; a sabedoria para moderar sua razão e suas emoções, de forma geral, imaturas e tolas. Tenho para mim que o brasileiro é um cagão, não só foge da luta, mas se caracteriza pelo famoso “deixa disso”, acredita que deve entregar tudo quando sob a mira de alguma arma, que uma prolongada vida covarde é infinitamente melhor que uma breve vida heroica, que nada nem ninguém valem qualquer gesto digno de sua parte, que se deve se ajoelhar, seja aos poderosos, seja a qualquer bandido. A herança histórica dos brasileiros é recheada de canalhice, negociatas, sandices, megalomanias, mentiras, usurpações, corrupções, golpes de Estado, que por mais que historiadores procurem alguma dignidade, a mesma nem ao menos é um termo do vocabulário ordinário, quanto mais algum tipo de prática ou mesmo teoria, tendo em vista que o que moveu o desenvolvimento nacional sempre foram interesses mesquinhos, econômicos e as circunstâncias que obrigam os brasileiros a terem que revisar seus pontos de vistas sempre arcaicos, meras cópias mal feitas de ideias importantes, mas que poucos entendem – falta cultura, falta formação! Se pudesse fazer uma hierarquia entre as merdas nacionais, o que é certo absurdo, pois seja bosta, coco, fezes ou excremento, trata-se, sem dúvida, sempre de merda, um termo rude ou rústico, é verdade, mas honesto e verdadeiro, e muito mais próximo da realidade nacional, onde excremento é um termo tão sofisticado, que nem professores universitários o utilizam, além de soar falso aos ouvidos surdos dos nacionais, diria, então, que uma das coisas mais fedidas que temos é as leis, um excremento só. Em primeiro lugar, ninguém ou quase ninguém em solo brasileiro, e sendo brasileiro, gosta de lei – burlar é quase um esporte nacional, com certeza, uma prática usual; todos ou quase todos, por arrogância ou ignorância, acham que as mesmas servem aos demais, nunca para eles próprios ou para aqueles que consideram seus. Em segundo lugar têm a petulância de querer mudar a barbárie nacional por decreto, quando os hábitos e os costumes só muito lentamente podem ser mudados, quando são mudados, o que nem sempre ocorre. Em terceiro lugar querem abranger tudo e tudo escapa pelo excesso de regulamentação que se contradiz ou se opõe, ou nada especifica de fato, e tudo se resolve pelo burocrata que interpreta a norma como bem entende. Entre o que a lei impõe, o que o governante ordena e o que o funcionário público faz são coisas tão distintas, que qualquer cidadão sabe que quem de fato resolve seu problema, é aquele amigo que conhece alguém na repartição que fará tudo acontecer como tem direito (ou não), mas que ninguém está disposto a realizá-lo, a não ser que seja conhecido de alguém da repartição ou instituição que presta o serviço. Diria que em termos políticos os brasileiros são pré-políticos, acreditam mais nos homens do que nas leis, votam mais nas pessoas que nas ideias, e se pudessem seriam monarquistas, só não são para não ser a única excrescência das Américas. Na verdade, a mentalidade brasileira é de Estado absolutista, que deve resolver tudo, que deve fazer leis, executar o direito, guardar a economia, resolver as pendengas de todos e acolher a todos diante dos cataclismas. Os brasileiros valorizam mais a beleza que a inteligência, mais o bolso que o caráter, mais o sabido que o sábio, mais o esporte que a política, mais a arte que a ciência, mais o mito que a filosofia, mais a aparência que a essência, mais o conhecimento prático e a utilidade imediata que a sabedoria teórica e de caráter formativo, que não visa um fim imediato, mas aquisição de certo refinamento no pensamento. A grande contribuição para a humanidade dos brasileiros, além do samba e da cachaça, é o fato de serem medíocres e não fazerem grandes coisas, o que evita grandes erros, e sua atuação na arena internacional é pífia, como são seus políticos, não contribuindo para grandes cagadas mundiais; quase toda nossa merda é absorvida internamente. Externamente temos a petulância se sermos uma potência, ainda que acrescentem o sofisma “emergente” após potência, que se sabe, não é levado a sério, pois concretamente somos uma nação pouco confiável, onde os contratos podem ser rompidos por mudanças intempestivas das leis, sempre prontas para mudanças segundo a força dos interesses que as promovem. Não há diálogo ou debate, e qualquer manifestação de ideia, se desqualifica o idealizador antes de se entrar no mérito do idealizado. A democracia é entendida como uma tirania da maioria sobre as minorias e que a escolha do governante resulta na liberdade de escolha da tirania a que se quer se submeter. A aquisição de riqueza ou bens resultam mais numa ostentação de sua posse do que em algum tipo de aprimoramento pessoal e, de forma alguma social, e a aquisição de conhecimento em posse de instrumento de manipular e enganar a grande maioria, carente não apenas de conhecimentos, pois que isso até mesmo a elite é, mas também portadora de uma ignorância secular, e, portanto, facilmente manipulável por qualquer espertalhão. Fundamentalmente, o brasileiro tem preço, e é barato, porém, pouco valor.
Ao afirmar isso pode parecer que tenho certo menosprezo pelos brasileiros, entre os quais me encontro. Longe está da verdade. Há algo que admiro e que certamente deve ter influído sobre os fundamentos metafísicos da minha filosofia intestina, a desimportância dos brasileiros no cenário internacional e a vagabundagem brasileira (cantada em versos e contada em prosa desde o início de sua ocupação) e que sempre foi severamente reprimida pelas autoridades oficiais e econômicas, quando não pela própria família, que não poucas vezes tem que carregar nas costas um ou vários folgados que habitam as famílias brasileiras. Verdade que as autoridades são essencialmente vagabundas, mas cobram de nós esforços, para que elas próprias não tenham. De fato, conheço poucos que, se pudessem, não viveriam à custa de alguém ou do Estado, e como são tantos a ter a mesma ideia, poucos de fato realizam, ainda que queiram. Nisso vejo alguma sabedoria, todos querem antes um emprego do que um trabalho, mais o salário que o esforço para obtê-lo, o único problema é que isso é feito de forma desonesta, como é a prática nacional. E a desonestidade, não a vagabundagem, é o que onera a vida de todos, pois paga-se caro para se garantir os bens, que a rigor nunca estão de fato garantidos, que podem ser usurpados em ardilosas artimanhas, pois que aqui, dependendo dos recursos econômicos que se tenha e do arsenal jurídico que se utiliza, tudo pode ser transmutado diante do juiz: nem as leis são muito honestas nesse país. A preguiça que é algo comentado e relatado desde o que se intitulou a “descoberta” (ocupação) do Brasil, que dá o suporte ontológico para a vagabundagem nacional, deveria ser desenvolvida e aprimorada, porém realizada honestamente, e não como se faz, sempre em prejuízo de alguém ou de vários. Deputados, governantes, juízes e tantos outros folgados que rondam as manchetes nacionais deveriam ser privados de seus privilégios, para que mais pessoas possam folgar também. Ora, se há uma coisa que nossas leis fazem é garantir privilégios as diversas categorias, proporcionalmente à sua força política diante da sociedade covarde. Enfim, esta preguiça tão salientada nos trópicos pelos experientes europeus, tão necessária para uma vida digna num clima por vezes tórrido, deveria ser levada mais a sério, e ao invés de trabalharmos para sermos uma potência medíocre, ser um país que antes de aparecer diante dos demais, satisfaz o mínimo necessário para os que aqui perambulam e habitam. A verdadeira riqueza natural só é útil, se nos faz trabalhar menos, e aqui se tem tantas frutas, o que permite desfrutá-las o ano inteiro, sem muito esforço.
De resto, vejo que os países podem se organizar sob círculos virtuosos ou círculos viciosos, e a qualidade dos círculos depende da qualidade dos cidadãos; onde se tem mais virtude, há menos violência e menos custos para se viver, onde se tem mais vício, há mais violência e o custo social é maior. O brasileiro se estrutura através de círculos viciosos, que datam do tempo colonial, com clientelismos, paternalismos, cumplicidade e troca de favores, onde as relações pessoais são mais importantes que as competências individuais, e o bem público uma apropriação privada dos setores sociais mais fortes da sociedade brasileira; a repartição de honras e punições atendem critérios de relacionamentos, e quanto mais distanciado estiver dos portadores desse poder, tanto mais distante estará da honra e mais próximo estará da punição. Naturalmente, para os cidadãos comuns, como eu e a grande maioria, que nada fazemos e assim nada podemos para alterar os vícios que sustentam a sobrevivência viciosa dos brasileiros, que passamos despercebidos das autoridades e da imprensa, e temos uma vida normal, ou seja, sem glória ou fama, podemos levar uma vida bem razoável no Brasil, afinal há pessoas divertidas, há muita coisa para ser vista, criamos relações que nos sustentam num mar de barbárie social, pois aqui se mata mais por menos, e a vida é uma banalidade que assistimos esvair nos telejornais diários. Dizem os mitos que a câmera inibe a criminalidade, entretanto, desde que se tornaram usuais, só tenho assistido a roubos e mortes, sem observar nenhuma diminuição, pelo contrário, assisto alarmado a sua ampliação e amplidão. Eu mesmo já sofri várias tentativas de roubo, e só não fui roubado porque nada tinha (ou tenho) para ser roubado, pois praticamente só tenho o que trago dentro de mim, algumas ideias, várias emoções, alguns parcos conhecimentos e uma tênue vontade de continuar vivo, e nem sei direito por que. Talvez, porque eu mesmo ainda não tenha feito uma grande cagada e apenas cagado aqui ou ali moderadamente, como a grande maioria, que se não traz grande contribuição para a vida pública, também não promove enormes disparates públicos.
Poderiam legitimamente perguntar se não haveria pessoas que escapam desse diagnóstico, ou até mesmo se eu estaria imune a essa mediocridade brasileira que descrevo. Creio que sim, aliás, eu me considero quase imune à barbárie local, conseguindo conviver razoavelmente de forma pacífica nesse mar de mesquinharias e violências; além disso, conheço gente sábia e justa por aqui. Todavia, somos tão poucos e a sabedoria é tão difícil de ser absorvida pelos locais, assim como o bom senso tão escasso, e a disposição para agir assim como a coragem para a ação tão raras, que suas existências passam despercebidas, quando não são tidos por tolos quem possui tais qualidades; é que num universo de ignorância generalizada, independente da classe social, a sabedoria dificilmente é reconhecida, e o sabido reina soberano sobre os vulgos. E a merda nem é tanto não saber, mas antes a forte aversão a saber. Eu que não espero grande coisa do futuro, visto que o passado é medíocre e o presente igualmente, aguardo apenas o passar dos dias para assistir antigas cenas se repetir e, dentro das minhas limitações, sofrer o menos possível com a barbárie dos demais e tomando cuidado para não pisar na merda que vejo espalhada por toda parte.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Sobrevoo Filosófico

