segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Nas mesas dos bares

Neste lugar sagrado para muitos, se discute o mundo e as mesquinharias, se toma resoluções, se briga e se faz a paz, toma-se partido de causas ou de políticos, se enamora e se separa, se faz e se perde amigos. Quem não bebe, como eu, não sabe apreciar com toda profundidade esse fenômeno cultural, tanto que pouco levo a sério o que dizem, muito menos as convicções pessoais. Naturalmente, só vou a esses lugares quando amigos me convidam, pois não disponho de recursos para esses luxos; como caro é a bebida, e não bebo senão água ou café, e como pouco, me contentando com as raspas e os restos, amigos sempre estão dispostos a financiar minha companhia, com os meus costumeiros comentários cínicos, com as observações escatológicas, ou mesmo com as merdas que solto aqui, ora ali, só para divertir, pois de bosta, todos sabem, basta o coco da vida. É claro, que é nos bares da vida que muitos se matam por mesquinharias, muitos brigam com garrafas em punho, muitos se perdem para os vícios; como em qualquer lugar, há muita porcaria. Meu interesse antropológico pelo ambiente e pelas conversas, mesmo para os acontecimentos intempestivos que tenha por ventura que assistir, de preferência bem longe de mim, servem para conhecer a verdadeira essência do homem moderno, que não se revela mais na fábrica ou no escritório, mas após a segunda dose, quando extrapola seu verdadeiro ser, que não poucas vezes não passa de um vazio, que perde o tédio na mesa do bar, com bravatas e palavras de ordens. O bar é simultaneamente o lugar onde as pessoas são mais honestas e mais desonestas, onde se afoga as mágoas ou se extravasa a raiva, onde se mente e gosta de escutar mentiras; o que de mais sério ocorre é o encontro fraternal entre amigos e conhecidos, e o que mais grave pode ocorrer são o fim de amizades. É óbvio que faço a conta de quanto gastam com isso e vejo que não é pouco, e que é sempre, mesmo não sendo sempre a minha participação, que como todas que faço, é com algum comedimento, entretanto, sei que a ocorrência é freqüente, para alguns diárias. Boas coisas saíram também das mesas dos bares, boas músicas, bons livros, boas pinturas, boas conversas, grandes achados, assim como grandes perdidos. Não sou daqueles que julgam os instrumentos humanos, acho que todos podem dar bons frutos quando bem usados; o problema são alguns idiotas e muitos imbecis que sempre se utilizam dos instrumentos sócio-culturais para saciar suas patologias psicológicas, sociais ou culturais. E daí se atribui ao meio o que pessoas fariam com esses ou outros instrumentos culturais. A fama dos bares que atraem os folgados, os vagabundos, os ociosos é verdadeira, como é verdadeiro que atrai muitas pessoas de bem, trabalhadores honestos, pessoas que só querem se divertir e se entreter, aliás, a grande maioria. Assim como na igreja tem pedófilos, na política ladrões, no comércio muito bandido, e nem por isso se condena as instituições a que pertence tais pessoas, não se deve condenar os bares, uma instituição tolerante, que abriga a todos; o que se deve condenar são as pessoas, pois que as instituições humanas, fruto dos atos voluntários dos seus membros que criam instituições públicas, para realizarem trocas, sejam elas materiais ou afetivas, não podem ser desfeitas pelo desfeito de alguns dos seus membros participante. O que de mais perigoso tem na mesa do bar é um lugar cativo, e o que há de mais inocente é a idéia de que será apenas uma dose ou só por alguns minutos. No mais, cada um é senhor de si e não serei eu a aconselhar as pessoas para deixarem uma das poucas instituições que acredito que retira a humanidade de suas obrigações e dos seus deveres, o que é por si uma virtude. O grande problema dos bares, é que enquanto muitos se divertem, muitos trabalham, no mais, a ideia de ficar sem fazer nada e jogando conversa fora, sempre me pareceu saudável, desde os velhos banquetes gregos.

2 comentários:

  1. OASS... vc não falou dos dias que a gente mata a aula, para ficar nos bares da Facul....rsrsr
    Mas a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte.
    E tudo isso a gente tem no bar.
    Caramba!
    Vc hen!
    Quietinho, quieteinho conseguiu fazer um mapeamento de um evento onde em questão de horas ou minutos, sei lá, o homem pode ter muitas oportunidades de desenvolver várias sensações e conhecimentos.
    É um verdadeiro evento social!

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  2. Estudantes nas tabernas é um problema desde a época medieval... que bom que o mundo não evoluiu.....

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