segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O vício da virtude

Nada mais enganoso que as virtudes morais, prontas a limitar nossas vontades e nossos desejos, a nos impor modos e comportamentos, a nos tornar falsos e afetados, criando em todos uma clandestinidade de sentimentos e desejos. Todos querem parecer bons e justos, sem ao menos saber se são possíveis tais fenômenos entre humanos, que voltados para si mesmos, mas se comparando aos demais, querem ser melhores que os outros, mostrando qualidades mesmo que não as tenham. Alguns falam que a honestidade é uma virtude, para mim é obrigação; outros falam que a piedade seria outra virtude, o que pode ser cruel quando empregada impropriamente, e representa um sentimento de petulância ao achar que está acima daquele ou daquilo que tem pena. A virtude política é a única que nos é dado possuir, mas essa a maioria quer distância, quando não tem também muita desconfiança da sua possibilidade, e mais ainda de sua efetividade. Quanto a mim, há muito desisti das virtudes, para não adquirir vícios, que sempre as acompanham; tudo na minha vida tem o objetivo de me deixar feliz e não tornar ninguém infeliz, e, quando possível, compartilhar da felicidade e infelicidade dos demais, assim como a minha. Não sou escravo de regras e modelos, nem ambiciono ser considerado moralmente bom. Não me comparo aos meus iguais, seja para perceber alguma superioridade ou inferioridade, nem acho que possa ser melhor ou pior que os demais, apenas defendo com pouco esforço meu ponto de vista, que sem a pretensão de ser certo para todos, é para mim, o que no fundo é o que mais importa, pelo menos assim o sinto. Particularmente, propugno a amoralidade social numa ética republicana: que cada um cuide de sua vida privada e que se porte bem publicamente!

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