Todo filósofo que leio, aprendo inúmeras coisas e agradeço a ginástica intelectual que me causam com suas ideias. Verdade que não concordo muito com elas, mas isso pouco importa, na medida em que não os procuro para ensinar, porém para pacientemente aprender coisas que não havia pensado ou outras formas de pensar a mesma coisa; não para pensar como eles, mas para ver que há sempre mais coisas para se pensar ou outras formas de pensar. Sob certo aspecto todos estão certos, já que escolhem o objeto, o método e os conceitos com os quais descrevem uma realidade, que se não estava oculta, também não existiria sem que eles a enunciasse. Gosto até mesmo do tom de condutores de homens que muitos ostentam, ainda que seja completamente contra que se conduzam os homens: as pessoas não sabem nem se conduzir, querer ousar dirigir os demais me parece de extrema petulância. Por exemplo, Platão, há filósofo que mais queira nos conduzir no caminho da verdade, da virtude, do certo, do bom e do belo do que ele, e, no entanto, não se privaria de usar da mentira, do vício, dos subterfúgios para impor suas máximas, nem de impor uma tirania ou despotismo para se chegar à cidade ideal: parece que mesmo o bem precisa de algum mal para se concretizar. Não! Nunca espero perfeição dos filósofos, pois me contento apenas com alguma inteligência. Há aqueles leigos que acusam a filosofia de só levantar ou inventar problemas, mas pouco contribuir para solucionar, quando não complica ainda mais o que aparentemente poderia ser tratado de forma mais simples. Que haja algum fundo de verdade, se visto de forma parcial ou sob a ótica de algum autor particular, na realidade o filósofo surge para tentar interceder naquilo que está problemático, seja do ponto de vista do conhecimento e sua logicidade, seja do ponto de vista da vida pública, da política aos costumes. Sei que sou tributário a vários deles, que capturei alguma sabedoria aqui, alguma sagacidade mais prá lá, algum conhecimento acolá, até mesmo alguma retórica e forma de argumentar, que mamei, ruminei e despertei com alguns, porém o que mais aprendi com eles foi pensar por conta própria. Todavia, todos parecem indicar que a saída é tomar as rédeas do destino nas mãos, não se ajoelhar diante do forte, nem fazer os demais ajoelhar, que a virtude, a verdade, o justo, o razoável advém tão somente do próprio aprimoramento, mesmo que a conjuntura ou a época pareçam impedir, e que a qualidade fundamental que se tem que adquirir é a coragem para se portar como um homem diante de crianças assustadas com suas superstições, medos e ignorâncias, ou pior, irritadas com a impotência de resolver suas dificuldades. Não sou como alguns que pensam que os filósofos ou a filosofia são fundamentais para a formação das pessoas, visto que muitos sobrevivem muito bem sem eles, até mesmo desconhecendo-os, entretanto, acredito que conhecê-los torna a todos mais humanos; é parte integrante da cultura universal, do que atualmente entendemos por homem ou mesmo humanidade, para não mencionar a liberdade – temática que os filósofos perseguem desde os primórdios, que nos prima para agir e dizer como nos autodeterminarmos, e que dá a cada um a sua originalidade ou singularidade, e que construiu a nossa história, faz o presente que, invariavelmente, pelo menos até o momento, realiza um futuro. Aconselho a todos algum aprofundamento filosófico, pois que se a filosofia não tem um poder curativo sobre os problemas humanos, mesmo porque não há nem ao menos um consenso de quais sejam, ou mesmo se há problemas, ela é uma forma de refletir sobre os mesmos e pode assim potencializar a participação de cada um de nós na busca de uma vida menos tola. Além disso, alguma cultura sempre aumenta a nossa sensibilidade, torna as pessoas mais compreensivas e tolerantes, até mesmo mais agradáveis no conversar, senão por outro motivo, por que aumenta o estoque de conversa à toa que se tem que ter nos encontros sociais.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Vida intestina

Que a vida é algo intestinal, ninguém com alguma inteligência e sensibilidade poderá negar. Sem dúvida, é algo evacuante, expelindo excremento para todo lado e em quase todos eventos e acontecimentos. Os pobres indivíduos, em sua labuta diária na busca da satisfação, tudo fazendo de melhor para pelo menos conseguir um mínimo, e, sem aviso (mas mesmo avisando é a mesma merda), vem a roda diária dos eventos jogando bosta em todo esforço, razoavelmente honesto, até que desgostoso, brada: que merda! Desesperar, que de pouco adianta, é o que mais se vê, faz ou sente. Gritar, blasfemar ou mesmo xingar, que possa aliviar a dor momentaneamente, é também de pouca serventia para limpar a sujeira da bosta alheia, visto que a bosta própria é sempre pouco vista, e, portanto, sentida, e mais remotamente ainda admitida, e quase nunca limpa. Ora, temos que admitir que o grande problema do mundo são as soluções que se encontra para resolver os problemas; na maior parte das vezes, causam um problema maior, ou transferem para outros ou outras épocas: com certeza, o futuro pagará o preço das soluções adiadas no presente e no passado. Seria redundante dizer que ao invés de procurar problemas, e, portanto, soluções, não dever-se-ia evitá-los? Eu, que não tenho filhos, muito menos tendo netos, preocupo-me com esse tempo, não tão distante, onde talvez assista na decrepitude a decrepitude do mundo. É óbvio, acostumado e educado na fedentina da vida, não sofrerei tanto como os otimistas, os esperançosos, os idealistas ou mesmo supostos realistas com as cagadas humanas, mas ainda sim, tomado de certa vergonha de pertencer à humanidade, assistirei com dignidade a dor de todos afogando-se na sujeira diária das embalagens das coisas que compraram, ou escorregando nas merdas espalhadas pelas ruas e avenidas. Não teria algum tipo de pena ou compaixão pelas dores dessa existência intestinal? De forma alguma, quanto mais vejo as desgraças, mais acho que as pessoas as merecem, não porque considere a punição necessária para se obter algum aprendizado, no que me diz respeito, a humanidade não aprende nem com castigos, mas estando presente nos eventos, é parte do resultado e do processo. Mas, e as crianças, não pensa em salvá-las? Para que? Para uma vida ingrata, para uma morte futura talvez bem mais infeliz? Num mundo como o nosso, crianças deveriam ser evitadas. Com isso dito, até pode parecer que seja um pessimista, o que longe está da verdade, visto que não acho nem mesmo a morte um mal, e nem que a desgraça humana seja uma catástrofe para a vida, que, aliás, poderá ter muito mais paz depois de nossa partida. É de se perguntar, o intestino da vida é solto ou preso? Creio que ambas coisas acontecem, mas não ao mesmo tempo, pois tem horas que vejo a humanidade escorregando e patinando em substâncias pastosas no mundo das ideias, outras vezes vejo-a obrando com esforço e dificuldade, quando não poucas vezes causando até hemorroidas, para conquistas pequenas como o alívio. Mas, o que esperar de um bosta, num mundo onde não há espaço para heróis, coragem, honra ou até honestidade, um mundo feito para cagões? Nada, senão mais merda........

