quinta-feira, 31 de março de 2011

Seres insociáveis

É fascinante a falta de fascínio da convivência humana. Nos odiamos e mal suportamos as pequenas diferenças que nos fazem tão iguais. E não sei o que acho mais estranho, a intolerância de alguns retardados, ou a intolerância com a intolerância de muitos, beirando o facismo.

Um celibatário à serviço da humanidade

Presto um grande serviço às mulheres por ser um celibatário: não faço ninguém limpar minha sujeira, nem aprisiono inocentes na monogamia. Por vezes, acho que mereço uma medalha, afinal, não tem sido fácil resistir aos encantos femininos há quase duas décadas, enquanto tento manter o leme da autonomia no rumo, entre oportunidades que se insinuam por toda parte, da auto-suficiência. Se soubessem o bem que faço ao não alimentar a crença feminina que existe homem bom ou fiel, ou, pior ainda, perfeito, receberia os méritos devidos. Não é que o homem é ruim, infiel ou imperfeito, é que o homem não presta atenção nessas coisas, e não é por natureza que chega à monogamia (se é que chega!), nem é por gosto que esquece de levantar o assento da privada.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Notas sobre o meu existir N° 7

Como seria de se esperar, era um fiasco como aluno. Grego e latim foram as primeiras das inúmeras reprovações que ocorreram nas disciplinas do seminário. Línguas nunca fora meu forte e era constante ficar de segunda época desde o 1º Grau, acontecendo o mesmo no segundo e agora no curso “superior” que ora freqüentava. Não tinha ambição de sair do país, achava desde pequeno os povos do norte uns bárbaros e saqueadores que espalharam sua barbárie para o resto do mundo. Impuseram um calendário, o trabalho escravo, a ganância, sua forma de pensar miúdo e muitas outras safadezas que não cabe agora enumerar. Afinal, o que são as dores do mundo comparadas às minhas próprias naquele lugar perdido do cosmo?
Naturalmente, ninguém em sã consciência no mosteiro (se é que é possível ser são nesse lugar) acreditava que algum dia poderia me tornar um padre: estavam mais interessados na contribuição mensal do meu pai do que na minha formação. E como não atrapalhava ninguém, suportavam-me, não sem alguns castigos.
Aliás, alguns poucos padres reconheciam algum mérito em mim. Fui monitor do professor de filosofia durante minha estada em tão insalubre (mental e fisicamente) lugar. Fui ajudante de bibliotecário e responsável pela área de filosofia, história, geografia, antropologia e cultura geral. E devido a boa letra e aos poucos erros ortográficos, era convocado para secretariar as reuniões, visto que o computador, que engatinhava na época, era algo inexistente naquelas paragens. Tínhamos máquinas de datilografia mecânicas, mas que só eram utilizadas para os documentos externos. Ainda que secretariar reuniões fosse uma bosta, tendo que ficar escutando discussões sobre miudezas e deliberações medíocres, era melhor que limpar latrinas, ou lavar louça, ou......
Só sei que após um mês nesse mosteiro, cuidava apenas da limpeza da biblioteca. E a tristeza pelo aprisionamento era deixado de lado por leituras apaixonantes. Conheci a filosofia antiga, medieval, moderna e até alguns contemporâneos, esses em menor número devido ao “pecado” do materialismo ou do ateísmo da maior parte dos autores, segundo a igreja, que faz leituras equivocadas desde que começou a ler. Eu que até então só me interessava pelo materialismo, acabei conhecendo uma multiplicidade de visões. O fato é que, de repente, me dera conta que poderia realizar minha auto-formação com muita mais facilidade aqui, neste inferno, que na casa dos meus pais. Verdade que não tinha o amor familiar, nem as mordomias da classe média remediada, mas por outro lado, também não tinha outras obrigações igualmente desagradáveis que decorrem da vida social. Enclausurado, menos atenção perdia com coisas que começavam a me encantar (e desviar), como o computador, que só pude reencontrar 4 anos depois dessa vida monástica. Ou mesmo as mulheres, que tanta atenção tiveram de minha parte, sem que nunca fosse retribuído. E não por ser feio, mas por ser desajeitado com as roupas, não cultivar uma celebridade, uma música, uma religião, um esporte, um programa de televisão.... O que tinha para conversar? Nada! Faltava aquele estoque de conversa à toa que as pessoas normalmente têm, ampliado pela timidez que carrego. Podia perguntar sobre o tempo, sobre a disciplina que ela mais apreciava ou que odiava, sobre a profissão do pai dela, mas pouco mais de 5 minutos de conversa são suficientes para acabarem as perguntas de ambas as partes. Além disso, e talvez o maior dos defeitos, ainda que aprecie a dança, nunca dancei, e jamais suportei festa com música. Enfim, como dizia meu falecido pai, um inútil, nem para ser par numa dança sirvo.
Nunca considerei isso um problema. Tinha muitas coisas para pensar e descobrir, e não tinha tempo para ficar preocupado em ser desajeitado. Como todo jovem, tinha isso como uma rebeldia, pois não era apenas um revolucionário, mas um asilado político e um dissidente social, pois lutava não apenas pelas liberdades políticas, mas contra a tirania social, a obrigação de seguir etiquetas ou princípios morais arcaicos, e por uma cidadania internacional: queria ser cidadão do mundo, não de um país. Não tinha tribo, não tinha partido político, era apenas eu, trancafiado na doce prisão familiar que dava comida e roupa lavada.  Assim, apenas mudei de asilo ao aqui ser internado.
No entanto, estava determinado a manter a sanidade, fazer o mínimo necessário e esperar o tempo passar. Não faltava muito para atingir a maioridade e assim libertar-me desta prisão, aventurando-me pelo mundo afora na busca de um canto para mim. Que importância tinha algumas baratas pela cama, infindáveis missas repetitivas, suportar o assédio dos inúmeros homossexuais locais, sem ofender ou sucumbir, ter que repetir infinitos padres nossos e aves marias, ter que fazer vistas grossas para o que acontecia na calada da noite ou mesmo à luz do dia, no confessionário ou debaixo do altar, quando não por cima, se, por outro lado, podia enfrentar as adversidades com certa diplomacia e passar despercebido na biblioteca, por vezes esquecido por horas a fio? Aliás, ser esquecido pelos outros e passar despercebido é uma arte que cultivo desde tenra idade.
Esta pequena esperança fez os seis primeiros meses passar razoavelmente rápido. Minha semana de folga aproximava-se, e, quem sabe, pudesse sensibilizar meus pais para mudarem de idéia a respeito desse “meu” futuro, que para mim sempre foi um passado, algo que deixaria para trás. Tudo ia indo muito bem, eu calado no meu canto, pouco perguntando nas aulas, prestando uma atenção entediada, até que entreguei meu trabalho de introdução à teologia, cuja repercussão inesperada transcendeu as cercanias deste mosteiro, e fizeram as esperanças evanescerem-se.  Pela segunda vez sofreria as conseqüências por emitir minha opinião, quando todos falavam que vivíamos em uma democracia, com conselhos tutelares e outras firulas jurídicas, e nem maioridade tinha, ainda assim assisti novamente um texto meu ser incendiado. Não será a última vez.

Honestidade X desonestidade: um combate perdido

Para ser bem honesto, não sei o que seria da vida sem alguma desonestidade. Com certeza seria um tanto cruel falar a verdade sobre a forma da pessoa ou a escolha da roupa; quando se trata da vaidade humana, fatos e verdades são de pouca utilidade, sendo a lisonja mais útil para a convivência pacífica. A mentira parece ser mais importante que a verdade para a vida social. Pelo menos é mais usada, mais esperada, mais presente e atuante. No fundo, poucos gostam da verdade. Aliás, sobre a verdade temos muitas mentiras. Mas, a honestidade nunca é malcriação...... Não temos culpa se a verdade é cruel; a mentira seria pior, tenham certeza. Se a honestidade machuca, a desonestidade destrói. Naturalmente, a forma de se dizer pode ser mais amena ou mais incisiva, mas isso é uma questão estética, pois o que pode parecer uma grosseria num momento, pode ser simultaneamente um gesto de muita gentileza e consideração num momento posterior. A verdade só aparece quando inquerida ou provocada, e independe da pessoa querer recepcioná-la, ouvi-la ou não. Via de regra, é uma resposta a uma pergunta........

