segunda-feira, 29 de abril de 2013

Da ausência de leitores

É de se perguntar por que não tenho leitores. Sem dúvida, minha insignificância é razão mais do que suficiente para justificar essa ocorrência. Todavia, há o fato do que digo ser indigesto para paladares delicados. Também ocorre que a verdade, assim como a honestidade não serem apreciadas, muito menos é popular, a não ser quando as mesmas tratam de coisas amenas, que não é o meu caso, que trato das coisas pequenas, mas com odores fortes. Acrescente-se ainda um estilo rústico, quase selvagem, que não busca palavras bonitas para falar de coisas feias, nem disfarça a pornografia explícita das emoções humanas. Por fim, alguns leitores tímidos, em particular, reclamam de minha temática, do meu “pessimismo” ou da minha amoralidade. Mas, a temática advém do mundo do qual sou apenas um intérprete; meu suposto pessimismo é tão somente um realismo cru e sem cozimento poético; minha amoralidade é apenas um traço sutil de certa sabedoria aprendida nos livros, que o certo é algo que se constrói e se destrói nas ações humanas, não existindo de antemão ou para sempre. Se não ter leitores não é com certeza algum tipo de mérito, não tê-los também não significa algum tipo de demérito, ou mesmo algo depreciativo. Há escritores que morrem sem terem sido lidos em vida, não por falta de méritos literários ou de conteúdo, mas por falta de mérito nos leitores de sua época e do seu local. Outros guardaram seus escritos longe do público enquanto vivos, para só depois de mortos permitirem sua publicação. No meu caso, como nem pretendo os méritos de escritor, nem considero que os leitores atuais carecem de méritos (verdade que não são os méritos desejados), nem tenho medo do público sobre o julgamento das minhas ideias, muito menos medo de publicá-las, só posso contar com o esforço próprio para expor minhas impressões a respeito da imundice humana, visto que meus amigos não as publicam nem em vida, por que publicariam depois de morto? Sei que o assunto desagrada, mas desagrada menos que a ocorrência do fato descrito, que a ocorrência das merdas diárias. Já me classificaram como um defensor de algum tipo de estética do feio ou do grotesco. Entretanto, nem defendo alguma estética, seja feia, seja bela, muito menos o grotesco; no mais das vezes nada defendo, apenas ataco. Como não há nem bem, nem belo, nem justo na descrição que faço das coisas humanas atribuem essa negatividade a mim, como se o problema existisse na exposição e não no fenômeno exposto.
Se não há leitores ou são eles mínimos, para que os escritos, me perguntam até mesmo quem não me lê, mas sabe que escrevo. Bom, é um exercício mental, o que faz me sentir diferente de uma ervilha. Por outro lado, gosto de registrar minhas impressões sobre as ocorrências, e dessa forma não gasto papel para armazená-las. Por fim, há um procedimento democrático e republicano de participar das discussões que envolvem o destino de todos ou para evitar ter que participar do destino de todos, que respeita inclusive o direito dos demais de não quererem ouvir minhas posições ou lutas, e ainda sim livremente expô-las na praça: basta entrar ou não entrar nesse Blog. Afinal, participar da comunidade humana precisa do exercício da conversação, ouvir e falar, expor-se ao julgamento público assim como julgá-lo. E ainda que não seja ouvido, é um dever dizer o que penso e o que acho da barbárie que estou envolvido, no intuito de alertar a todos das armadilhas diárias da convivência, mesmo sabendo que pouco posso fazer e poucos vão ouvir. Não faço apenas as coisas que podem dar certo, mas faço tudo que considero certo, ainda que o resultado seja duvidoso ou nenhum.

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