Observações intempestivas


A condição do homem na história é daquele que procura a verdade, não daquele que a encontrou. O encontro da verdade, se algum dia ocorreu, foi sempre temporário, e na maior parte das vezes traz tristezas, quando não mais dúvidas, pois o que se descobre ou se inventa é algo que liquida mais com as autoridades das verdades passadas, do que inspira confiança nas novas verdades. Há aqueles que acreditam no progresso humano, que se está mais próximo da verdade que os antigos, que cada vez mais o conhecimento desvela o desconhecido, o que para mim parece tolo, pois se toma o mais como se fosse o melhor. Sendo que o que se sabe pode ser falso ou mesmo mentiroso, saber mais pode significar saber mais coisas erradas, ou se enganar ainda mais do que os antigos. No entanto, a rigor, foram as dúvidas que mais fizeram avançar o conhecimento no rumo do desconhecido; as verdades, de forma geral, só sobrevivem com a estagnação da curiosidade e com a implantação de ortodoxias e protocolos. A busca da verdade, no geral, foi sempre uma grande mentira, pois poucos apreciam a verdade, ou gostam de ouvi-la a seu respeito. O que se busca antes é a aceitação e a boa apreciação alheia. É que na verdade a verdade é uma mercadoria escassa e pouco conhecida, e se compra muita porcaria pensando se tratar de joia rara. Naturalmente que tenho algumas verdades, muitas delas pouco honestas, mas uso-as com muito comedimento, pois que de forma geral a mentira é sempre mais útil e necessária. De resto, acredito em poucas coisas, por exemplo, na existência dos excrementos, no mais duvido das certezas fáceis e confortáveis, e de qualquer verdade que surja pela decisão de alguma maioria. De minha parte, posso garantir, continuo sendo daqueles que torcem para que as verdades de alguns não matem as verdades dos outros, que haja quantas verdades forem as pessoas, desde que não briguem ou se matem por elas, e que a mentira e a falsidade sejam postas no seu devido lugar, como ações mais praticadas que a honestidade, visto que a verdade, se existe, de todos é desconhecida e ainda se procura.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

um homem só ou só um homem


Sem dúvida, por ser um celibatário, nem sempre tenho a possibilidade de me relacionar com mulheres, pois estas ambicionam, sempre e invariavelmente, o casamento, o que sabem que não obterão comigo. Naturalmente, um celibatário não necessariamente é um assexuado como usualmente se pensa, apenas é alguém que se recusa a contrair o matrimônio. No meu caso, não acho saudável, além de considerar uma instituição cultural arcaica. De um lado, as mulheres educadas para buscar um macho provedor, hoje já se contentam de só encontrarem um macho, ainda que parasita. Enquanto eu, que mal consigo ser um homem, não ousaria ser um macho, pois ainda que considere o homem um animal, e não dos melhores, creio que não deva nem ser um animal selvagem, muito menos um animal doméstico, mas um animal livre a perambular na busca dos interesses que se autoinstituiu, e não acho digno disputar mulheres e territórios como um bicho qualquer: acredito que o homem tem mais o que fazer com seus neurônios do que ficar em brigas de hormônios. Por outro lado, considero o amor um sentimento inatingível depois de se ter algum tipo de compreensão mais refinada, obtida visitando filósofos, antropólogos, psicólogos, artistas e observando a história da humanidade, repleta de maus exemplos. De todos os sentimentos, o amor, sem dúvida, é o mais intestinal, onde mais se faz cagadas, onde mais se toma no cu. Que haja aqueles que defendam ou mesmo acreditam que é um sentimento nobre, eterno ou que haja virtude nele, não me espanta, o que me espanta é como as pessoas ainda caem nessa ingenuidade e simplismo dos sentimentos humanos, imaginando abnegação onde há exclusão, quando não mera possessividade.
Parece óbvio que, com esse tipo de opinião, tenho servido apenas às mulheres carentes, para não dizer desesperadas, muitas com intuito vingativo, que não considero justo, mas é humano, sabedoras da minha prática do sexo casual, o que muitas vezes acaba no bem pouco eventual. Verdade que já ocorreu de algumas mulheres se apaixonarem por mim, de ser cobiçado, mas logo se dão conta da luta inútil que seria tentar me distanciar dos meus princípios filosóficos, da minha busca incessante da verdade e do certo, e do meu horror intestinal ao casamento e a família, uma doença a ser superada. Verdade também que nunca fui um grande amante para que se insistisse tanto para comigo ficar; se virtudes tenho, estas não se encontram nesse campo tão complexo e minucioso, ainda que também não tenha vícios, encontrando-me no campo dos moderados. Todavia, de forma alguma espero que as pessoas concordem comigo, conto antes e sempre com a tolerância dos demais.
De resto, quando carente estou de práticas sexuais, não me furto à prática masturbatória, este eterno recurso para a nossa autonomia; além de um anticoncepcional excelente e seguro, não se transmite doenças sexuais e revela sinal de independência e maturidade, o que permite a muitos que saiam à rua sem ser em busca de saias ou calças, e apenas para tirá-las. Creio que muito da minha autossuficiência se deve a essa prática milenar, que não poucos filósofos, se não defenderam, praticaram. A verdade é que a filosofia tem alguma coisa de masturbatória.....

terça-feira, 25 de setembro de 2012

O retorno


Fiquei afastado de tudo e de todos nos últimos tempos. Tinha o que pensar. Sai por aí a viajar. Fui ver o mar e a montanha, o campo e as cidades. Nem é preciso que se diga que a tristeza e a alegria é a mesma em toda parte, assim como as bostas, muito comum quando se trata do humano. Sei que falta não fiz, pois não pediram que retornasse aos meus escritos excremetais, muito menos sentiram minha ausência. Meus poucos leitores ou leitoras já cansados do meu repugnante humor, creio, ficaram aliviados com o meu aparente sumiço; pelo menos, das minhas merdas estavam livres, ainda que a merda da vida não se livre, a não ser se morrerem, o que seria outra merda. Enfim, constatado que falta não faço, que não há leitores para os meus escritos, mais convicções tenho para continuar a escrever e atuar no espaço da internet, esse lugar que cabe todos e não pertence a ninguém, pois o que evacuo não ocupa mais que um mínimo espaço na memória de um computador. Aliviado estou por não precisar mais derrubar árvores para escrever minhas bostas, e com a consciência tranquila porque não tiro o sono dos leitores ou leitoras, que a rigor, não tenho, mas que se tiver, não terá que pagar merda alguma para ler meus urânicos excrementos.
Quanto à minha viagem, foi de estudo, autofinanciada à base de favores e amizades que permitiram ir por aí, em busca de novos saberes e novos contatos. Descobri pouca coisa ou mesmo nada. Tudo é muito igual por toda parte, as mesmas músicas, as mesmas vestes, os mesmos pratos, e os passeios também são bastante semelhantes. Vi festas de batizados que mais pareciam de casamento, e vi festas de casamentos que exalavam tristeza; vi velórios alegres e nascimentos trágicos. De fato, não conheci ninguém suficientemente sério para depositar alguma credibilidade, ainda que tenha visto inúmeras pessoas simpáticas. De tudo, o que mais me chamou a atenção, é que há tão pouca coisa que me chame à atenção no que as pessoas fazem ou pensam. Todavia, tenho que admitir, arejei as vistas e a mente, e agora tenho ânimo redobrado para a minha evacuante tarefa de expor os odores fétidos da convivência humana desarmônica. E é fácil perceber que o que temos de mais fedido no momento são as eleições municipais, pois um candidato é um bosta, o outro uma merda, aquele outro um excremento, este outro um coco, e há ainda o mais refinado que é uma fezes. Enfim, o melhor não presta, visto que o melhor, no caso, é o que faz o pior.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Breves palavras a respeito das mulheres


A mulher, todos sabem, além de não serem econômicas em seus comentários, nem se caracterizarem pela brevidade, é inferior ao homem, mesmo o homem não sendo superior a nada, muito menos a mulher. Verdade que nenhum dos dois vale grande coisa e que isso possa ser considerado ofensivo, quando é apenas realístico. A inferioridade é uma condição histórica, cultural, para não falar na mais evidente, a condição econômica. Mas, se enganam aqueles que consideram que com isso a mulher perde para o homem; de fato, os dois são perdedores e estão perdidos. Se colocar em inferioridade faz com que a mulher receba o benefício do exercício do apelo à piedade, coisa que o homem não pode exercer sem que sua masculinidade seja colocada em dúvida, pois que se espera de um “suposto” superior que arque com a custa e as penas de terem que carregar o ônus da existência. Além disso, a mulher, como qualquer sobrevivente, aprimora suas armas e defesas: a sedução, a submissão (mais encenada que concretizada) e a conquista. Evidentemente que isso assim se torna porque a própria linguagem humana acaba privilegiando um em detrimento do outro, visto que foi elaborada principalmente no universo masculino, ainda que a mulher fale mais. Ora, por que somos humanos e não mulheranos? Por que queremos o humanismo e não o mulherismo? E a luta pela igualdade é a mais descarada submissão ao universo masculino, afinal de contas, por que ser igual ao medíocre homem, sem dúvida, um bosta? Se for lutar por alguma coisa, as mulheres deveriam lutar por serem superiores, o que não exigiria grande esforço devido à rasura masculina. Entretanto, se certo houver, deveria querer ser diferente, sem luta ou competição. Por fim, mas não menos importante, as mulheres tem um custo social maior que o masculino, afinal de contas, há os absorventes, os sutiãs e toda infinidade da parafernália feminina, inventadas para se escravizarem aos cremes de beleza e operações plásticas, além de infinidade de roupas e sapatos, para não falar do shampoo, perfumes e adereços. Ainda que vários homens tenham aderido a alguns hábitos femininos, da depilação às operações plásticas, mesmo assim, parece pouco provável vê-los por horas num secador de cabelo (fritadores de cérebros), ou tanto quanto ficam diante da TV vendo ridículos jogos de futebol. Enfim, homens e mulheres que não se entendem e brigam até por um pires quebrado, se ajeitam, cada um, sempre que possível, trepado no ombro do outro. Com isso dito, pode parecer que esteja acima de todos, o que não é verdade, só não estou abaixo, nem no mesmo nível, apenas que não tenho nível, nem devo ser nivelado. O fato é que quanto mais conheço mulheres e homens, mais aprecio os vegetais.

