segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Sobre as crianças e os pentelhos dos jovens

Ainda que não tenha filhos, nem pretenda, tenho sobrinhos e sobrinhas, afilhados e afilhadas, e filhos e filhas de amigos e amigas, dos pequeninos aos bem taludos, que após lerem meus textos a respeito dos adultos, pediram uma análise minha, como sempre parcial, a respeito desse fenômeno passageiro da infância e a adolescência. Tentei me furtar de tal obrigação, alegando até mesmo alguns impedimentos legais e jurídicos, porém sob pena de ter minha caixa de e-mails lotada, quando não meu Blog invadido, fui finalmente coagido a escrever sobre tal temática.
Bom, criança é aquela coisa, tudo igual, só muda de endereço. Nasce parecendo um joelho, enrugada, ainda que os pais invariavelmente teimem em buscar semelhanças e aparências consigo próprios, impossíveis de serem percebidas nas primeiras semanas; muitas vezes não há semelhança mesmo. No primeiro ano de vida é tedioso mesmo visto à distância: dorme, acorda, chora, mama, arrota, peida, vomita, caga, mija, às vezes tudo ao mesmo tempo, e eventualmente ri. Depois piora, pois daí começa a agir e a falar. Conforme vai crescendo e os pais incapazes de porem limites, disciplina ou mesmo mera educação, chegam à juventude já querendo mandar em tudo e em todos, exigindo direitos e repudiando qualquer dever, mas chorando diante de qualquer não da vida. Aliás, o “não” verdadeiro só conhecerá fora do lar, com a vida, porém completamente despreparados, deprimem-se ou se tornam violentos, mostram toda sua imaturidade nas lamúrias infantis que bradam indignados por toda parte, mas principalmente no Orkut e no Facebook. E aí se juntam em correntes que odeiam ou amam alguma coisa, como se o mundo tivesse apenas dois matizes.
A criança é alguém que quer tudo que vê, que aumenta gigantescamente a lista de compras de uma casa, da pasta de dente de cor diferente e sabor extravagante, a infinidade de cores de lápis que pouco ou mesmo nunca usará. Aprende rapidamente a ver a felicidade nas coisas que tem e a infelicidade nas coisas que acha que lhe falta, que é quase tudo, com exceção das que já tem, que por vezes quer mais uma. Enquanto o jovem é fundamentalmente um chato, entediado. Podendo tudo fazer, mas sem vontade, disposição ou coragem de fazer qualquer coisa, reclama de tudo, porque está longe do quarto, dos amigos, da turma, da tribo, da escola, do lar, ou por estar na escola ou no lar, de não viajar e de estar viajando, de não passear e do passeio escolhido. Tudo é sempre muito pouco.
De minha parte, tento manter uma distância saudável desses seres, admirando-os, quando possível, nos lares de parentes e amigos. Verdade que hoje em dia, segundo alguns sociólogos, geógrafos e demógrafos, o jovem mama nos pais até pelo menos os 40 anos, o que é sabido, é o meu caso, e posso assim ser considerado um jovem, já que aos 34 recebo minha sagrada mesada materna. Entretanto, longe da descrição acima, tenho uma autonomia emocional e uma maturidade rara até mesmo em pessoas com idade mais avançada, além de ousar dar meus passos próprios no rumo incerto da busca do certo, do justo, do bom e do verdadeiro. E vivo ousadamente a minha insignificância sincera ao invés de falsas significações, combatendo não apenas costumes e crenças, mas a própria civilização. Que a luta seja inglória, é outra questão que não vem ao caso, o que importa é ousadia de lutar por uma causa e não contra os demais.

Um comentário:

  1. Lembrei de vc em alguns pontos do, quando se referia á rebeldia da juventude.
    Ainda bem que vc mencionou isso no final..rs
    Mas foi muito bom seu texto.
    Nós que temos filhos sabemos, e tbm fomos crianças e jovens um dia, né!
    Quanto aos rebeldes sem causa, isso cada vez mais acontece com a juventude.
    Lutam contra os demais (às vezes até perdem a vida, por causas absurdas) e não lutam por uma causa, muitas vezes nem eles mesmos sabem por que estão se digladiando....é a intolerância tomando conta do ser humano, OASS!

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