quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Salvem-se!


Ó destino, qual o seu destino? Se intrometer no destino de todos... Mesmo aqueles que acreditam ter sob suas mãos seu futuro ou seu presente, lá vêm o destino e intercede em qualquer direção, nem planejada, nem querida. Só aqueles com virtudes enfrentam o destino e até mesmo o acaso no caminho sempre pretendido da felicidade. E se não a encontram, ainda assim não ficam infelizes, pois ainda que por vezes não tenham forças para atravessar o mar bravio das dificuldades, não se afoga nelas, navegando entre ilhas na direção certa, mesmo sendo incerta a sua chegada. Ó navegantes, saibam aproveitar as marés, as correntes, os ventos, mas não se esqueçam de que também têm que remar, ou, se bem habilidosos, construir um motor. De minha parte, posso garantir, a felicidade é bem simples e bastante elementar, basta não pisar em ninguém, nem se deixar pisar. Tudo mais se ajeita....

Ano Novo, Merda Antiga

Alguns poucos leitores perguntaram porque fiquei tanto tempo sem escrever. Ora, com tanta bosta acontecendo, não quis aumentar a fedentina com as minhas merdas. Enchente, dengue, gente e coisas sendo levadas pelas águas, crimes e violências, guerras e barbárie pelo mundo, enfim, o mesmo de sempre. Deveria falar daquela merda das falsas expectativas para o ano novo, carregado de dívidas antigas, mas preferi me silenciar para não carregar o estigma de ser um negativista, quando sou apenas realista. De que adiantaria falar que o que mais se produz no natal é lixo, com as embalagens entupindo bueiros, que a festa de fim de ano imundícia as cidades e que o cheiro de urina pelas ruas é o perfume da alegria fútil de quase todos? Como tudo mais que faço, pouco ou mesmo de nada serviria. Mas, voltei, como sempre, sem muito entusiasmo, querendo fazer pouco, e sabendo do pouco valor de tudo que faço. Minha única perspectiva com isso é provocar alguma diarreia mental, que se não enche de sabedoria, espero, alivie alguma carga de ignorância.....

domingo, 16 de dezembro de 2012

Uma estranha função social

Sou um decifrador dos sinais, dos signos e dos símbolos humanos, ainda que nem seja sábio, muito menos tenha competência em alguma ciência. Tento traduzir a incompetência humana para a convivência pacífica, seja consigo mesmo, seja com as demais criaturas, seja com a natureza para o pouco entendimento das pessoas, que mais do que não saber, sentem asco pela sabedoria e mergulham fundo na mais profunda ignorância. Confesso que não tenho sucesso, nem mesmo êxito. O amor a ignorância é tão arraigado, a preguiça mental é tão habitual, a falta de coragem para descobrir a verdade é tão forte, que meus esforços na maior parte das vezes resultam em palavras faladas sem serem ouvidas, ou odiadas, ou ainda desprezadas, o mais usual. Ainda assim prossigo esforçadamente mostrando como o ódio decorre do amor, como a tristeza é o resultado mais imediato da alegria, que a igualdade não passa de um símbolo matemático, que a liberdade é responsável pela construção das prisões e que a razão é uma ilusão e um mito recorrente quase tão antiga e arcaica como a divindade. É que no mundo humano, quase todo formado de coisas não palpáveis (amizade, felicidade, amor, poder, justiça, liberdade etc.) ou materiais, ou tangíveis, coisas que não tem um ser específico, mas é antes uma forma de estar e agir, coisas que só existem ou decorrem de estarmos entre homens, do contato entre as pessoas, quando se fala alguma coisa, muitas coisas distintas podem ser entendidas, assim, da mais inocente ação pode ocorrer repercussões imprevisíveis e pode significar coisas muito diferentes, dependendo do nível informacional dos receptores. Logo, quando digo que o problema político é ético, que o crime é um problema de saúde pública e a saúde pública vem se tornando caso de polícia, poucos entendem. De fato, dos símbolos inventados pelo homem, o mais esotérico e exotérico, sem dúvida, além da certeza, está a verdade, que sempre comportou inúmeras mentiras e infindas falsidades, pois assim como dizem que há várias falsidades e formas de errar e só uma verdade e uma forma de acertar, ocorre de não se acertar, nem verdades descobrir, visto que a mentira sempre pode prevalecer. Sinais da ocupação humana do planeta: há merda humana de polo a polo. Signos da ocupação humana do planeta: as línguas diferenciadas que se escuta pelas diversas partes da Terra. Símbolos evidentes do domínio humano do planeta: a produção cultural da humanidade. Sinais, signos e símbolos são quem promovem o entendimento e o desentendimento, a emancipação das pessoas ou sua submissão, a libertação ou escravização a algumas verdades e as inúmeras mentiras, além da ocupação planetária. De resto, só peço que não interpretem esses sinais, signos e símbolos, como se fossem “A” Verdade, mas que entendam antes que expressam minhas verdades, que ainda que possam não ser verídicas, são certamente honestas. Para encerrar, é preciso que se diga que, o que mais simboliza nosso existir, sinal claro de nossa estranha permanência na existência, signo unívoco de nossa inconsistência é o mito recorrente do fim do mundo, que encanta e espanta o imaginário supersticioso dos homens e sua consciência pesada há milênios, e nem o mundo nem o mito têm fim. O que todos deveriam saber é que só uma forma de acabarmos com o mundo, excluindo essa palavra dos dicionários dos homens, no mais só petulância simbolicamente frágeis, repleta de signos com significações insignificantes e sinais confusos da pressa de ocupar o silêncio do desconhecimento, já que não poucas vezes querem explicar o que não sabem com coisas que sabem menos ainda.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A merda brasileira


