terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Nem feliz, nem infeliz

Perguntam se sou feliz, respondo, eventualmente. Perguntam se sou infeliz, respondo, eventualmente. Na maior parte do tempo, não me preocupo com isso; há tanto a ser feito (mesmo para alguém, como eu, que não pretende fazer grandes coisas), que não tenho tempo para pensar nessas coisas. Ora, mal acordo tenho que dar conta da minha vida, há o café a ser tomado. Por vezes, por levar a sério meus princípios filosóficos, tenho que limpar alguma xícara, pois todas as 3 já estão sujas e não foram lavadas, ou ter que adquirir o café que adiava, sabe-se lá desde quando, sua compra. Enfim, há inúmeros detalhes na vida que nos ocupam, mesmo querendo ser um desocupado. E há coisas que só nós podemos fazer por nós mesmos, a começar pelas necessidades fisiológicas, que não são tantas, mas se mal programadas podem surgir nos momentos mais impróprios, tanto que felizes são aqueles que são senhores do seu intestino e da sua bexiga. Depois vem os afazeres domésticos, eventualmente varrer a casa, lavar a roupa e a louça, arrumar o quintal e o jardim, levar o Platão para passear, devolver ou buscar livros nas bibliotecas, fazer o almoço, ler algum livro, ler os jornais na internet, enfim, milhões de pequenas coisas diárias. Assim, o que pode acontecer para que seja infeliz ou feliz? Pouca coisa...... Uma doença seria uma infelicidade, um convite para alguma coisa seria uma felicidade. No mais, ainda que não tenha muito que fazer, tenho mais que fazer do que ficar pensando nessas coisas que passam, como felicidade e infelicidade. Na minha vida, há coisas que ocupam mais a minha atenção: a liberdade, a justiça e a humanidade. A primeira é uma conquista individual, a segunda é coletiva, a terceira é (ou será) histórica. Mas, nada disso me deixa feliz ou infeliz, por vezes apreensivo, outras preocupado, outras cético, outras esperançoso, porém nada que se pareça com a simplicidade da felicidade ou infelicidade.

domingo, 18 de dezembro de 2011

A merda natalina

Em se tratando de natal, o que se avista de tipicamente humano é a atividade comercial, essa coisa que o homem pratica desde remotas épocas, só que nesse período acrescido de muito frenesi. A confraternização no mais das vezes é bastante desagradável, a troca de presentes raramente satisfatória e os motivos religiosos é o que menos importa, visto que é algo eminentemente pagão, cheio de bebidas e comidas: padres e pastores apenas atrasam o que realmente interessa, o presente, a comida e a bebida, não necessariamente nessa ordem. A palhaçada começa na decoração das casas, das lojas, das ruas, praças e avenidas, na aparição do farsante vestido de papai Noel, nos votos falsos que as pessoas fazem, e termina no agradecimento de algo que não lhe agrada. As ruas ficam agitadas, as lojas entupidas de consumidores contumazes, as pessoas mal humoradas xingam uns aos outros, quando não se matam por uma vaga no estacionamento, ou por uma mesa no bar, ou por um atendente da loja. Sou dos poucos que passo o natal em paz, sem dar presentes, ainda que os receba, sem ter que participar das festas de confraternização, seja da profissão, seja da família, seja da religião, do time de futebol ou do partido político, sem me entupir das podres delícias que surgem nessa época. Há solidariedade, mas boa parte dela é abatida do imposto de renda, seja da pessoa física, seja da pessoa jurídica. O próximo é lembrado como alguém que entope o trânsito, que aumenta a fila, que atrapalha e incomoda a vida apressada. No mais, brigas ocorrerão, muita hipocrisia será dita e muitas mentiras serão enunciadas nos encontros familiares cheio de rancores, ressentimentos e ódios contidos, mas não deixados de sentir.

