quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Um lugar sagrado

Uma boa evacuada algum tempo depois de uma farta refeição é uma das poucas coisas que satisfaz a todos, do bebê ao idoso. Somos tão iguais mesmo com todas nossas diferenças. Mas, não é um prazer que se fale, ou mesmo que se compartilhe; cada um em seu canto quer apenas aliviar a carga dos excessos ou dos restos, solitariamente. Talvez, seja uma das poucas vezes naquele dia que se pode desfrutar da intimidade e que se é respeitado na solidão. É uma pena a situação carregar tantos estigmas, de assunto inoportuno a comentário supostamente nojento, afora que muitos passam por constrangimento sobre a temática, tanto que procuram disfarçar e fazerem escondido de todos. E cada um se dirige, escondido ou sorrateiramente, ao banheiro, do qual não sai apenas cheiro ou pessoas aliviadas, sai também idéias, decisões, reflexões, listas de afazeres. Por sinal, considero o banheiro um lugar sagrado (um dos poucos que restaram no mundo contemporâneo), seja o doméstico, seja o público, um altar da intimidade, um templo à individualidade, e muitas vezes só lá nos revelamos inteiramente, fazendo ocasionalmente careta na frente do espelho. Só lá percebemos os traços do passar do tempo, despidos dos disfarces das roupas; lá tentamos tirar todas as sujeiras através da urina, das fezes, dos banhos, da esfregação das unhas, das orelhas e dos dentes, e assoando o nariz, tentando nos purificar; lá esprememos as feridas, os cravos e as espinhas; lá trancamos o mundo do lado de fora; lá, muitas vezes, é o único lugar em que somos respeitados e deixados em paz, onde nossa ausência é justificada. E a não ser que demore demais e a necessidade de outro requeira o uso imediato de tais acomodações, pode-se ler sossegadamente e sem ser perturbado, de forma tão concentrada como poucas vezes se consegue fora desse sublime lugar.
Saudações evacuantes!

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