Aqui se evacuam idéias e comentários sobre a porcaria humana
domingo, 16 de dezembro de 2012
Uma estranha função social
Sou um decifrador dos sinais, dos signos e dos
símbolos humanos, ainda que nem seja sábio, muito menos tenha competência em
alguma ciência. Tento traduzir a incompetência humana para a convivência pacífica,
seja consigo mesmo, seja com as demais criaturas, seja com a natureza para o
pouco entendimento das pessoas, que mais do que não saber, sentem asco pela
sabedoria e mergulham fundo na mais profunda ignorância. Confesso que não tenho
sucesso, nem mesmo êxito. O amor a ignorância é tão arraigado, a preguiça
mental é tão habitual, a falta de coragem para descobrir a verdade é tão forte,
que meus esforços na maior parte das vezes resultam em palavras faladas sem
serem ouvidas, ou odiadas, ou ainda desprezadas, o mais usual. Ainda assim
prossigo esforçadamente mostrando como o ódio decorre do amor, como a tristeza
é o resultado mais imediato da alegria, que a igualdade não passa de um símbolo
matemático, que a liberdade é responsável pela construção das prisões e que a
razão é uma ilusão e um mito recorrente quase tão antiga e arcaica como a
divindade. É que no mundo humano, quase todo formado de coisas não palpáveis
(amizade, felicidade, amor, poder, justiça, liberdade etc.) ou materiais,
ou tangíveis, coisas que não tem um ser específico, mas é antes uma forma de estar e agir, coisas
que só existem ou decorrem de estarmos entre homens, do contato entre as
pessoas, quando se fala alguma coisa, muitas coisas distintas podem ser
entendidas, assim, da mais inocente ação pode ocorrer repercussões
imprevisíveis e pode significar coisas muito diferentes, dependendo do nível
informacional dos receptores. Logo, quando digo que o problema político é
ético, que o crime é um problema de saúde pública e a saúde pública vem se
tornando caso de polícia, poucos entendem. De fato, dos símbolos inventados
pelo homem, o mais esotérico e exotérico, sem dúvida, além da certeza, está a
verdade, que sempre comportou inúmeras mentiras e infindas falsidades, pois
assim como dizem que há várias falsidades e formas de errar e só uma verdade e
uma forma de acertar, ocorre de não se acertar, nem verdades descobrir, visto
que a mentira sempre pode prevalecer. Sinais da ocupação humana do planeta: há
merda humana de polo a polo. Signos da ocupação humana do planeta: as línguas
diferenciadas que se escuta pelas diversas partes da Terra. Símbolos evidentes
do domínio humano do planeta: a produção cultural da humanidade. Sinais, signos
e símbolos são quem promovem o entendimento e o desentendimento, a emancipação
das pessoas ou sua submissão, a libertação ou escravização a algumas verdades e
as inúmeras mentiras, além da ocupação planetária. De resto, só peço que não interpretem
esses sinais, signos e símbolos, como se fossem “A” Verdade, mas que entendam
antes que expressam minhas verdades, que ainda que possam não ser verídicas,
são certamente honestas. Para encerrar, é preciso que se diga que, o que mais
simboliza nosso existir, sinal claro de nossa estranha permanência na
existência, signo unívoco de nossa inconsistência é o mito recorrente do fim do
mundo, que encanta e espanta o imaginário supersticioso dos homens e sua
consciência pesada há milênios, e nem o mundo nem o mito têm fim. O que todos
deveriam saber é que só uma forma de acabarmos com o mundo, excluindo essa
palavra dos dicionários dos homens, no mais só petulância simbolicamente
frágeis, repleta de signos com significações insignificantes e sinais confusos
da pressa de ocupar o silêncio do desconhecimento, já que não poucas vezes
querem explicar o que não sabem com coisas que sabem menos ainda.