Bosta de vida

Quando se pensa que já viu todos os absurdos praticados pelos humanos, eis que nos surpreendemos e somos obrigados a assistir mais canalhice. Poderia falar de algum assassinato cruel, de algum acidente imbecil, de alguma safadeza praticada contra os incautos, ou seja, quase todos nós, porém, prefiro salientar as legislações atuais, que cada vez mais dá mais poderes aos Estados e mais controles sobre os cidadãos. Um pai não pode mais educar seu filho segundo seus critérios; é preciso consultar um advogado para saber o que pode ou não fazer com relação à educação do seu filho. Eu, que já achava loucura educar uma criança num mundo sem princípios, agora acho apavorante ter que educar de acordo com os padrões de supostas autoridades no assunto. Assunto que não há autoridade, senão o curso natural da vida, que não vem com manual e cada um tem que inventar o certo em cada caso.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Das pessoas

Com relação às pessoas, há de tudo um pouco. Mas, podemos dividi-las em dois grandes grupos, os que nada sabem e os que acham que sabem. Entre os que nada sabem, a maioria nem sabe que não sabe, e alguns poucos sabem o suficiente para saber que pouco ou mesmo nada sabem. Entre os que acham que sabem, há os petulantes e os arrogantes, que é uma grande maioria (que por terem algum título em alguma especialidade, se consideram autoridade em tudo mais), e aqueles que têm apenas fé. Pessoas com dúvidas se encaixam entre aqueles que não sabem; pessoas com amor se encaixam entre os que acham que sabem; pessoas que sofrem podem estar ora num grupo, ora no outro. Os céticos estão entre os que acham que sabem (sabem que não há verdade); os cientistas entre os que não sabem, eis porque pesquisam; os religiosos estão entre os que acham que sabem, por fé e por petulância; os leigos estão entre os que não sabem, seja por aversão a saber, seja por mera ignorância. Naturalmente, há aqueles que podem transitar entre um e outro, e, às vezes, permanecer em ambos os lados, ora dos que não sabem, ora dos que acham que sabem. No meu caso, com muita tranquilidade me encaixo entre os que não sabem, mas muitos acreditam que saiba alguma coisa, só porque falo das merdas dos homens com alguma sabedoria, e me classificam assim entre os que acham que sabem. De fato, alguma coisa sei, mas isso não me qualifica a estar entre os que sabem (muito menos nos que acham que sabem), pois o que sei é o tanto que não sabemos, e, talvez, o pouco que há para saber.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Sem palavras

Não tenho palavras para manifestar minha alegria e satisfação, ao ver a contundente resposta aos interesses puramente político-partidários dos políticos dada pelo povo paraense. Ora, ao invés de brigarem por palácios e cargos, os políticos paraenses deveriam antes lutar para atender as necessidades sociais e humanitárias do povo. Mais escolas e mais hospitais, antes do que mais assembléias e palácios, deputados, senadores, governadores, e todo custo social que tais estruturas causam. Enfim, o povo sabe que não é falta de políticos que ocasiona os problemas sociais, mas a ausência de políticas, de definição clara do interesse público; o problema está mais no descumprimento da lei do que da ausência de leis. O povo tem a sabedoria de perceber que o Estado, antes de lhe garantir direitos, ou mesmo a vida, tem um custo operacional enorme, que faz com que suas obrigações fiquem restritas ao que sobre do que deve, e nem paga direito a todos os devedores. Não, não é falta de governadores ou deputados estaduais que ocasionam carências de estruturas estatais, antes pelo contrário, o custo excessivo dessas estruturas estatais (executivo, legislativo e judiciário) é que causa ausência dos serviços assistenciais que o Estado deveria prestar. Para cada migalha que o Estado põe no prato do povo, gasta uma fortuna com seus banquetes para sustentar essa camarilha pronta a sugar a maior parte com a administração da função, do que no exercício da função. Se o dinheiro do ministério da saúde fosse para saúde, teríamos sanados os seus problemas.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Acertando com os erros