Cobiçar ou não cobiçar, eis a bosta!

Cobiçam as planícies e as montanhas, as veredas e os vales, os desertos e os pântanos, os rios e os oceanos, o solo e o subsolo, a água, o ar e a terra, até mesmos nossos sonhos e nossas expectativas. Cobiçam pessoas e coisas, gente e animal, além do vegetal e do mineral. Cobiçam o presente e o futuro, os vícios e as virtudes, as verdades e as falsidades, nossos pensamentos e sentimentos, nossos desejos e nosso desejar. Cobiçam a mulher ou o homem do próximo e do distante. Cobiçam tudo e todos. Enquanto eu cobiço não cobiçar, além de cagar para quase tudo que os homens desejam. De resto, a famigerada frustração de não obter o que se cobiça, e, é claro, a merda das cobiças se digladiando pelos mesmos objetos e coisas, que pode até serem pessoas.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Um suposto amor à humanidade

Quem ama a humanidade, se é capaz de amar, o que não acredito, ama uma abstração, um inexistente. Amará o assassino, o ladrão, o bandido, o charlatão, o egoísta, o vaidoso, o vagabundo, o traidor, o corrupto, o estuprador, o racista, o ruim, o mau? Na realidade, acredito que a pessoa não conhece a humanidade, muito menos o amor. O fato é que quanto mais se conhece a humanidade, mais se deseja ficar só ou com alguns poucos. E o outro fato é que a humanidade se mata e cada um só gosta, quando gosta, dos seus próximos, e com os demais tolera porque não pode eliminar ou é muito caro fazê-lo. Quanto ao amor, continua um ilustre desconhecido que poetas tolos elogiam e músicos insensatos cantam. Sou daqueles poucos que teme o homem e seus sentimentos, que promove não uma comunidade humana, mas uma engrenagem que coloca as pessoas em funções econômicas. E a economia, todos sabem, não vale nada.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Sobre possuir uma funerária

Se há um negócio certo é a morte, que a todos atinge num determinado tempo ou numa determinada ocasião, pois que aguarda a cada um em qualquer idade, de qualquer sexo, de qualquer credo, opção sexual, política ou cor, de qualquer status social. Naturalmente, que todos, dentro das parcas e das poucas possibilidades de cada um, onde alguns podem estender com dinheiro a vida sofrida, tentam adiar o inevitável inadiável, querendo viver sempre mais e mais intensamente, entretanto, é certo que todos acabam por sucumbir à morte. Eis porque dificilmente donos de funerárias sofrem com a crise ou vão à falência. Na verdade, a crise precipita alguns à morte, através de suicídios estoicos ou assassinatos por dívidas, o que acarreta mais lucro ainda, visto que a família sofrida não deixará de arcar com a custa do enterro do parente desesperado. Assim, se algum dia perder a sanidade e resolver querer ganhar dinheiro sem risco, não abrirei um restaurante, uma confecção, uma empresa de entretenimento, uma perfumaria ou oficina, nem mesmo um banco, pois tudo isso se dispensa em tempos de crise. Já a morte não pode aguardar a fedentina do corpo inerte e precisa ter destino apropriado. De fato, não conheço dono de funerária pobre, se bem que conheço poucos desses seres tão importantes quanto os urubus, com a diferença que os urubus prestam o mesmo serviço gratuitamente.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Aos internautas

Foi viajando por aí que aqui chegou? Ou veio especialmente aqui? Se chegou desavisadamente nessa bosta, estranhará a fedentina. Se já conhece não estranhará o cheiro. A ambos digo que pouco ou quase nada tenho para dizer para alegrar ou dar esperanças. Ofereço apenas excrementos da existência, restos de uma vida mal digerida, que carrego como obrigação de resistência, para ver até onde suporto ver tanta merda. Sem esperanças de melhora... E o que mais fede, que dá asco e nojo verdadeiros, é a gastança com a felicidade, sempre artificial, calibrada por bebidas ou outros tipos de droga. Felicidade que precisa de perfume caro, roupa de grife e artefatos variados para aparecer diante de todos e esconder os defeitos ou as imperfeições dos demais; precisa de casa, carro e viagens. A única coisa boa nisso tudo (supondo que não falte saúde) é que o crédito míngua, diminuindo a sede consumista do mundo, diminuindo o número de embalagens do que se compra, e, consequentemente, diminuindo a poluição do mundo entupido de embrulhos defeitos. Só me resta avisá-los que há coisas bem piores que a morte, que não poucas vezes é uma benção ou um alívio.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

O bosta do homem

Decididamente o homem é um assunto vão, variado e inconstante, em poucas palavras, um bosta. Sobre ele é difícil estabelecer um juízo firme e uniforme, pois os rótulos lhe escapam por atitudes inusitadas de qualquer um: aquele que aqui caga, mais à frente consegue adubar a existência; aquele que adubava a existência acaba cagando no aqui e agora. Para entender sua multiplicidade e pluralidade é preciso penetrar nas mais abstrusas partes de sua natureza, caminhando por seus vícios (mais abundantes) e por suas virtudes (sempre escassas). Eis porque me interesso pela pessoa comum, nem pelas muito boas, nem pelas muito más, nem pelos sábios, nem pelos totalmente ignorantes (pois ignorantes todos são), aqueles dedicados às ações privadas e singulares, ao invés de me deter nos grandes fatos ou nos supostos grandes homens, porque é vendo a pessoa comum que é revelado o caráter dos homens, além de propiciar algum julgamento moral, o que os grandes parecem impedir. Somos muito similares em nossos inúmeros defeitos, pequenos feitos, poucos ditos e grandes vaidades. Todavia, é preciso lentes especiais para avistar a verdade, na medida em que aqueles que possuem matéria minguada costumam inflar-se com palavras benevolentes, o que ocorre com quase todos os homens. Para se perceber o quanto as pessoas mentem sobre si mesmas, basta observar a si, o quanto mente, e perceberá o quão inflacionado está sua miúda figura. Quanto a mim, que carrego a existência como uma obrigação moral, mais do que pelo prazer de viver, avisto ainda espantado, após tanto anos de ocorrências, o bosta do homem jogar merda no próximo, sem perceber as cagadas que comete ou o cagão que é. O fato é que a covardia guia mais os passos humanos que a coragem, o medo domina bem mais a mente que a clareza das ideias, e a vaidade impera desde o amamentamento dos pequeninos. Sou um dos poucos que sabe o bosta que é.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Uma posição acadêmica

É absorvendo a diversidade cultural que as culturas se mesclam, misturam-se, fazem sincretismos, de tal modo que não existe mais uma área do saber que dê conta do que se faz e se renova em todo momento e em todo lugar. A disciplinaridade faliu, visto que não há mais uma ciência específica capaz de abarcar os fenômenos atuais, multifacetados e plurais. Daí propõem a pluridisciplinaridade, ou a interdisciplinaridade, ou ainda a transdisciplinaridade, entretanto, todos ainda se mantêm presos as disciplinas, trancafiadas em supostos lugares delimitado e delimitante, ou no fundo do armário. Para romper a disciplinaridade, para pessoas coerentes, somente a indisciplinaridade. E que viva a indisciplina! O fim das regras e das metodologias nos dará uma visão mais ampla para entender toda indisciplina humana.

Nadando contra a maré, de novo

Enquanto as lideranças mundiais gritam pelo crescimento, torço pela estagnação. O que cresce é a dívida. Paguemos antes o impagável que se deve (como? Com algum tipo de perdão....) e depois nos contentemos com as coisas modestas e os pequenos avanços possíveis, sem nos endividar para chegar rápido sempre num mesmo resultado: o acúmulo de dívida. O fato é que mesmo os Estados são cada vez mais, menos confiáveis como pagadores. Estamos sob o estado de natureza, porém em condições piores que nossos antepassados, que alimentavam a esperança de um Estado pacificador e garantidor com seus esforços, pois hoje o Estado é parte responsável pelo caos mundial. E ainda que não seja trágico, acabará melodramático, com as pessoas chorando os bens derretidos na desvalorização do trabalho humano. Para mim, as únicas pessoas dignas, atualmente, são aquelas que não têm dívidas, nem alimentam o endividamento dos demais. No mais, apenas o ordinário das pessoas carregando seus carnês pelo resto da existência, além de algum coco aqui e acolá. Mas, a grande cagada, sem dúvida, é a dívida. De resto, apenas homens fracos, seduzido por algum objeto de consumo, apressado em ter algo que muitas vezes nem é necessário, nem urgente.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

A inadimplência de todos

O mundo endivida-se cada vez mais. Muitos levantam um papagaio aqui para descascar um abacaxi ou pepino acolá; mais à frente quase todos encontrarão uma imensa labareda, a queimar dinheiro para todo lado como papel sem valor. E a maior parte endivida-se não por questões de saúde ou de alguma catástrofe natural ou humana, mas antes para obter um supérfluo ou para alimentar a vaidade, e há ainda aqueles que gostam de ostentar e aqueles que gastam nos vícios. Eu, que pouco tenho e menos ainda preciso, assisto a febre da inadimplência de consumidores vorazes, de empresas e até mesmo de Estados, que tentam sanar suas dívidas sem conseguir, combatendo os efeitos e nunca a causa, e percebo que a doença está no crédito fácil e pouco confiável, onde qualquer ruído faz tudo ruir no descrédito e as pessoas acabam fugindo como manada. E quanto mais age como animal desesperado, correndo pelo mundo e pelos negócios em busca de refúgio, para assistir sossegado a carnificina distante, do salve quem puder para não ficar com o prejuízo, mais se acentua a crise e menos chances de encontrar formas de consertar com os modelos antigos; o pior que se pode fazer diante da crise de um sistema antigo, é se utilizar de receitas antigas e amargas, mas inúteis diante dos desafios atuais. O que sei é que todos nós pagaremos essa conta, de alguma forma ou outra, direta ou indiretamente. Do meu ponto de vista, o mundo viveria melhor sem crédito, pois daí se teria menos ganância e menos desejos, que empurram sempre para a gastança. O crédito é uma doença antiga, que vem se aperfeiçoando, para criar as armadilhas do aprisionamento contemporâneo: celular, computador, TV, perfumaria e cartão de crédito; sua função não é satisfazer nossas vontades, mas criá-las, ampliá-las, amarrá-las a hipotecas, notas promissórias e faturas de cartão de crédito. O fim está próximo numa cadeia de inadimplência coletiva, e enquanto eu passo sem muito esforço pelas marés econômicas, percebo que mais pessoas se arrastam para o endividamento. Depois reclamam que só falo merda ou que acho tudo uma merda, mas, convenhamos, que vai dar em bosta, a isso vai.....

terça-feira, 15 de maio de 2012

Conclusão

Após longos e exaustivos anos de estudos, pesquisas, investigações e reflexões, cheguei numa conclusão categórica, definitiva e irrefutável: a existência de fato existe. O resto é resultado da imaginação infantil da humanidade.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Verso Evacuado


Verso evacuado: Tem merda aqui,
                                Tem merda ali,
                                Tem merda em todo lugar
                                Pois cagar não é apenas humano
                                Cagar é animal!
                                E assim se explica,
                                Sem deus ou diabo,
                                Porque todos, algum dia,
                                Pisaram, pisam ou pisarão
                                Naquele excremento diário
                                Que toda criatura elabora.
                                Mas, sorria, podia ser bem pior,
                                Podia nem estar andando
                                   Mas aí a bosta seria outra.......

sexta-feira, 4 de maio de 2012

A respeito dos meus escritos e da minha escrita

O que escrevo está destinado a entreter as pessoas sábias e educadas, mas também a pessoa comum, quando estas tiverem alguma hora livre e não souberem como empregar melhor essas horas. O estilo é muito estranho, ora é alto e retórico, ora baixo e trivial; mas, tal como é, me satisfaz, e penso que possa divertir as pessoas de grande honestidade e virtude, ou pelo menos de inquestionável sentido comum. Que possa agradar ou desagradar a uns e outros não, o fato é que só busco ser entendido e também fazer entender as entranhas intestinais dos acontecimentos. Verdade que espero leitores, mas também é verdade que espero não encontrá-los, afinal, há tanto sendo dito por tantos, por que preferir um escrito meu, um ilustre desconhecido, a um escrito de algum sábio? Longe de querer competir com os grandes, quero antes instigar os pequenos, aqueles abertos suficientes para ver o comum de maneira incomum. Contento-me antes no escrever e, quando posso, me divirto com algumas reações do dito, quando eventualmente encontro algum leitor. De qualquer forma, de modo algum é algo profissional e jamais poderá ser remunerado, pois palavras são como a areia da praia, revoluciona-se a cada onda, e o que antes fazia tanto sentido, pode nem ser entendido algum tempo depois. Quantas vezes, eu mesmo, não neguei algo que havia algum tempo antes afirmado com tanta convicção.... Isso faz parte da aprendizagem para a evolução própria. Ora, escrever para mim é pensar em voz alta, é revelar os odores que percebo, é descrever os sentimentos que me causam ver tanta bosta em tantos lugares, e é também comungar alguma intimidade com um monte de gente que nem conheço. Ao fim, esse escritor em mim produz alguns textos que, por mais que acredite que sejam bom ou útil, servem para entreter, e tem a consciência tranquila, visto que não se corta uma folha de árvore para divulgá-lo, e se não ajuda, também parece não prejudicar ninguém, e, qualquer coisa, como tudo que é atual, é deletável! No mais, confesso, o que mais me preocupa, é se está bem dito, muito antes de desejar ser lido. É só no publicar que começa a reinar alguma vaidade.......

quinta-feira, 3 de maio de 2012

O homem mau

Há tudo quanto é bosta de pessoa nessa vida, mas os maus são os mais asquerosos e nojentos, cujas cagadas mais fedem e repercutem. Mentem, roubam, matam, prejudicam sem culpa ou arrependimento. Que não sejam tantos desse tipo, o encontro de um é suficiente para perceber a essência de todos do mesmo gênero: é um encosto a sugar nossas energias parcas. O prejuízo do próximo o satisfaz, a desgraça de um oponente alimenta seu orgulho, a derrota de todos agrada seu amor-próprio e o seu narcisismo. E para esses não há cura, quando muito se pode tentar controlá-los ou inibi-los. Há pessoas raivosas da maldade e propõe a morte dos maus, o que discordo, pois não se deve sujar a mão com sangue imundo, e a pena apropriada para tais indivíduos seria o bom e velho ostracismo. Aliás, a morte não se justifica para nenhum dos delitos humanos: o que no fundo distingue os bons dos maus, é que os bons nunca desejam a morte do próximo, enquanto os maus desejam e alguns poucos a praticam, seja porque são indiferentes à justiça, seja porque acham que são a justiça. O fato é que na história, se há registro de heróis, também não faltam de grandes canalhas, de pessoas cruéis, más, pois o ser humano sempre se eterniza pelo que faz, pelo bem ou pelo mal. E ainda que não tenha a ambição de ser lembrado depois de morto, o esquecimento não me incomoda, ainda mais depois de morto, não quero ser lembrado como alguém que cagou com o próximo, seja um, seja vários. No caso, a indiferença dos demais é melhor que o ódio de vários.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Filosofia Miúda

O que sempre moveu a máquina pública no Brasil foi a propina, a corrupção e o uso privado da coisa pública. O interesse público é apenas um argumento para direcionar verbas públicas para determinado empreendimento. Para cada tijolo levantado numa escola e num hospital, outros dois vão para a mansão do empreiteiro ou do político. Isso seria trágico, se não fosse a indolência de todos, que de forma mais miúda ainda, pensa que é um problema das “autoridades”, e aceita isso como uma fatalidade, e se diverte reclamando da vida. Não há autoridade na política, somos todos iguais, e para mim a miudeza das ocorrências políticas é trágica, não apenas pelos políticos, mas pela população.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Mandeville e A Fábula das Abelhas