Sobre falar e ouvir

A única forma de ser ouvido é falando. E não é preciso nem ao menos dizer a verdade, basta tão somente ser convincente. Particularmente não quero convencer ninguém de nada, nem ser convencido; quero apenas desfrutar de minhas incertezas sem ter que desfrutar das incertezas dos demais.

Horário tirânico eleitoral

Viva as aparências! A política emporcalha quase diariamente a pobre mente do cidadão comum, com o maldito horário eleitoral e a baixaria televisiva da enganação política. Desligue a televisão! Cago, vomito e cuspo nessa política miúda dos profissionais da política. Voto nulo e quero o direito de abstenção: jamais escolho quem irá me tiranizar e anulo convictamente meu voto desde que fui obrigado a votar. Além disso, não conheço ninguém em condições de me presidir e acho muita petulância quererem presidir a vida dos demais indivíduos. Que cada um presida seu destino! Tudo que desejo quando tenho a infelicidade de ver a campanha eleitoral, é que todos candidatos percam. Aliás, o último debate político entre os candidatos à presidência foi excremental. Tive a infelicidade de ser convidado a assistir o debate na casa de uma pessoa, que até então tinha como amiga, que passou em casa compadecida com a minha penúria de nem TV ter. A piedade é sempre impiedosa. Só não defequei porque antes vomitei nas considerações finais dos candidatos.

domingo, 27 de março de 2011

Brevidade

Dizem que somos livres, mas experimente peidar num elevador ou defecar no corredor para perceber que a suposta liberdade que se desfruta, não passa de restrições do que fazer e como fazer. Até cagar está regulamentado! E o problema nem é a tirania das leis, mas a social. Por exemplo, tire um fiapo do meio do dente em público, sem disfarçar, e você será considerado repugnante, e se não há uma penalidade civil ou criminal, haverá certamente recriminação moral ou mesmo estigmatização, e uma desaprovação social, e sentirá o peso da exclusão social.

Verdades elementares

Não me venham com essas coisas de espírito quando falam do homem. O homem é só carne, é com o corpo que sente e com a mente se ilude. Se querem buscar algo que distingue o humano dos demais animais, é o fato de copular mesmo com as fêmeas grávidas. E ainda que possam alguns copular pouco, todos pensam bastante em sexo.
A alma é uma grande mentira. Eis uma grande verdade..... Quantas supostas verdades num mar imenso de inexatidão! De minha parte, posso garantir, cago para a alma e saúdo os pensamentos ingênuos e as crenças infantis! Aprecio as pequenas coisas dessa vida. De grande, basta minha dúvida se será pior este ou aquele disparate humano que tantos acham normal no cotidiano.
Reafirmo, a única coisa profunda no homem é o seu intestino, e como é publico e notório, de lá sai ou gases fétidos, ou a inevitável bosta.
E silencio-me com as minhas custumeiras descrenças.

sábado, 26 de março de 2011

Por falar em saudades.....

Falar em saudade? Eu? Tenho saudades de poucas coisas e pessoas. Só de quem morreu ou de algo que aconteceu. Os demais, os vivos, sempre posso encontrar ou reencontrar, e os momentos posso fazê-los, ou tentar.

Respondendo ao e-mail de uma amiga

Uma amiga escreveu pedindo que salvasse o domingo de um naufrágio rotundo. Quanta responsabilidade e poder depositou em tão frágeis palavras que possa pronunciar. Tivesse o poder de salvar o domingo do naufrágio das dores pessoais seria alguém. Mas, não! Sou Outro Alguém, uma pessoa impessoal, aquele que não concorda, aquele que vê a porcaria humana da forma mais nojenta, bosta para todo lado.
Verdade, cagar é humano, e que atire a primeira bosta aquele que nunca cagou, mas, convenhamos, o que se vê de cagada por aí não é mole, ou é, se bem que tem da dura e até da pastosa. Olho o congresso e o gosto amargo do vômito vem e volta até a boca: que fedentina! Olho para o comércio entre os homens, e só vejo gente querendo cagar com o outro, pensando que com isso compram um perfume mais refinado. Mas, mesmo na indústria dos perfumes e da moda tem muita merda, ainda que anoréxica, fede tanta como todas demais.
Você poderia me perguntar, se não tem nada, nesta cagada toda, que não esteja revestida dessa substância asquerosa nesse mundo dos homens. Infelizmente, nem o papel higiênico escapa, não derrubaram árvores para fazê-lo? Enfim, viver é mesmo uma merda e a fedentina do mundo não escapa às narinas mais refinadas. Nesse sentido, minha amiga tem todo direito de estar triste. Sou solidário com sua dor, companheira! Deprimidos unidos jamais serão vencidos! Que vá tudo para a merda. Cago, cuspo,  arroto e peido para tudo e todos! Eis o lema do homem moderno.

Sabedoria

Envelhecer é uma sabedoria e não apenas uma decadência biológica...

Pensamento

Ainda que, por princípio, o que cada um mais preze seja a sua vida, não deixo de ver coisas que prezo mais do que eu mesmo, e pelas quais poderia, se preciso fosse, dar a vida: a liberdade! Uma morte digna é superior a uma vida covarde. Se não há espaço para ser como sou, morrerei tentando construí-lo, sendo o que sou.

sexta-feira, 25 de março de 2011

O Homem é um animal

A libido, que fera cruel! O luxo, que animal voraz e insaciável! A embriaguez, que bicho bravio! A ira, que quadrúpede devastador! A ambição, que carnívoro hediondo! A vaidade, que pavonice desvairada. A inveja, que germe medonho. É por isso que somos ferozes, os animais mais desumanos da face da Terra. Afora isso cagamos por toda parte e em toda gente.

Observações Históricas

Vasculhei o passado na procura de uma época em que não houvesse guerras e sangue humano derramado no solo do planeta, e nada encontrei; nos breves períodos de paz, preparam-se para a guerra futura. Por algum tempo acreditei que devia ter alguma função natural desconhecida esta mortandade, pois com isso diminuimos o número de seres humanos e o crescimento populacional não se torna tão asfixiante. Hoje acredito que é idiotice mesmo, digna de ignorantes e supersticiosos, e que nem as guerras acabam com a expansão dessa massa de brutos a querer impor sua forma de ser. E mesmo alguém que não quer se envolver com essas coisas grotescas, que sequer consegue matar uma galinha, como eu, é obrigado a ver cenas de guerra pelo mundo, assassinatos dários, dignas de primitivos.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Constatação

Pela cidade corre um rio poluído com a imundice dos homens. Há fedentina no ar. No meio de tanta sujeira que o rio carrega, entre pneus e garrafas pet numa água podre, avistam-se algumas capivaras. Descubro que as mesmas carregam carrapatos malignos que atacam os animais domésticos e o homem. E o que parecia algum tipo de vida ressurgindo, de repente, é outra morte.

Breve Conclusão

Desisti do certo e do errado há muito tempo. Não sei, algo me diz que o mundo tem uma variedade imensa de possibilidades entre um e outro.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Da série pensamentos evacuados

Felizes aqueles com intestino solto: das inúmeras prisões existentes, pelo menos, da prisão de ventre estão livres!

Na Televisão Ligada

Ontem inadvertidamente assisti a TV.  Estava no boteco onde costumo tomar café com leite acompanhado de pão com manteiga. Passava o jornal e nem é preciso dizer que só falavam de forma infindável, e totalmente inútil, sobre campeonato de futebol. Então, veio uma reportagem sobre um desfile de moda que ocorria na cidade. Não sei o que era mais aterrorizante, a magreza das modelos ou o gosto duvidoso daquilo que a repórter teimava em denominar de roupa, ou, pior ainda, moda! A única conclusão razoável que chego é que o Q.I. das modelos deve ser inferior ou no máximo equivalente ao seu peso; que estilistas não precisam de Q.I., pois o público, ainda que supostamente refinado, consome tudo que é porcaria, e tudo é um grande sucesso até que surja um novo sucesso, que repete de forma variada o mesmo triste passado de mau gosto.

