quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Um homem sujo

Alguns, quando me vêem de longe, logo bradam: “eis um homem sujo!”. E é verdade, a sujeira me acompanha. E não é porque tomo pouco banho e não uso sabonetes e outras parafernálias perfumadorescas. Ou, pelo menos, não só por isso. Mostre-me algumas virtudes morais e logo revelarei a imundice por detrás. Apresente suas riquezas e lhe indicarei a fedentina do dinheiro. Defenda uma bandeira política popular e desnudarei a bosta que está envolvida. Sou assim, não sou de deixar sujeira para trás, abandonada no esquecimento dos homens, carrego-a para toda conversa. Alguns indagarão, mas por que carregar a sujeira da humanidade, tão pesado fardo, ainda mais sozinho? Ora, alguém tem que fazer o trabalho sujo e remexer na fedentina da vida humana, não para perfumá-la, como é comum ocorrer, mas para higienizá-la nas mentes. E dado que a natureza me deu uma narina apurada e um intestino solto, passo os dias a aspirar à estupidez de quase tudo e a evacuar as merdas que digo a todo o momento.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Transcendência evacuada

Sentado no alto do monte, olhando as estrelas distantes no céu, para o infinito, para tudo e, talvez, para nada, para o distante próximo pelo pensamento, para a distância das coisas e dos homens, para o medo do desconhecido e da morte que muitos sentem, e fico aliviado em ser como sou, que sem querer nada nem ninguém, trafego pela existência cagando para tudo e apreciando a todos, sem me importar com o começo ou com o fim do universo, se é que há começo e fim na merda do mundo, senão se o que faço prejudica ou beneficia os demais. Seja qual for a verdade do universo, não deixará de ser verdadeiro que os justos pouco devem temer dos homens; ainda que ele possa sofrer injustiças, como qualquer um, mesmo assim pode encostar sua cabeça tranqüila no travesseiro e dormir o sono dos justos. De que vale existir neste mundão de ninguém e de todos, senão para ser útil para si mesmo e sem ser injusto com os outros, e diante do julgamento final da consciência, possa afirmar: “se não fui, tentei ser justo!”? Naturalmente, há aqueles que digam que, o que é a justiça humana diante da grandiosidade da ordem do universo? Que apontam para a fragilidade das leis humanas diante da grandeza das leis naturais, que o homem, quando não o próprio planeta é apenas pó num cosmo incomensurável, o que até pode ser verdadeiro, mas desonesto, pois ainda que o universo possa ser um ilustre desconhecido de todos, o agir e falar humano não pode ser ignorado, e se somos ignorantes a respeito do mundo, não se pode ser ignorante à autodeterminação humana, que, se não consegue resolver as grandes questões do universo, tem a obrigação de resolver os problemas domésticos. Que não se saiba quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha, vá lá, mas não saber se é melhor ser governado por bons homens ou por boas leis, é um caso sério de ignorância cívica. Que as leis naturais nos ajudaram a nos libertar de temores e superstições é algo importante, mas o que libertou da escravidão foram as leis humanas, paulatinamente abrandando os privilégios e garantindo direitos cada vez mais extensos à mais pessoas. Na verdade, como esperar resolver os grandes enigmas do universo, se não se consegue nem ao menos permitir vida digna a todos, se não se consegue resolver os enigmas humanos? Como se pode pensar sobre o mundo com o ruído do sofrimento alheio transbordando pelas frestas estreitas da casa trancada, a torturar a mente com a incompetência humana para conseguir dar ao menos um prato de comida para cada um e fazer com que uns não matem os outros? Mais difícil que entender o universo, é perceber a diversidade do universo humano como algo que nos acrescenta, que nos leva a pensar e questionar o nosso agir ao comparar com os demais, enfim, que nos potencializa para o auto-aperfeiçoamento. Mais difícil que entender o mundo é entender as merdas que fazemos, os bostas que somos e as cagadas que estamos deixando para a posteridade, pois ainda que não seja uma fatalidade cagar, é inevitável a cagada a se continuar nesse ritmo frenético de conquista de futilidades. Enfim, para mim, o problema não é a imensidão do universo, mas a pequenez dos homens, isso que estraga a vista mesmo de quem está no alto do monte apenas apreciando a paisagem: há fumaça no horizonte, luzes da cidade a ofuscar a visão do céu, afora o perigo de assalto a qualquer instante.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Coco grego vagando vagabundo pelo mundo

É verdade que hoje não recebemos mais as mercadorias européias goela abaixo, como durante séculos ocorreu. Somos independentes, preferimos as asiáticas. Mas, essa cagada da dívida grega, não vai respingar merda só na Europa, a fedentina vai repercutir pelo mundo todo. A merda que recebemos não vem mais apenas do cu das grandes potências européias, mas também das periféricas, é a bosta dos bostas. E o que é pior, devemos torcer para que sejam essas merdas periféricas, pois que se chegar a bosta alemã, é porque o mundo já estará numa terrível diarréia. De minha parte, posso garantir, crises financeiras não afetam o meu modo de sobrevivência, mas temo que muitos não suportarão o cheiro da fedentina dos títulos podres pululando por toda parte; não saberão sentar na praça e apreciar os ratos e urubus a desfalcarem os incautos bolsos da população civil, não porque seja belo ou bom, mas para tirar alguma lição da compulsão pelo endividamento que há dois séculos assola a civilização.  Se uma coisa se pode aprender, é que é melhor poupar, que financiar, e que o crescimento endividado acaba invariavelmente numa dívida crescente e numa riqueza hipotecada. Pouco ou mesmo quase nada tenho, mas fundamentalmente não tenho dívidas, senão as de gratidão por coisas recebidas.

Dissidência política

Desde a mais tenra juventude sou um dissidente político, contrário não apenas aos governantes, mas a ser governado; contrário às leis, aos costumes, às moralidades sociais, e a tudo que impeça o exercício da minha liberdade. Tolice por tolice, fico com as minhas! Essa dissidência é tão extrema que me tornei um apátrida, e só não sou expatriado porque a radicalidade da minha dissidência é tanta, que não é conhecida, sequer notada, fora dos pequenos círculos por onde ando e discuto política. É que nunca lutei contra os poderosos ou mesmo os fracos, apenas deixei de servir a todos, em particular os governantes, e não deixo ninguém me servir. Tenho para com o poder político a nobreza da indiferença. E nem o Estado nem a sociedade podem impor limites à autonomia dos indivíduos, pelo menos quando esses não afetam aos demais nas suas ações e decisões, ainda que certas moralidades possam ficar contrariadas. O certo e o justo é algo muito complexo para deixar nas mãos dos governantes ou das autoridades, e quem abre mão do seu próprio julgamento deixa de exercer sua liberdade. Na vida política e social somos todos iguais e cada um tem o direito de ter sua opinião; é o reino da opinião por excelência, e mesmo que alguns sejam mais sábios ou ilustrados, a todos é dado ter bom senso. E a minha opinião é que a sociedade é hipócrita e a política sem vergonha, e a maioria das pessoas inertes ou omissas, e eu, se não posso melhorar o mundo, posso melhorar a mim mesmo e, talvez, os que me cercam.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Matemática política