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
A merda brasileira
O Brasil não
tem problema, já o brasileiro é muito problemático. Sua elite ascendeu pelo
dinheiro, pela força ou pela violência, não por méritos políticos ou por
virtudes morais; assemelha-se mais a uma oligarquia do que a uma aristocracia. Sua
suposta elite intelectual ambiciona fama nacional para tentar conseguir glória (efêmera)
internacional. Mais do que inculta e ignorante, é fundamentalmente burra,
mesquinha e medíocre. Sinal claro disso é o lugar (ou não-lugar) da educação em
solo brasileiro, uma coisa improvisada desde sempre e, como tudo indica, para
sempre: segue os oportunismos governamentais, mais do que atender as necessidades
nacionais; sempre na mão de leigos, de apadrinhados, de amigos, de familiares,
de políticos, nunca na mão de educadores. O oportunismo e o improviso é a marca
mais significativa do espírito brasileiro. Não acredita no trabalho (ainda que
trabalhe como um burro), no estudo, no esforço, mas na sorte e nas relações
pessoais que trava para vencer na vida, nem que para isso tenha que cometer uma
ou várias canalhices. Suas virtudes morais são tão baixas, que basta ver alguém
simplesmente honesto, o que todos deveriam ser, para colocá-lo nas manchetes dos
jornais e televisões como herói, um modelo, não para ser seguido, pois no
Brasil poucos acreditam na honestidade como uma prática comum, mas para dar uma
leve expectativa que entre tantos bandidos, há ainda esperança de haver alguns
poucos que se salvam. O brasileiro tem a alma de garimpeiro, daquele que espera
fazer fortuna rápida explorando a natureza, sem se importar com os custos dessa
busca; tem um caráter covarde que o faz silenciar diante das injustiças ou
quando tem que agir para que ocorra o certo, que alienadamente delega ao
Estado, ou pior, ao governante realizar; é um preguiçoso quando se trata do bem
comum ou da coisa pública; é um pervertido moral, pois a moralidade é algo do
reino da aparência, nunca de essência, e o importante não é ser, mas parecer
honesto, bom e justo – via de regra, aquele que mais cobra moralidade é quase
sempre o mais imoral, e quer se qualificar, desqualificando o outro. Quando age
certo, dificilmente é pelo motivo correto, e quando tem um motivo correto, acha
que não precisa agir certo. Que alguns possam achar virtude numa aparente
alegria ou numa suposta cordialidade brasileira (que o digam os descendentes de
escravos, que muitos não encontraram até hoje um lugar descente para morarem),
ou ainda em algumas manifestações artísticas ou esportivas onde alguns
indivíduos possam se destacar, que não seja pelo dinheiro, pela força ou pela
violência os outros fatores que destacam os brasileiros para eles mesmos, tendo
a discordar, ou pelo menos relativizar a qualidade dessas virtudes, uma vez que
se continua a privilegiar as ações individuais, quando as verdadeiras virtudes,
ou pelo menos, as mais importantes não são aquelas que destacam os indivíduos,
mas aquelas que são produzidas em conjunto com os demais, aquelas que se faz
entre homens como a amizade – não a cumplicidade como se entende em solo
brasileiro a amizade; a coragem de enfrentar as adversidades e as injustiças; a
justiça de saber agir de forma certa no momento apropriado, antes que a
vingança por maldades supostas; a sabedoria para moderar sua razão e suas
emoções, de forma geral, imaturas e tolas. Tenho para mim que o brasileiro é um
cagão, não só foge da luta, mas se caracteriza pelo famoso “deixa disso”,
acredita que deve entregar tudo quando sob a mira de alguma arma, que uma
prolongada vida covarde é infinitamente melhor que uma breve vida heroica, que
nada nem ninguém valem qualquer gesto digno de sua parte, que se deve se ajoelhar,
seja aos poderosos, seja a qualquer bandido. A herança histórica dos
brasileiros é recheada de canalhice, negociatas, sandices, megalomanias,
mentiras, usurpações, corrupções, golpes de Estado, que por mais que
historiadores procurem alguma dignidade, a mesma nem ao menos é um termo do
vocabulário ordinário, quanto mais algum tipo de prática ou mesmo teoria, tendo em
vista que o que moveu o desenvolvimento nacional sempre foram interesses
mesquinhos, econômicos e as circunstâncias que obrigam os brasileiros a terem
que revisar seus pontos de vistas sempre arcaicos, meras cópias mal feitas de
ideias importantes, mas que poucos entendem – falta cultura, falta formação! Se
pudesse fazer uma hierarquia entre as merdas nacionais, o que é certo absurdo,