Uma Apologia da Humanidade

Um canto retumbante ecoa pelos seres humanos livres e racionais desde a antiguidade, convocando cada um de nós, cidadãos, a tomarem as rédeas do destino em suas mãos, a não atribuir aos deuses o que pertence aos homens, a ter coragem na defesa dos interesses próprios assim como do público, a pensar nos demais como amigos com quem se desfruta o cotidiano, cuja glória depende do esforço de todos e que todos esperam que cada um cumpra sua parte. Almejamos o bom homem, buscamos boas leis para reger as pessoas ao invés de líderes a ordenar a população. Somos seres do mundo e a melhora dele depende da melhora de cada um de nós. Comecemos por salvar a nós mesmos de nós próprios, deixando de desejar mais do que o nosso mérito ou do que é direito. Seja senhor do destino e não seu serviçal; não espere a sorte ou o acaso, caminhe com pernas próprias e lute pelos seus interesses, assim como contra os interesses nefastos, pois não basta não cometer o mal, é preciso reagir quando ele age, ou impedir que ele ocorra, quando possível. A vida em comum é que permite que possamos desfrutar das conquistas humanas, não só presente, mas passadas, podendo desenvolver nossa individualidade e criarmos um lugar no mundo, sermos reconhecidos como gente e respeitados com nossas conquistas, tenham a extensão que tiverem. Naturalmente, há aqueles conquistadores que conseguem mais do que a maioria, mas, mesmo esses acabam aumentando a posse de todos, pois que a riqueza da humanidade nada mais é do que a soma de suas partes individuais e particulares, que potencializadas pela sua multiplicidade, acabam gerando multiplicações de possibilidades para cada um. É verdade que a grande maioria faz tudo pensando essencialmente em si próprios, mas isso pode e deve ser mudado, fazendo com que todos não apenas se informem sobre as possibilidades que a comunidade humana lhes fornecem, mas também se formem para perceberem suas responsabilidades para o aperfeiçoamento próprio e da comunidade, fazendo que seus interesses não entrem em conflito com o interesse comum, ou com os interesses dos demais, e que participe para a sua efetivação, nunca para a sua dissolução.
Naturalmente, essa apologia tem o interesse de expressar certa gratidão às conquistas humanas, por participar da humanidade, inclusive ao luxo das sociedades contemporâneas que permitem até mesmo que se viva sem trabalhar, pois mesmo seus restos são excessivos para aqueles que não precisam de muito e têm criatividade. Posso viver conversando sobre a vida com todos que encontro pelos milhares de caminhos que o homem inventa e que todos de algum modo desfrutam. Como poderia falar todas essas coisas, se não fosse a humanidade ter criado uma linguagem e inventado vários veículos para ela? Como poderíamos estar juntos, mesmo que em momentos separados?
Isso não quer dizer que não perceba a fedentina humana, que não considere o homem uma ameaça ao planeta, emporcalhando tudo em toda parte, visto que se encontram vestígios de merda humana de pólo a pólo. Também vejo a carnificina que se fez e se faz, as guerras, as perseguições, o obscurantismo, a superstição, a exploração, a crueldade, a futilidade, mas percebo também que mesmo isso se ameniza e tornam seus danos menos intensos e extensos, com uma tendência a se suavizar, pois muito do que se faz é mais produto da ignorância do que da maldade, que quando bem examinada, só poucos são capazes de cometer.
Saudações à Humanidade!

terça-feira, 22 de março de 2011

Filosofando

Mesmos os supostos sentimentos mais nobres podem ser nefastos, depende da quantidade. O amor pode ser bandido, a amizade uma cumplicidade nefasta contra os demais, pois a qualidade dos sentimentos depende da quantidade de intensidade com que se realiza. Depende também da intenção. Nada no homem é um qualificativo em si mesmo, pois que depende do que causa aos demais, já que nenhuma ação é isolada num mundo que é de todos e não pertence a ninguém. E mesmo que ninguém perceba suas canalhices, em nome muitas vezes de aparentes sentimentos nobres, que consiga esconder suas intenções egoístas, passando uma imagem virtuosa, ao fim verá que venceu, mas pouco ou mesmo nada ganhou. Tenho compaixão daqueles que vivem uma imagem para os demais. Creio que o que nos distingue não são os méritos, que todos, ou quase, conseguem ter em algum momento (mas não sempre), mas sim como administramos os nossos deméritos, muito maior e mais abrangente. Poderia fornecer minha receita particular, mas acredito que sua radicalidade filosófica a torne pouco utilizável aos demais: nunca pretendi mais méritos do que aqueles que possam advir dos defeitos, pois que das qualidades os méritos são inerentes. Mas, quem nesse mundo está disposto a defender sua forma de ser defeituosa como faço, afirmando tão categoricamente que não possui qualidades, e o que é pior, considerando que ninguém a possui para além de sua imagem pública. O fato é que mesmo os mais honestos são muitas vezes bastante desonestos consigo próprio. Com certeza minha honestidade, quase sempre, como todas as demais, pode ser questionada; nunca entranhei ou estranharei a desconfiança, mas, por outro lado, desconfio muito da confiança dos demais, não em mim, que nunca pretendi ser confiável, apenas relatar minhas observações da existência, mas em coisas e pessoas. Mas, não pensem que desconfio de todo mundo e que não perceba que há pessoas mais honestas ou menos desonestas. Com os que me parecem menos desonestos tento manter um contato mais intenso, com os demais evito o contato, mas não elimino seu encontro diário. O que mais gosto nos demais não é tanto avaliar suas conquistas, mas captar o esforço de tentar se melhorar, isso me faz menos exigente sobre o comportamento alheio, e sem esperar alegrias, conquistar momentos alegres com eles.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Um estranhamento

Nós, humanos, não nos conhecemos, não nos reconhecemos e apenas nos estranhamos. Que doença será essa que nos faz viver tudo junto e amontoado? Se fosse possível dar uma resposta simples a questão, diria que não se pode atuar isoladamente em nada, como se os demais não existissem. Não se pode nem errar, nem acertar isolados, nem se pode encontrar a verdade sem os demais. É no contato que nascem nossas idéias, nossos valores, o certo e o errado, e a vontade de conquistar um lugar no mundo.

Ego Expansivo

Sou um cara bastante expansivo, principalmente quando peido: é quando adquiro dimensões incomensuráveis, ainda mais em recintos fechados. Essas são as poucas vezes que me destaco da multidão e sou o centro das atenções....