O Brasil não tem problema, já o brasileiro é muito problemático. Sua elite ascendeu pelo dinheiro, pela força ou pela violência, não por méritos políticos ou por virtudes morais; assemelha-se mais a uma oligarquia do que a uma aristocracia. Sua suposta elite intelectual ambiciona fama nacional para tentar conseguir glória (efêmera) internacional. Mais do que inculta e ignorante, é fundamentalmente burra, mesquinha e medíocre. Sinal claro disso é o lugar (ou não-lugar) da educação em solo brasileiro, uma coisa improvisada desde sempre e, como tudo indica, para sempre: segue os oportunismos governamentais, mais do que atender as necessidades nacionais; sempre na mão de leigos, de apadrinhados, de amigos, de familiares, de políticos, nunca na mão de educadores. O oportunismo e o improviso é a marca mais significativa do espírito brasileiro. Não acredita no trabalho (ainda que trabalhe como um burro), no estudo, no esforço, mas na sorte e nas relações pessoais que trava para vencer na vida, nem que para isso tenha que cometer uma ou várias canalhices. Suas virtudes morais são tão baixas, que basta ver alguém simplesmente honesto, o que todos deveriam ser, para colocá-lo nas manchetes dos jornais e televisões como herói, um modelo, não para ser seguido, pois no Brasil poucos acreditam na honestidade como uma prática comum, mas para dar uma leve expectativa que entre tantos bandidos, há ainda esperança de haver alguns poucos que se salvam. O brasileiro tem a alma de garimpeiro, daquele que espera fazer fortuna rápida explorando a natureza, sem se importar com os custos dessa busca; tem um caráter covarde que o faz silenciar diante das injustiças ou quando tem que agir para que ocorra o certo, que alienadamente delega ao Estado, ou pior, ao governante realizar; é um preguiçoso quando se trata do bem comum ou da coisa pública; é um pervertido moral, pois a moralidade é algo do reino da aparência, nunca de essência, e o importante não é ser, mas parecer honesto, bom e justo – via de regra, aquele que mais cobra moralidade é quase sempre o mais imoral, e quer se qualificar, desqualificando o outro. Quando age certo, dificilmente é pelo motivo correto, e quando tem um motivo correto, acha que não precisa agir certo. Que alguns possam achar virtude numa aparente alegria ou numa suposta cordialidade brasileira (que o digam os descendentes de escravos, que muitos não encontraram até hoje um lugar descente para morarem), ou ainda em algumas manifestações artísticas ou esportivas onde alguns indivíduos possam se destacar, que não seja pelo dinheiro, pela força ou pela violência os outros fatores que destacam os brasileiros para eles mesmos, tendo a discordar, ou pelo menos relativizar a qualidade dessas virtudes, uma vez que se continua a privilegiar as ações individuais, quando as verdadeiras virtudes, ou pelo menos, as mais importantes não são aquelas que destacam os indivíduos, mas aquelas que são produzidas em conjunto com os demais, aquelas que se faz entre homens como a amizade – não a cumplicidade como se entende em solo brasileiro a amizade; a coragem de enfrentar as adversidades e as injustiças; a justiça de saber agir de forma certa no momento apropriado, antes que a vingança por maldades supostas; a sabedoria para moderar sua razão e suas emoções, de forma geral, imaturas e tolas. Tenho para mim que o brasileiro é um cagão, não só foge da luta, mas se caracteriza pelo famoso “deixa disso”, acredita que deve entregar tudo quando sob a mira de alguma arma, que uma prolongada vida covarde é infinitamente melhor que uma breve vida heroica, que nada nem ninguém valem qualquer gesto digno de sua parte, que se deve se ajoelhar, seja aos poderosos, seja a qualquer bandido. A herança histórica dos brasileiros é recheada de canalhice, negociatas, sandices, megalomanias, mentiras, usurpações, corrupções, golpes de Estado, que por mais que historiadores procurem alguma dignidade, a mesma nem ao menos é um termo do vocabulário ordinário, quanto mais algum tipo de prática ou mesmo teoria, tendo em vista que o que moveu o desenvolvimento nacional sempre foram interesses mesquinhos, econômicos e as circunstâncias que obrigam os brasileiros a terem que revisar seus pontos de vistas sempre arcaicos, meras cópias mal feitas de ideias importantes, mas que poucos entendem – falta cultura, falta formação! Se pudesse fazer uma hierarquia entre as merdas nacionais, o que é certo absurdo, pois seja bosta, coco, fezes ou excremento, trata-se, sem dúvida, sempre de merda, um termo rude ou rústico, é verdade, mas honesto e verdadeiro, e muito mais próximo da realidade nacional, onde excremento é um termo tão sofisticado, que nem professores universitários o utilizam, além de soar falso aos ouvidos surdos dos nacionais, diria, então, que uma das coisas mais fedidas que