pois seja bosta, coco, fezes ou excremento, trata-se, sem dúvida, sempre de
merda, um termo rude ou rústico, é verdade, mas honesto e verdadeiro, e muito
mais próximo da realidade nacional, onde excremento é um termo tão sofisticado,
que nem professores universitários o utilizam, além de soar falso aos ouvidos
surdos dos nacionais, diria, então, que uma das coisas mais fedidas que temos é
as leis, um excremento só. Em primeiro lugar, ninguém ou quase ninguém em solo
brasileiro, e sendo brasileiro, gosta de lei – burlar é quase um esporte
nacional, com certeza, uma prática usual; todos ou quase todos, por arrogância
ou ignorância, acham que as mesmas servem aos demais, nunca para eles próprios
ou para aqueles que consideram seus. Em segundo lugar têm a petulância de
querer mudar a barbárie nacional por decreto, quando os hábitos e os costumes
só muito lentamente podem ser mudados, quando são mudados, o que nem sempre
ocorre. Em terceiro lugar querem abranger tudo e tudo escapa pelo excesso de
regulamentação que se contradiz ou se opõe, ou nada especifica de fato, e tudo
se resolve pelo burocrata que interpreta a norma como bem entende. Entre o que
a lei impõe, o que o governante ordena e o que o funcionário público faz são
coisas tão distintas, que qualquer cidadão sabe que quem de fato resolve seu
problema, é aquele amigo que conhece alguém na repartição que fará tudo
acontecer como tem direito (ou não), mas que ninguém está disposto a
realizá-lo, a não ser que seja conhecido de alguém da repartição ou instituição
que presta o serviço. Diria que em termos políticos os brasileiros são
pré-políticos, acreditam mais nos homens do que nas leis, votam mais nas
pessoas que nas ideias, e se pudessem seriam monarquistas, só não são para não
ser a única excrescência das Américas. Na verdade, a mentalidade brasileira é
de Estado absolutista, que deve resolver tudo, que deve fazer leis, executar o
direito, guardar a economia, resolver as pendengas de todos e acolher a todos
diante dos cataclismas. Os brasileiros valorizam mais a beleza que a
inteligência, mais o bolso que o caráter, mais o sabido que o sábio, mais o
esporte que a política, mais a arte que a ciência, mais o mito que a filosofia,
mais a aparência que a essência, mais o conhecimento prático e a utilidade
imediata que a sabedoria teórica e de caráter formativo, que não visa um fim
imediato, mas aquisição de certo refinamento no pensamento. A grande
contribuição para a humanidade dos brasileiros, além do samba e da cachaça, é o
fato de serem medíocres e não fazerem grandes coisas, o que evita grandes
erros, e sua atuação na arena internacional é pífia, como são seus políticos,
não contribuindo para grandes cagadas mundiais; quase toda nossa merda é
absorvida internamente. Externamente temos a petulância se sermos uma potência,
ainda que acrescentem o sofisma “emergente” após potência, que se sabe, não é
levado a sério, pois concretamente somos uma nação pouco confiável, onde os
contratos podem ser rompidos por mudanças intempestivas das leis, sempre
prontas para mudanças segundo a força dos interesses que as promovem. Não há
diálogo ou debate, e qualquer manifestação de ideia, se desqualifica o
idealizador antes de se entrar no mérito do idealizado. A democracia é
entendida como uma tirania da maioria sobre as minorias e que a escolha do
governante resulta na liberdade de escolha da tirania a que se quer se
submeter. A aquisição de riqueza ou bens resultam mais numa ostentação de sua
posse do que em algum tipo de aprimoramento pessoal e, de forma alguma social, e
a aquisição de conhecimento em posse de instrumento de manipular e enganar a
grande maioria, carente não apenas de conhecimentos, pois que isso até mesmo a
elite é, mas também portadora de uma ignorância secular, e, portanto,
facilmente manipulável por qualquer espertalhão. Fundamentalmente, o brasileiro
tem preço, e é barato, porém, pouco valor.
Ao afirmar
isso pode parecer que tenho certo menosprezo pelos brasileiros, entre os quais
me encontro. Longe está da verdade. Há algo que admiro e que certamente deve
ter influído sobre os fundamentos metafísicos da minha filosofia intestina, a
desimportância dos brasileiros no cenário internacional e a vagabundagem brasileira (cantada em versos e contada em prosa desde o início de
sua ocupação) e que sempre foi severamente reprimida pelas autoridades oficiais
e econômicas, quando não pela própria família, que não poucas vezes tem que
carregar nas costas um ou vários folgados que habitam as famílias brasileiras.
