segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Amontoado de coisas

Diferente sim, indiferente não! Nada que é vivo me passa despercebido. Vejo até as coisas indiferentes, sinto o cheiro horroroso da fedentina das relações humanas, percebo a presença de outra pessoa à distância e até antecipo ocorrências. Dos amores, quero distância para conviver pacificamente comigo e sofrer por dores próprias. Dos lugares, apenas um local para acomodar-me por algum tempo antes que me mova para outro lugar ou outra idéia. Das pessoas, se possível, suas amizades e alguma conversa interessante. No mais, acho desnecessário acrescentar coisas nas nossas vidas, que tomam tempo para guardá-las ou limpá-las, para cuidar de tudo, que sempre exige algum cuidado, mesmo os sentimentos. Sofro com o que se faz da vida, com o trabalho em excesso e mal pago, com o roubo, com a mentira, com o anti-republicanismo da maioria, com a falta de humanismo generalizado, com o egoísmo, com a exploração e com a extorsão. Alguns são tão ignorantes que a maldade se torna razoável, outros, vaidosos, buscam o brilho que ofusca, não a luz que ilumina, e ainda há aqueles que se drogam com esporte, religião, política, música, cinema, internet, jogos e até mesmo com drogas. E diante de tantas coisas há ainda aqueles alucinados que cometem atentados contra todos, qualquer um, eu, você ou alguém próximo, por algum motivo torpe, por alguma causa estúpida, para roubar a porcaria do relógio que carrega no pulso. Não pense que não acontece aqui, que não acontece em vários lugares, pense apenas que qualquer lugar é suscetível para a arrogância daqueles que se acreditam acima das leis e do justo, seja em benefício próprio, seja em benefício de alguma alucinação. Assim, um pobre mortal como qualquer um, como eu mesmo, como você, pode sofrer algum atentado, ou assistir tais cenas pela TV, ou ter alguém próximo que se danou e ter que levar flores no velório. Você poderia perguntar, mas por que a desgraça de algum desgraçado aconteceria justamente comigo? Ora, por que não você ou comigo? Não vivemos, não habitamos esse mundo, não transitamos por aí, pois então, somos vítimas em potencial. Quanto a mim, nunca me preocupou virar um cadáver, e ninguém mais do que eu mesmo perderá com a minha morte, senão apenas eu mesmo, porém já não precisarei mais reclamar das ocorrências dessa vida. Isso não é um consolo, é tão somente uma óbvia constatação.

7 comentários:

  1. Incrível como eu gosto de ler tudo o que você escreve...
    E noto como você amadureceu em seus textos.
    O seu grito continua o mesmo, mas não mais ferindo...
    Não mais ofendendo. Hoje, ele é um grito mais intenso, mais verdadeiro, mais sentido...
    Fico na expectativa da próxima nota... sempre.
    Como te disse, nem sempre as comento, mas sempre as leio.
    Estou sempre por aqui: lendo, relendo... relendo... aguardando.

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  2. Vou colocar esse texto no meu mural. Obrigada!

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  3. Deixa-me dizer-te francamente o juízo que eu formo do homem transcendente em génio, em estro, em fogo, em originalidade, finalmente em tudo isso que se inveja, que se ama, e que se detesta, muitas vezes. O homem de talento é sempre um mau homem. Alguns conheço eu que o mundo proclama virtuosos e sábios. Deixá-los proclamar. O talento não é sabedoria. Sabedoria é o trabalho incessante do espírito sobra a ciência. O talento é a vibração convulsiva de espírito, a originalidade inventiva e rebelde à autoridade, a viagem extática pelas regiões incógnitas da ideia. Agostinho, Fénelon, Madame de Staël e Bentham são sabedorias. Lutero, Ninon de Lenclos, Voltaire e Byron são talentos.
    Compara as vicissitudes dessas duas mulheres e os serviços prestados à humanidade por esses homens, e terás encontrado o antagonismo social em que lutam o talento com a sabedoria. Porque é mau o homem de talento ? Essa bela flor porque tem no seio um espinho envenenado ? Essa esplêndida taça de brilhantes e ouro porque é que contém o fel, que abrasa os lábios de quem a toca ? Aqui tens um tema para trabalhos superiores à cabeça de uma mulher, ainda mesmo reforçada por duas dúzias de cabeças académicas ! Lembra-me ouvir dizer a um doido que sofria por ter talento. Pedi-lhe as circunstâncias do seu martírio sublime, e respondeu-me o seguinte com a mais profunda convicção, e a mais tocante solenidade filosófica : os talentos são raros, e os estúpidos são muitos. Os estúpidos guerreiam barbaramente o talento : são os vândalos do mundo espiritual. O talento não tem partido nesta peleja desigual. Foge, dispara na retirada um tiroteio de sarcasmos pungentes, e, por fim, isola-se, segrega-se do contacto do mundo, e curte em silêncio aquele fel de vingança, que, mais cedo ou mais tarde, cospe na cara de algum inimigo, que encontra desviado do corpo do exército. Aí tem a razão por que o homem de talento é perigoso na sociedade. O ódio inspira-lhe a eloquência da traição.


    (Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco )

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  4. Eu coloquei esse seu texto em meu mural do face.
    Muitas opiniões interessantes, foram dadas.
    Vou trazer a mais críticas dela para você... Não o faço para irritá-lo ou ofendê-lo. Mas sei que você como autor se diverte em sentir as reações. Pois bem, vou colá-la abaixo:

    Pedro Ramalho Ermitão infeliz quem escreveu esse texto. Quanto a algumas críticas , talvez tenha razão. Porém , é um covarde , pois enxergando tudo isso, vive entocado , em algum lugar belíssimo, sem nada lhe faltar. Admiro Gandhi , Cristo e Buda, que em vez de criticar a humanidade, se juntaram e tentaram melhora-la pregando o amor. Quem somos nos para reenvindicar a verdade . Bj , Pedro .
    há 3 horas · Curtir (desfazer) · 7 pessoas

    Sei que você irá morrer de rir... Posso ver o teu sorriso... posso ver...

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  5. "É com o tempo que percebemos a verdadeira dimensão das pessoas; muitos agigantam-se e findam ocupando dois assentos......"

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  6. Espalhem minhas merdas, mas não deixem de divulgar a cloaca de onde retiram, esse simplório Blog. Meu intuito é adubar o mundo...

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