Por muito tempo achei que 50 tiranos mortos eram melhor que um vivo, e quanto mais tiranos mortos, melhor seria, mas, melhor e tirano são anacrônicos, logo, o melhor somente ocorre quando não há tirania. De pouco adianta matar o tirano, se não se acaba com a servidão. Assim como o povo que é um, pode, no entanto, ser tantos, a tal ponto a ser apenas uma multidão, não reunida, apenas amontoada. Quando vários interesses iguais se juntam se tornam individualmente mais fortes e podem muitas vezes se sobrepor aos demais interesses dispersos; quando vários interesses diferentes se juntam formam um interesse comum que potencializa a todos a realizarem seus interesses individuais. Na política, uma soma pode se tornar numa multiplicação, e uma diferença numa divisão irreconciliável, portanto, o cálculo que se costuma fazer não é tanto pelos princípios que levam a ação, mas antes pelo resultado da operação realizada. E ainda que se espere que a política siga princípios, o que de fato se quer é alguma benesse; todos apreciam o bem, mas se contentam com a felicidade, ainda que passageira, ou com o fim do desconforto. Realmente, poucos esperam o bem, o certo, o justo ou o simplesmente honesto da política, isso parece que se tornou da ordem do particular nos dias atuais; espera-se tão somente que assim pareça à vista da maioria. A política é cada vez mais um negócio e os negócios cada vez mais políticos; já não basta uma aritmética básica, é necessária uma matemática financeira, para reconciliar não apenas interesses legítimos, mas os escusos, os clandestinos, os injustos e alguns particulares de forma especial. E no fim da conta, o que sobra é sempre pouco para distribuir para tantos, e muito para alguns poucos. Eis porque apenas poucos ousam palpitar na política sem pretenderem cargos públicos: quem está disposto a ensinar matemática elementar para pessoas que só sabem matemática desonesta? Quem quer apontar o caminho sem querer ser dono da estrada? Quem quer ganhar virtude sem ter alguma vantagem pecuniária? Quem sabe de fato fazer contas, ou que conta ser feita, num mundo que perdeu os valores e pensa em termos de preço? De minha parte, creio que a política vale muito, ainda que feita por pessoas que valem pouco, pois mesmo que não traga a certeza de que acertaremos, sem ela temos a certeza de que nunca seremos justos, sequer humanos.

O dia da árvore

Ontem foi o dia da árvore e, com certeza, se há algo que merece um dia, é a árvore, afinal, o que seria do homem sem um pau em suas mãos? E isso desde a mais remota antiguidade. É com ele que dá as bastonadas para conquistar seu reino ou apenas um lugar na arquibancada, é com ele que ergue seus castelos e suas choupanas, assim como faz as portas para trancar seu lar, é com ele que faz as lanças e mata seus inimigos, faz o fogo que lhe aquece e espanta os bichos que lhe come, assim como assa os que pega. Na sombra da árvore descansa seu corpo, nos seus frutos se alimenta, na sua copa por vezes se esconde. Com ela enfeita sua morada, suas ruas, suas praças e seus parques; com ela faz também os móveis de sua casa. E quando ao fim de sua vida, seu corpo já cansado precisa de um auxílio, eis que vem a salvadora bengala, e novamente com um pau nas mãos o homem reina, e caminha decidido a dar bastonadas a quem se impuser em seu caminho.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Notas sobre o meu existir N° 15

Depois da visita da minha mãe fui para o claustro ansioso, tinha muito que pensar. Verdade que tinha esperança, mas, por outro lado, certas coisas faziam-me suspeitar que meu pai não quisesse minha saída daqui, logo não deveria arquivar o plano de fuga. No entanto, teria que revisar tudo e levar em consideração o alerta materno da carta escondida na manga do general. O que desejava com a minha reclusão do mundo não entendia direito. De alguma forma, parecia que representava algum tipo de perigo social e político, ou moral. Ele era um dos poucos (senão único) a levar a sério a minha posição de dissidente político.
Pensava com os meus botões que faltavam na camisa que, ou ele me internaria numa clínica de loucos com algum tipo de intervenção judicial (amigos juízes não lhe faltavam), ou manteria algum tipo de controle militar na região para a eventualidade da minha fuga, de tal modo a ser resgatado antes de ter acesso a algum lugar “civilizado”.
Esperaria notícias, alimentaria alguma esperança, mas não deixaria de continuar estudando geografia e manuais de sobrevivência na mata, muito menos pararia de armazenar artigos necessários para essa empreitada, que segundo meu plano deveria ocorrer no meu aniversário, era o presente que pretendia me dar, a liberdade e os seus riscos, o que ainda demoraria mais de um mês. Eis a primeira dúvida, não deveria antecipar a fuga, pois ele poderia estar querendo me internar antes de completar a maioridade?
A segunda dúvida era se utilizaria os serviços dos meus “discípulos”, como se auto-intitulavam sete seminaristas, para a realização desse feito. Até o momento, a fuga era um segredo alimentado na intimidade. Esses colegas me tinham como mestre e eu utilizava inclusive a cotas deles para tirar os livros da biblioteca, visto que minha cota era ocupada só com livros didáticos, por determinação do monsenhor. E ainda que o bibliotecário estranhasse o interesse diversificado de leituras desses alunos, ficava contente ao ver que não era apenas eu a retirar livros. Eles achavam que minha concepção de não punir a quem me faz mal, a não temer a morte, meu desapego pelos bens materiais e cargos, sinais que estava mais próximo de cristo que os demais. Além disso, tinham como certo que tinha poderes sobrenaturais, seja com as palavras, seja com forças transcendentes. E negar era de todo inútil, já que acreditavam que isso era um gesto de humildade de minha parte, o que me tornava ainda mais santo aos seus olhos, afora o fato que acreditavam que era uma espécie de teste divino da fé deles, se seguiriam os ditames eclesiásticos, ou a pureza da mensagem original do novo testamento, que acreditavam estar na minha interpretação. Sinceramente achava tolo, mas ao fim eram pessoas que gostavam de conversar comigo, de discutir os textos, de escrever cartas que trocávamos, pois nem sempre eram possíveis reuniões, uma vez que ser visto comigo depunha contra a pessoa, pelo menos na visão do padre vigilante e do monsenhor.
Certa vez eles colocaram em uma de nossas discussões a questão da fuga, querendo saber o que achava, ao que respondi:
 - Uma ousadia!
 - Mas, possível? Perguntou um deles.
 - Tudo é possível ao homem determinado, disse.
 - Ninguém conseguiu, disse outro.
 - Provavelmente porque foram fugas desesperadas, pois não basta querer fugir, é preciso aprender a fugir, ou antes, como prefiro pensar, evacuar. A fuga é uma arte e uma ciência, já que o difícil não é escapar, mas não se deixar pegar depois, e, no nosso caso, também não se perder pela floresta.
 - E os barcos?
 - Os barcos de pouco valem sem os motores. No remo, logo se alcança com barcos motorizados, além da mística que corre que nunca foram roubados, nem os barcos, muito menos os motores. Naturalmente, sempre há uma primeira vez..... Mas, estranho o interesse de vocês por esse tema, visto que o único que está internado aqui contra a vontade sou eu e vocês escolheram o sacerdócio, podendo sair a qualquer momento.
 - É que queríamos saber se não está pensando em fugir. Se fugir, gostaríamos de ir contigo.
 - Colegas, por que fariam isso?
 - Porque você parece saber mais que os professores sobre a mensagem de cristo, nunca vimos ninguém tão cristão, nunca vimos praticar qualquer mal, ou mesmo pensar em praticar.
 - Já disse que não sou cristão e a existência ou não de deus me é indiferente. E mais, acho que os homens não são ovelhas que precisam de pastores, mas vermes a devorarem a crosta terrestre, e que para evoluírem precisam se tornar amorais. Vocês sabem bem que para mim a religião é parte do problema humano, nunca parte da solução. Assim, por que iriam comigo?
 - Na verdade, desde que ouvimos o seu texto, você se tornou a grande luz desse lugar para nós. Sem você, aqui se tornaria pura treva, para não dizer o tédio, pois que é a única coisa diferente que por aqui ocorre. Temos prestado atenção nos seus feitos e ditos, e todos eles estão repletos de virtudes; mesmo injustiçado, é justo; mesmo quando poderia pedir clemência, ergueu a voz e suportou a dor.
Bom, como se percebe, não sei porque, acabo atraindo pessoas, e como se sabe entre as pessoas há um pouco de tudo. Logo, poderia confiar neles e utilizá-los para essa evasão, ou como parece mais apropriado quando se trata da minha pessoa, essa evacuação? Não estaria algum deles como um agente infiltrado do monsenhor? Afinal, só tocaram nesse assunto após constatarem que estava pedindo para pegarem livros sobre florestas, de geografia, de navegação diurna e noturna. Talvez, tivesse chegado o momento de confiar nos colegas para melhor instrumentalizar a evacuação, que sendo em vários, exigiria um planejamento mais apurado. Por outro lado, como tinha meus passos restritos dentro do seminário, além de extremamente vigiado, eles poderiam obter tudo que para mim até o momento estava interdito, inclusive suprimentos, uma vez que um deles era ajudante da cozinha e outro trabalhava no estoque geral.
Pensava nisso quando adormeci. Sonhei. No sonho meus pais pareciam contentes comigo porque estava me formando em odontologia, como era a vontade deles. Na formatura, peguei o diploma e logo depois dei para eles e disse:
 - Eis o que queriam. Posso agora ficar sem fazer nada?
Acordei. Também, pudera, depois desse pesadelo, eu deformado por alguma profissão.... perderia minha essência mais pura, daquele que sabe que ninguém sabe porcaria nenhuma. Para ser bem honesto, o único profissional que merece algum respeito da minha parte são os lixeiros. No mais, só vejo vaidades e soberba da diversificada fauna de profissionais.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Da aparência à essência