Notas sobre o meu existir N° 6

A notícia intempestiva do suicídio do desconhecido Josué deixou a cara do monsenhor nitidamente consternada, e antes de começar a falar com o padre apavorado, se deu conta da minha presença incômoda e mandou-me falar com o responsável pelas acomodações, padre Vitório. Salvo pelo suicídio, pensei aliviado, pois era certo que ele estava ficando bravo comigo. O importante é que minha rebeldia desapareceu e, de repente, era alguém de quem queria que guardasse sigilo do ocorrido.
O padre Vitório tinha algum carisma e foi muito receptivo. Já sabia de toda minha ficha corrida e lembrava-se de detalhes sórdidos que até já havia esquecido, como a suspensão que levei no primeiro ano do segundo grau, como constava do meu histórico escolar, por portar material pornográfico. Também tinha lido meu artigo sobre o pacifismo e igualmente considerava que não havia o que reprovar do ponto de vista cristão. Quando quis argumentar que isso era indiferente, calou-me, e disse enérgico que sabia até da minha leitura de autores ateus. E pacientemente colocou-me a par das regras que os seminaristas estão obrigados. Foi enfático nos castigos caso incorresse em alguma rebeldia.
Cada um é trancafiado às 19:00 no seu claustro, com uma garrafa de água, um pinico, uma cama, uma mesa, uma cadeira, um armário para guardar os pertences, seu material de estudo, seu caderno de anotações. Na verdade, esse é o melhor momento do dia, é o único momento em que estamos livres, com vida privada e desfrutando nossa intimidade. Às 22:00 apagam-se as luzes, ou seja, desliga-se o gerador. Quem tem vela, consegue ler ainda mais um pouco, mas não é fácil arrumar velas, e nem sempre esquecem a porta do almoxarifado aberta para furtá-las, além dos fósforos, artigo raro. Em todos os quartos há um chicote para aqueles que querem se penitenciar, o meu usava para matar baratas, mas sempre acharam que era dedicado ao suplício purificante, quando na verdade faziam vistas grossas para a quantidade infindável de baratas.
Matei inúmeras, mesmo no escuro, e não era preciso sorte, tamanho o número delas: meu chicote guarda as marcas do desgaste e dos restos ressecados dessa insignificante espécime. Naturalmente, esse exercício lúdico diminuía muito em sua eficiência ao fim da vela. Mas, para que serve o tato, ou as noites claras de luar, senão para localizar e estraçalhar essas criaturas? Quantas vezes não levantei da cama esmagando esses vermes rastejantes ao colocar meus pés no chão! Quantas não matei com a tampa do pinico ao abri-lo para o devido fim desviado por repentina aparição! Se sorte existe, dela só conheço o nome e a palavra. Devo muito da minha lucidez a esse exercício diário que praticava naquele martírio, pois, como se verá em breve, há coisas mais nojentas que baratas.
O dia começa com os sinos das 5:00. Teoricamente temos que rezar e arrumar o quarto meia hora antes que abram as portas para irmos ao banheiro tomar banho, descarregar o pinico, lavá-lo, tudo até as seis, quando começa o café, mas às 6:30 tem a primeira missa (é um inferno, missa é o que não falta neste maldito lugar), que vai até às 7:00, quando então começam as aulas, que vão até às 10:00, quando temos um intervalo de 20 minutos, e depois aula até às 12:00. Quando pensa que vem o almoço, lá vem mais uma missa, o almoço só às 12:30; aprendi a jejuar forçosamente. Passei fome! Da uma às duas da tarde é o momento que se tem para conversar entre os seminaristas, alguns jogam bola, outros cartas, outros xadrez, outros ficam sem fazer nada, e eu ia para a biblioteca.
Mas, às 14:00 começavam novas aulas até às 15:30, quando então tínhamos um intervalo de 15 minutos e depois vinham as tarefas: varrer o pátio, os corredores, a igreja, lavar roupas, limpar os banheiros, a cozinha e a as salas diversas, enfim, uma infinidade de tarefas desagradáveis, isso até às 17:30, quando então, tinha uma missa, às 18:00 a janta, mais um pouco de tempo e às 19:00 de volta ao claustro. Alguns mais higiênicos corriam para tomar banho antes de sermos trancafiados, outros ficavam fazendo pequenas coisas, e eu ia para a biblioteca pegar um livro para a noite. Visitas só uma vez por mês, e eram raras, devido à falta de estrada para lá chegar. E só saíamos duas vezes por ano, por uma semana, caso, é claro, não incorrêssemos em alguma falta com o seu inevitável castigo. Infelizmente, foi o meu caso, que fiquei sem sair, até sair para nunca mais voltar.
Não sei se posso avaliar, em toda a sua grandiosidade, o terror que foi esse período. Eu que nem descascava banana, de repente, ter que limpar um banheiro é uma decadência muito forte para qualquer um, imaginem na cabeça de um adolescente de 17 anos, sozinho num mundo obscuro, repleto de maldade. Naturalmente, fiz fantasias de fugir, mas como atravessar as matas a pé, já que estávamos distantes quilômetros da capital? Roubar um barco era a melhor opção, mas como muitos antes de mim já haviam pensado nisso, os padres tinham um controle imenso sobre os mesmos. Os que tentaram fugir pela selva tiveram que ser resgatados, perderam-se na mesmice da floresta para aqueles que não a conhece.
Esse tempo foi tão ruim e durou uma eternidade para passar, que lembro muitos detalhes desta época em que tive uma grande experiência de humildade forçada. Fui forçado a ajoelhar a imagens e símbolos, fingir uma reverência que nunca tive e jamais terei pela estúpida divindade. Mas, só ajoelhei após a terceira chicotada, afinal, uma é pouco, duas é bom, três já é demais. Vi a maldade humana agir: eram portas abrindo no silêncio da noite por padres tarados em busca de garotinhos; vi pessoas recebendo regalias por lamber a mão de superiores, outras se vendendo por qualquer quantia; convivi com a vaidade dos homens pelo poder e ascensão na hierarquia, com pessoas crédulas, medrosas, medíocres.
Podem estranhar, mas a verdade é que não fiz um único amigo. Não tive vida inteligente durante o martírio de ser um seminarista, pelo menos, não com os outros. Discutia com muitos padres e professores, com colegas, mas não apenas era tolhido nesse esporte salutar de debate de idéias, como não era levado a sério, tido como um excêntrico, quase um alucinado, e detentor de muita cultura inútil sobre o mundo secular, mas com pouco conhecimento teológico. De fato, a escolástica, com todo respeito, é abominável, para não dizer masturbatória.
Mas, só tratei da parte boa dessa experiência funesta. Mesmo contar a vida dá trabalho, coisa que notavelmente abomino. Deixo assim para breve os meandros desses dias apavorantes.

Afazeres Diários

Não fazer nada é uma das coisas que mais faço......

Racionalidade

Acho que a razão é um ônus, antes que um privilégio; ela nos distingue, mas não nos qualifica. Ela nos obriga a ter que escolher nosso destino, e como cada um está lutando pelo seu destino próprio, acaba passando por cima do destinos dos demais. E a irracionalidade é apenas um termo que se utiliza para ofender as racionalidades diferentes das nossas, talvez, pelo equívoco de considerar que a racionalidade só produza o certo, o bem e o justo, que é o que cada um de nós acredita possuir.

Notícias Recentes

Recentemente li a respeito do lançamento, na Polônia, da maior imagem de Cristo. Dizia que foi realizada a partir de doações de alguns cristãos locais que desejavam expressar sua devoção e fé em Jesus. E pensei comigo: com todo o concreto utilizado para fazer uma imagem, com todo ferro e outros metais mais refinados para o acabamento, quantas casas para pessoas sem lar se faria?
Verdade que com a estátua se construiu um ponto turístico, e como tudo que homem vê, se torna comerciável. Assim, talvez, estejam ajudando alguns cristãos, gerando emprego, e quem sabe, criando um futuro lugar de peregrinação de massas católicas ou mesmo cristãs e de grande arrecadação de recursos monetários advindos do turismo.
Resta saber se os doadores não serão os mesmos que terão as lojinhas ao seu redor........

sexta-feira, 18 de março de 2011

O Silêncio dos Falantes

O que mais incomoda atualmente é o silêncio. Não há mais debates de idéias e posições; há apenas um acomodamento em vagas bandeiras, que querem agradar a todos e não agradam a ninguém. O que cresceu foi o número de tabus sobre o que pode, o que se deve e como discutir. E direita e esquerda, progressista e reacionário são categorias vazias......

Toque Pessoal

A nacionalidade, a classe social, a vida familiar, o sexo, a idade informam alguma coisa da pessoa, mas não dizem tudo; não informam o fundamental, o seu caráter, que é em grande parte resultado de auto-formação.

A respeito da Política

Político não merece nem crítica.

A Vida

Dizem que a vida é uma droga, com o que, talvez, até concorde. Mas, o que fazer quando se é um viciado nela? Cheiro seus odores fétidos, aspiro sua fumaça repugnate, compartilho os gases sociais, e ainda assim quero acordar amanhã para continuar a depreciar a existência.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Notas a respeito da bondade

Vejo tantos defenderem a bondade, a tolerância, a amizade, o amor ao próximo, religiosidade e outras coisas desse quilate. Porém, quando se avista os gestos concretos, para além da retórica, percebe-se que tudo é aparência, ou pior, só palavras para parecer gente boa, que persuade os incautos sobre uma bondade inexistente. Estes supostos defensores das coisas “nobres” são os que mais cagam na relação com o próximo; são os menos tolerantes. E o que mais espanta nessa vida de merda, é que só eu ache que sou um bosta, com tanta abundância de merda humana.

