domingo, 19 de junho de 2011

Perfumaria cultural

As pessoas se disfarçam com perfumes, pintando o cabelo, maquiando-se, com roupas que salientam ou escondem partes do corpo, com sapatos para aumentar os pequenos que são, e até mesmo com plástica. Todos travestidos para passar a imagem de mais jovens, mais belos, mais esbeltos, menos tristes. E para parecer mais rico ou capaz, adquirem coisas de grife e ostentam algum status; empunham carros para se mostrarem autônomos; vão aos lugares afamados para serem (ou tentarem ser) vistos, enquanto estão ocultos por de trás de uma máscara perfumada e cara.
Vão comprando xampu, condicionador, sabonetes, cremes aos montes, tinturas, desodorantes, vários perfumes, gel, filtros solares, mais cremes, esmaltes, maquiagem, algodão para por ou para tirar todo tipo de meleca que os ignorantes acreditam serem úteis ou necessárias. Compram roupas diferentes para se disfarçar de várias formas, havendo uma roupa para cada ocasião. Em certo local se quer passar por fatal, em outros sóbrios, em alguns de forma informal, enfim, justificativas não faltam para terem tantos uniformes para legitimar suas fantasias pessoais.
Enquanto eu fico entristecido, vendo todo esse mau gosto e todo esse gasto inútil, na minha forma de entender, desperdiçado num disfarce inútil. Não sabem que se abrissem mãos dos gastos com a futilidade, poderiam ficar mais horas sem trabalhar por dia, na medida em que parte do nosso esforço vai para a nossa sobrevivência e sustento, outro para os impostos gulosos do governo, mas outra parte significativa vai para a futilidade de enfeitar a si mesmo, assim como sua casa. Se fosse apegado ao dinheiro ou ao trabalho, poderia guardar uns 30% da renda do trabalho, pois nada gasto com esses ungüentos medievais travestidos de cientificidade, nem penduro coisas na parede. Mas não! Tenho asco do trabalho. Minha roupa é usada e de segunda mão, e nada uso senão água e bucha para me limpar. É que nada tenho para esconder, nem mesmo meus odores e algumas sujeiras. Na verdade, tenho mais coisas a mostrar do que aquelas que querem ver, via de regra, algumas verdades e muita fedentina.

2 comentários:

  1. Um dia, meu nome será ligado à lembrança de algo tremendo de uma crise como jamais houve sobre a Terra, da mais profunda colisão de consciência, de uma decisão conjurada contra tudo o que até então foi acreditado, santificado, querido.

    Eu não sou um homem, sou dinamite."
    Nietzsche

    Quando leio seus escritos não tem como não pensar e repensar...

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  2. Eu rio muito com os seus textos. São hilários.
    Esse em particular, é bem real. E, nele percebemos, o quanto somos todos iguais, fazendo as mesmas coisas.
    O ser diferente... ah, o ser diferente... esses existem, em minutos, dentro de suas mentes...
    Pois, quando saem de seus pensamentos, são todos muito iguais.

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