Por aparentemente estar cercado de mulheres, insinuam que sou mulherengo, como se procurasse propositadamente a presença feminina. Logo eu, que nunca sequer mando um beijo, nem ao menos um sorriso, muito menos um reles tchau; eu que afirmo que não quero manter relações casamentais, que não convido ninguém para nada, senão, talvez, para uma conversa; eu que nunca, com muita honra, passei cantadas, eu que afirmo em alto e bom tom que não quero compromisso, que no máximo me permito algum sexo casual, de preferência com prostitutas. Mas, quando indagados a quem tenho seduzido para merecer tal fama, mesmo de apenas ouvir dizer, não têm a quem apontar. Estarão confundindo um ouvido atento com um pênis saliente? Estar cercado de mulheres não significa qualquer tipo de domínio ou de desejo de tê-las, é um fenômeno que me espanta mais do que encanta, o que de forma alguma me desagrada, e é com satisfação que falo com todas, se me querem ouvir, e transo com alguma, muito casualmente. Verdade que houve mulheres desatentas que se apaixonaram por mim. Desperdício de sentimento e acréscimos de outros desagradáveis, afinal, a recíproca nunca ocorreu, nem pode ocorrer, e todas acabam com mais um amor não correspondido. Sou incapaz de amar, de monopolizar ou ser monopolizado, me fiz para a dura vida de estudos das cagadas humanas, que por vezes recebe o nome de filosofia, de história, de economia, outras de ciência, outras de arte, outras de religião, ou ainda de política, mas todas repletas de uma fedentina só perceptível por narizes apurados nas falsidades que se propagam por séculos, e não apenas nas atuais. Vivo só para não atrapalhar nem ser atrapalhado; a convivência humana só saboreio eventualmente, e com muito comedimento. Meus desejos são simples e satisfaço-me apenas com algum afeto cordial e jamais espero outra coisa dos demais. E se é um fato que detenha mais amizades femininas do que masculinas, não se deve a algum tipo de riqueza, limpeza ou beleza, nem de grandes virtudes sexuais, que eu mesmo desconheço e que nunca se ouviu falar, muito menos a algum tipo de romantismo, absolutamente inexistente, mas acredito que pelo fato de falar e ouvir sem limites de tempo e de tema, por estar sempre disponível, por ser razoavelmente honesto nos meus comentários, e servir eventualmente para as mulheres fazerem ciúmes a outros homens. No mais, não entendo como alguém pode pensar que as mulheres podem se apaixonar, nos tempos atuais, por uma pessoa como eu, que vive com sua imundice com toda dignidade, que não trabalha nem pretende, com roupas desajeitadas e de suposta má aparência, que nem cartão de crédito possui, e o que é pior, apresentando isso como minhas virtudes cardiais. Fui feito para a diversão e a conversa fiada, assim como a séria, para noitadas de discussão de uma temática qualquer, não para despertar cedo e preparar o desjejum, seja para mim, seja para mulher e os inevitáveis filhos que a acompanha.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Sobre as crianças e os pentelhos dos jovens