Realismo

Como muitos, antes de mim, nada estranho no que o homem faz, principalmente no quesito crueldade, um dos traços que mais nos distinguem dos demais animais. Não que não existam pessoas boas, mas mesmo pessoas boas podem cometer coisas más. O fato é que não existe vacina contra cagada e é inevitável fazer alguma merda com alguém, ainda que não tenha a intenção. Agir traz consequências, toca os outros, quando não todos.

Solidão contemporânea

Ninguém mais está sozinho neste mundo, a não ser que queira: temos a internet! E aí é só procurar que logo se encontra onde se perder.

Notas sobre o meu existir N° 5

Será preciso dizer que a vida no mosteiro é um inferno? Cheio de regras e normas, com horário para tudo e para todos, ninguém consegue sossego senão na intimidade do claustro. Eis porque sempre adorei os castigos de enclausuramentos.  E olha que tive, no começo da minha infeliz estadia, até algumas regalias devido principalmente a influência paterna sobre o monsenhor que comandava o seminário.
Meu pai chegou comigo na sala do diretor e foi logo falando, de comandante para comandante, guardada as devidas diferenças de patentes.

- Trouxe esse rapaz para torná-lo um homem do bem. Ele está se tornando comunista ou coisa parecida. Não acredita em nada, é um ateu....

O Monsenhor interrompeu meu pai e se dirigiu para mim:

- Você não acredita em nada?

Respondi:

- Acredito num montão de coisas, até no nada.
- E em deus, você acredita? Perguntou com os olhos fixos nos meus esperando uma resposta afirmativa.
- Claro, está na boca do povo. Eu acredito que as pessoas acreditam na existência dele.
- Mas, e você, meu rapaz, acredita na existência de deus?
- O que conheço de deus é o que os homens falaram dele.........

Nisso meu pai irritado e ansioso com a conversa, pois sabia que se dependesse de mim nunca terminaria, interrompeu o debate, e falou contundente:

- Está vendo, monsenhor, esse pirralho fica respondendo sempre de forma inesperada ou fazendo perguntas inconvenientes. É preciso muito cuidado. Além disso, ele nos confunde com suas questões, nos seduz com seus discursos e nos dobra com sua lógica. Creio que ele pode ser útil para a Igreja se conseguir dobrá-lo, coisa que confesso envergonhado, não consegui...... Um comunista no seio do meu lar....... É de matar de arrependimento um pai tão dedicado como fui.
- Pode ficar tranqüilo, nós o tornaremos um bom padre. Respondeu o monsenhor, e continuou: Ele será monitorado 24 horas, só lerá as obras que engrandecem um cristão. Tiraremos a soberba da erudição que parece ostentar e incutiremos a humildade cristã. Sendo um pacifista, como o senhor afirma, aqui ele encontrará o local apropriado na luta pela paz. Afinal, o que é a Igreja senão a encarnação da paz na terra cheia de guerras materiais?
- Aqui não tem aquela praga da teologia da libertação, perguntou meu pai receoso.
- Não, respondeu categórico o monsenhor.
- Nem veado? Novamente meu pai perguntou..
- General, com todo respeito, mas essa pergunta chega a ser ofensiva. Somos todos celibatários! Além disso, devo lembrá-lo que o exército não tem lá muita moral para fazer tais aleivosias.
- Não vamos discutir......... Bom, Monsenhor, está aqui este filho desgarrado, que precisa de rédeas curtas para seguir pelo caminho certo.
- E rédeas curtas terá, disse o Monsenhor.

Meu pai saiu sem sequer dar um abraço de despedida, ou mesmo um olhar. O Monsenhor o acompanhou até a saída e me fez ficar sentado esperando por ele. O relógio percorreu longos 15 minutos. Não achei nenhum livro interessante para ser lido na estante de sua sala. Os quadros, de gosto duvidoso por sinal, eram sobre temáticas católicas. A escrivaninha era bem arrumada, mas com poucas coisas: uma cruz, um grande bloco de anotações, a bíblia, um porta lápis completo, até com grampeador e fita adesiva. Por fim, no canto esquerdo da mesa, a imagem do santo de sua predileção. Havia austeridade, mas refinamento nos materiais existentes, das poltronas à estante de livros, da cruz a imagem do santo, um barroco autêntico.
Chegou o Monsenhor e foi logo interrogando:

- Então, meu jovem, você descontentou mesmo seu pai. Somos mais compreensivos com esses arroubos juvenis, por sinal o seu texto está bem escrito, e um cristão assinaria embaixo. Verdade que nem toca em questões religiosas, mas você me parece mais cristão do que imagina.

Fiquei quieto. Não sabia se ficava com raiva ou com pena do monsenhor, pela sua fraca avaliação das potencialidades do meu texto sobre o pacifismo.  Quando estava me entretendo com esses pensamentos, o Monsenhor me inquiriu:

- Você tem alguma pergunta?
- O que tenho que fazer? Respondi.
- Como assim?
- Ora, fui internado aqui contra a minha vontade, e como nunca pensei em ser um padre, que obrigações terei que fazer para me tornar um?
- Para começar, vamos nos ajoelhar e rezar, respondeu o Monsenhor.
- Não me ajoelho para ninguém. Sou um homem, não sou servo de ninguém.
- Todos somos servos do Senhor.
- Eu não.

O monsenhor já começava a se irritar, quando foi interrompido pela entrada súbita de um padre assustado, que disse chorando:

- Josué se suicidou!

terça-feira, 15 de março de 2011

Ambição

Não almejo mais do que amanhã acordar e viver minha vida mais um dia como ela é, insignificante. Que os grandes me perdoem, mas acho aqueles que são tidos como pequenos bem maiores.
Que cada um se ocupe de seus afazeres e se esforce por ser como foi feito. Apraz-me seguir minhas inclinações – não caminhar em procissões com pompa e ostentação, num lugar em evidência, mas freqüentar o lugar comum – não viver neste século desassossegado, nervoso, dinâmico, fútil, vulgar e violento, mas ficar de pé ou sentado pensativo enquanto ele vai passando.

Em tempos de tsunami

Aqueles que acreditam que o fim do mundo está próximo, não percebem o óbvio: que o que está ruim, pode ficar ainda pior, e não acabar nem com o nosso fim particular....... E não estou falando do planeta: o mundo humano é bem mais insignificante e não ultrapassa ao próprio umbigo. Ou seja, o fim do mundo, é o fim da sua prática prosaica de agir no cotidiano......

A respeito de dias comemorativos

Há dia do médico, do professor, do contabilista, do dentista, da mulher, do livro, enfim, todo dia é dia de alguma coisa ou de algum santo. Quando farão o dia do vagabundo? Ou um vagabundo não tem direito a exercer sua vagabundagem com dignidade?
E há dia do lixeiro? Se não há, deveriam criar...... De todas as profissões, a mais útil à todas classes sociais. Limpam e recolhem os restos do que sobra ou estraga de cada um de nós. Correndo pelas ruas e jogando no caminhão andando o que ninguém quer.
E onde jogam esses restos? Lá, onde despejam, há ainda muitos de nós que pegam preciosidades do que para muitos é mero lixo. Um resto de pizza vira um manjar, um chinelo velho acaba sendo o único calçado de quem não tem o que calçar nos pés.
Na minha opinião, não temos motivo para comemorar nada, nem ninguém......

Da série pensamentos evacuados

O mundo irá implodir na dívida pública dos Estados nacionais, e será mais breve do que acreditam os mais pessimistas. O mundo não paga suas dívidas há décadas, apenas rola o papagaio....... e imprime novos títulos da dívida, futuros pepinos e abacaxis....

Pensamento Extemporâneo

Por vezes, mandar tudo para o espaço, é voltar para a segura terra.....

Confissão

Sim! É verdade, faço lá minha cagadas. Mas longe estou de ser um cagão!

