quinta-feira, 5 de abril de 2012

Fatalidade de existir

Como indivíduo não elegi a merda desse mundo; viver é encontrar-se em um mundo determinado e insubstituível, neste de agora. Mas esta fatalidade vital não se parece a alguma mecânica histórica ou natural. A fatalidade em que caí ao despencar nesta merda toda, consiste em vez de impor-se uma trajetória, impõem-se várias, todas e nenhuma, e consequentemente, sou forçado a eleger. Viver é sentir-se fatalmente forçado a exercitar a liberdade, a decidir o que vamos ser neste mundo. Nem um só instante se deixa descansar nossa atividade de decisão, inclusive quando desesperados nos abandonamos ao que vier, decidimos não decidir. Ocorre hoje uma estranha dualidade de prepotência e insegurança que se aninha na alma contemporânea: a vida, como repertório de possibilidades, é magnífica, exuberante, superior a todas as historicamente conhecidas. Mas, assim como seu repertório é maior, transbordou todos os caminhos, princípios, normas e ideais legados pela tradição. Temos de inventar nosso próprio destino: o passado não pode dar uma orientação positiva, só negativa; não diz o que fazer, pode no máximo apontar o que evitar. Resta saber se diante dessa crise de valores não encontrarão apenas o que tem preço, sem perceberem o que é valor ou dignidade. Num mundo onde desapareceu o herói, todas babam por celebridades, enquanto eu me cago para tudo.

5 comentários:

  1. Existir tbm foi uma escolha, não a sua, mas de sua mãe.
    Como não decidimos se queremos nascer ou não, naturalmente todo esse dilema do "ser ou não ser", torna-se parte de nossa natureza.
    Destino, para mim é uma série de acontecimentos, positivos ou negativos, que fogem de nosso controle.
    Logo se não existimos, não existiria a prática da "vida" com toda sua complexidade.
    Como diz o ditado, "para morrer, basta estar vivo"
    Gracias a la vida!

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  2. "Existir tbm foi uma escolha, não a sua, mas de sua mãe".
    Meu Deus (Deus?) do céu (céu?)... essa foi de Phoder.


    Eu penso que ao se cagar para as celebridades, o senhor está se cagando para si mesmo, pois ao pé de cada postagem sua, há sempre um seguidor a se babar pelas grandiosidades filosóficas ou pelas platitudes que escreve.
    Os valores atualmente estão sediados no mau gosto e na questão sexual, e a sensualidade sempre esteve e está nas palavras, e não nas formas das coisas.
    Não pense o senhor que, ao afirmar que não elegeu bosta nenhuma, estará com isso tirando o seu da reta, pois como “pensador” que se exclui do clã dos seres humanos, é tão ou mais responsável pela atual situação do pensamento em todos os segmentos da atividade humana, que se chafurda nos pântanos da obscuridade.
    Como disse HENRY DAVID THOREAU: “Hoje em dia há professores de filosofia, mas não há Filósofos”.

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  3. Em primeiro lugar, não acredito em retas: o mundo é curvo! Além disso, nunca fui possessivo, não acredito em meu ou seu, apenas no nosso, ou de ninguém. Logo, não posso tirar o que não pus, ainda mais diante de algo que nem existe. Quanto à minha responsabilidade pelo mundo ou pela atual situação, devo discordar, pois considero que o mundo é responsável por mim e por minha situação caótica num mundo tolo. Naturalmente, se ele continua uma bosta, não é por minhas cagadas, que são de outra estirpe, mas pela cagada de todos; posso quando muito não fazer a mesma merda que todos fazem, serem consumistas; posso não fazer o errado, mas não posso obrigar ninguém a isso. Por fim, não busco culpados, mas uma superficial observação das cagadas humanas. Já os filósofos e os professores de filosofia existiram, existem e existirão, porque todos gostam de conversa fiada.

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  4. Estava sentindo vontade de rir… Vim no lugar certo!
    Você é uma graça. Gosto de você.

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  5. Desde que falaram dos seus "babadores" ... rindo...

    Eu adoro te ler. Quando quero uma dose extra de contentamento, eu apareço!

    Beijinhos!

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