Ainda que não tenha filhos, nem pretenda, tenho sobrinhos e sobrinhas, afilhados e afilhadas, e filhos e filhas de amigos e amigas, dos pequeninos aos bem taludos, que após lerem meus textos a respeito dos adultos, pediram uma análise minha, como sempre parcial, a respeito desse fenômeno passageiro da infância e a adolescência. Tentei me furtar de tal obrigação, alegando até mesmo alguns impedimentos legais e jurídicos, porém sob pena de ter minha caixa de e-mails lotada, quando não meu Blog invadido, fui finalmente coagido a escrever sobre tal temática.
Bom, criança é aquela coisa, tudo igual, só muda de endereço. Nasce parecendo um joelho, enrugada, ainda que os pais invariavelmente teimem em buscar semelhanças e aparências consigo próprios, impossíveis de serem percebidas nas primeiras semanas; muitas vezes não há semelhança mesmo. No primeiro ano de vida é tedioso mesmo visto à distância: dorme, acorda, chora, mama, arrota, peida, vomita, caga, mija, às vezes tudo ao mesmo tempo, e eventualmente ri. Depois piora, pois daí começa a agir e a falar. Conforme vai crescendo e os pais incapazes de porem limites, disciplina ou mesmo mera educação, chegam à juventude já querendo mandar em tudo e em todos, exigindo direitos e repudiando qualquer dever, mas chorando diante de qualquer não da vida. Aliás, o “não” verdadeiro só conhecerá fora do lar, com a vida, porém completamente despreparados, deprimem-se ou se tornam violentos, mostram toda sua imaturidade nas lamúrias infantis que bradam indignados por toda parte, mas principalmente no Orkut e no Facebook. E aí se juntam em correntes que odeiam ou amam alguma coisa, como se o mundo tivesse apenas dois matizes.
A criança é alguém que quer tudo que vê, que aumenta gigantescamente a lista de compras de uma casa, da pasta de dente de cor diferente e sabor extravagante, a infinidade de cores de lápis que pouco ou mesmo nunca usará. Aprende rapidamente a ver a felicidade nas coisas que tem e a infelicidade nas coisas que acha que lhe falta, que é quase tudo, com exceção das que já tem, que por vezes quer mais uma. Enquanto o jovem é fundamentalmente um chato, entediado. Podendo tudo fazer, mas sem vontade, disposição ou coragem de fazer qualquer coisa, reclama de tudo, porque está longe do quarto, dos amigos, da turma, da tribo, da escola, do lar, ou por estar na escola ou no lar, de não viajar e de estar viajando, de não passear e do passeio escolhido. Tudo é sempre muito pouco.
De minha parte, tento manter uma distância saudável desses seres, admirando-os, quando possível, nos lares de parentes e amigos. Verdade que hoje em dia, segundo alguns sociólogos, geógrafos e demógrafos, o jovem mama nos pais até pelo menos os 40 anos, o que é sabido, é o meu caso, e posso assim ser considerado um jovem, já que aos 34 recebo minha sagrada mesada materna. Entretanto, longe da descrição acima, tenho uma autonomia emocional e uma maturidade rara até mesmo em pessoas com idade mais avançada, além de ousar dar meus passos próprios no rumo incerto da busca do certo, do justo, do bom e do verdadeiro. E vivo ousadamente a minha insignificância sincera ao invés de falsas significações, combatendo não apenas costumes e crenças, mas a própria civilização. Que a luta seja inglória, é outra questão que não vem ao caso, o que importa é ousadia de lutar por uma causa e não contra os demais.

Ajuizando a humanidade

O juízo que faço dos outros é que pouco ou mesmo nada valem, e de mim, menos ainda.

Uma trivialidade

A realidade é simples e elementar. Tem uns tolos que mandam e tem um monte de tolos a obedecer. O problema não são os tolos que mandam, mas sim os tolos que obedecem. Há algumas exceções, eu, que nem mando nem obedeço, e se possível passo à parte das contendas miúdas dos vulgos.

Da série pensamentos evacuados

Já disseram que a parte mais sensível do ser humano é a sua conta bancária. Agora entendo porque me consideram insensível: não tenho conta bancária!

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Pensamento profundo

De tão profundo o pensamento, o mesmo não saiu. Restou a vergonha ao não ter, então, o que dizer, seja de profundo, seja de superficial. Calar seria o certo, mas o que fazer quando você mesmo se obriga a enunciar a verdade, ainda que ela não esteja clara e nem muita verdadeira? Disse que precisava pensar no caso, que tinha muitas implicações que tornavam a exposição difícil, afinal, a profundidade tem o seu peso, e quem já esteve no fundo do poço sabe do que falo. Não foi suficiente nem para me acalmar, muito menos o espectador de alguma coisa significativa: era exigida a presença desse pensamento. Então, relutante, enunciei: o homem é um ser que caga! Mas, o que tem de profundo nisso, indagou. A merda, respondi, veio do profundo intestino. Querer coisas profundas de seres epidérmicos só pode dar em bosta, pois profunda é a superficialidade das pessoas. E o que de mais profundo se encontra por aí, são sabidos a enganar a ingenuidade das pessoas, e o que mais se vê, são pessoas iludidas que as altas muralhas construídas impedirão a infelicidade dos demais de invadir seus domínios. Enfim, profunda é a superfície em que nos afogamos nos gestos diários, pensando que estamos dando braçadas firmes na direção da felicidade.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Sobre os homens

