quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A condenação futura da atualidade

Fomos condenados pelas gerações anteriores a viver as idiotices atuais, e estamos condenando as gerações futuras a permanecerem tais e quais, talvez, apenas um pouco mais rápido e ávido. O que consola é saber que alguns poucos, como eu, escapa dessa aparente inexorabilidade: não fiz filhos e não posso ser responsabilizado pelas gerações futuras, pelo menos não pela sua existência. Quanto à sua forma de ser, tivesse possibilidade de influir nos destinos humanos ou nas gerações futuras, faria parar para pensar no que estamos fazendo, pois nada fazer é melhor que fazer coisas erradas. Mas, quem me dará ouvidos? Quem ouvindo, concordará? Quem concordando, agirá? E quem agindo, fará o certo? O fato é que, uma das razões que me levaram a não ter filhos, afora o trabalho de quem nunca fui amigo, é não ter dor de consciência de condenar um ser humano à mediocridade de nossa existência. Basta a mim para carregar essa dor de assistir, não calado, pois não sou disso, mas ainda assim impotente, vendo como tudo caminha para o caos e nada poder fazer para alterar esse destino, sofrendo antecipadamente o que invariavelmente acaba ocorrendo, quando sofro mais ainda. Não fosse isso, seria uma pessoa feliz, viveria em paz no meu mundinho, cuidando tão somente da minha sobrevivência e dos meus poucos afazeres. Mas, não! O mundo barulhento e fedido ofende meus ouvidos e minhas narinas, afora que não consigo ser insensível à dor alheia, que se revela para todo lado que se olhe. Quem poderia ser feliz num mundo de infelizes? E o que é pior, inconscientes de suas infelicidades, disfarçadas pela ilusão da necessidade de se esforçar para conseguir e da esperança de algum sucesso no futuro. Se não é a esperança que move o mundo, sua ilusão torna todos acomodados às mudanças que ocorrem para tudo permanecer igual. Fazer é o que sempre se faz, e nada mais antigo do que fazer o novo; proponho, portanto, que nada se faça! Não lute, nem contra, nem a favor. Não compre nada que não possa comer. Não planeje, deixe de fazer! E quando pensar em fazer, desista ou adie o mais que possa. Fale mais não do que sim. Deixe sempre para amanhã, ou mais tarde, o que pensa em fazer hoje ou agora. Durma bem mais de 8 horas por dia; quanto mais dormir, mais tempo ficará sem fazer coisas, pois é só acordar que coisas aparecem para serem feitas, a começar pela difícil decisão de levantar da cama, que deve ser adiada o máximo possível, até pelo menos a fatídica necessidade urinária ou evacuante. E nada impede de depois voltar para a cama. No mais, faça menos; se acha que é pouco, diminua ainda mais, e verá como era muito o que fazia. Viver deve ser algo vagaroso e preguiçoso, nunca de forma apressada e angustiante. Não apenas a pressa é inimiga da perfeição, é inimiga de uma vida boa e sossegada; o único motivo que legitima a pressa é para parar de fazer o que se está fazendo, ou para se dirigir e dedicar a nada fazer. Menos negócios e mais ócios! Eis a palavra de ordem para qualquer momento, mas fundamentalmente para o momento atual, e que singelamente deixo para a posteridade.

4 comentários:

  1. Lendo esse texto dá um misto de sensações:
    Desespero, pois tenho muitas coisas a fazer hoje, preguiça, pois dá vontade de voltar para a cama e seguir a risca seus conselhos e finalmente, raiva, pois sei que não vai adiantar eu voltar para a cama, pois amanhã será um novo dia e tudo vai estar à minha espera.
    Melhor seria ao invés de vc ficar ai sem fazer nada, que inventasse uma maquininha para que se congelem os problemas e tarefas, tá!
    Vai te dar trabalho....e muito!

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  2. Nossa! Que texto estimulante! Era tudo o que eu precisava ler... Vou deitar e rolar.

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