É de se
perguntar por que não tenho leitores. Sem dúvida, minha insignificância é razão
mais do que suficiente para justificar essa ocorrência. Todavia, há o fato do
que digo ser indigesto para paladares delicados. Também ocorre que a verdade,
assim como a honestidade não serem apreciadas, muito menos é popular, a não ser
quando as mesmas tratam de coisas amenas, que não é o meu caso, que trato das
coisas pequenas, mas com odores fortes. Acrescente-se ainda um estilo rústico,
quase selvagem, que não busca palavras bonitas para falar de coisas feias, nem
disfarça a pornografia explícita das emoções humanas. Por fim, alguns leitores
tímidos, em particular, reclamam de minha temática, do meu “pessimismo” ou da
minha amoralidade. Mas, a temática advém do mundo do qual sou apenas um
intérprete; meu suposto pessimismo é tão somente um realismo cru e sem
cozimento poético; minha amoralidade é apenas um traço sutil de certa sabedoria
aprendida nos livros, que o certo é algo que se constrói e se destrói nas ações
humanas, não existindo de antemão ou para sempre. Se não ter leitores não é com
certeza algum tipo de mérito, não tê-los também não significa algum tipo de demérito,
ou mesmo algo depreciativo. Há escritores que morrem sem terem sido lidos em
vida, não por falta de méritos literários ou de conteúdo, mas por falta de
mérito nos leitores de sua época e do seu local. Outros guardaram seus escritos
longe do público enquanto vivos, para só depois de mortos permitirem sua
publicação. No meu caso, como nem pretendo os méritos de escritor, nem
considero que os leitores atuais carecem de méritos (verdade que não são os
méritos desejados), nem tenho medo do público sobre o julgamento das minhas
ideias, muito menos medo de publicá-las, só posso contar com o esforço próprio para
expor minhas impressões a respeito da imundice humana, visto que meus amigos
não as publicam nem em vida, por que publicariam depois de morto? Sei que o
assunto desagrada, mas desagrada menos que a ocorrência do fato descrito, que a
ocorrência das merdas diárias. Já me classificaram como um defensor de algum
tipo de estética do feio ou do grotesco. Entretanto, nem defendo alguma
estética, seja feia, seja bela, muito menos o grotesco; no mais das vezes nada
defendo, apenas ataco. Como não há nem bem, nem belo, nem justo na descrição
que faço das coisas humanas atribuem essa negatividade a mim, como se o
problema existisse na exposição e não no fenômeno exposto.
Se não há leitores ou são eles mínimos, para que
os escritos, me perguntam até mesmo quem não me lê, mas sabe que escrevo. Bom,
é um exercício mental, o que faz me sentir diferente de uma ervilha. Por outro
lado, gosto de registrar minhas impressões sobre as ocorrências, e dessa forma
não gasto papel para armazená-las. Por fim, há um procedimento democrático e
republicano de participar das discussões que envolvem o destino de todos ou
para evitar ter que participar do destino de todos, que respeita inclusive o
direito dos demais de não quererem ouvir minhas posições ou lutas, e ainda sim
livremente expô-las na praça: basta entrar ou não entrar nesse Blog. Afinal,
participar da comunidade humana precisa do exercício da conversação, ouvir e
falar, expor-se ao julgamento público assim como julgá-lo. E ainda que não seja
ouvido, é um dever dizer o que penso e o que acho da barbárie que estou
envolvido, no intuito de alertar a todos das armadilhas diárias da convivência,
mesmo sabendo que pouco posso fazer e poucos vão ouvir. Não faço apenas as
coisas que podem dar certo, mas faço tudo que considero certo, ainda que o
resultado seja duvidoso ou nenhum.
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