Ninguém captou melhor a essência humana e nem distinguiu tão bem o real do deformado, do que esse bom autor no seu maravilhoso texto “A Fábula das Abelhas: vícios privados promovem o benefício público”. Diz ele que nada é mais honesto em qualquer criatura que o desejo, a vontade de salvar a própria pele. Nada existe na terra tão universalmente sincero como o amor que todas as criaturas professam a si mesmas. Logo, o autointeresse – que, em si mesmo, não é vício e nem virtude – é o fundamento da sociedade e nele deve-se buscar o bem geral. Na verdade, o social resulta da busca dos benefícios particulares, os quais ao mesmo tempo são benefícios públicos. Cada indivíduo ao cuidar do próprio interesse, tudo se ajeita espontaneamente para o benefício de todos; para chegar-se às mansões dos grandes é que se constroem as estradas, erguem-se as pontes, fazem-se os caminhos. Introduz a noção de ordem espontânea, segundo a qual a livre interação social dos indivíduos em busca de seus interesses egoístas é o meio de estabelecer e garantir o bem-estar da sociedade. Explica assim a ação humana pelos cálculos egoístas das pessoas ou dos grupos: os sujeitos sociais são egoístas amorais, e que por intermédio do mercado, essa máquina para transformar os vícios privados em virtudes públicas, é a condição da justiça e da felicidade coletiva. Foi o orgulho e a arrogância que ergueram os palácios, enquanto a modéstia e a humildade sempre se contentaram com as choupanas. A avareza, esse maldito, perverso, pernicioso vício, sempre foi escrava da prodigalidade; enquanto o luxo sempre empregou um milhão de pobres, e o orgulho odioso, mais um milhão. A futilidade, a inveja, a vaidade muitos milhões de outros tantos; a própria inveja e a vaidade sempre foram ministros da indústria; a extravagância predileta, a volubilidade no comer, vestir-se e mobiliar, torna-se a própria roda que sempre moveu os negócios e gerou o progresso humano. As leis e os trajes sempre foram, igualmente, coisas mudáveis, pois, o que em certo momento é bem visto, meio século depois se torna crime ou mau gosto. Entretanto, enquanto assim alteram suas leis, sempre encontrando e corrigindo imperfeições, através da inconstância reparam falhas que a prudência não pode prever. Assim, o vício fomentou a engenhosidade que, unida ao tempo e ao trabalho, propicia as comodidades da vida, seus verdadeiros prazeres, confortos e facilidades, a tal ponto que mesmos os pobres de agora vivem melhor que os ricos de outrora. Vícios como a vaidade, a luxuria, a inveja, a avareza e o orgulho, e não as tão decantadas virtudes da humildade, economia, abstinência, etc. virtudes, aliás, praticamente inexistentes, só podendo ser encontradas nos discursos proferidos por aqueles que procuram enganar aos outros, ocultando os vícios que os levam a agir, são os verdadeiros promotores do progresso humano. O resultado final das ações das pessoas, que buscam, sobretudo, satisfazer seus apetites dentro de um mundo corrupto (não é um julgamento de valor, mas uma descrição da realidade) é bom: as amenidades da vida advêm apenas e tão somente desta busca, que é de todos. A boa sociedade não é aquela que torna os homens bons, o que é impossível, mas sim aquela constituída pela união dessas buscas egoístas, pois submetidos a uma administração política competente, vícios privados convertem-se em benefícios públicos. As ações egoístas são o que permite a sociabilidade e a governabilidade do Estado, sem importar a moralidade do agente, nem se a harmonia social será o resultado de um sentimento humanitário original ou produto da conveniência, da simulação, da hipocrisia ou do utilitarismo privado. Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu próprio interesse. Dirigimo-nos não à sua humanidade, mas à sua autoestima, e nunca lhe falamos das nossas necessidades, mas das vantagens que advirão para eles. Cada parcela da população, cada grupo social, constituída com seus truques formam uma grande colmeia repleta de abelhas. Parasitas, gigolôs, ladrões, punguistas, falsários, magos, charlatões, e todos os que, por inimizade ao honesto labor, com sagacidade tiram vantagem considerável da lida do vizinho incauto e afável, chamam-nos canalhas, mas os diligentes não agem diferente, nem percebem que a canalhice faz girar o dinheiro e alimenta o consumo pela sociedade. De todos os negócios a fraude é parte e nenhuma profissão é isenta dessa arte. Assim, o vício em cada parte vive, mas o todo, um paraíso se constitui. Ora, é só pesquisar a natureza da sociedade, mergulhando na sua origem, para provar que não foram as características boas e afáveis do homem, porém as más e odiosas, suas imperfeições e a falta de qualidades que outras criaturas possuem, as primeiras causas que tornaram o homem sociável, mais que os outros animais. De fato, as qualidades afáveis do homem não colocam nenhum ser da espécie em atividade, mas, isto sim, a necessidade, a avareza, a inveja, a ambição, o orgulho, a preguiça, a sensualidade e a inconstância. São estas, conclui o autor que tornam o homem criatura sociável, a base sólida, a vida e a sustentação de todos os negócios e ocupações, sem exceção; e é nisso que se deve procurar a verdadeira origem das artes e das ciências. É da multiplicidade das carências que dependem todos os serviços mútuos que os membros individuais de uma sociedade prestam um ao outro. Consequentemente, quanto maior é a variedade de carências, tanto maior é o número de indivíduos que podem encontrar seu interesse particular em trabalhar para o bem dos outros e, unidos, compor um só corpo. Ainda que o primeiro princípio, em todas as sociedades, “o dever de cada um de seus membros serem bons”, e a virtude, portanto, deva ser fomentada, enquanto o vício censurado, as leis obedecidas e os transgressores castigados, reconhecendo inclusive o valor da benevolência, Mandeville percebe também que o essencial para a paz social é a justiça, pois até a punição gera emprego e renda. Realiza assim um desmascaramento da hipocrisia dos que criticam as causas (e não as consequências como imaginam os ingênuos) do progresso material da humanidade, mas não abrem mão de seus infinitos frutos benéficos – e, por pura vaidade, tentam parecer mais virtuosos e caridosos que os demais, sem perceber que suas virtudes decorrem de seu egoísmo de entender que a honestidade é mais barata: sua honestidade, seu gosto pela companhia, sua bondade, alegria e moderação são o conforto de uma sociedade indolente; quanto mais sinceros e naturais os homens forem, quanto mais ordem e paz colocarem nas coisas, mais evitarão preocupações e movimento. O mesmo pode-se dizer das dádivas e da prodigalidade da fortuna, e de todos os frutos e benefícios da natureza: quanto mais extensos forem, quanto maior a fartura, menor será nosso esforço. As necessidades, os vícios e as imperfeições do homem, juntamente com as inclemências do clima e outros elementos, contêm as sementes de todas as artes, engenho e trabalho. Considera a fome, a sede e a nudez como tiranos, os quais colocam as pessoas em atividade. Depois destes ditos tiranos, acrescenta, aparecem o orgulho, a preguiça, a sensualidade e a inconstância, na condição de grandes padroeiros, capazes de promoverem todas as artes e as ciências, os negócios, os trabalhos manuais e os ofícios; enquanto os capatazes, ou seja, a avareza, a inveja e a ambição, cada um na categoria que lhe corresponde – mantém os membros da sociedade a seu serviço, submetendo-os (a maioria deles de bom grado) ao trabalho concernente à sua posição, sem excluir reis e príncipes. E assim, o pior elemento em toda a multidão faz algo para o bem comum: é do esforço do ladrão que o serralheiro põe comida da mesa e que o policial arruma emprego; é do desonesto que vem o emprego do juiz; é do pobre que vem o emprego do assistente social. É essa a estatística que rege o todo, do qual cada parte reclama e lamenta o vício alheio, sem ver o próprio; isso, como na harmonia musical, concilia as dissonâncias no geral. E ainda que as abelhas fiquem incomodadas com sua própria falta de virtudes, e por vezes surge um sentimento profundo e geral de vergonha, pois cada abelha olha para o seu passado e se depara com aquilo que antes não via – suas próprias fraquezas, vícios e imperfeições, enquanto cai a máscara da hipocrisia, no instante em que mínguam o orgulho e o luxo, o mito da sociedade virtuosa, aparece uma ética de resultados, preocupada menos com o caráter da conduta do que com suas consequências. Se os vícios, ao fim, nem são crimes, ou se são, acabam punidos, e ainda promovem o bem social, cabe ao homem instrumentá-los para o bem comum; mais que proibir a bebida, cobrar imposto sobre o consumo; mais que proibir a prostituição, regulamentá-la, e, é claro, cobrar imposto, e assim com o jogo, as drogas. O excesso, as consequências nefastas que possa causar aos demais, será punido (como sempre tem sido sem impedi-lo), mas se, como a maioria que pratica consumo moderado ou lúdico, nada fizer de mal aos demais, que encontre abrigo em lugares regulamentados pela sociedade civil, antes que alimente o mercado negro ou o crime. A sociedade não pode ser idealizada para santos, que são poucos, mas para pessoas comuns que apenas buscam sua satisfação, que só devem ser punidas quando prejudicam alguém com esse prazer.
De minha parte, concordo em gênero, número e grau.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Da série pensamentos evacuados

Uma das principais razões de tão poucas pessoas entenderem a si próprias, é que a maioria dos autores que leem está querendo ensinar aos homens o que eles precisam ser, e dificilmente se preocupam em lhes dizer o que realmente são. Querem lhe mostrar sua divindade e não revelam o verme que se é.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Fatalidade de existir

Como indivíduo não elegi a merda desse mundo; viver é encontrar-se em um mundo determinado e insubstituível, neste de agora. Mas esta fatalidade vital não se parece a alguma mecânica histórica ou natural. A fatalidade em que caí ao despencar nesta merda toda, consiste em vez de impor-se uma trajetória, impõem-se várias, todas e nenhuma, e consequentemente, sou forçado a eleger. Viver é sentir-se fatalmente forçado a exercitar a liberdade, a decidir o que vamos ser neste mundo. Nem um só instante se deixa descansar nossa atividade de decisão, inclusive quando desesperados nos abandonamos ao que vier, decidimos não decidir. Ocorre hoje uma estranha dualidade de prepotência e insegurança que se aninha na alma contemporânea: a vida, como repertório de possibilidades, é magnífica, exuberante, superior a todas as historicamente conhecidas. Mas, assim como seu repertório é maior, transbordou todos os caminhos, princípios, normas e ideais legados pela tradição. Temos de inventar nosso próprio destino: o passado não pode dar uma orientação positiva, só negativa; não diz o que fazer, pode no máximo apontar o que evitar. Resta saber se diante dessa crise de valores não encontrarão apenas o que tem preço, sem perceberem o que é valor ou dignidade. Num mundo onde desapareceu o herói, todas babam por celebridades, enquanto eu me cago para tudo.