Já fiz coisas erradas, faço...... quem não o faz? Fazer coisas erradas não nos diminui, nos iguala. Quem não erra, ou melhor, erra menos, são os poucos que se distinguem: em alguma coisa conseguem estar certos ou errar menos. Há casos que quando acerto, erro, e quando erro, acerto. É que a fronteira entre o certo e o errado é movediça, muda com as circunstâncias e os momentos, além do fato que os erros nos ensinam a realizar novos acertos, assim como cometer outros enganos. Assim, correndo o risco de acertar ao errar nas palavras certas para dizer coisas erradas, digo que o certo é um erro, que o certo é incerto, que o certo é errar tentando acertar, e que os erros nos mostram muitas coisas certas. Devo muito da minha sabedoria, se é que tenho alguma, aos meus erros. Errar é típico de quem tenta encontrar alguma verdade num mundo bem mentiroso, falso: sou dos poucos que ainda pergunta para as certezas humanas se elas se sustentam sem algum a priori, que se tem que aceitar sem prova. Nelas estudo o agir da ignorância humana, que tira conclusões precipitadas, apressadas, e que se disfarça de sabedoria, visto a imensa ignorância de quase todos que permite aos sabidos passarem facilmente por sábios. Não sabem distinguir entre as opiniões divergentes sobre os grandes temas, quais possuem algum fundamento, quais apenas se qualificam desqualificando as demais, quais tem consistência lógica e plausibilidade prática, quais não.  A opinião que mais encanta, a mais fantástica será a mais aceita; não têm paciência para acompanhar a explicação da prosaica realidade, e se encantam com qualquer coisa que pareça gigantesco, espantoso, estupendo, fantástico, senão divino. O problema não é não aprenderem com os erros, o grande problema é que as pessoas nem percebem que erram, logo nada podem aprender; como quase todos estão errados, mas se confirmam mutuamente como estando certos, quem de fato está certo, acaba sendo considerado errado. Ora, não há caminho para a sabedoria que não passe pelo reconhecimento da ignorância, pela humildade das poucas certezas, e da percepção de si como alguém que erra ao tentar acertar.

O grande segredo do mundo

O que tem de mais secreto nesse mundo, o segredo que a todos é inatingível e inacessível, não é sua origem ou seu fim, se é que ele tem origem ou mesmo fim, ou mesmo a existência ou não de deus, é o orçamento militar dos diversos Estados. Isto sim é o enigma a nos devorar, o segredo bem guardado, algo bem transcendente ao comum dos mortais. A quantidade de dinheiro para fazer merda entre os homens é muito superior àquela destinada para sanar as cagadas. Têm-se mais recursos para destruir o mundo do que para construí-lo; se gasta mais para armá-lo, do que para educá-lo; o homem é o seu pior inimigo, o único ser que precisa temer. E, na minha opinião, não se deve pedir para ver as contas dos exércitos, mas eliminar essa conta do custo social.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Dizeres aleatórios

Estar vivo é estar só, ainda que acompanhado de um, de vários, ou mesmo na multidão. Ao dormir e ao acordar encontro-me; sou eu que, ao dormir, penso coisas particulares, sou eu que, ao acordar, sei que tenho coisas a serem feitas; disso falo apenas comigo mesmo. Vejo pessoas conhecidas, amigas, íntimas, mas ainda assim tenho uma reserva própria que omite coisas que sinto e penso. Posso falar de mim, e ainda assim pouco dizer sobre mim mesmo. Posso me descrever omitindo características importantes; posso revelar um segredo para esconder outros tantos. Esse solitário que me habita, que se recusa a participar da esfera pública, habitando apenas a órbita privada, não pode ser visto, muito menos percebido, pois que, ao estar em público, a privacidade fica retraída, submersa num amontoado de imagens que falam de si para esconder o que se é. Não porque seja problemático ser como se é, mas sim porque se cria um campo da privacidade que não se quer invadido, ou mesmo comentado, seja lá por quem for. Tenho defeitos e qualidades que só pertencem a mim mesmo! Não estão disponíveis aos demais, assim como acredito que só me mostram parte de si, não quem são de fato, para além das máscaras públicas. Estar só não é uma solidão, é uma exclusão do externo, é uma intimidade, é aquele espaço próprio que o outro não cabe, e se entrar, atrapalha. E esse espaço próprio só aparece vibrante e atuante naqueles momentos em que você não quer ver ninguém, em alguns com mais frequência, como é o meu caso. Eis porque moro só, há momentos que não quero falar com ninguém, nem ouvir; estou tão entretido comigo mesmo, que não tenho tempo para os demais. Chamam-me ensimesmado ou ruminante de ideias e pensamentos. Aliás, o que é escrever, senão um ato interior que se exterioriza em símbolos? Todo escritor precisa estar só para produzir seus textos. Todo leitor precisa estar só para entender os textos. Há muitas coisas que só nós mesmos podemos fazer por nós...

