domingo, 25 de março de 2012

Desconfie

Não, não confie num olhar, num beijo, numa frase, numa notícia, num livro, numa pessoa. Não confie em ninguém, muito menos em mim ou no que digo. Investigue antes tudo que lhe chega, principalmente, aquilo que pareça para o bem ou desinteressado. Mas, desconfie sem maldade, como aquele que sabe que todos erram, mesmo acertando muitas vezes; como aquele que não quer tanto buscar os equívocos dos demais, mas antes uma verdade própria, isenta de preconceitos que não sejam os próprios, já que desses não nos livramos. Pense que as pessoas antes de quererem nosso bem, querem o próprio, e estranho seria ser diferente. Veja que santos foram poucos e eu cá comigo, não ponho a mão no fogo por nenhum deles. A verdade é que só contamos conosco mesmos, e na hora certa ou mesma nas incertas, seremos nós quem dormiremos o sono dos justos ou dos injustos. Se há alguém em quem possa confiar, parabéns, mas confie com suspeitas, não porque não mereça confiança essa pessoa ou pessoas, mas porque mesmo aqueles em quem muito confiamos também erram. Foram as nossas desconfianças que nos fizeram avançar no conhecimento, nos costumes, na cultura. Verdade que esse avanço não está isento de muita estupidez, que os conhecimentos podem nos matar, que os costumes podem se deteriorar e que a cultura pode ficar tola, eis porque mesmo o sucesso pode ao fim se tornar um fracasso, caso não se calibre a percepção adequadamente. Que o mundo melhore é um fato, mas isso não impede que algum alucinado faça coisas que o levem ao fim, porque alguns se acham no direito de determinar a todos o certo, o justo, o verdadeiro, e se têm ou não o direito de permanecerem vivos. E ainda que não seja um desconfiado, confio muito pouco em muitos poucos, e dos demais, quando preciso, vejo se é possível confiar. Entre a confiança e a desconfiança há uma variedade imensa de possibilidades, e no geral, se não desconfio, também não acho que mereçam minha confiança, pois normalmente estou mais preocupado em sobreviver nesse mundo um tanto caótico, do que em me preocupar se devo ou não confiar. Manda a constituição que se acredite que todos são inocentes até que se prove o contrário, entretanto, a prudência nos recomenda que ainda que a presunção de inocência seja plenamente válida num tribunal, é contraproducente no cotidiano.

8 comentários:

  1. Engraçado ou estranho...não sei, pois depende do ponto de vista.
    Mas as pessoas sempre dependem do outro, para depositar suas intenções, sejam lá quais são.
    Pode ser no sentido emocional, material ou qualquer coisa que o valha.
    Depositam expectativa, como se o outro fosse obrigado a corresponder.
    O ser humano, a partir do momento que começou a viver em sociedade, desenvolveu vícios e dependências emocionais.
    Essa autonomia, a que vc se refere, no meu ponto de vista, seria teoricamente perfeita, porém na prática, do convívio estabelecido nas relações emocionais, se torna discutível.
    Eu posso amar e confiar num filho, por exemplo....embora, nessa nossa civilização, (desculpa, mas não tenho a informação de outras civilizações),temos notícias de filhos que traem a confiança dos pais, que em muitos casos planejam e executam a morte dos mesmos, por n motivos, como do outro lado, pais que maltratam filhos e provocam maldades iguais ou piores.
    Difícil está em estabelecer o elo da confiança, nesse confronto entre os valores.
    O que realmente o outro quer é o seu próprio bem.
    A verdade, o bem, o justo, as "boas intenções", despertam desconfianças, e o amor incondicional, está sendo modificado no seu código genético, infelizmente OASS.

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  2. amor incondicional me soa meio patológico, quando não tirânico......

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    1. Assino cada palavra desse texto.

      "amor incondicional me soa meio patológico, quando não tirânico......" OASS

      Soa-me também.

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  3. Desconfie, e muito, de quem assine cada palavra deste texto.

    "OASS...vc é um misantropo inveterado!"

    Caso este filosofo fosse misantropo, quem estaria escrevendo em lugar dele?
    Este misantropo alimenta-se justamente da ignorância fecunda, e se não houvesse publico, não haveria picadeiro.

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  4. se dependesse de público para escrever, há muito teria deixado de escrever.........

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  5. No seu mural do face, eu acabei não podendo frequentar por causa de pessoas que se incomodavam com a minha presença.
    Pensei que aqui, estivesse segura e tranquila. Como você mesmo disse, se dependesse de público, você já teria deixado, há muito de escrever...
    Desde que você fez o blog, eu assiduamente, venho ler. As vêzes, demoro para aparecer, e quando venho, coloco a leitura em dia. Nem sempre deixo comentários.
    Agora percebi, que é melhor eu entrar aqui, silenciosamente, fazer minha leitura e sair.
    Perdoe-me, por estar sempre conquistando esse tipo de pessoas, que não conseguem tirar a minha paz. Mas tentam causar disturbios, onde frequento. Isso me deixa muitíssimo triste.


    Você, pessoa linda, do meu coração, simplesmente escreve... E as pessoas que gostam de te ler, o frequentam. E por aqui, reinava a paz. Sinto-me muito mal, com tudo isso.

    E novamente terei que poupar-me de qualquer eventual comentário, para evitar, constrangimentos futuros.
    Eu li os seus novos textos e comentei. Se tivesse vindo aqui primeiro, naturalmente, os teria evitado.

    Que coisa! Não entendo isso!!!

    Será o Benedito?

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