Observação

Sei no que está pensando...... Não tem vergonha? E não me venha dizer que não sabe do que estou dizendo: falo daquilo que esconde de tudo e de todos, o acanhado EU. Não, não peço que confesse sua intimidade, peço apenas que não a ignore. Grite alto e com força o seu desejo para que pelo menos você escute o seu íntimo.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Frase do dia

A tolerância é um exercício para poucos. A maioria tem que ser tolerada.

Revelação íntima

Não sei se sabem, mas sou um despojado. Tenho poucas coisas e quase todas ganhas, até mesmo as idéias, visto que sempre apreciei os clássicos, sejam da literatura, da filosofia, da história, da antropologia e demais aloprações humanóides. No mais, detenho poucas certezas, entre elas é que as certezas são por demais incertas.

Sobre excessos

Desconheço os excessos, sempre fui comedido. Verdade que alguns consideram meu comedimento excessivo, e outros consideram que disfarço bem. Entretanto, a verdade é que nunca pretendi ser verdadeiro, no máximo honesto, ou seja, que minhas verdades são poucas e passageiras, como o conhecimento humano, que acaba negando o que havia afirmado tão convictamente. Aprecio apenas as verdades mundanas, aquelas que se afirmam no calor de um bom debate.

sábado, 12 de março de 2011

Minha torcida

Torço para que tudo dê errado, pois tudo que está estabelecido como certo me parece tão errado.

A respeito de um suposto pessimismo

Outro dia um amigo perguntou por que achava a vida uma bosta, ao que respondi que não era verdade, o que achava é que havia muita bosta nesta vida. E o problema nem era a cagatina generalizada, mas nem perceberem que se está a cagar. Por isso dizem que sou pessimista, porque vejo o lado ruim da vida da pior forma possível. O que também não é verdade, via de regra, sempre olho e falo apenas do lado bom da vida. Se fosse falar do lado ruim, aí sim que a fedentina da cagada humana iria carregar os paladares mais delicados dos meus interlocutores. O fato para mim é que o pior já passou. Agora só vem coisa ruim e depois ainda piora. No mais, podemos torcer para tudo permanecer tal qual está. Afinal, não é a vida que está uma bosta, é o mundo humano que é uma merda. Não acho o mundo terrível, apenas acho a vida, na maior parte do tempo, um coco.... Por fim, contrariamente ao que pensam, não tenho mau humor, aliás, nem humor tenho, quando muito tenho flatulências..... qualquer coisa aqui estou para tirar as dúvidas..... ou as certezas.......

Meus votos

Boa evacuada a todos. E que a flatulência seja liberada sem censura ou restrição. Que a fedentina passe distante de suas narinas! Que os respingos de vômitos e de merda não lhe atinjam nem na sola do sapato! No mais, tranquilize-se, será a mesma merda de sempre. Só me resta desejar um ano sem prisão de ventre, aliás, sem qualquer tipo de prisão. Que a felicidade, essa coisa passageira, lhe atinja algumas vezes no decorrer dos dias vindouros! E que a infelicidade, essa coisa certeira, seja passageira!

sexta-feira, 11 de março de 2011

Notas sobre o meu existir N° 4

Quando meu pai chegou a casa com o jornal da escola, jogou na minha cara com alguma força, e disse em tom realmente alterado:

- FOI VOCÊ QUE ESCREVEU ESSA PORCARIA?

Honesto como sempre sou, respondi:

 - Não! Só o artigo sobre o pacifismo.

E ele mais bravo ainda:

 - VOCÊ VIROU COMUNISTA? Está louco! Como pode falar tão mal do exército e das armas, após tanto estudar sobre isso, como sempre vi você lendo sobre as forças armadas?
- Foi por ler, que concluí que o exército é uma ameaça à paz e à sociedade civil, não uma segurança ou garantia da paz.....

Bom, não terminei a frase, ele deu uma bofetada da minha cara, chamou minha mãe, e disse:

- Vamos colocar este desgraçado interno num seminário. Quer bancar o santo, então, vamos torná-lo. Vai ser padre, antes que se torne comunista.

Só sei que 20 minutos depois, entraram três sujeitos encapuzados, fortemente armados, e deram uma geral nas minhas coisas, e trouxeram vários livros e cadernos para o meu pai. Desceram e falaram com exagerado respeito para o meu pai:

 - Senhor, permissão para levar o material pornográfico encontrado!
 - Permissão consentida. Obrigado rapazes, vocês foram eficientes como nos bons velhos tempos. Encontraram tudo, não deixaram passar nada?
 - Sim, senhor! Até esta falsa bíblia que escondia o texto Filosofia na Alcova, que nos apropriamos como material pornográfico. Não há vestígios de drogas, ainda que haja alguns vestígios de esperma no quarto do rapaz.
 - Muito bem senhores, dispensados!
 - Sim! Senhor!

E para o meu azar, além dos livros de Marx, Lenin, Trotski e outros mais do gênero, trouxeram os cadernos onde estavam meus manuscritos, que abordavam várias temáticas. O primeiro que ele pegou e viu, deu uma folhada e logo jogou na lareira para queimar. Era o meu “Crítica à razão militarista: o exército como ameaça à sociedade civil”. O segundo caderno era um ensaio sobre a família: “A família como geradora dos preconceitos: a maldade se aprende em casa”. E assim foi indo, e lá se foram todas as minhas obras da juventude, 4 livros ao todo, que jamais pude reescrever.  Afora anos de anotações dos estudos realizados.
Resumindo, meu pai fez imensas labaredas na lareira de casa, apesar de estarmos no verão. Minha mãe tentou ponderar que poderiam vender os livros, mas neste ponto meu pai foi irredutível: ele tinha, segundo ele próprio, é claro, uma missão de civilidade impedindo que tais livros continuassem circulando e alimentando o comunismo e a viadagem, que para ele era um mesmo fenômeno. Afinal de contas, segundo dizia, quando nos fizeram aceitar conviver com os comunistas, ficamos suscetíveis a aceitar viver com qualquer porcaria, como as bichas e sapatões, e todas essas coisas pintadas e espetadas que vemos pelas ruas.
No dia seguinte telefonou para o cardeal, amigo desde os anos obscuros da ditadura, quando era apenas bispo, e pediu o mais rígido seminário para mim, sem que contivesse padre adepto da teologia da libertação. Ou seja, nada de jesuítas, franciscanos etc. Queria que fosse dominicano! O Bispo gentilmente ofereceu um lugar no Opus Dei, mas meu pai, não queria nada radical para mim, além de querer que seguisse uma corrente para ser bispo e cardeal. E ficou decidido que iria interno, bem longe da cidade, num seminário agrícola num Estado distante e pouco povoado. Meu pai queria em Roraima, mas o cardeal o fez ver que lá não tinha este tipo de seminário. Ele acabou satisfeito com o Acre.
Como tinha poucas coisas, duas malas foram suficientes para juntar tudo. Algumas roupas, alguns cadernos, alguns livros, um tabuleiro de xadrez, um jogo de ferramentas (presente do meu pai aos 16 anos, um martelo, um alicate, algumas chaves de fenda, um torquês e um grifo, para ele, o mínimo necessário para os consertos diários e a autonomia humana), uma coleção de discos clássicos e minha luz de leitura. Com a influência de papai no dia seguinte estava num vôo militar para o Acre, e a noite apresentava-me ao diretor do seminário.
É aqui que a história começa a ficar triste.