temos é as leis, um excremento só. Em primeiro lugar, ninguém ou quase ninguém em solo brasileiro, e sendo brasileiro, gosta de lei – burlar é quase um esporte nacional, com certeza, uma prática usual; todos ou quase todos, por arrogância ou ignorância, acham que as mesmas servem aos demais, nunca para eles próprios ou para aqueles que consideram seus. Em segundo lugar têm a petulância de querer mudar a barbárie nacional por decreto, quando os hábitos e os costumes só muito lentamente podem ser mudados, quando são mudados, o que nem sempre ocorre. Em terceiro lugar querem abranger tudo e tudo escapa pelo excesso de regulamentação que se contradiz ou se opõe, ou nada especifica de fato, e tudo se resolve pelo burocrata que interpreta a norma como bem entende. Entre o que a lei impõe, o que o governante ordena e o que o funcionário público faz são coisas tão distintas, que qualquer cidadão sabe que quem de fato resolve seu problema, é aquele amigo que conhece alguém na repartição que fará tudo acontecer como tem direito (ou não), mas que ninguém está disposto a realizá-lo, a não ser que seja conhecido de alguém da repartição ou instituição que presta o serviço. Diria que em termos políticos os brasileiros são pré-políticos, acreditam mais nos homens do que nas leis, votam mais nas pessoas que nas ideias, e se pudessem seriam monarquistas, só não são para não ser a única excrescência das Américas. Na verdade, a mentalidade brasileira é de Estado absolutista, que deve resolver tudo, que deve fazer leis, executar o direito, guardar a economia, resolver as pendengas de todos e acolher a todos diante dos cataclismas. Os brasileiros valorizam mais a beleza que a inteligência, mais o bolso que o caráter, mais o sabido que o sábio, mais o esporte que a política, mais a arte que a ciência, mais o mito que a filosofia, mais a aparência que a essência, mais o conhecimento prático e a utilidade imediata que a sabedoria teórica e de caráter formativo, que não visa um fim imediato, mas aquisição de certo refinamento no pensamento. A grande contribuição para a humanidade dos brasileiros, além do samba e da cachaça, é o fato de serem medíocres e não fazerem grandes coisas, o que evita grandes erros, e sua atuação na arena internacional é pífia, como são seus políticos, não contribuindo para grandes cagadas mundiais; quase toda nossa merda é absorvida internamente. Externamente temos a petulância se sermos uma potência, ainda que acrescentem o sofisma “emergente” após potência, que se sabe, não é levado a sério, pois concretamente somos uma nação pouco confiável, onde os contratos podem ser rompidos por mudanças intempestivas das leis, sempre prontas para mudanças segundo a força dos interesses que as promovem. Não há diálogo ou debate, e qualquer manifestação de ideia, se desqualifica o idealizador antes de se entrar no mérito do idealizado. A democracia é entendida como uma tirania da maioria sobre as minorias e que a escolha do governante resulta na liberdade de escolha da tirania a que se quer se submeter. A aquisição de riqueza ou bens resultam mais numa ostentação de sua posse do que em algum tipo de aprimoramento pessoal e, de forma alguma social, e a aquisição de conhecimento em posse de instrumento de manipular e enganar a grande maioria, carente não apenas de conhecimentos, pois que isso até mesmo a elite é, mas também portadora de uma ignorância secular, e, portanto, facilmente manipulável por qualquer espertalhão. Fundamentalmente, o brasileiro tem preço, e é barato, porém, pouco valor.
Ao afirmar isso pode parecer que tenho certo menosprezo pelos brasileiros, entre os quais me encontro. Longe está da verdade. Há algo que admiro e que certamente deve ter influído sobre os fundamentos metafísicos da minha filosofia intestina, a desimportância dos brasileiros no cenário internacional e a vagabundagem brasileira (cantada em versos e contada em prosa desde o início de sua ocupação) e que sempre foi severamente reprimida pelas autoridades oficiais e econômicas, quando não pela própria família, que não poucas vezes tem que carregar nas costas um ou vários folgados que habitam as famílias brasileiras. Verdade que as autoridades são essencialmente vagabundas, mas cobram de nós esforços, para que elas próprias não tenham. De fato, conheço poucos que, se pudessem, não viveriam à custa de alguém ou do Estado, e como são tantos a ter a mesma ideia, poucos de fato realizam, ainda que queiram. Nisso vejo alguma sabedoria, todos querem antes um emprego do que um trabalho, mais o salário que o esforço para obtê-lo, o único problema é que isso é feito de forma desonesta, como é a prática nacional. E a desonestidade, não a vagabundagem, é o que onera a vida de todos, pois paga-se caro para se garantir os bens, que a rigor nunca estão de fato garantidos, que podem