segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Não tenho dono, nem sou dono de ninguém!

Não tenho patrão, chefe, superior, governante ou senhor que possa me impor o que quer que queira. Não me submeto inteiramente nem a mim mesmo! Não tenho pátria, ainda que viva numa; não tenho família, ainda que descenda de uma; sou um cidadão do mundo, pessoa, gente, um indivíduo médio que se avista por toda parte, cuja grande peculiaridade é não ter peculiaridade alguma. Estou dissolvido na multidão, que apresenta excrescências bem piores que a minha, bem mais notáveis, prejudiciais aos demais. Não é o meu caso que, se ajudo pouco, não prejudico ninguém. Desfruto de autonomia, sigo as minhas normas sem nada obrigar aos outros, planejo o meu destino e almejo apenas coisas primárias: não ser infeliz e com o menor esforço possível. Há aqueles fracos que se ajoelham diante de qualquer autoridade, até mesmo dos farsantes dos sacerdotes; esses são escravos dos seus medos. Se vê pessoas ajoelhadas diante do amor, da amizade, da inteligência, da camaradagem, que mesmo sendo causas supostamente nobres, só são dignas quando erguem as pessoas, nunca quando as ajoelham. Sou daqueles que exerce sua liberdade com muita dignidade, erguido, livre de tudo e de todos, e deixando todos livres; preocupado mais com a busca da felicidade do que com algum tipo de excelência tão bem quista pelo mercado, do qual, sinceramente, quero uma distância razoável, de tal modo a não me deixar vender ou comprar como qualquer coisa barata, como aquilo que está se tornando as pessoas, coisas mais do que descartáveis, deletáveis! Ninguém quer mais habitar o mundo, todos querem entrar em algum arquivo grande, viver em rede, falar com milhares de pessoas sem dizer nada de significativo, e não ser deletado lá de dentro; não há nem grandes gestos, nem grandes dizeres, tão somente uma triste ladainha do mesmo. Nem a violência dos costumes consegue me coagir a desistir do meu caminho, que não tem grandes passos, apenas passos próprios, pequenas vitórias contra a mediocridade da vida contemporânea. Se não estou livre de ser um medíocre, pelo menos serei autêntico, sem me espelhar na idiotice alheia. Muitos me agradecem por ser como sou, sendo solteiro e sem trabalhar, sempre estou disponível, até mesmo em horário de trabalho. Quantos podem contar com alguém para passar a noite em claro conversando sobre as cagadas humanas? Quantos estão disponíveis para ouvir pacientemente seus infortúnios ou falsos sucessos, e ser capaz de mostrar que a coisa poderia ser bem pior, ou bem melhor, e você acabar descobrindo que seu sofrimento é pequeno, ou que o sucesso é irrisório, diante das dores do mundo? Enfim, carrego minha existência sob leme próprio, trafegando com as pessoas pelos caminhos que traço e destraço a cada dia, trocando experiências existenciais sobre a porcaria diária que se avista por toda parte. Sou daqueles poucos que não carrega suas infelicidades por aonde vai, elas só existem enquanto ocorrem, e logo depois até esqueço que existiram; não merecem meus lamentos. Mas, também não exalto a felicidade, essa coisa passageira e extemporânea, ocasional; via de regra, contento-me com um dia após o outro com pouca ou nenhuma dificuldade. Se há alguma sabedoria em mim, é saber que fui feito para as pequenas coisas, cuidar de árvores, cachorros e gatos, nunca de gente, de que há mais valor numa conversa do que na maioria das coisas que o dinheiro pode comprar, e me refestelar mais com os amigos que tenho que nas coisas que possa conseguir.

Um comentário:

  1. Todos querem mudar o "mundo" ou esperam mudanças, mas poucos se dispõem a mudar, e eis porque nada muda.

    Roberto de Barros Freire
    Dez proposições para uma filosofia simples

    ResponderExcluir