Que horror o
terror matando aleatoriamente pessoas. Não inocentes, porque inocente ninguém
é, e todos têm alguma parcela de culpa pelas calamidades humanas, mas
indivíduos de qualquer idade, qualquer sexo, qualquer cor, qualquer classe, qualquer
um. O ódio aos demais e o amor à causa são ingredientes suficientes para deixar
uma pessoa alucinada, ou pior, aloprada, pronta para fazer coisas pequenas para
parecer grande. Posso aceitar as pessoas morrendo por causas, mesmo que tolas,
mas não posso, não digo aceitar, nem mesmo entender pessoas matando, seja
porque motivo for. Da violência emerge apenas mais violência; não apenas nada
se constrói, tão somente se destrói, principalmente as parcas esperanças na
humanidade. Que queiram acabar com o tirano ou com a tirania, por mais louvável
que se possa considerar essa luta, não se pode tiranizar a todos para tanto,
gerando apenas medo e desconfiança que reina tiranicamente nos sentimentos
contemporâneos. Esse terror estúpido que virou moda e está se tornando banal,
explodindo gente para todo lado, gerando medo em toda parte, não pode ser
vencido com mais controles das pessoas, nem com penas mais duras ou mesmo
apenas com a “inteligência” dos serviços secretos; o que vence a violência não
é a contraviolência, mas a coragem das pessoas, a não submissão a violência, o
espírito de amizade, o não estigmatizar etnias e crenças, a aceitação de todos
numa comunidade internacional, onde só os violentos serão estigmatizados. Controles
e vigilâncias só controlam as pessoas comuns que são de pouca ou mesmo nenhuma
ameaça aos demais. E o que diferencia uma pessoa comum de uma pessoa com mente
assassina, o que nenhum instrumento de vigilância capta? Pessoas comuns jamais imaginariam
que uma panela de pressão pudesse se tornar uma bomba antes do ocorrido em
Boston. Em pessoas comuns, nada se transforma em arma, em pessoas com mente
assassinas tudo pode ser utilizado para matar, até o cadarço do sapato.
Algo muito
sério está acontecendo nos valores dos homens, onde a vida vale cada vez menos,
onde se mata cada vez mais com menos esforço, menos pruridos e sem dignidade. A
civilização está gerando uma barbárie, na qual as pessoas se sentem libertas
das amarras da civilidade, dos laços fraternais e prontas a matar por qualquer
porcaria, um par de tênis de grife, uma religião, um ódio qualquer, uma
indiferença profunda com a existência alheia. Um sentimento de incapacidade de
mudar seja lá o que for, libera muitos a buscar o justo, o seu quinhão, a
verdade, a divindade pelos meios que acha certo e a fazer a justiça com as
próprias mãos. Que a pessoa que explode crianças e pessoas que apenas estavam
no local da explosão, seja uma ameaça a todos é inegável, muito diferente é
achar que disso decorre que a mesma possa ser punida, ainda que se aplique a pena
de morte, ou a prisão perpétua, ou outra pena qualquer. Isso com certeza
satisfará o sentimento de vingança que a maioria considera legítimo diante das
injúrias praticada, mas justiça alguma será feita, mesmo porque não há justiça
possível nas ações que são eminentemente irreversíveis, ou seja, tudo que
envolve a morte. Para mim, tais pessoas deveriam ou ser perdoadas se mostrassem
arrependimento, ou serem expulsas da comunidade humana, deixarem soltas sem que
ninguém lhes dirigisse a palavra ou atenção, visto não serem dignas de
confiança. Jamais sujaria as mãos para tocar tais pessoas e poderia até dar
comida para não morrerem de fome, mas não palavras ou atenção.
Enfim, o
terror está vencendo, a desconfiança generalizada está se disseminando por toda
parte, cada vez mais somos mais vigiados, revistados, despidos de nossas coisas,
porque suspeitam que possa se transformar em arma. Todo desconhecido se torna
um perigo em potencial, mais do que alguém com quem criar laços de amizade. Será
que esta pessoa que está na minha frente, ou ao lado, não é alguém pronta a
cometer alguma selvageria? Será que aquele vizinho meio esquisito não é um
terrorista disfarçado? Nada prova mais a vitória do terrorismo do que o medo disseminado,
paranoico, que impera cada vez mais no coração dos homens amedrontados, a tal
ponto que seremos em breve obrigados a entrar em aviões, ônibus, metrô,
estádio, shows, casas noturnas nus, não para apreciarmos a nudez ou a beldade humana,
mas para nos certificarmos que a pessoa não porta maldades. O fato é que tem
vendedor de panela de pressão agora que está desconfiando de qualquer um que
compre uma panela; se comprar duas, com certeza é terrorista.
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