terça-feira, 29 de novembro de 2011

Humano, demasiado desumano

A ciência já não pode destrinchar o ser humano. Tudo precisa passar antes pelo aval de algum comitê intrometido, para ver, não se tal método chega à verdade, ou mesmo se a verdade é razoável, mas se a busca da verdade não interfere em direitos supostamente inalienáveis. Direitos que nem precisam ser rompidos de fato, basta que sejam supostamente ignorados em alguma remota hipótese, e tornar-se assim uma fonte de renda para advogados, prontos para imporem a tirania dos direitos através de infindáveis processos. Entender o homem, ou melhor, tentar, tem se tornado um exercício burocrático e jurídico, não mais algo epistemológico, cheio de processos transitando por organismos governamentais, prontos a barrar o que não entende. O fato é que não se encontra mais as verdades sem cometer várias ilegalidades jurídicas: a polícia que o diga! Não se pode pressupor que o certo está completamente errado, que o justo é no mais das vezes bastante injusto, sem cometer vários ilícitos penais. As verdades dos fatos devem se adequar e estarem submetidas às leis jurídicas, coisa mais imprecisa e falaciosa. Por sorte, minhas pesquisas são livrescas, nem precisam de financiamento, caso contrário, há muito tempo teria abandonado esse projeto ambicioso de escrever a História Universal da Ignorância: como antes de sabermos que estamos certos em algum momento, como agora, sabia-se que estava errado antes; como atirando num alvo, se acerta em outro quando se inicia uma pesquisa; que o acerto é raro, temporário e incerto. E sem dúvida, a ignorância tem sido mais a grande condutora da humanidade, que supostamente sabedorias, que, invariavelmente, algumas gerações depois, serão consideradas ignorâncias e superstições. Viajando pela história humana se vê quantas tolices pareceram razoáveis, quantos medos eram irreais, superstições, quantas barbaridades se cometeram em nome da verdade, que logo depois se revelaram falsas ou mesmo mentirosas. A mentira e a falsidade imperam pela trajetória humana, assim como a sua carnificina, hoje amenizada, mas ainda presente. Que a capacidade de cometer o suicídio e a mentira é que nos distingue dos demais animais, não a razão, ainda que seja a razão que nos dá essa possibilidade de exercer tais atos. Enfim, fazer uma história mais realista do ser humano, menos antropocêntrica, menos racional, salientando não a ausência da racionalidade, mas antes como a mesma se submete as paixões, como opera com princípios sem provas imparciais, como induz mais que deduz os fatos, como seduz mais do que convence os demais. Por fim, mas não menos verdadeiro, mostrar como as desgraças de alguns resultam num ganho para outros, que mesmo a morte traz lucro, que o crescimento de alguns ocorreu pela apequenamento de muitos, que a vitória de um acarreta na derrota de vários. E que tudo que se afirma que é desumano é tipicamente humano: a crueldade, a vingança, a mentira, a inveja, a cobiça, o estupro, a morte banal e torpe do semelhante, e que a justiça no mais das vezes é apenas um termo da linguagem usual, mais que uma realidade avistada em fatos, gestos ou ditos.

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