Notas ao redor da ignorância

Tenho alma de garimpeiro. Busco a materialidade da vida, vasculho os meandros da terra no encontro dos indícios da substância bruta da humanidade: não quero lapidá-la, quero exrtrair-lhe da terra indefinida que se encontra. Que pessoas mais refinadas lapidem e delhem brilho, só consigo atingir a substância primária da sua aparência. Certamente há pessoas melhores para estabelecer o preço, porém conheço o valor.
Mas, foi após um longo retiro espiritual (ainda que haja dúvidas se realmente detenho algo parecido com um espírito, talvez, de porco) que cheguei a conclusão que, mesmo querendo a grandeza de alma, gosto mesmo da carne e seus dramas diários. Por que apenas abrigar os "grandes" sentimentos, quando são os pequenos que mais nos ocupam?
Antes, subi sobre os ombros dos grandes autores do passado e do presente para beber de suas sabedorias. Quanto mais alto subia, mais baixezas enxergava. De grande descobri apenas as infindáveis miudezas da humanidade, pois olhando com um microscópio, só via as miudezas humanas, e vendo com o telescópio, observava as grandes cagadas da humanidade. Os autores são como degraus que subo para sobre eles ver o que ainda não foi bem visto. Há aqueles que usam os autores para repousarem numa confortável sabedoria; eu há muito percebi que a sabedoria se encontra com mais intensidade no instruir-se. E sem a pretensão de ser sábio, pois que também duvido desses, não almejo mais que uma opinião própria, direito de qualquer cidadão, até mesmo dos indecentes, o que, acredito, não é o meu caso.
Depois de perscrutar a trajetória do homem pelas suas idiossincrasias históricas e as partes mais recônditas da suposta alma humana, cheguei à conclusão que o homem não apenas caga, mas caga fedido. E essa fedentina invariavelmente percorre gerações, até que novas cagadas mudem a fedentina de rumo, ou para algo mais fedido, ou para algo que fede diferente, mas tão intensamente quanto antes exalando seus odores fétidos.
Vejam, por exemplo, o papel higiênico, conquista recente da humanidade, entretanto, não me consta que o cu seja mais tragável agora que outrora. Ele continua, como sempre, ou idolatrado por uns, ou um ilustre obscuro, repleto de mitos e preconceitos, ainda que a grande maioria o utilize uma vez ao dia.
Temo que minhas descobertas venham a revelar a rasura do saber que tanta auto-estima parece dar aos incautos. Quem se der ao trabalho de examinar a historiográfica ocorrência da existência humana, verá que mais que a maldade, reina absoluta a tolice. A maldade é apenas uma de suas facetas, mas muito menos abundante que a igonrância.

A respeito de esquecimento

Não tenho problemas de esquecimento, nunca me lembro do que esqueço.

Notas sobre as pirâmides

Assisti um documentário demonstrando a grande obra de criatividade humana que foi a construção das pirâmides, engenhosamente erguida para durar pelo tempo e guardar o corpo do Faraó supostamente pela eternidade. Mas, ainda que reconheça o engenho humano, sua infinda criatividade nessas obras, não posso deixar de sentir um profundo desperdício de esforço humano só para dar fim a um morto. E chamam isso de uma das maravilhas do mundo, uma obra para um defunto soberbo. Isso, na verdade, é uma das coisas mais horrorosas que o homem construiu com sua infinda ignorância e inteligência.
É um sentimento verdadeiro de desperdício de esforço e inteligência humana para construir uma bobagem. Tivesse feito um cemitério para a coletividade já seria menos ruim. Mas, o certo era ter feito residência para os vivos, ou mesmo ficar sem fazer nada e apreciar a vida, ao invés de botar tanta gente para satisfazer os caprichos da morte de um aloprado. Para os mortos, basta os abutres ou a terra bruta, e que plantem árvores encima, pois eles foram responsáveis (enquanto vivo, é claro) pela derrubada de muitas.
E não sei onde tem absurdo maior, na obra em si, as pirâmides, ou no que falam delas. Já falaram até que é obra de alienígenas, como se precisassemos da idiotice interplanetária para cometermos nossa própria idiotice. Seja lá o significado que se dê a tais construções, historicamente são apenas túmulos suntuosos que originaram a expressão "obras faraônicas", pois só aloprados fazem obras apenas para satisfazer a vaidade pessoal, na vã ilusão de eternizar-se.
Nesse sentido, o que ocorreu recentemente no Egito é uma evolução. Antigamente eles carregavam pedras pelo deserto para o gosto faraônico, agora adquiriram o gosto de atirar pedras no faraó.......

Algo sempre presente

Temer pelo futuro é algo típico do presente..... Tantos previram o fim ou a piora do mundo, tantos acham que hoje está pior do que "antigamente", tantos vêem as coisas piorando, tantos se enganaram e se enganam. E no entanto aqui estamos, cagando cotidianamente, e o que é mais interessante, já não se despeja os pinicos pelas janelas, como por tanto tempo se fez...... Se o mundo melhorou não sei, mas não se patina mais na bosta jogada pelas ruas.

Da série pensamentos evacuados

"O que é um peido, senão as trombetas intestinais a anunciar a chegada da majestosa e sagrada merda de todo dia".

Princípio verdadeiro 3

É com o tempo que percebemos a verdadeira dimensão das pessoas; muitos agigantam-se e findam ocupando dois assentos......

Princípio verdadeiro 1

Cada dia a mais em nossa vida é um dia a menos......

Princípio verdadeiro 2

Entretido com as coisas miúdas da vida, olho o espelho.......

Falar ou não falar

Queria dizer algo que fosse útil e bom, mas quando encontro algo útil, parece que não é bom, e quando encontro algo bom, parece que não é útil. Nada de útil e bom tenho para ser dito, porque apenas carrego verdades, que ninguém gosta ou quer saber. Carrego a verdade como um fardo que brota por todo lado, está ao alcance de todos, mas ninguém quer tocar....... E a verdade de cada um é apenas uma mentira para todos demais.....

domingo, 6 de março de 2011

Desimportante

Nada do que exprimo tem importância, nem pretende..... A desimportância é mais abrangente....... Mais democrática....