É a contragosto que escrevo tal texto, intimado por amigas que desejam que equilibre a balança, que seja imparcial e fale também dos homens, assim como antes falei das mulheres; antes falei sobre algo que tem certo encanto, já os homens só trazem desencantos. Logo de mim, que sempre faço questão de me mostrar parcial no meu ponto de vista, vão solicitar imparcialidade. De pouco valeu afirmar não ser um homem típico, visto que nem humano típico consigo ser, pois não penso em filhos ou casamento. Não que os homens pensem muito nisso, aliás, sempre que possível adiam tais ocorrências, e empurram as responsabilidades para as mulheres, tanto pelo começo, como pelo fim do casamento, mas especialmente a respeito dos filhos, que os homens aceitam como uma fatalidade da vida, que até podem gostar, mas cuidarão pouco, ou, pelo menos, bem menos que as mulheres.
Via de regra a mente masculina é masturbatória, cuja temática vai do carro para o time de futebol, passando pelo emprego, ou parando demoradamente na mesa de um bar com amigos, ou sexo, que para o homem já se realiza com a mera visão. Sua felicidade é facilmente atingida depois da segunda dose de alguma bebida. Suas grandes ambições podem ser calculadas em cilindradas no motor do carro, seus grandes objetivos é ver os times adversários sofrerem estrondosas derrotas e sua maior meta é ganhar mais fazendo menos, o que não é possível, mas pouco importa, pois o querer masculino nada tem a ver com a possibilidade ou não de realização.
Na vida prática o homem faz invariavelmente o absolutamente mínimo necessário para manter o emprego, a relação, as amizades e os filhos; todo seu esforço é para passar despercebido de todos e assim realizar seus grandes feitos, que ocorrem na sinuca do bar, no churrasco em família, no encontro com amigos. Naturalmente, a grande maioria cobiça todas as mulheres e se pudesse teria relações com uma boa parte, mas efetivamente se contentam com aquela que conseguem enganar pelos seus falsos encantos. Além disso, a grande maioria não pensa muito e gosta mesmo é de ver TV, sendo o controle remoto um problema sério para qualquer homem normal, que dificilmente desgruda do mesmo.
Os sentimentos masculinos são infinitamente mais brutos e menos refinados que os femininos, sendo reduzidos em número e qualidade quando comparados aos femininos. Além disso, seu paladar engole qualquer coisa quando faminto. Seu vocabulário empobrecido não permite nem ao menos enunciar algumas cores da aquarela feminina, seus interesses não se estendem para além das coisas que envolvem seu dia a dia. Sua educação à mesa e diante dos eventos sociais está quase sempre beirando ao deselegante ou ao mau gosto. E não há homem que não olhe (e aprecie) fotos de mulheres peladas. A pornografia lhe é natural, vem de berço. No mais, quando em grupo, contam muitas vantagens e piadas, e nada é levado a sério. Aliás, com relação ao homem, poucas coisas podem ser levadas a sério, senão dá briga.
Os homens competem até pelo arroto mais alto; onde houver dois homens, estará em disputa o melhor time, o melhor jogador, o maior artista, a melhor política, o melhor carro, o maior piloto, quando não o maior pênis, cada um pronto a matar (mas não a morrer) pela sua causa. Indigna-se por pequenas coisas, mas é covarde com relação às grandes; é capaz de matar por uma vaga no estacionamento, mas é incapaz de morrer pelas causas comuns. Pode entrar numa briga só por amizade e pode fugir de outra porque está só. Um homem só pouco faz, dois já falam alto, em três é bem capaz de arrumarem uma confusão. É claro que há homens de todos os tipos, mas nenhum deles vale grande coisa.
De poucas palavras na relação, pode ser um falante incorrigível no encontro com amigos e familiares, ou mesmo com outras mulheres. Ainda que seja capaz do amor, a fidelidade é um esforço corporal, decorrência de timidez ou falta de ousadia, pois na imaginação é impossível. No mais, por serem infantis nas suas emoções e simplórios nos desejos, são facilmente domináveis pelas mulheres, muito mais maduras, capazes de darem alguma direção para um monte de impulsos muitas vezes sem direção, e suportarem eventuais traquinagens de pessoas que gostam de se divertir nas ruas eventualmente, onde, via de regra, passam fome, mesmo tendo comida em casa.
O fato é que enquanto reinou a força, o homem submeteu a mulher com a espada. Mas, daí, descobriram o poder do argumento e a mulher pode submeter o homem com a palavra. Hoje a espada e a palavra estão desgastadas, nem o homem quer ver sangue, nem a mulher perder seu tempo discutindo com quem não quer ouvir. Não há mais grandes feitos a serem realizados, nem grandes palavras a serem ditas, não há mais lugares para heróis e todos podem ser covardes, estão todos ocupados com suas felicidades. Tudo que se espera é que realizem suas funções, o que a grande maioria acaba fazendo a contento, porque espera com isso ter alguma vantagem. Não conheço homem que não queira um mundo melhor, mas não vejo ninguém se mobilizando para que isso ocorra.
E ainda que entenda as expectativas das mulheres com relação aos homens, não entendo porque os mesmos continuam alimentando essas falsas expectativas. Incapazes de cumprirem com suas palavras da mesma forma em todas as ocasiões, pois tudo prometem quando desejam uma mulher, e quando o desejo se esvai, esvai também as lembranças das promessas feitas ao pé do ouvido, tudo que pode garantir é que tentará manter a fidelidade por algum tempo, desculpando sua imaginação que age involuntariamente diante da presença do sexo oposto. Não afirmo que todo homem é um galinha, pois a moral consegue segurar a vontade da maioria, mas a vontade em si não deixa de existir, ainda que pouco ou mesmo nunca se efetive. O que não quer dizer que homem não seja confiável, apenas que suas palavras são ditas com sentidos diferentes em situações diversas. Jurar eterno amor é algo verdadeiro num certo momento, mas não para sempre.
Por fim, mas não menos importante, ainda que os homens tenham uma vida mais barata que a feminina, não apenas estão aumentando seus gastos com cosméticos e indumentárias (ainda que distante do consumo feminino), como também gastam compulsivamente seus bens com acessórios para os carros, em bebidas e com festas, com quinquilharias eletrônicas, na farra e na esbórnia. E sem fazerem pesquisas de preço ou pechincha, comprando na primeira loja e no primeiro lugar que encontrar. E ainda que muitas vezes possa ter independência econômica, sua dependência da mulher é maior do que imagina, infinitamente superior ao desprezo que por vezes ostenta a respeito da dependência feminina da masculina, que é mais ilusória do que real; via de regra, as mulheres é que carregam uns trastes ao invés de serem carregadas.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Sobre as mulheres

Sei dos riscos que corro ao tocar em assunto tão simples e usual, diria até corriqueiro, que se avista por toda parte, e que foi complicado e tornado complexo por “autoridades”, mas uma espécie de dever me obriga a tratar da temática “mulher” da minha forma costumeira, visto que se avolumam páginas e mais páginas que não conseguem estabelecer algo digno a respeito do sexo feminino. Naturalmente, todas as qualidades e defeitos que se atribuem ao homem podem ser atribuídos à mulher, pois caráter não tem sexo, assim como atitudes boas, pessoas com alguma sabedoria conseguem realizar, e atitudes más, pessoas com pouca sabedoria não podem deixar de cometer. De fato, a diferença básica entre homens e mulheres é o papel que ocupam no processo reprodutivo, tendo a mulher um fardo material e emocional muito maior no processo inicial da vida, o que pode (mas não necessariamente ocorrerá) ser compensado pela atividade masculina no decorrer da vida dos filhos, já que crianças humanas demandam anos de esforços dos seus tutores. É de se notar que a mulher tem um custo operacional durante sua vida muito superior ao masculino. De um lado, menstruam todo mês por décadas. Por outro lado, quase sempre precisam de sutiã para os seios. Só com esses dois aspectos dá para se ter um cálculo do seu custo a mais. Se acrescentarmos o que se gasta com a cosmética e a indumentária (preferencialmente idealizadas para elas) cheia de tipos para os diversos momentos, com os remédios e com as academias, se perceberá claramente que a mulher gasta a maior parte da sua renda com suas pequenas e infinitas coisas, afora milhões de bolsinhas para guardá-las ou eventualmente carregá-las. E se gastam com seus sapatos, gastam também com sapateiras. Os armários dos banheiros aumentam escancaradamente, repleto de potes e bisnagas de cremes e óleos que aparecem em cada esquina; é preciso lugar para o esmalte e para as coisas da depilação, para os perfumes, os desodorantes e a maquiagem, para o secador de cabelos, para o absorvente, para a lixa das unhas, para o remédio da dor de cabeça..... E coisas para pendurar na orelha, no pescoço, nos dedos, nos pulsos, nos tornozelos, nas blusas, nos cabelos, nada menos que uma gaveta é preciso. Tem as diversas bolsas para as diversificadas ocasiões, tem bolsa para o dia e tem bolsa para a noite, e o sapato ou sapatos que combinem. Cintos que nada seguram (mas, enfeitam) e cintos para segurar as calças. Lenços, cachecol e outros panos para enrolar no pescoço, mais o chapéu, o gorro ou a toca para algumas ocasiões. E eis porque ocupam um ou mais guarda-roupas; só de meias, lá se vai pelo menos mais uma gaveta, ainda que grande. Qualquer coisa que se coloque perto do chuveiro para guardar coisas, estará lotado por maior que seja, pois ocorre um fenômeno interessante, assim como as coisas exigem a obtenção de um lugar, um lugar novo e com mais espaço, parece exigir novas coisas a serem adquiridas. Enfim, para a mulher a vida é bem mais cara do que para os homens; além dos custos biológicos, têm mais enfeites e mais lugares onde utilizá-los. Mas, enquanto as mulheres gastam fundamentalmente consigo e com suas casas, os homens gastam com seus carros. Essa variação de desperdício de dinheiro entre homens e mulheres deve-se aos aspectos culturais, na formação diferenciada de ambos, e não aos aspectos biológicos como supõem alguns tolos.
Com certeza, a mulher trabalha mais do que o homem, seja em casa, seja fora, investe mais afetos nos relacionamentos amorosos, mata e morre menos na violência urbana e causa menos acidentes fatais de trânsito. Educadas para o casamento e a procriação, buscam a realização desses intentos desde tenra idade. Ainda que hoje sejam educadas para serem profissionais e terem carreira própria, a formação da família ou o acasalamento são sempre os planos primeiros de toda mulher, o que nunca impediram outros. Quanto à fidelidade ou infidelidade masculina ou feminina, se é maior nos homens ou menor nas mulheres, o assunto é controverso, uma vez que é sabido que os homens costumam falar mais do que fazem, e as mulheres costumam fazer mais do que falam. Além disso, é de se notar que, a não ser que os homens saiam com outros homens, o que ocorre, se homens traem suas mulheres com outras mulheres, deve haver tantas mulheres quantos homens adúlteros, logo há de ter adúlteros de ambos os sexos na mesma quantidade. Enfim, é irrelevante esse fato para caracterizar sejam homens, sejam mulheres, ou revelar alguma diferença estrutural, pois que é sabido que é a busca da satisfação ou a fuga da insatisfação que levam a pastar em outras paragens, sejam os homens, sejam as mulheres, se bem que a oportunidade por vezes pega suas peças, mas isso também é comum a ambos.
Do ponto de vista da espécie, nem homens, nem mulheres, são superiores ou inferiores uns aos outros, são apenas complementares para a procriação. A rigor ambos deveriam potencializar-se, mas no geral competem, cada um querendo mais para si, da simples atenção à plena dedicação. A imaturidade emocional atinge a ambos que não sabem mais quais são os papéis de cada um, se os papéis precisam ser fixos, ou mesmo se são precisos papéis. As mulheres educadas para os encantos e a sedução podem conquistar muitas coisas, num mundo que ainda trata desigualmente os sexos. No entanto, o que mais os homens aprenderam nesses últimos séculos, foi que o errado está em conquistar, e que é mais difícil largar antigas conquistas, que conquistar novas.
Quanto a se é preferível ser homem ou mulher nesse mundo, penso que é uma falsa questão, pois além de não ser uma questão de escolha, quando nos damos conta do que somos, a escolha já foi feita, e só cabe a cada um dos sexos terem a sua opinião sobre o próprio e o alheio. Nenhum deles tem ou terá vida fácil, pois as pessoas estão mais volúveis nos seus sentimentos e nos seus valores. Nenhum se satisfaz só consigo e precisa do outro, quase como de si mesmo. Resta saber se aprenderão a conviver sem montarem ou serem montados. De minha parte, considero a convivência sobre o mesmo teto e disputando o mesmo banheiro uma carnificina emocional desnecessária, nem a mulher deve ser obrigada a suportar a toalha molhada na cama, nem o homem suportar calcinha pendurada na torneira do chuveiro ou mesmo na janela. No mais, brigas ocorrerão, e com certeza um falará mal do outro. De certo só o incerto futuro da dupla.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Tons desbotados