ser usurpados em ardilosas artimanhas, pois que aqui, dependendo dos recursos econômicos que se tenha e do arsenal jurídico que se utiliza, tudo pode ser transmutado diante do juiz: nem as leis são muito honestas nesse país. A preguiça que é algo comentado e relatado desde o que se intitulou a “descoberta” (ocupação) do Brasil, que dá o suporte ontológico para a vagabundagem nacional, deveria ser desenvolvida e aprimorada, porém realizada honestamente, e não como se faz, sempre em prejuízo de alguém ou de vários. Deputados, governantes, juízes e tantos outros folgados que rondam as manchetes nacionais deveriam ser privados de seus privilégios, para que mais pessoas possam folgar também. Ora, se há uma coisa que nossas leis fazem é garantir privilégios as diversas categorias, proporcionalmente à sua força política diante da sociedade covarde. Enfim, esta preguiça tão salientada nos trópicos pelos experientes europeus, tão necessária para uma vida digna num clima por vezes tórrido, deveria ser levada mais a sério, e ao invés de trabalharmos para sermos uma potência medíocre, ser um país que antes de aparecer diante dos demais, satisfaz o mínimo necessário para os que aqui perambulam e habitam. A verdadeira riqueza natural só é útil, se nos faz trabalhar menos, e aqui se tem tantas frutas, o que permite desfrutá-las o ano inteiro, sem muito esforço.
De resto, vejo que os países podem se organizar sob círculos virtuosos ou círculos viciosos, e a qualidade dos círculos depende da qualidade dos cidadãos; onde se tem mais virtude, há menos violência e menos custos para se viver, onde se tem mais vício, há mais violência e o custo social é maior. O brasileiro se estrutura através de círculos viciosos, que datam do tempo colonial, com clientelismos, paternalismos, cumplicidade e troca de favores, onde as relações pessoais são mais importantes que as competências individuais, e o bem público uma apropriação privada dos setores sociais mais fortes da sociedade brasileira; a repartição de honras e punições atendem critérios de relacionamentos, e quanto mais distanciado estiver dos portadores desse poder, tanto mais distante estará da honra e mais próximo estará da punição. Naturalmente, para os cidadãos comuns, como eu e a grande maioria, que nada fazemos e assim nada podemos para alterar os vícios que sustentam a sobrevivência viciosa dos brasileiros, que passamos despercebidos das autoridades e da imprensa, e temos uma vida normal, ou seja, sem glória ou fama, podemos levar uma vida bem razoável no Brasil, afinal há pessoas divertidas, há muita coisa para ser vista, criamos relações que nos sustentam num mar de barbárie social, pois aqui se mata mais por menos, e a vida é uma banalidade que assistimos esvair nos telejornais diários. Dizem os mitos que a câmera inibe a criminalidade, entretanto, desde que se tornaram usuais, só tenho assistido a roubos e mortes, sem observar nenhuma diminuição, pelo contrário, assisto alarmado a sua ampliação e amplidão. Eu mesmo já sofri várias tentativas de roubo, e só não fui roubado porque nada tinha (ou tenho) para ser roubado, pois praticamente só tenho o que trago dentro de mim, algumas ideias, várias emoções, alguns parcos conhecimentos e uma tênue vontade de continuar vivo, e nem sei direito por que. Talvez, porque eu mesmo ainda não tenha feito uma grande cagada e apenas cagado aqui ou ali moderadamente, como a grande maioria, que se não traz grande contribuição para a vida pública, também não promove enormes disparates públicos.
Poderiam legitimamente perguntar se não haveria pessoas que escapam desse diagnóstico, ou até mesmo se eu estaria imune a essa mediocridade brasileira que descrevo. Creio que sim, aliás, eu me considero quase imune à barbárie local, conseguindo conviver razoavelmente de forma pacífica nesse mar de mesquinharias e violências; além disso, conheço gente sábia e justa por aqui. Todavia, somos tão poucos e a sabedoria é tão difícil de ser absorvida pelos locais, assim como o bom senso tão escasso, e a disposição para agir assim como a coragem para a ação tão raras, que suas existências passam despercebidas, quando não são tidos por tolos quem possui tais qualidades; é que num universo de ignorância generalizada, independente da classe social, a sabedoria dificilmente é reconhecida, e o sabido reina soberano sobre os vulgos. E a merda nem é tanto não saber, mas antes a forte aversão a saber. Eu que não espero grande coisa do futuro, visto que o passado é medíocre e o presente igualmente, aguardo apenas o passar dos dias para assistir antigas cenas se repetir e, dentro das minhas limitações, sofrer o menos possível com a barbárie dos demais e tomando cuidado para não pisar na merda que vejo espalhada por toda parte.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Sobrevoo Filosófico