quarta-feira, 28 de março de 2012

A verdade é para poucos

A verdade é pouco democrática, via de regra, é coisa de especialistas e pouco acessível a grande maioria. Na maior parte das vezes, quando exposta ao grande público, não a entendem, ou pensam que é falsa ou mentirosa, pois mais que apontar a grandiosidade das coisas, revela a simplicidade de tudo. Retira a mágica e a fantasia, e coloca a realidade nua e crua, mais sanguinolenta que espiritual, mais prosaica do que fantástica, mais corpórea do que transcendente, mais rotineira que revolucionária. Ora, a verdade está no melhor argumento que convence, não a todos, pois que isso seria impossível, mas aqueles poucos que importam e determinam o andar dos acontecimentos; é construída no debate constante do seu estatuto, que está sempre em risco devido a novas descobertas ou invenções. E, no entanto, aqueles que ousam mostrar novas verdades são sempre considerados pervertidos, pois o novo parecerá sempre degenerado para velhos hábitos mentais, que não querem largar suas crenças, eis porque só os corajosos conseguiram enunciá-las do decorrer da história. Já a mentira e a falsidade são bem mais abrangentes, convincentes e até mesmo aceitáveis, na medida em que quase todos nascem e crescem dentro das verdades antigas, muitas falsas e ignorando as mudanças que ocorreram e estão ocorrendo. E ainda que se possa superar as ideias falsas conhecendo-se as verdadeiras, já as mentiras são inevitáveis e parecem fazer parte do cotidiano, visto que a honestidade é quase sempre insuportável, mais para aquele que ouve do que para aquele que enuncia, e como não se quer ouvir, também não se fala. O grande dilema da verdade é que, quando ela se torna popular, é quando se acende o alerta de que ela deve ser falsa, pois a aceitação de uma maioria não dá mais certeza à verdade, e quando todos começam a discuti-la, abre-se a brecha que novas ideias surjam, num primeiro momento inaceitáveis, para logo depois se tornarem algo óbvio. Foi sempre assim, alguns poucos enunciam uma nova verdade para só muito depois serem debatidas e mais tempo depois aceitas. Eis porque a verdade muitas vezes é solitária, quando não é enquadrada como imoral, anormal e perversora. De minha parte, quando muito me contento com as minhas poucas verdades, enquanto aprecio o digladiar de todos pela sua posse, pelo que, quando preciso for (ou assim acharem), mentirão para que dela não se afastem, pois em nome da verdade inúmeras mentiras e falsidades foram cometidas pela estúpida humanidade.

domingo, 25 de março de 2012

Desconfie

Não, não confie num olhar, num beijo, numa frase, numa notícia, num livro, numa pessoa. Não confie em ninguém, muito menos em mim ou no que digo. Investigue antes tudo que lhe chega, principalmente, aquilo que pareça para o bem ou desinteressado. Mas, desconfie sem maldade, como aquele que sabe que todos erram, mesmo acertando muitas vezes; como aquele que não quer tanto buscar os equívocos dos demais, mas antes uma verdade própria, isenta de preconceitos que não sejam os próprios, já que desses não nos livramos. Pense que as pessoas antes de quererem nosso bem, querem o próprio, e estranho seria ser diferente. Veja que santos foram poucos e eu cá comigo, não ponho a mão no fogo por nenhum deles. A verdade é que só contamos conosco mesmos, e na hora certa ou mesma nas incertas, seremos nós quem dormiremos o sono dos justos ou dos injustos. Se há alguém em quem possa confiar, parabéns, mas confie com suspeitas, não porque não mereça confiança essa pessoa ou pessoas, mas porque mesmo aqueles em quem muito confiamos também erram. Foram as nossas desconfianças que nos fizeram avançar no conhecimento, nos costumes, na cultura. Verdade que esse avanço não está isento de muita estupidez, que os conhecimentos podem nos matar, que os costumes podem se deteriorar e que a cultura pode ficar tola, eis porque mesmo o sucesso pode ao fim se tornar um fracasso, caso não se calibre a percepção adequadamente. Que o mundo melhore é um fato, mas isso não impede que algum alucinado faça coisas que o levem ao fim, porque alguns se acham no direito de determinar a todos o certo, o justo, o verdadeiro, e se têm ou não o direito de permanecerem vivos. E ainda que não seja um desconfiado, confio muito pouco em muitos poucos, e dos demais, quando preciso, vejo se é possível confiar. Entre a confiança e a desconfiança há uma variedade imensa de possibilidades, e no geral, se não desconfio, também não acho que mereçam minha confiança, pois normalmente estou mais preocupado em sobreviver nesse mundo um tanto caótico, do que em me preocupar se devo ou não confiar. Manda a constituição que se acredite que todos são inocentes até que se prove o contrário, entretanto, a prudência nos recomenda que ainda que a presunção de inocência seja plenamente válida num tribunal, é contraproducente no cotidiano.

Outra confissão

Falo para poucos devido à densidade pastosa do que digo. Muitos perguntam por que não ampliar o público, falando de forma mais moderada ou elegante, ou ainda de outras coisas. Ora, não sou artista, simplesmente, para mim, não há como tornar belo o feio, alegre o triste, ou rico o pobre. Se merda fede ou ofende que culpa tenho, visto que apenas aponto a sua ocorrência..... Que culpa tenha se o ódio e o rancor, assim como a inveja, estão mais presentes no dia a dia que o amor ou amizade? E que me perdoem os fracos, os feios, os oprimidos, os pobres, os excluídos, mas desses quero distância. Não por ser forte, belo, opressor, rico ou incluído, simplesmente, por não suportar as lamúrias da inveja. O fato é que não me incluo facilmente nos adjetivos; dizem alguns que sou um substantivo que dispensa qualitativos. E ainda que não seja uma coisa em si, também não sou uma coisa para os outros, sou apenas um homem que não tem qualidades negociáveis no mercado de qualificação usual, visto que meu negócio é o ócio. Minha virtude difícil de ser vista é a honestidade, que por ser cruel, visto que a verdade é tão pouco apreciada, me faz parecer por vezes um monstro, quando estou apenas enunciando as monstruosidades cotidianas que passam despercebidas, principalmente em pequenos gestos ou opiniões aparentemente inocentes. E como muitas vezes desmascaro aquilo que parece tão virtuoso como um vício de uma consciência estreita, via de regra passo como um chato, tirando o encanto daqueles que parecem querer salvar o mundo, quando o mundo não quer ou precisa ser salvo, senão dos seus salvadores. Se há alguma coisa errada nessa vida não é o mundo, mas antes as pessoas que não sabem se portar diante da riqueza natural sem inveja ou cobiça; não querem o fruto, mas a árvore; não querem a água, mas o rio ou os oceanos. Eu que pouco tenho e menos ainda quero, passo como uma excrescência diante de tantas ambições salientes; minha única ambição é não tê-las, e meu estado marginal de ser é prova de que tenho tido êxito em ser alguém com pouco ou nenhum passado, sem futuro, sendo apenas um ser presente, do presente, sem a ambição de ultrapassar o dia de hoje, o que ocorre (ou deixará de ocorrer) independente da minha vontade ou ambição.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Da série pensamentos evacuados

1) Verdades não nos faltam, ainda que se viva grandes mentiras. O que falta é coragem para enunciá-las.
2) O que de mais honesto avisto é a falsidade de tantos, e o que mais aprecio é a depreciação de todos; todos somos igualmente descartáveis!
3) Entre estar morto e morrer prefiro o último, pelo menos, antes de sua ocorrência, posso continuar falando da merda da vida.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Das férias à crua realidade