As cores firmes foram-se. Hoje restam apenas os tons intermediários, aquilo que não é nem isto, nem aquilo outro. Nada nem ninguém mais têm cor, nem podem ter! Há uma concordância generalizada que o meio termo, o centro, o distante das extremidades é o certo, o justo e o bom. Falam em era da tolerância, mas vejo um triste suportar à distância, e não de diferenças, mas de ser obrigado a suportar as excrescências dos demais. Pessoas com posições políticas e filosóficas quase não têm com quem conversar nos dias atuais, pois ou consideram inútil, ou complicado, ou, pior ainda, proibido, o que se diz e se pensa, de qualquer modo, nada que tenham muito tempo para “perder”, que lhe tirem do seu objetivo maior, da viagem ao amor, da profissão à saúde, dos negócios ao lazer, todos muito ocupados. E eu que sempre gostei do azul hoje me defronto com uma variedade incomensurável de tons quando vou numa loja de tintas: azul marinho, azul céu, azul piscina..... E azul puro não existe? Pergunto ao lojista que não tem resposta. Tudo tem que ser impuro, misturado, confundido? Penso comigo mesmo, e digo que isso faz parte do processo civilizatório, que tudo dilui para ser palatável. Longe de ser um purista, sou antes alguém que aprecia as diferenças, e sente saudade do bom e velho azul, assim como pessoas com idéias que ultrapassem seus interesses particulares, e que tenham posições diante dos fatos, e não espantos. Um mundo desbotado talvez não desagrade a ninguém, mas também perde muitas nuanças que são responsáveis por grandes revelações de nossas próprias idiossincrasias.  Pessoas que aceitam tudo e não debatem nada, não são tolerantes, são antes indiferentes.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Notas sobre uma filosofia intestina - o pesado fardo da liberdade e da racionalidade