Notas sobre o meu existir N° 3

Alguns podem achar que tive uma infância e juventude infeliz, ou que meus pais foram cruéis comigo. Mas, não, eles gostavam muito da gente e toda surra ou castigo foram realizados (pelo menos na sua intenção) para nosso bem, e justificadíssimos para a época, pois eles avisavam o que aconteceria caso não fizéssemos como queriam, e como era raro fazermos como eles queriam, uns bons tapas e castigos foram necessários para “consertar” os cinco filhos.  De todos, fui o que menos castigos e tapas levei.
Era assim que se pensava na época. Hoje em dia poderia processar meu pai, mas naquele período, criança que não apanhava dos pais é porque não era amada.  Os tempos mudaram, hoje os pais estão apanhando dos filhos, mas não é por amor.
O certo é que tive momentos tristes e alegres em todos os anos da vida, como qualquer um.  Sempre estudei em boas escolas, conheci vários estados do país devido à carreira militar do meu pai, que nos deslocava a cada 2 ou 3 anos para uma outra região do país.
Minha mãe sempre achou que precisava de um psicólogo, mas para o meu pai isso era para louco. Para ele eu era mais um esquisitão do que algum maluco. Obedecia mais que os outros filhos, não arrumava confusão com ninguém, e, principalmente, não queimava dinheiro, para ele o único sinal verdadeiro de loucura de um indivíduo, o resto para ele é frescura de psicólogo. O único fato preocupante era a ausência de amigos naquela época. Para ele, não tinha amigos porque vencia em quase todos os jogos que jogava em casa, a ponto de ninguém querer jogar mais War, banco imobiliário, buraco, xadrez, dama, dominó, Uno comigo, pois era raro perder. E todos sabiam que a vitória não era pela sorte. Além disso, ele gostava de me ver lendo, escutando música clássica, enquanto ele lia o jornal, ou estava consertando algum aparelho doméstico, e minha mãe e meus irmãos assistiam televisão na outra sala. Gostava de expor aos familiares e amigos minha cultura sobre vários temas, mas não gostava quando ele comentava alguma batalha antiga, e eu corrigia os dados que ele estava dando. Ora, guerra foi por algum tempo meu tema principal de leitura.
Outra coisa a salientar, também era raro pedir dinheiro para sair, e nunca recebia bronca por chegar atrasado; não comprava roupa cara, nem tinha roupa de festa.  Não pedia para passar férias no exterior, ou na beira do mar (quando morávamos longe da praia), como todos, até minha mãe, pediam para o meu pai. Sua única reclamação comigo era pelos gastos que fazia com livros, ou com multas nas bibliotecas por atraso na entrega do livro emprestado.
Naturalmente, ficaram preocupados quando aos 16 anos me recusei a ir para a Europa nas férias junto com o resto da família. Fui categórico: na Europa só tem fantasmas debaixo daqueles castelos e igrejas; os museus, uma pilhagem do mundo; os preconceitos contra estrangeiros beiram ao barbarismo, enfim, nada tenho para ver ou aprender daqueles bárbaros que espalharam seus costumes horrendos pelo mundo, assim como seus preconceitos. Não! Decididamente não fui à Europa, uma das coisas que mais me orgulho no meu currículo miúdo.
Para minha mãe, apesar dela gostar de discutir literatura e autores comigo, sempre me aconselhava a fazer outra coisa além de ler. Falava para brincar ou sair com meus irmãos, primos e, principalmente, com as primas: na sua percepção de vida, o primeiro beijo de um jovem ocorre entre primos e primas. Uma espécie de treinamento para depois arrumar uma namorada de verdade, mas com alguma experiência de saber beijar.
Meu pai tinha uma concepção um pouco diferente de educação sexual, quando seus filhos (inclusive este que vos fala agora) chegavam aos 15 anos, ele levava num prostíbulo e pagava uma puta para tirar nossa virgindade e ensinar a ser “homem”.  O mais velho teve mais sorte de todos, pois sempre que levava algum dos filhos pela primeira vez no puteiro, os outros mais velhos iam juntos. Como era o terceiro, só pude ir três vezes à custa do meu pai, depois só pagando do próprio bolso.
E assim foram passando os anos, eu lendo ou jogando, pois o jogo sempre me encantou, numa vida boa, sem muitos esforços e desgastes.  Sem brigas e sem confusões, sendo razoavelmente obediente, na casa, na escola, na vida familiar e social, sendo considerado educado, mas calado. Sempre senti falta de amigos, mas era difícil fazer amigos, pois não apreciava a maior parte das coisas que as pessoas apreciavam: não assistia televisão e lia jornal. Consideravam-me tolo, inadequado, por vezes metido, por saber da história das novelas de época, por ter lido o livro e contava toda história, sem ter assistido um único capítulo.
Mesmo no xadrez, onde mais tive contato próximo com pessoas na infância e na juventude, participando às vezes de algum campeonato, era odiado por vencer. Aliás, vencer tem sido minha maior derrota na vida. Toda vez que venço, mais que amigos confiáveis, ganho inimigos vingativos. E inimigos, todos sabem, são para sempre; já os amigos..... É que os amigos dos vencedores são sempre de ocasião, principalmente quando a vitória numa coisa não significava que queria continuar avançando nas vitórias para ser o melhor. Ao não querer participar de um campeonato estadual, todos os meus “amigos”, viraram amigo do vencedor do campeonato estadual da época. Diziam que eu era um covarde e tinha medo de enfrentar jogos com pessoas melhores do que eu no xadrez, o que longe está da verdade. Eu competia nos campeonatos locais porque era perto de casa e não tinha que viajar, mas ninguém acreditou nisso.
Como também não torcia por time de futebol, não tinha partido político, não era fã de nenhum grande músico, artista, ou celebridade, cheguei um tempo na vida a não ter nem amigos nem inimigos, pois não podiam me odiar por torcer ou adorar alguma coisa, nem podiam me ter como amigo porque não compartilhava deste sentimento comum de adoração por algo externo. Hoje sei que passei como uma pessoa indiferente por toda essa fase, e é pouco provável que alguém se lembre de mim, com exceção da minha mãe e dos meus irmãos ainda vivos. E se lembrarem, lembrarão como aquele cara caladão, estranho, esquisito e outros adjetivos do tipo.
Agora, o fato que muitos estranham, é que nunca quis ter uma namorada, nunca tive paixão por alguma mulher: na época, influenciado por Nietzsche considerava as mulheres seres humanos inferiores, no sentido de serem incompreensíveis pela razoabilidade humana. Eram submissas demais e repletas de desejos fúteis, passando muito tempo na frente de um espelho para o que considerava normal e razoável. AH! A doce inconstância feminina, que muda de acessório e penteado a todo momento, só para ver se encontra alguém que lhe arranque o acessório e lhe despenteie. Mexer no cabelo nem acho tão estranho, afinal, nada sentimos no cabelo. Mas, e aquelas que espetam prego, gancho, arruela pelo corpo? E aquelas que se tatuam? Tem gente que põe silicone, outras arrancam banha e há ainda aquelas que injetam as substâncias mais estranhas no corpo. Quantas não morrem para se embelezar! E penso comigo, se são capazes de fazerem isso consigo mesmas, o que não farão nos demais se tiverem oportunidade? Além disso, menstruam todo mês, e sempre tive horror de sangue. Para não dizer que não sentia nada pelas mulheres, devo confessar, sempre fui atraído sexualmente, freqüentei prostíbulos, para ser mais honesto ainda, continuo freqüentando. Hoje é um velho hábito. Naturalmente, mudou minha opinião sobre as mulheres, mas nunca amei, um sentimento que desconheço, acho que de tanto que li sobre ele no decorrer dos anos.
De qualquer modo, amigos e, principalmente, amigas, só vim a conquistar depois dos 20 anos. Desde então acumulo algumas poucas e boas amizades, que atravessam décadas. E amor é algo que desconheço, senão como um fenômeno moral da nossa civilização, que causa mais dor do que traz felicidade, contrariamente o que alardeia a falsa publicidade dessa ocorrência infeliz.
Não obstante, o fatídico que mudaria o rumo da minha vida de forma cabal, ocorreu aos 17 anos, com a leitura pelo meu pai do texto no jornal da escola que estudava, defendendo o pacifismo. Daí, então, meu pai me considerou um comunista, ateu, um terrorista, enfim, um demônio que precisava ser exorcizado, e aconteceram os fatos desagradáveis que relatarei: ele enclausurou-me num seminário para ser padre.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Reflexão do Momento

Considero a idéia de uma intervenção militar, ou bloqueio aéreo, na Líbia uma grande cagada num lugar que já está uma merda. Verdade que sou um bosta e não tenho nenhum poder sobre esse coco todo que está ocorrendo no mundo islâmico, mas permito-me discordar categoricamente das posições dos que podem interceder, provavelmente, para pior.......

Preocupação

Não me preocupam os pensamentos falsos, que é a grande maioria dos pensamentos, mas antes os pensamentos mentirosos.

Vida

Por mais mistérios que se procure, a vida tem um princípio bem simples: ou se come ou se é comido. E que não se iludam os atuais comedores, pois que tembém chegará o dia que servirão de antepasto para criaturas minúsculas, por vezes invisíveis aos seus olhos. O carnívoro devora o vegetariano, que devora o vegetal, que devora o minério da terra. A vida é uma comilança, um engolindo o outro ou sendo engolido...

Fatos da vida

Só há duas coisas importantes na vida: 1) estar vivo; 2) não morrer. O resto vem ou falta, mas se passa sem.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Uma reivindicação monetária

Fui reivindicar uma bolsa família. O atendente falou que não tinha direito porque não tinha filhos. Disse que merecia exatamente por isso, não pus no mundo mais um esfomeado para o governo sustentar.

um pensamento arredio

Se soubesse a verdade de tudo que existe, ou se imagina existir, revelaria com o maior prazer. A verdade é que só vi até agora erros, falsidades e, pior ainda, mentiras no que os homens bradam como certo, verdadeiro, justo ou mesmo a respeito das coisas existentes. E isso não é uma verdade, não carrego o peso dos diplomas ou títulos diversos daqueles que enunciam verdades, é só uma constatação sobre a vida de um homem comum.

A fala de um mudo

O que resta ao homem comum fazer diante de tantas disparates políticos e sociais? Vivenciar a sensação de inutilidade de existir num mundo oco e sem criatividade. Por isso que me tornei um homem incomum: cago na beira das árvores, para adubar a coitadinha que sofre com o tráfico de tanta gente comum, que está pouco cagando até para as árvores.