segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Dos esforços pessoais

Tudo que tenho devo aos meus esforços, nem mesmo minhas plantas resistiriam vivas se dependesse da chuva e não molhasse. Verdade que não tenho muita coisa, uma casa pequena e distante do centro, algumas roupas usadas, um computador obsoleto, um Blog, um cachorro, um gato e algumas plantas. E sim, tenho tempo para pensar na porcaria da vida e para encontros com amigos. Mas, fundamentalmente, sou mais bem definido pelo que não tenho, carro, dívidas, eletrodomésticos, profissão, trabalho ou emprego, telefone celular, família, partido político, religião e time de futebol. Ainda que tenha ambições, as mesmas não se realizam através das coisas, mas dos feitos, por exemplo, fazer alguém feliz ou encantar com algum comentário.
O fato incontestável é que tudo que tenho e sou devo a mim mesmo. A vida que não é de brindar a muita gente, também não me brindou com a sorte, e logo cedo percebi a necessidade do esforço. Desde que entendi que o homem é o senhor do seu destino, e não um paciente da história, pus a moldar-me para enfrentar a dura labuta de fugir do trabalho, esse aprisionamento social, que antes de satisfação, gera carnês de prestação. Fui paulatinamente construindo um lugar próprio, onde resisto heroicamente às tentações do consumo, utilizando o mínimo possível, fundamentalmente, água, luz, comida e algum deslocamento urbano. Do ponto de vista do capital, sou desprezível, pior que o avarento; se esse último aprecia e retém dinheiro, não deixando as mercadorias circularem, o que todo dinheiro deve fazer na visão dos tolos economistas, eu nem dinheiro carrego e tenho nojo da quase totalidade das ofertas do mercado. É verdade que uma pessoa só não faz a menor diferença para a humanidade, que está mais preocupada em adquirir alguma novidade que ainda nem foi lançada, do que em pensar sobre o que acarreta esse seu procedimento. E nesse sentido, só poucos suportam conviver comigo, pois quem suporta debater o consumo honestamente?
Não! Não posso culpar meus pais, professores, irmãos, concidadãos, o país, a época, o destino, enfim, nada nem ninguém. Eu me formei, ou como acreditam alguns, me deformei, exerci uma auto-formação consciente. Verdade que fui influenciado por muitos pensadores, mas tive com eles uma atitude canibalesca, absorvendo suas ideias no meu pensamento. Mas, fugi de ser um sofista, de receber para ensinar o certo, o justo, o verdadeiro, o belo e o apropriado, as ideias dos outros. É que percebi que para ser livre, não basta exercer a vontade, mas fundamentalmente não se submeter às vontades alheias, seja de um, de vários ou mesmo de todos. Tanto que nem títulos ostento, tendo como único documento o meu procedimento e a minha conversa. Tudo que tenho, que sou eu mesmo, trago comigo, e posso até querer ensinar ou dar, mas é preciso que alguém queira receber e até se esforce para tanto. Não posso ser roubado, pois tudo de valor que tenho são memórias, acontecimentos, ocasiões, pensamentos e intuições que se formam muitas vezes no calor de uma discussão. Enfim, nem para bandido tenho serventia. Eis uma das coisas das quais mais me orgulho. E se não consegui o amor de todos, o que seria até mesmo horrível, também não incorro no ódio de ninguém, quando muito, posso gerar algum desprezo e muita indiferença.
É o destino de todo livre pensador, ser um estranho no ninho, falar para poucos e ser entendido por menos ainda. Isso pode apavorar alguns, não é o meu caso, acostumado a ser voto vencido em qualquer deliberação, a ter a voz calada em alguns debates ou mesmo excluído de algumas discussões, devido ao radicalismo das minhas propostas ou das minhas observações. Por incrível que possa parecer, durmo aliviado ao não contribuir com a imundice desse mundo, além disso, sempre achei que as pessoas perdem mais me excluindo do que eu a elas. E se me perguntarem que futuro espero com isso, digo apenas que nada espero do futuro e que busco tudo agora, e que tudo que tenho que fazer é continuar a não fazer grandes coisas, que ao fim sempre gera muito lixo social, começando na embalagem do produto e findando no descarte do mesmo no lixo. Se advir algum reconhecimento, será pelo que não fiz, pois tudo que faço me parece apenas a minha obrigação de cidadão do mundo. E se falarem de mim, falarão: “eis alguém que cagou pouco, e não por prisão de ventre!”.

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