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Nas mesas dos bares

Neste lugar sagrado para muitos, se discute o mundo e as mesquinharias, se toma resoluções, se briga e se faz a paz, toma-se partido de causas ou de políticos, se enamora e se separa, se faz e se perde amigos. Quem não bebe, como eu, não sabe apreciar com toda profundidade esse fenômeno cultural, tanto que pouco levo a sério o que dizem, muito menos as convicções pessoais. Naturalmente, só vou a esses lugares quando amigos me convidam, pois não disponho de recursos para esses luxos; como caro é a bebida, e não bebo senão água ou café, e como pouco, me contentando com as raspas e os restos, amigos sempre estão dispostos a financiar minha companhia, com os meus costumeiros comentários cínicos, com as observações escatológicas, ou mesmo com as merdas que solto aqui, ora ali, só para divertir, pois de bosta, todos sabem, basta o coco da vida. É claro, que é nos bares da vida que muitos se matam por mesquinharias, muitos brigam com garrafas em punho, muitos se perdem para os vícios; como em qualquer lugar, há muita porcaria. Meu interesse antropológico pelo ambiente e pelas conversas, mesmo para os acontecimentos intempestivos que tenha por ventura que assistir, de preferência bem longe de mim, servem para conhecer a verdadeira essência do homem moderno, que não se revela mais na fábrica ou no escritório, mas após a segunda dose, quando extrapola seu verdadeiro ser, que não poucas vezes não passa de um vazio, que perde o tédio na mesa do bar, com bravatas e palavras de ordens. O bar é simultaneamente o lugar onde as pessoas são mais honestas e mais desonestas, onde se afoga as mágoas ou se extravasa a raiva, onde se mente e gosta de escutar mentiras; o que de mais sério ocorre é o encontro fraternal entre amigos e conhecidos, e o que mais grave pode ocorrer são o fim de amizades. É óbvio que faço a conta de quanto gastam com isso e vejo que não é pouco, e que é sempre, mesmo não sendo sempre a minha participação, que como todas que faço, é com algum comedimento, entretanto, sei que a ocorrência é freqüente, para alguns diárias. Boas coisas saíram também das mesas dos bares, boas músicas, bons livros, boas pinturas, boas conversas, grandes achados, assim como grandes perdidos. Não sou daqueles que julgam os instrumentos humanos, acho que todos podem dar bons frutos quando bem usados; o problema são alguns idiotas e muitos imbecis que sempre se utilizam dos instrumentos sócio-culturais para saciar suas patologias psicológicas, sociais ou culturais. E daí se atribui ao meio o que pessoas fariam com esses ou outros instrumentos culturais. A fama dos bares que atraem os folgados, os vagabundos, os ociosos é verdadeira, como é verdadeiro que atrai muitas pessoas de bem, trabalhadores honestos, pessoas que só querem se divertir e se entreter, aliás, a grande maioria. Assim como na igreja tem pedófilos, na política ladrões, no comércio muito bandido, e nem por isso se condena as instituições a que pertence tais pessoas, não se deve condenar os bares, uma instituição tolerante, que abriga a todos; o que se deve condenar são as pessoas, pois que as instituições humanas, fruto dos atos voluntários dos seus membros que criam instituições públicas, para realizarem trocas, sejam elas materiais ou afetivas, não podem ser desfeitas pelo desfeito de alguns dos seus membros participante. O que de mais perigoso tem na mesa do bar é um lugar cativo, e o que há de mais inocente é a idéia de que será apenas uma dose ou só por alguns minutos. No mais, cada um é senhor de si e não serei eu a aconselhar as pessoas para deixarem uma das poucas instituições que acredito que retira a humanidade de suas obrigações e dos seus deveres, o que é por si uma virtude. O grande problema dos bares, é que enquanto muitos se divertem, muitos trabalham, no mais, a ideia de ficar sem fazer nada e jogando conversa fora, sempre me pareceu saudável, desde os velhos banquetes gregos.