Todo filósofo que leio, aprendo inúmeras coisas e agradeço a ginástica intelectual que me causam com suas ideias. Verdade que não concordo muito com elas, mas isso pouco importa, na medida em que não os procuro para ensinar, porém para pacientemente aprender coisas que não havia pensado ou outras formas de pensar a mesma coisa; não para pensar como eles, mas para ver que há sempre mais coisas para se pensar ou outras formas de pensar. Sob certo aspecto todos estão certos, já que escolhem o objeto, o método e os conceitos com os quais descrevem uma realidade, que se não estava oculta, também não existiria sem que eles a enunciasse. Gosto até mesmo do tom de condutores de homens que muitos ostentam, ainda que seja completamente contra que se conduzam os homens: as pessoas não sabem nem se conduzir, querer ousar dirigir os demais me parece de extrema petulância. Por exemplo, Platão, há filósofo que mais queira nos conduzir no caminho da verdade, da virtude, do certo, do bom e do belo do que ele, e, no entanto, não se privaria de usar da mentira, do vício, dos subterfúgios para impor suas máximas, nem de impor uma tirania ou despotismo para se chegar à cidade ideal: parece que mesmo o bem precisa de algum mal para se concretizar. Não! Nunca espero perfeição dos filósofos, pois me contento apenas com alguma inteligência. Há aqueles leigos que acusam a filosofia de só levantar ou inventar problemas, mas pouco contribuir para solucionar, quando não complica ainda mais o que aparentemente poderia ser tratado de forma mais simples. Que haja algum fundo de verdade, se visto de forma parcial ou sob a ótica de algum autor particular, na realidade o filósofo surge para tentar interceder naquilo que está problemático, seja do ponto de vista do conhecimento e sua logicidade, seja do ponto de vista da vida pública, da política aos costumes. Sei que sou tributário a vários deles, que capturei alguma sabedoria aqui, alguma sagacidade mais prá lá, algum conhecimento acolá, até mesmo alguma retórica e forma de argumentar, que mamei, ruminei e despertei com alguns, porém o que mais aprendi com eles foi pensar por conta própria. Todavia, todos parecem indicar que a saída é tomar as rédeas do destino nas mãos, não se ajoelhar diante do forte, nem fazer os demais ajoelhar, que a virtude, a verdade, o justo, o razoável advém tão somente do próprio aprimoramento, mesmo que a conjuntura ou a época pareçam impedir, e que a qualidade fundamental que se tem que adquirir é a coragem para se portar como um homem diante de crianças assustadas com suas superstições, medos e ignorâncias, ou pior, irritadas com a impotência de resolver suas dificuldades. Não sou como alguns que pensam que os filósofos ou a filosofia são fundamentais para a formação das pessoas, visto que muitos sobrevivem muito bem sem eles, até mesmo desconhecendo-os, entretanto, acredito que conhecê-los torna a todos mais humanos; é parte integrante da cultura universal, do que atualmente entendemos por homem ou mesmo humanidade, para não mencionar a liberdade – temática que os filósofos perseguem desde os primórdios, que nos prima para agir e dizer como nos autodeterminarmos, e que dá a cada um a sua originalidade ou singularidade, e que construiu a nossa história, faz o presente que, invariavelmente, pelo menos até o momento, realiza um futuro. Aconselho a todos algum aprofundamento filosófico, pois que se a filosofia não tem um poder curativo sobre os problemas humanos, mesmo porque não há nem ao menos um consenso de quais sejam, ou mesmo se há problemas, ela é uma forma de refletir sobre os mesmos e pode assim potencializar a participação de cada um de nós na busca de uma vida menos tola. Além disso, alguma cultura sempre aumenta a nossa sensibilidade, torna as pessoas mais compreensivas e tolerantes, até mesmo mais agradáveis no conversar, senão por outro motivo, por que aumenta o estoque de conversa à toa que se tem que ter nos encontros sociais.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Vida intestina

