quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Matemática política

Por muito tempo achei que 50 tiranos mortos eram melhor que um vivo, e quanto mais tiranos mortos, melhor seria, mas, melhor e tirano são anacrônicos, logo, o melhor somente ocorre quando não há tirania. De pouco adianta matar o tirano, se não se acaba com a servidão. Assim como o povo que é um, pode, no entanto, ser tantos, a tal ponto a ser apenas uma multidão, não reunida, apenas amontoada. Quando vários interesses iguais se juntam se tornam individualmente mais fortes e podem muitas vezes se sobrepor aos demais interesses dispersos; quando vários interesses diferentes se juntam formam um interesse comum que potencializa a todos a realizarem seus interesses individuais. Na política, uma soma pode se tornar numa multiplicação, e uma diferença numa divisão irreconciliável, portanto, o cálculo que se costuma fazer não é tanto pelos princípios que levam a ação, mas antes pelo resultado da operação realizada. E ainda que se espere que a política siga princípios, o que de fato se quer é alguma benesse; todos apreciam o bem, mas se contentam com a felicidade, ainda que passageira, ou com o fim do desconforto. Realmente, poucos esperam o bem, o certo, o justo ou o simplesmente honesto da política, isso parece que se tornou da ordem do particular nos dias atuais; espera-se tão somente que assim pareça à vista da maioria. A política é cada vez mais um negócio e os negócios cada vez mais políticos; já não basta uma aritmética básica, é necessária uma matemática financeira, para reconciliar não apenas interesses legítimos, mas os escusos, os clandestinos, os injustos e alguns particulares de forma especial. E no fim da conta, o que sobra é sempre pouco para distribuir para tantos, e muito para alguns poucos. Eis porque apenas poucos ousam palpitar na política sem pretenderem cargos públicos: quem está disposto a ensinar matemática elementar para pessoas que só sabem matemática desonesta? Quem quer apontar o caminho sem querer ser dono da estrada? Quem quer ganhar virtude sem ter alguma vantagem pecuniária? Quem sabe de fato fazer contas, ou que conta ser feita, num mundo que perdeu os valores e pensa em termos de preço? De minha parte, creio que a política vale muito, ainda que feita por pessoas que valem pouco, pois mesmo que não traga a certeza de que acertaremos, sem ela temos a certeza de que nunca seremos justos, sequer humanos.

3 comentários:

  1. A política vale muito.
    Mas a politicagem é que envergonha, diante dos interesses escusos, clandestinos e injustos.
    O próprio significado de "política" valeria muito se não fossem tais interesses:
    "ciência política é a atividade dos cidadãos que se ocupam dos assuntos públicos com seu voto ou com sua militância."
    Então penso que não há matemática, que é uma ciência lógica, que vá explicar o desvio do comportamento do cidadão que rouba a si mesmo.
    Pois se ele não cuida dos assuntos públicos que é interesse comum a todos, inclusive a ele mesmo, pois os "rombos" que ele pratica, com a matemática desonesta, vai prejudicar com certeza a qualidade dos serviços públicos, que poderá atingir seus filhos, netos e por ai vai.
    Fizeram da politica um negócio, sujo!

    ResponderExcluir
  2. Quem rouba o Estado, rouba a todos, inclusive a si mesmo......

    ResponderExcluir