Melhorar o mundo melhorando a si próprio

Não existe coisa melhor e mais benéfica para todos do que se esculpir de forma mais sábia; a melhora de si cria pessoas melhores à sua volta, que por sua vez vão se associando a mais pessoas que serão melhoradas, até que se criam grandes círculos virtuosos no seio social. Quem quiser consertar o mundo, tem que antes consertar a si, pois boa parte dos problemas estão em nós mesmos, e que, no frigir dos ovos, atualmente, se reclama mais da falta do supérfluo do que do necessário. Enquanto a perda do poder econômico for mais importante que a perda de virtudes éticas, que os fins financeiros suplantem os fins sociais ou individuais da humanidade, que dívidas a serem pagas forem mais importantes que aposentadorias, o mundo caminhará para a sua insolvência e na descrença coletiva de um interesse comum. Mais do que salvadores da pátria, uma abstração para os tempos globalizados, precisa-se de pessoas que busquem ser razoáveis, e se puder, ensinar os demais com quem convive a assim proceder. Ora, se querem baratear a dívida pública, cortem os custos dos exércitos, preferivelmente, acabem com as operações militares, e se perceberá quanto dinheiro se desperdiça com instituições arcaicas, que criam enormes dívidas, mas não promovem nenhuma forma de sanar o túnel infindável dos seus gigantescos custos. Os exércitos nacionais, hoje em dia, mais do que uma garantia de soberania de uma sociedade civil e de um espaço territorial, são uma ameaça a paz regional (pois quando um país se arma, seus vizinhos tendem a fazer o mesmo), a paz internacional e as sociedades civis sempre ameaçadas por quarteladas, caso se mexa no orçamento militar elástico e avantajado, afora o imenso custo social. Desarmar deve ser o lema, não apenas um desarmamento da sociedade civil, dos membros particulares da sociedade, mas do Estado, uma tomada de posição pela paz interna e pela concórdia externa. Coloquemos claramente que não somos ameaça a ninguém, mas nem por isso aceitaremos ou acataremos qualquer ameaça, pois ainda que não matemos pela liberdade, morreremos por ela, se preciso for. Desarmem principalmente o espírito dos preconceitos, das receitas prontas, do exemplo do passado, ou dos outros; é preciso inventar algo próprio. O grande tirano a ser morto, na maior parte dos casos, está dentro da própria pessoa. A grande mudança não está apenas na ação, mas na recepção da ação alheia e própria. Não basta agir bem, é preciso não querer punir quem age mal, pois o justo deve transcender a arcaica vingança primitiva. O que melhor fiz e faço pelo mundo é me fazendo como sou, uma pessoa que discute a vida aonde for e com quem esteja, não buscando seus enigmas, todos eles falsos ou tolos, quando não os dois simultaneamente, mas revelando a tolice diária das intermináveis filas que as pessoas domesticadas esperam pacientemente (ou não) a sua vez de serem atendidas. E se querem aumentar a arrecadação estatal, descriminalizem as drogas, o jogo, a prostituição, o aborto; além de aumentar a arrecadação com os impostos sobre tais produtos e serviços, não se gasta com a sua proibição e perseguição inútil. Enfim, se querem dinheiro para pagar as dívidas, arrecadem de quem só dá custo social, até o momento, e economize com o corte do custo com a proibição dessas atividades hoje clandestinas. Se não são as virtudes que podem nos salvar, os vícios pelo menos podem amenizar as dores dessa vida cujos ganhos não deveriam ser apenas financeiros. Não foram as proibições que amenizaram os costumes, ou eliminaram os vícios, mas a regulamentação daquilo que pertence a privacidade das pessoas que torna possível o convívio, e a tolerância com os vícios que não devem ser vistos como crimes ou pecados.

Da série pensamentos evacuados

Por boa que esteja a vida, o fato é que, de repente, tudo pode ficar ruim. E não se iluda, por mais ruim que esteja, sempre pode piorar ainda mais. A única coisa boa nisso tudo é que, enquanto sente dor, é porque ainda está com vida. E a dor é ilimitada até a morte, o alívio supremo. Ó como a vida é imprevisível em suas mudanças, pois que de coisa ruim também pode advir coisa boa, só depende da roda da vida e saber agarrar as oportunidades, que são poucas. Meu otimismo hoje está irradiante......