Que a vida é algo intestinal, ninguém com alguma inteligência e sensibilidade poderá negar. Sem dúvida, é algo evacuante, expelindo excremento para todo lado e em quase todos eventos e acontecimentos. Os pobres indivíduos, em sua labuta diária na busca da satisfação, tudo fazendo de melhor para pelo menos conseguir um mínimo, e, sem aviso (mas mesmo avisando é a mesma merda), vem a roda diária dos eventos jogando bosta em todo esforço, razoavelmente honesto, até que desgostoso, brada: que merda! Desesperar, que de pouco adianta, é o que mais se vê, faz ou sente. Gritar, blasfemar ou mesmo xingar, que possa aliviar a dor momentaneamente, é também de pouca serventia para limpar a sujeira da bosta alheia, visto que a bosta própria é sempre pouco vista, e, portanto, sentida, e mais remotamente ainda admitida, e quase nunca limpa. Ora, temos que admitir que o grande problema do mundo são as soluções que se encontra para resolver os problemas; na maior parte das vezes, causam um problema maior, ou transferem para outros ou outras épocas: com certeza, o futuro pagará o preço das soluções adiadas no presente e no passado. Seria redundante dizer que ao invés de procurar problemas, e, portanto, soluções, não dever-se-ia evitá-los? Eu, que não tenho filhos, muito menos tendo netos, preocupo-me com esse tempo, não tão distante, onde talvez assista na decrepitude a decrepitude do mundo. É óbvio, acostumado e educado na fedentina da vida, não sofrerei tanto como os otimistas, os esperançosos, os idealistas ou mesmo supostos realistas com as cagadas humanas, mas ainda sim, tomado de certa vergonha de pertencer à humanidade, assistirei com dignidade a dor de todos afogando-se na sujeira diária das embalagens das coisas que compraram, ou escorregando nas merdas espalhadas pelas ruas e avenidas. Não teria algum tipo de pena ou compaixão pelas dores dessa existência intestinal? De forma alguma, quanto mais vejo as desgraças, mais acho que as pessoas as merecem, não porque considere a punição necessária para se obter algum aprendizado, no que me diz respeito, a humanidade não aprende nem com castigos, mas estando presente nos eventos, é parte do resultado e do processo. Mas, e as crianças, não pensa em salvá-las? Para que? Para uma vida ingrata, para uma morte futura talvez bem mais infeliz? Num mundo como o nosso, crianças deveriam ser evitadas. Com isso dito, até pode parecer que seja um pessimista, o que longe está da verdade, visto que não acho nem mesmo a morte um mal, e nem que a desgraça humana seja uma catástrofe para a vida, que, aliás, poderá ter muito mais paz depois de nossa partida. É de se perguntar, o intestino da vida é solto ou preso? Creio que ambas coisas acontecem, mas não ao mesmo tempo, pois tem horas que vejo a humanidade escorregando e patinando em substâncias pastosas no mundo das ideias, outras vezes vejo-a obrando com esforço e dificuldade, quando não poucas vezes causando até hemorroidas, para conquistas pequenas como o alívio. Mas, o que esperar de um bosta, num mundo onde não há espaço para heróis, coragem, honra ou até honestidade, um mundo feito para cagões? Nada, senão mais merda........

