segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Trabalho voluntário

Vejo tantos elogiando o trabalho voluntário e nem sei por quê. Acredito que seja pelo ar de filantropia, de abnegação, de disponibilidade aos demais que supostamente parece conter tal atitude. Penso diferente, penso que isso é uma obrigação de todo cidadão decente. Particularmente, só faço trabalho voluntário, mesmo porque trabalho pago ou assalariado, para mim, é trabalho escravo, o que nunca pratiquei, nem pretendo. O ócio é o meu negócio, e passo meu tempo dedicado aos afazeres desinteressados e ao meu aperfeiçoamento, estudando os grandes pensamentos e apreciando os gestos humanos onde eles se manifestam. Meu ócio não tem justificativa moral, nem precisa, visto que não atinge ao próximo; também não serve de receita, pois que é preciso coragem e disposição para enfrentar a corrente contrária daqueles que promovem outros valores. É voluntário meu plantio de árvores pelas ruas e praças da cidade, assim como minha ajuda aos que precisam dos meus poucos préstimos. Mas, se não acho grande virtude no trabalho voluntário, vejo uma profunda fraqueza naqueles que se submetem ao trabalho assalariado, por maior que seja o salário. Escravos da moral judaico-cristã, onde acreditam falsamente que o ócio é ocasião para os vícios, findam acreditando também que a essência humana está no trabalho, quando a mesma só se revela plenamente quando em ambiente descontraído e de confiança. Assim, a maioria passa a vida cumprindo tarefas e demandas sociais, gerando uma hiperatividade consumista que deixa a todos indolentes e covardes, escravos mentais de esquematismos de vida, o que faz não ousar andar com pernas próprias. Em todas as épocas e em todos os tempos, os homens sempre se dividiram entre escravos e livres, e nem sempre porque se impõe a escravidão aos homens, mas porque grande parte prefere a comodidade da obediência, a incerteza da ousadia de ser senhor de si; a maioria segue a manada e não tem coragem de fazer seu próprio caminho. Hoje não é diferente, apenas os senhores não precisam mais de chicotes e correntes, basta o estalar de algumas moedas para que inúmeros venham lhe lamber a mão, ou até mesmo os pés, ainda que imundos.

2 comentários:

  1. O ocioso acaba se transformando, voluntariamente, num chato.
    Além do que, passa a ser, pela falta do que fazer, crítico dos que fizeram
    escolhas diferentes. Nem todo mundo gosta de ser um dependende inativo.
    Há pessoas que veem prazer no que fazem, e no tempo que usam para fazer. Há muitas pessoas que adoram trabalhar.
    Há outras pessoas que são Ociosas, e acabam entrando em depressão, devido a sua própria escolha.
    Cada caso é único.

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  2. pelas minhas contas, há mais trabalhadores deprimidos que ociosos.... De resto, se há muitas pessoas que gostam de apanhar, que gostam de sofrer, por que não haveria de ter aquelas que gostam de trabalhar?

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