quinta-feira, 19 de maio de 2011

Notas a respeito do roubo no Brasil

Ainda que o roubo e a corrupção sejam mais visíveis no universo político, o fato é que todos roubam e se corrompem. É que a estranha cultura brasileira cria seus cidadãos com uma reserva moral, que parece que merecem não respeitar as leis, ou interpretá-las, digamos, de forma frouxa, em determinadas circunstâncias e quando pode tirar proveito. Assim, tirar dos ricos, dos patrões, do estado parece legítimo, já que, para cada um, todos são ladrões mesmo, e num universo de bandidos nada melhor que roubar um ladrão. Confesso que conheço poucos que consideram verdadeiramente um roubo, levar um saleiro de um lugar, ou um cálice de outro lugar, ou uma tolha que se encantou, ou qualquer outra porcaria. E todos falam, nunca roubei. É que as pessoas roubam e nem se dão conta. Liga do escritório ou da repartição para avó, cunhada, mãe, tio, namorado, para o folgado de genro. Pega o clipe, imprime o trabalho do filho no escritório, leva papel, caneta, lápis, borracha. Usa internet.
Portanto, o roubo é um fenômeno social, antes que político neste país, e na política apenas se torna público o que está latente na sociedade. No entanto, não se é menos ou mais ladrão. Roubar em si é o qualificativo, colocar um mais ou um menos depois não altera a realidade crua da roubalheira generalizada. Roubar alguns clipes ou milhões de reais é um ato de usurpação. Por isso que digo, o problema da roubalheira nacional é social, as pessoas acham que seus "pequenos" roubos são um pecadilho de menos, e só se ofendem com os "grandes" roubos. Mas, é por todos estarem roubando um pouco que todos acabam roubados, encarece a vida e destrói a confiança mútua, a base de uma vida social sadia. Nem as empresas privadas conseguem evitar os roubos praticados pelos seus funcionários, ainda que tenha mais vigilância e controle. No cálculo dos seus custos operacionais, estimam um índice de roubo praticado e transferem o custo para o preço do produto final. Assim, como os mercados, que sempre roubados, transferem seus custos com a usurpação ao preço das mercadorias. Não há santos, nem na empresa privada, muito menos na vida pública, e a grande maioria acha que pegar coisas de pouco valor é pegar coisa sem valor, desde que não seja dele, é claro. A mentalidade nacional é bandida. Querem que os "grandes" parem de roubar, quando todos devem fazê-lo. É de grão em gão que o roubo fica gigantesco.
Num país com pessoas desonestas, paga-se muitos selos nos cartórios, além de perder tempo nas suas filas; cartórios, por sinal, muito pouco confiáveis, ainda que caros. São essas as pequenas coisas que aprecio, não porque goste, mas porque existem. E como sempre digo, são de pequenas cagadas que se chega às grandes merdas: veja se você não faz parte dos que espalham excremento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário