quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Tons desbotados

As cores firmes foram-se. Hoje restam apenas os tons intermediários, aquilo que não é nem isto, nem aquilo outro. Nada nem ninguém mais têm cor, nem podem ter! Há uma concordância generalizada que o meio termo, o centro, o distante das extremidades é o certo, o justo e o bom. Falam em era da tolerância, mas vejo um triste suportar à distância, e não de diferenças, mas de ser obrigado a suportar as excrescências dos demais. Pessoas com posições políticas e filosóficas quase não têm com quem conversar nos dias atuais, pois ou consideram inútil, ou complicado, ou, pior ainda, proibido, o que se diz e se pensa, de qualquer modo, nada que tenham muito tempo para “perder”, que lhe tirem do seu objetivo maior, da viagem ao amor, da profissão à saúde, dos negócios ao lazer, todos muito ocupados. E eu que sempre gostei do azul hoje me defronto com uma variedade incomensurável de tons quando vou numa loja de tintas: azul marinho, azul céu, azul piscina..... E azul puro não existe? Pergunto ao lojista que não tem resposta. Tudo tem que ser impuro, misturado, confundido? Penso comigo mesmo, e digo que isso faz parte do processo civilizatório, que tudo dilui para ser palatável. Longe de ser um purista, sou antes alguém que aprecia as diferenças, e sente saudade do bom e velho azul, assim como pessoas com idéias que ultrapassem seus interesses particulares, e que tenham posições diante dos fatos, e não espantos. Um mundo desbotado talvez não desagrade a ninguém, mas também perde muitas nuanças que são responsáveis por grandes revelações de nossas próprias idiossincrasias.  Pessoas que aceitam tudo e não debatem nada, não são tolerantes, são antes indiferentes.

2 comentários:

  1. Impressionada!
    Tenho notado que as pessoas que se posicionam diante de certos fatos, ou que tenha uma opinião diferente de um grupo, é considerada chata, encrenqueira.
    Se posicionar hoje ficou “fora do tom”.
    O "certo" é a contemporização, para não se ter o trabalho do debate.
    Além de ter ficado desbotado, o mundo está ficando sem posição.
    Até as ideologias se perdem nas negociatas.
    Tudo tem que ser "cambiado".
    Tem horas que não sei, sinceramente, não sei o que dizer para meus filhos, diante dessa nova "lei" de convivência social.

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