Observações intempestivas


A condição do homem na história é daquele que procura a verdade, não daquele que a encontrou. O encontro da verdade, se algum dia ocorreu, foi sempre temporário, e na maior parte das vezes traz tristezas, quando não mais dúvidas, pois o que se descobre ou se inventa é algo que liquida mais com as autoridades das verdades passadas, do que inspira confiança nas novas verdades. Há aqueles que acreditam no progresso humano, que se está mais próximo da verdade que os antigos, que cada vez mais o conhecimento desvela o desconhecido, o que para mim parece tolo, pois se toma o mais como se fosse o melhor. Sendo que o que se sabe pode ser falso ou mesmo mentiroso, saber mais pode significar saber mais coisas erradas, ou se enganar ainda mais do que os antigos. No entanto, a rigor, foram as dúvidas que mais fizeram avançar o conhecimento no rumo do desconhecido; as verdades, de forma geral, só sobrevivem com a estagnação da curiosidade e com a implantação de ortodoxias e protocolos. A busca da verdade, no geral, foi sempre uma grande mentira, pois poucos apreciam a verdade, ou gostam de ouvi-la a seu respeito. O que se busca antes é a aceitação e a boa apreciação alheia. É que na verdade a verdade é uma mercadoria escassa e pouco conhecida, e se compra muita porcaria pensando se tratar de joia rara. Naturalmente que tenho algumas verdades, muitas delas pouco honestas, mas uso-as com muito comedimento, pois que de forma geral a mentira é sempre mais útil e necessária. De resto, acredito em poucas coisas, por exemplo, na existência dos excrementos, no mais duvido das certezas fáceis e confortáveis, e de qualquer verdade que surja pela decisão de alguma maioria. De minha parte, posso garantir, continuo sendo daqueles que torcem para que as verdades de alguns não matem as verdades dos outros, que haja quantas verdades forem as pessoas, desde que não briguem ou se matem por elas, e que a mentira e a falsidade sejam postas no seu devido lugar, como ações mais praticadas que a honestidade, visto que a verdade, se existe, de todos é desconhecida e ainda se procura.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