Foram os gregos que colocaram a questão da liberdade e da racionalidade no âmbito das discussões do pensamento humano que vem ocorrendo através dos séculos, que perceberam a peculiaridade humana na capacidade de livremente instituir para si próprio as normas de vida, e que as mesmas são cabíveis de aperfeiçoamento através do aprimoramento do conhecimento e das práticas políticas através da racionalidade. Contrariamente aos demais seres vivos que são obrigados a seguir as leis naturais, sem escolhas, sem escapar ao seu destino natural, o ser humano cria artifícios e normas de vida para si próprio, cria suas necessidades, inventa sua vida e suas escolhas (muito além das escolhas que a natureza oferece a todos os animais), inventa seu destino de glória ou de fiasco, sua organização familiar e social, e institui a vida política que cria uma segunda natureza, onde impera o discurso e o diálogo para a comunhão dos interesses particulares em torno do interesse comum.
Desde então o homem é consciente de estar condenado a ter que escolher tudo em sua vida, a tomar decisões e ser julgado por elas; é pensado como um ser livre e racional, que engendra a realidade que convive, para o seu bem ou para o seu mal, pois tanto a liberdade como a racionalidade depende do exercício particular das pessoas para que ocorra plenamente, e para que se dirija para uma direção boa e justa, ou em sentido contrário. Todos têm a capacidade de exercê-las, pois que dotados igualmente da mesma natureza biológica e das mesmas potencialidades, mas para exercê-las na sua plenitude é preciso educação e aquisição de conhecimentos e virtudes, assim como esforço pessoal, sendo um artifício que se adquire pela convivência e só com ela pode ser exercida e desenvolvida. Logo, com a consciência da liberdade e da racionalidade veio também o medo do abuso dessas prerrogativas, pois assim como se pode engendrar o bom, o verdadeiro, o certo e o justo, se pode engendrar seus opostos, o que sempre depende do grau de consciência do deliberante da ação.
Se o homem é dotado de liberdade, isso significa que, para além das contingências da fortuna ou dos desejos dos deuses e da natureza, são os homens os responsáveis pelo seu destino enquanto povo e enquanto pessoa; são livres para atingir a sua glória e a sua eternidade ou a sua desgraça e o seu fim através de suas escolhas pessoais ou coletivas. Não estão presos a um destino natural, porque qualquer homem ou povo pode alterar a natureza ou a situação para seu conforto e satisfação. Sendo assim, é a única criatura a desfrutar da liberdade e da racionalidade, que significa a responsabilidade de instituir para si mesmo seus costumes e a forma de convivência entre os homens, assim como princípios para suas ações. Princípios que impomos a nós mesmos como necessários em si, uma regra imperativa para nós, com objetivo de restrição de nossos desejos egoístas para acolher um agir ético e político, visando não apenas ao bem próprio, mas ao bem comum, ou pelo menos não se contrapor a ele ou aos demais interesses sociais. O princípio se torna um imperativo que ordena a nossa subjetividade individual se conformar ao princípio da lei convencionada.
Todavia, como é sabido, por não sermos providos de algum tipo de santidade, na qual o querer coincide já por si com o dever instituído pela racionalidade, mas seres providos de um caráter e inclinações, ao mesmo tempo, pertencente ao mundo sensível e inteligível, torna-se necessário aprender e apreender o conceito de dever, que é a necessidade de uma ação por respeito ao princípio. Caso não ocorra uma formação apropriada, a tendência é se deixar levar pelo imediatismo dos desejos, pela utilidade, pelo pragmatismo, pelo menor esforço. O fato é que, dotado de um arbítrio, o homem age conforme lhe aprouver e sua sabedoria possibilitar, o que permite fazer uso de seu motivo para a ação, tanto de desejos egoístas como também de princípios éticos produzidos pela razão; a deliberação por um ou outro dependerá da visão alargada ou estreita do observador ou receptor dos fenômenos cotidianos, ou mesmo das circunstâncias. A razão pode promover o “melhor agir”, porque, com ela, o agente não visa apenas, como fim, à obtenção de lucrar ou beneficiar, mas é capaz de indicar um curso de ação superior para si e para todos. Mas, a opção “racional” nem sempre parece apropriada para muitos, pois ainda que sejam capazes de julgar, nem sempre se realiza bons julgamentos. Frisemos que o homem é um ser autônomo, mas que só se submete a uma lei, quando tem em si, antes dessa submissão, um interesse nela capaz de estimulá-lo ou constrangê-lo a seguir ou a não burlar as normas. Essa capacidade de restringir suas inclinações em prol da concretização do agir ético, só ocorre quando o sujeito reconhece a lei como algo bom a ser acatado e resolve voluntariamente se adequar à mesma, adotando-a como sua própria autolegislação. Esta lei é posta como obrigação prática estendível a todos os homens, devendo eles se motivar para cumpri-la apenas por respeito, isto é, consciência dos deveres e direitos, que são justificados e fundamentados na sua razão. E tal objetivo só é possível após um processo educativo pela sociedade nos seus indivíduos, pois que não se adquiri tal disposição, compreensão ou percepção por natureza.
O fato é que desde os antigos gregos se compartilha a noção de uma “natureza humana”, mesmo que recheada de inclinações e temperamentos, elástica o bastante para permitir a ação educacional, e de que a articulação dos hábitos e costumes educados são essenciais para o bom desempenho político, para o exercício da liberdade e da racionalidade. É preciso ter ao lado da habilidade profissional que lhe garanta a independência econômica, alguma virtude cívica genérica, pela qual se põe em relação de cooperação e inteligência com os outros, no espaço vital da cidade. Ora, é com a política que aparece a idéia de formação cultural, pois induz ao processo de educação para superar o imediatismo dos interesses particulares, dominar as paixões, a ganância, e até mesmo as necessidades, e fazer prevalecer uma razão bem intencionada, certa abnegação, assim como o raciocínio de longo prazo. Não que isso sempre ocorra ou possa assim ocorrer, mas há esse ideal como horizonte quando se tenta instituir a formação humana para a vida política.
Acrescente-se o fato de que a racionalidade transmite as sabedorias e as artes humanas entre as gerações e entre contemporâneos, produzindo maiores e melhores conhecimentos e artes, permitindo o convívio entre os homens de forma falada, entre pessoas que, através da discussão dos problemas, podem controlar a si próprio e aos demais, assim como ser controlado por todos, sem ser pela violência, força ou mero adestramento, voluntariamente, pela persuasão. Logo, a liberdade e a racionalidade permitem ao homem autoinstituir a vida política, instituir o público, criar leis às quais pode se adequar e transformar. Portanto, o que também faz do homem um ser diferente dos demais animais é a fala, que nivela o mundo num entendimento comum, que permite o convívio social de tal modo a potencializar a todos em torno de objetivos comuns e desejos compartilhados, e trocar bens e idéias para a múltipla satisfação. É a fala que permite o exercício da liberdade e da racionalidade, onde se efetivam essas atividades humanas.
Essa capacidade de organização política (e não meramente social, pois até insetos vivem em sociedades), significa que, para além da vida privada da família, da casa e do clã, da subsistência, do aglomerado de seres da mesma espécie, o homem adquire uma segunda vida, uma vida pública que escapa daquilo que é meramente útil e necessário à sobrevivência biológica. Isso faz com que o cidadão pertença a duas ordens de existência: a sua vida entre aquilo que lhe é próprio e particular e a sua vida entre aquilo que é em comum e público. A vida política é mais que uma mera vida social, é viver num local onde se desfaz do tempo natural das estações ou do ciclo selvagem da vida nômade, da vivência em família, bando, rebanho ou multidão, se troca as ligações de sangue pelas ligações contratuais decorrentes da confiança mútua entre pessoas iguais em cidadania, e se institui uma vida pública, na qual ocorre a ação e o discurso dos seres humanos, pois viver politicamente também significa que tudo é decidido mediante palavras e persuasão, e não através de força e violência. A instituição do poder político representa que ao invés de forçar alguém mediante violência ou ordem, características da vida selvagem e natural, se impõe a fala entre iguais, que persuade pelos argumentos, pelo poder que vem da autoridade do enunciado e não pela força que vem do autoritarismo do agente. Somente na vida politizada é que o homem pode realizar a capacidade inscrita em sua essência auto-instituída, um animal que possui a capacidade de falar de maneira sensata e de refletir sobre seus atos, de se potencializar como pessoa e cidadão. Na vida natural impera a força física e a astúcia; na vida urbana impera o poder político e a racionalidade, um produto original da criatividade advinda da liberdade humana que não apenas se submete ao tempo e ao espaço, ou às meras necessidades biológicas da sobrevivência, mas que impõe aos mesmos sua vontade soberana de autodeterminação.