Tantos me perguntaram onde estive, por que de minha ausência durante longo tempo. Ora, tirei férias. E me perguntarão: férias? Por que um desocupado, que não trabalha, precisa de férias, e o que é pior, não tendo recursos financeiros, como a desfruta? Todos têm direito às férias, é um direito pétreo, como a preguiça. Creio que me incluo entre todos, ainda que seja bem particular. Não que precise descansar ou mesmo aliviar a tensão da labuta diária, visto que pouco faço, mas mesmo ficar sem fazer nada por vezes é exaustivo e o respiro de novos ares, se não fazem bem ao pulmão, distraem a mente, e é isso que é importante. Afastar-se dos livros, do computador, dos afazeres domésticos é algo necessário para perceber que mesmo as coisas supostamente fundamentais podem ser descartadas, e vive-se bem fazendo menos coisas ainda que se faz cotidianamente.
Convidado por um casal amigo, comecei as férias acompanhando eles e seus filhos nas suas férias de verão, em sua casa de praia. De pouco valeu alertar, antes da partida, que praia, como desejavam, com sol, no verão, só existe em propaganda de cerveja. O normal é chover, por vezes, por dias seguidos, como de fato ocorreu. Aliás, graças a essa observação, lembraram de pegar o baralho e outros jogos, que foi importante para matar o tempo. Acordavam toda manhã e avistavam o nublado do tempo, depois a garoa e a chuva forte, e quando não estavam jogando, sentavam no sofá para assistir a TV, onde viam as enchentes a derrubar casas e arrasar rodovias país afora, e, de certa forma, os deixavam mais conformados; se não estavam pegando sol, não estavam sendo carregados pelas chuvas. Para mim o clima estava ótimo. Saia a caminhar na garoa pela praia, onde outros poucos estavam a caminhar ou correr, tinha até gente jogando bola, alguns corajosos brincavam no mar.
Dez dias ininterruptos de chuva e voltaram para sua morada na cidade. Mal pus os pés em casa, afamado que sou por pouco ter o que fazer e estar sempre disponível para novas aventuras, fui procurado por uma amiga para acompanhá-la nas terras dos seus pais, que estavam isoladas devido as enchentes que ocorriam na região. Sabe que além de bom nadador, sou um bom remador. Foi certamente uma aventura antropológica interessante, ver o desespero estampado no rosto dos atingidos, que nada tinham e perderam tudo. Arrumamos um pequeno bote a preço de ouro e fomos remando até a casa dos seus pais, isolados no seu sítio. Depois de algum esforço, lá chegamos, mas seus pais não queriam sair de sua casa, na verdade, nem queriam ser salvos, nem se achavam ameaçados, visto que a casa ficava longe do rio; só queriam suprimentos, pois a ponte que ligava a área rural à cidade havia sido levada pela enxurrada. Enfim, após muito bate boca entre minha amiga e seus pais, acabamos tendo que remar de volta, ir à cidade comprar suprimentos e voltar novamente para entregá-los. Sem dúvida, foi um verão bem esportivo, esportes náuticos, graças a boa natureza que sempre castiga algumas áreas com sua fúria, visto que durante as 2 semanas que lá estive, não foram poucas as vezes que tive de atravessar o rio para ir até a cidade atrás de alimentos. Só ao fim da estadia consertaram a ponte.
Na região, muitos falavam mal das autoridades que não percebiam que todo verão ocorriam sempre as mesmas tragédias, por não terem tomado as providências antecipadas, quando eles mesmos incorriam no mesmo erro, sempre construindo casas em locais onde alaga todos os anos. Na verdade, ninguém quer ver sua parte na tragédia pessoal e nacional, e buscam culpados para infelicidades que todos são responsáveis. A verdade é que ninguém se importa como os demais moram, e as pessoas escolhem suas moradas ainda que saibam dos riscos de lá morarem. Para onde olho, vejo pessoas morando em área de risco, e nem quem lá mora, nem quem por lá passa, nem as autoridades sabem o que fazer. A tragédia só não é maior porque muitos têm sorte, se é que podemos usar esse termo para quem perdeu tudo, quando não seus entes queridos, e mora agora numa sala de aula de uma escola que é usada como abrigo.
Todavia, como fiquei ausente, meu sumiço gerou a curiosidade de bandidos que foram roubar minha casa. Após arrebentarem a porta do fundo inutilmente, uma vez que a porta de frente está com a fechadura quebrada há anos, e só fecho a porta sem trancá-la, constataram que nada havia para ser roubado. Reviraram minhas poucas coisas a procura de algo de valor, sem verem o valor das coisas, e nada encontraram para levarem. Por fim deixaram um bilhete malcriado, dizendo que nunca tinham entrado numa casa onde não tivesse ao menos um par de sapatos para levarem, ou alguma bebida, ou mesmo um pacote de bolacha. Na minha só tinha lixo e coisa usada. Muito ofensiva esta observação, afinal de contas, se uma faca velha é lixo para quem tem muitas novas, para quem não tem nenhuma, é um luxo. E ainda xingaram minha pobre mãe por ter posto um bosta no mundo que não serve nem para ser roubado.

domingo, 11 de março de 2012

De volta

Por aí andei sem destino, sem nada procurar de significativo, mas encontrei pouca coisa útil ou boa, afora, é claro, a sempre onipresente merda diária – uma guerra aqui, uma chacina mais à frente, alguns estupros e muita extorsão de todos em toda parte, na rua, na família, na igreja, além, também, de muita dívida. Não me espantaram tanto os vícios, o que até considero normal, mas a ausência completa de virtudes. Por toda parte onde andei, a boa vontade é algo que se abate do imposto de renda; o trabalho voluntário dá mais fama e dinheiro para quem o realiza, do que realiza algum tipo de altruísmo com o suposto beneficiário, quando não o lança candidato a alguma mamata política; os heróis são artistas deslumbrados, esportistas desvairados ou simplesmente ricos; e as desgraças de uns ou de muitos acarreta na riqueza de outros, que a doença dá lucro e que a morte é um negócio. Enfim, sem pouco sair de casa e após muito tempo sem andar por aí, descobri que as coisas pouco ou mesmo nada mudam, apenas troca-se de desgraças nas manchetes dos jornais. Cada vez mais me convenço que meu pequeno mundo é melhor que o mundo exterior, pois se não realizo grande coisa, tão pouco cometo grandes cagadas; se não salvo o mundo, também não participo de seu afundamento no excremento diário. Naturalmente, enquanto alento tiver e não estiver completamente mergulhado na merda humana, que cedo ou tarde nos sufocará a todos, bradarei aos quatro cantos, ou pelo menos na internet, o que hoje em dia dá no mesmo, que a salvação do mundo, se tiver, depende de cada um salvar a si, e estarão salvando a todos, ou pelo menos aliviando o mundo do traste que se é sem que se saiba. O primeiro passo para a evolução é se descobrir, não como primata, mas como parasita.....

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Ortodoxia inconsistente

Nada mais insustentável que a idéia de sustentabilidade. Pressupõe um equilíbrio natural que não existe nem ao menos no desequilibrado do homem, que toda vez que busca algum equilíbrio, apenas desequilibra as idéias de si mesmo. A natureza que desconhece qualquer equilíbrio, que extingue e cria espécie segundo sua necessidade intrínseca, que longe estamos de saber qual seja, não espera que cumpramos nem ao menos com as supostas leis naturais que enunciamos sobre o mundo. Expectativas são coisas tipicamente humanas, e não poucas vezes, bastante desumanas, querendo um homem que não se pode ser. O problema da idéia da sustentabilidade é que ela quer ser uma descrição de uma realidade, quando na verdade ela, antes, contém uma proposta para uma efetividade que depende da concordância dos homens, coisa bastante insustentável. Pelo menos, até o momento.

Aniversário dessa evacuação

Há exato um ano iniciava essa trajetória de evacuadas aqui depositadas para os odores mais refinados. Poucos resistem ao excremento diário que se sente por onde se passa e que teimo em denunciar, portanto, poucos acompanham esse caminhar. Mas, aqueles poucos que resistiram heroicamente a toda fedentina exposta, perceberam como estava exato nas minhas análises, como captei primorosamente a cagada humana, como despretensiosamente enunciei verdades elementares, sem almejar cargos, poder ou dinheiro, senão, talvez, o prazer de despertar a atenção para aquilo que passa despercebido, que parece desaparecer ao apertar a descarga da privada nossa de cada dia: o coco diário! Ora, o coco que desaparece aparentemente inocente de sua privada, pode brotar retumbante, muitas vezes, poucos metros mais adiante, nas baixadas. Assim, após um ano falando merda, de merda e a respeito das merdas humanas, só posso dizer que minha grandiosa missão continua firme e forte (mesmo porque as cagadas não cessaram ou parecem estar caminhando para cessar), não com o intuito de ser algum tipo de papel higiênico para limpar tantas cagadas, mas antes para ser algum tipo de arauto da função de adubo que toda merda pode exercer com muita dignidade. O problema não está em cagar, pois que cagamos, mas não ver a cagada, e, não poucas vezes, ainda derrapar na mesma e se esborrachar no chão. E a tragédia é não ver a própria fedentina e ficar atento apenas a fedentina alheia.
Saudações excrementais!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Da série pensamentos evacuados

Tudo acaba em adubo ou entulho, seja porque faz crescer alguma coisa dentro da gente, seja porque atrapalha o crescimento de qualquer coisa.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Fim ou começo do ano, é sempre a mesma merda

Como se pode esperar um ano melhor, se todo fim e começo de ano se passa realizando imensos desperdícios ou assistindo as mesmas cenas? Todo ano é a mesma cagada, uma massa gigantesca de dinheiro explodindo fogos de artifício nos céus das cidades do mundo, afora o que é gasto pelos particulares, só para comemorar um ano novo, que a rigor costuma ser uma triste repetição do mesmo ano anterior. Se usassem tudo que é gasto em festas pelo mundo farto, tiraríamos a fome do mundo parco. Mas, não pensem que isso é pior, como todos sabem, agora vem a época de pessoas, cachorros, casas, automóveis e morro virem ladeira abaixo, enlameando ou soterrando tudo em sua passagem. Se quiserem desejar bom ano, que o façam, mas saibam que é apenas uma expressão idiomática.
Saudações 2012!