Dos esforços pessoais

Tudo que tenho devo aos meus esforços, nem mesmo minhas plantas resistiriam vivas se dependesse da chuva e não molhasse. Verdade que não tenho muita coisa, uma casa pequena e distante do centro, algumas roupas usadas, um computador obsoleto, um Blog, um cachorro, um gato e algumas plantas. E sim, tenho tempo para pensar na porcaria da vida e para encontros com amigos. Mas, fundamentalmente, sou mais bem definido pelo que não tenho, carro, dívidas, eletrodomésticos, profissão, trabalho ou emprego, telefone celular, família, partido político, religião e time de futebol. Ainda que tenha ambições, as mesmas não se realizam através das coisas, mas dos feitos, por exemplo, fazer alguém feliz ou encantar com algum comentário.
O fato incontestável é que tudo que tenho e sou devo a mim mesmo. A vida que não é de brindar a muita gente, também não me brindou com a sorte, e logo cedo percebi a necessidade do esforço. Desde que entendi que o homem é o senhor do seu destino, e não um paciente da história, pus a moldar-me para enfrentar a dura labuta de fugir do trabalho, esse aprisionamento social, que antes de satisfação, gera carnês de prestação. Fui paulatinamente construindo um lugar próprio, onde resisto heroicamente às tentações do consumo, utilizando o mínimo possível, fundamentalmente, água, luz, comida e algum deslocamento urbano. Do ponto de vista do capital, sou desprezível, pior que o avarento; se esse último aprecia e retém dinheiro, não deixando as mercadorias circularem, o que todo dinheiro deve fazer na visão dos tolos economistas, eu nem dinheiro carrego e tenho nojo da quase totalidade das ofertas do mercado. É verdade que uma pessoa só não faz a menor diferença para a humanidade, que está mais preocupada em adquirir alguma novidade que ainda nem foi lançada, do que em pensar sobre o que acarreta esse seu procedimento. E nesse sentido, só poucos suportam conviver comigo, pois quem suporta debater o consumo honestamente?
Não! Não posso culpar meus pais, professores, irmãos, concidadãos, o país, a época, o destino, enfim, nada nem ninguém. Eu me formei, ou como acreditam alguns, me deformei, exerci uma auto-formação consciente. Verdade que fui influenciado por muitos pensadores, mas tive com eles uma atitude canibalesca, absorvendo suas ideias no meu pensamento. Mas, fugi de ser um sofista, de receber para ensinar o certo, o justo, o verdadeiro, o belo e o apropriado, as ideias dos outros. É que percebi que para ser livre, não basta exercer a vontade, mas fundamentalmente não se submeter às vontades alheias, seja de um, de vários ou mesmo de todos. Tanto que nem títulos ostento, tendo como único documento o meu procedimento e a minha conversa. Tudo que tenho, que sou eu mesmo, trago comigo, e posso até querer ensinar ou dar, mas é preciso que alguém queira receber e até se esforce para tanto. Não posso ser roubado, pois tudo de valor que tenho são memórias, acontecimentos, ocasiões, pensamentos e intuições que se formam muitas vezes no calor de uma discussão. Enfim, nem para bandido tenho serventia. Eis uma das coisas das quais mais me orgulho. E se não consegui o amor de todos, o que seria até mesmo horrível, também não incorro no ódio de ninguém, quando muito, posso gerar algum desprezo e muita indiferença.
É o destino de todo livre pensador, ser um estranho no ninho, falar para poucos e ser entendido por menos ainda. Isso pode apavorar alguns, não é o meu caso, acostumado a ser voto vencido em qualquer deliberação, a ter a voz calada em alguns debates ou mesmo excluído de algumas discussões, devido ao radicalismo das minhas propostas ou das minhas observações. Por incrível que possa parecer, durmo aliviado ao não contribuir com a imundice desse mundo, além disso, sempre achei que as pessoas perdem mais me excluindo do que eu a elas. E se me perguntarem que futuro espero com isso, digo apenas que nada espero do futuro e que busco tudo agora, e que tudo que tenho que fazer é continuar a não fazer grandes coisas, que ao fim sempre gera muito lixo social, começando na embalagem do produto e findando no descarte do mesmo no lixo. Se advir algum reconhecimento, será pelo que não fiz, pois tudo que faço me parece apenas a minha obrigação de cidadão do mundo. E se falarem de mim, falarão: “eis alguém que cagou pouco, e não por prisão de ventre!”.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Desabafo

Seu direito de comprar um automóvel diminui até quase paralisar a minha liberdade de circulação de condução pública. Isso agrava-se sensivelmente no fim de ano.