Instituir um Estado com poder político significa dividir tarefas, compartilhar deveres e obrigações, conciliar esforços, e dedicar parte do tempo particular às necessidades da vida em comum, ganhando assim direitos e potencialidades individuais pela força coletiva; tudo isso de forma dialogada, com a concordância coletiva e voluntária, tendo como ordenador não apenas um governo externo, mas também algum tipo de autogoverno. Isso pressupõe especialização de tarefas e funções, a percepção da responsabilidade individual e coletiva para a concretização do bem comum, a coadunação dos homens e seus trabalhos, uma consciência cívica e ética para criar confiança mútua obtida através da educação. O caráter específico da ação política está no fato que exige o concurso de outras pessoas, obrigando o seu promotor a pôr em jogo uma técnica de agrupamento de colaborações, onde a ação não é simplesmente individual e material, mas pressupõe um concurso de vontades voluntárias para efetivação de um ato comum. A política começa a existir quando se renuncia ao uso da força para impor as próprias idéias, e se admite a divergência de idéias ou ideais. Há política quando se abre mão da violência como meio de sujeitar as vontades sociais e se utiliza a fala para negociar os interesses. Existe poder político quando a ação de determinados entes sociais exerce certa força na sociedade, não sob ameaça, chantagem, terror, etc., mas quando a política é exercida sob uma alta probabilidade de que uma ordem seja seguida por um dado grupo de pessoas, quiçá todos. E a política só se concretiza quando o poder público, por meio da invenção do direito e da lei (a instituição de tribunais) e da criação de instituições públicas de deliberação e decisão (as assembléias), foram separados das autoridades tradicionais: a do poder privado ou econômico do chefe de família, a do chefe militar e a do chefe religioso.
Nas Repúblicas contemporâneas, um partido, um sindicato, um movimento social, uma ONG, algumas minorias, uma pessoa qualquer tem peso político, na medida em que tem a força para mobilizar certo número de eleitores ou de pessoas para um projeto em comum. Salientemos que força não significa a posse de meios violentos de coerção, mas meios discursivos que permitem influir no comportamento de outra pessoa.
Sem dúvida que os princípios que movem as pessoas para a vida política, que legitima sua existência, são melhores que sua efetividade prática. Não foram poucas as tragédias políticas que assistimos no decorrer da história. Mesmo hoje, com costumes mais amenizados e menos brutos que outrora, não são poucas as barbáries que se vê; se podemos elencar avanços morais (por exemplo, o fim da escravidão) na humanidade, podemos igualmente apontar fortes retrocessos como os genocídios contemporâneos, desde a segunda guerra mundial, decorrentes do uso de armas e técnicas de destruição em massa. O fato é que a mesma liberdade e racionalidade que pode mover para procedimentos éticos, pode levar também para a violência, e assim como age a racionalidade sobre as ações e até mesmo sobre os desejos, podem agir outras forças que nos constituem, que quando muito podem ser amenizadas pela racionalidade, ela mesma suscetível de ser afetada por desejos oriundos de um querer difuso e indefinido. Ocorre que a educação ainda não fornece para todos os instrumentos para o bom exercício da cidadania em boa parte do mundo.
A vontade de agir é condição natural de todo ser humano, mas o bom agir é aquele que o leva à ação ética e o torna livre. A razão seria a faculdade adequada para a indicação de princípios que visam a nos orientar em nosso agir, indicando-nos um curso de ação digno de ser universalizável. Porém, o homem ao mesmo tempo em que participa da racionalidade é também afetado por inclinações sensíveis, que podem influir nas suas percepções, no seu pensar, mas principalmente no seu agir, dependendo da sua formação. Eis porque muitas vezes escolhe mal, age equivocadamente, percebe de forma errada o agir alheio e o próprio.
Como a autonomia é a faculdade de dar início, por si mesma, a uma série de atos proporcionando a realização de eventos no mundo, podem todos promover seu aperfeiçoamento, e consequentemente o aperfeiçoamento da convivência. Mas, para tanto são necessários esforços extraordinários que poucos estão dispostos a conceder, devido à visão estreita em que se formam os homens na atualidade, para serem antes contribuintes que cidadãos, mais consumidores que pessoas com opinião, para terem funções sociais antes que posições políticas, para pensarem em si e desconsiderarem a espécie. Naturalmente, a grande maioria não almeja mais que a liberdade de escolha da roupa ou do restaurante, ou ainda da profissão ou da pessoa com quem se casar, do local de moradia, e que saiba resolver seus problemas pessoais com a racionalidade possível, ou seja, com menor esforço emocional ou intelectual: satisfazem-se por não serem desonestos, não matarem ou roubarem; não buscam tanto a justiça, mas antes não cometerem injustiças, sem questionarem o mérito da justiça estabelecida.  Uma pequena parte de homens cospe para a justiça, liquida com a verdade e pouco se importa com o certo, estes não conhecem a liberdade e tem poucos recursos da racionalidade para se libertarem da estreiteza de visão e da limitação da percepção da vida humana: escravizam-se por coisas ou pelo poder. Só poucos almejam a liberdade e a racionalidade sabendo das responsabilidades que acarretam cada uma de nossas escolhas, procurando não apenas um acúmulo, seja da liberdade ou da racionalidade, pois que não se concretizam em coisas materiais que se possa guardar, mas apenas no seu exercício virtuoso, na atividade comum do debate de nossas idéias sobre o certo, o justo e o verdadeiro, pois como todo artifício humano é cabível de aperfeiçoamento, e realiza-se coletivamente. O que não quer dizer que não possamos nos matar ou sermos mortos em decorrência de ações impetuosas do exercício de liberdade e racionalidade de pessoas que se acham acima dos demais, e podem julgar e condenar a todos. Esse tipo de arrogância ainda ocorre, pois a formação humana continua deficiente em muitos aspectos, está desigualmente distribuída pelas diversas partes do mundo, sendo que muitos recebem apenas uma visão bastante parcial da totalidade da existência humana, sem uma formação humanística.
Mas, por sermos dotados de liberdade e racionalidade, qualquer um pode agir politicamente para modificar o destino próprio e de todos, para melhor ou para pior. O problema é: quem quer agir? Quem quer agir, sabe o que fazer? Grande parte espera passiva as decisões governamentais, ou coletivas, ou ainda de autoridades. De minha parte, acredito que sendo bom com aqueles com quem tenho contato e não prejudicando quem não conheço, contribuo para a melhora do mundo. E politicamente atuo pela difusão do republicanismo, um regime de leis, mais do que de homens, onde se elege princípios antes do que políticos. Ainda que a liberdade e racionalidade lancem certo ar de imprevisibilidade ao futuro, devido aos usos e abusos dessas atividades, não deixo de fazer o que considero certo, justo e verdadeiro, mesmo sem saber se serão algum dia efetivados. Faço porque minha consciência ordena e não apenas porque espero resultados, ainda que os espere.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Ditados impopulares

Quem com ferro fere, deixa a pessoa ferrada, quando não morta. Quem tudo quer, é absolutamente normal. Quem dá a deus, não dá aos homens. Em briga de marido e mulher, não se mete a colher, invariavelmente usa-se a faca. Toda regra tem exceção, começando por essa. Uma andorinha não faz o verão, nem um milhão, pois é uma estação do tempo, e não algo para pássaros decidirem. Um é pouco, dois é bom, três é ménage à trois. Quem tem boca vaia Roma. Mais vale um pássaro na mão do que dois apreendidos pelo Ibama.

Da série pensamentos evacuados

O chato de estar sempre certo é que todos acham que você está sempre errado.