segunda-feira, 27 de junho de 2011

Quando falam do povo, falam de mim?

Tenho asco quando escuto políticos, intelectuais, artistas ou desportistas falando do povo, falando de mim, membro da multidão que erroneamente chamam de nação, como se suas conquistas pessoais fossem minha ou de outro qualquer, de todos. Nada disso, cada um luta pelo seu, pelo menos no quesito verbas e nos louros da fama, e ainda que dedique à nação, ao povo, aos familiares ou a todos suas conquistas, cada um de nós sabe que independente da glória daqueles que querem ser ou apenas parecer grandes, são nossos pequenos esforços que nos levam aonde estamos ou conseguimos chegar, e a glória dos políticos, desportistas, intelectuais e artistas em nada facilita o nosso cotidiano, ainda que possa render algumas fotos nos jornais dos premiados, que possamos eventualmente ver. Naturalmente ninguém é maldoso para desejar o mal de todos, todos parecem desejar o melhor para todos, mas lá no fundo estamos realmente preocupados é conosco mesmo, o que é natural, pois se os grandes são pequenos, nós que somos pequenos somos o que? Resto de bosta? Não! Revoltemo-nos contra esse lugar menor, sem crítica, sem bom senso, ignorante ou meramente estúpido que colocam o povo, categoria que cabe tudo que é gente diferente e que cada um enaltece e ridiculariza como bem quer. Falemos quem somos, pessoas comuns, é verdade, mas com discernimento suficiente para sentir o mau cheiro de tudo, principalmente das coisas escondidas por trás da política, ou das artes, ou dos esportes, ou das academias e da imprensa. Sou do povo e posso afirmar que não me encaixo na maior parte das definições que querem me impor, salientando que nem todos amam o mesmo estilo musical, ou festa, ou costume, ou ocorrência esportiva, enfim, há gente que tem horror a tudo isso, principalmente pela imundice que fica após as comemorações, pelas vitórias ou pela derrotas, pois o povo também comemora suas derrotas. E como membro do povo luto para escapar aos lugares comuns que incluem essa esgarçada categoria, quero revelar a multidão de indivíduos em busca de sua felicidade que não são as mesmas para todos. Não merecemos rótulos ou generalizações que nos reduzem a um rebanho de gente manipulável, mostremos nossa individualidade, não com a digital, mas com nossa sobrevivência gloriosa, ainda que humilde, no meio de tanta mediocridade daqueles que se sentem à parte do povo, por se considerarem superiores, ou iluminados, ou imunes aos acontecimentos do dia a dia da grande maioria. Construa o seu lugar no mundo, pois só assim se assina a existência.

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