um homem só ou só um homem


Sem dúvida, por ser um celibatário, nem sempre tenho a possibilidade de me relacionar com mulheres, pois estas ambicionam, sempre e invariavelmente, o casamento, o que sabem que não obterão comigo. Naturalmente, um celibatário não necessariamente é um assexuado como usualmente se pensa, apenas é alguém que se recusa a contrair o matrimônio. No meu caso, não acho saudável, além de considerar uma instituição cultural arcaica. De um lado, as mulheres educadas para buscar um macho provedor, hoje já se contentam de só encontrarem um macho, ainda que parasita. Enquanto eu, que mal consigo ser um homem, não ousaria ser um macho, pois ainda que considere o homem um animal, e não dos melhores, creio que não deva nem ser um animal selvagem, muito menos um animal doméstico, mas um animal livre a perambular na busca dos interesses que se autoinstituiu, e não acho digno disputar mulheres e territórios como um bicho qualquer: acredito que o homem tem mais o que fazer com seus neurônios do que ficar em brigas de hormônios. Por outro lado, considero o amor um sentimento inatingível depois de se ter algum tipo de compreensão mais refinada, obtida visitando filósofos, antropólogos, psicólogos, artistas e observando a história da humanidade, repleta de maus exemplos. De todos os sentimentos, o amor, sem dúvida, é o mais intestinal, onde mais se faz cagadas, onde mais se toma no cu. Que haja aqueles que defendam ou mesmo acreditam que é um sentimento nobre, eterno ou que haja virtude nele, não me espanta, o que me espanta é como as pessoas ainda caem nessa ingenuidade e simplismo dos sentimentos humanos, imaginando abnegação onde há exclusão, quando não mera possessividade.
Parece óbvio que, com esse tipo de opinião, tenho servido apenas às mulheres carentes, para não dizer desesperadas, muitas com intuito vingativo, que não considero justo, mas é humano, sabedoras da minha prática do sexo casual, o que muitas vezes acaba no bem pouco eventual. Verdade que já ocorreu de algumas mulheres se apaixonarem por mim, de ser cobiçado, mas logo se dão conta da luta inútil que seria tentar me distanciar dos meus princípios filosóficos, da minha busca incessante da verdade e do certo, e do meu horror intestinal ao casamento e a família, uma doença a ser superada. Verdade também que nunca fui um grande amante para que se insistisse tanto para comigo ficar; se virtudes tenho, estas não se encontram nesse campo tão complexo e minucioso, ainda que também não tenha vícios, encontrando-me no campo dos moderados. Todavia, de forma alguma espero que as pessoas concordem comigo, conto antes e sempre com a tolerância dos demais.
De resto, quando carente estou de práticas sexuais, não me furto à prática masturbatória, este eterno recurso para a nossa autonomia; além de um anticoncepcional excelente e seguro, não se transmite doenças sexuais e revela sinal de independência e maturidade, o que permite a muitos que saiam à rua sem ser em busca de saias ou calças, e apenas para tirá-las. Creio que muito da minha autossuficiência se deve a essa prática milenar, que não poucos filósofos, se não defenderam, praticaram. A verdade é que a filosofia tem alguma coisa de masturbatória.....

terça-feira, 25 de setembro de 2012

O retorno


Fiquei afastado de tudo e de todos nos últimos tempos. Tinha o que pensar. Sai por aí a viajar. Fui ver o mar e a montanha, o campo e as cidades. Nem é preciso que se diga que a tristeza e a alegria é a mesma em toda parte, assim como as bostas, muito comum quando se trata do humano. Sei que falta não fiz, pois não pediram que retornasse aos meus escritos excremetais, muito menos sentiram minha ausência. Meus poucos leitores ou leitoras já cansados do meu repugnante humor, creio, ficaram aliviados com o meu aparente sumiço; pelo menos, das minhas merdas estavam livres, ainda que a merda da vida não se livre, a não ser se morrerem, o que seria outra merda. Enfim, constatado que falta não faço, que não há leitores para os meus escritos, mais convicções tenho para continuar a escrever e atuar no espaço da internet, esse lugar que cabe todos e não pertence a ninguém, pois o que evacuo não ocupa mais que um mínimo espaço na memória de um computador. Aliviado estou por não precisar mais derrubar árvores para escrever minhas bostas, e com a consciência tranquila porque não tiro o sono dos leitores ou leitoras, que a rigor, não tenho, mas que se tiver, não terá que pagar merda alguma para ler meus urânicos excrementos.
Quanto à minha viagem, foi de estudo, autofinanciada à base de favores e amizades que permitiram ir por aí, em busca de novos saberes e novos contatos. Descobri pouca coisa ou mesmo nada. Tudo é muito igual por toda parte, as mesmas músicas, as mesmas vestes, os mesmos pratos, e os passeios também são bastante semelhantes. Vi festas de batizados que mais pareciam de casamento, e vi festas de casamentos que exalavam tristeza; vi velórios alegres e nascimentos trágicos. De fato, não conheci ninguém suficientemente sério para depositar alguma credibilidade, ainda que tenha visto inúmeras pessoas simpáticas. De tudo, o que mais me chamou a atenção, é que há tão pouca coisa que me chame à atenção no que as pessoas fazem ou pensam. Todavia, tenho que admitir, arejei as vistas e a mente, e agora tenho ânimo redobrado para a minha evacuante tarefa de expor os odores fétidos da convivência humana desarmônica. E é fácil perceber que o que temos de mais fedido no momento são as eleições municipais, pois um candidato é um bosta, o outro uma merda, aquele outro um excremento, este outro um coco, e há ainda o mais refinado que é uma fezes. Enfim, o melhor não presta, visto que o melhor, no caso, é o que faz o pior.