Verdade que as autoridades são essencialmente vagabundas, mas cobram de nós
esforços, para que elas próprias não tenham. De fato, conheço poucos que, se
pudessem, não viveriam à custa de alguém ou do Estado, e como são tantos a ter
a mesma ideia, poucos de fato realizam, ainda que queiram. Nisso vejo alguma
sabedoria, todos querem antes um emprego do que um trabalho, mais o salário que
o esforço para obtê-lo, o único problema é que isso é feito de forma desonesta,
como é a prática nacional. E a desonestidade, não a vagabundagem, é o que onera
a vida de todos, pois paga-se caro para se garantir os bens, que a rigor nunca
estão de fato garantidos, que podem ser usurpados em ardilosas artimanhas, pois
que aqui, dependendo dos recursos econômicos que se tenha e do arsenal jurídico
que se utiliza, tudo pode ser transmutado diante do juiz: nem as leis são muito
honestas nesse país. A preguiça que é algo comentado e relatado desde o que se
intitulou a “descoberta” (ocupação) do Brasil, que dá o suporte ontológico para
a vagabundagem nacional, deveria ser desenvolvida e aprimorada, porém realizada
honestamente, e não como se faz, sempre em prejuízo de alguém ou de vários.
Deputados, governantes, juízes e tantos outros folgados que rondam as manchetes
nacionais deveriam ser privados de seus privilégios, para que mais pessoas
possam folgar também. Ora, se há uma coisa que nossas leis fazem é garantir
privilégios as diversas categorias, proporcionalmente à sua força política
diante da sociedade covarde. Enfim, esta preguiça tão salientada nos trópicos
pelos experientes europeus, tão necessária para uma vida digna num clima por
vezes tórrido, deveria ser levada mais a sério, e ao invés de trabalharmos para
sermos uma potência medíocre, ser um país que antes de aparecer diante dos
demais, satisfaz o mínimo necessário para os que aqui perambulam e habitam. A
verdadeira riqueza natural só é útil, se nos faz trabalhar menos, e aqui se tem
tantas frutas, o que permite desfrutá-las o ano inteiro, sem muito esforço. De resto, vejo que os países podem se organizar sob círculos virtuosos ou círculos viciosos, e a qualidade dos círculos depende da qualidade dos cidadãos; onde se tem mais virtude, há menos violência e menos custos para se viver, onde se tem mais vício, há mais violência e o custo social é maior. O brasileiro se estrutura através de círculos viciosos, que datam do tempo colonial, com clientelismos, paternalismos, cumplicidade e troca de favores, onde as relações pessoais são mais importantes que as competências individuais, e o bem público uma apropriação privada dos setores sociais mais fortes da sociedade brasileira; a repartição de honras e punições atendem critérios de relacionamentos, e quanto mais distanciado estiver dos portadores desse poder, tanto mais distante estará da honra e mais próximo estará da punição. Naturalmente, para os cidadãos comuns, como eu e a grande maioria, que nada fazemos e assim nada podemos para alterar os vícios que sustentam a sobrevivência viciosa dos brasileiros, que passamos despercebidos das autoridades e da imprensa, e temos uma vida normal, ou seja, sem glória ou fama, podemos levar uma vida bem razoável no Brasil, afinal há pessoas divertidas, há muita coisa para ser vista, criamos relações que nos sustentam num mar de barbárie social, pois aqui se mata mais por menos, e a vida é uma banalidade que assistimos esvair nos telejornais diários. Dizem os mitos que a câmera inibe a criminalidade, entretanto, desde que se tornaram usuais, só tenho assistido a roubos e mortes, sem observar nenhuma diminuição, pelo contrário, assisto alarmado a sua ampliação e amplidão. Eu mesmo já sofri várias tentativas de roubo, e só não fui roubado porque nada tinha (ou tenho) para ser roubado, pois praticamente só tenho o que trago dentro de mim, algumas ideias, várias emoções, alguns parcos conhecimentos e uma tênue vontade de continuar vivo, e nem sei direito por que. Talvez, porque eu mesmo ainda não tenha feito uma grande cagada e apenas cagado aqui ou ali moderadamente, como a grande maioria, que se não traz grande contribuição para a vida pública, também não promove enormes disparates públicos.
Poderiam legitimamente perguntar se não haveria pessoas que escapam desse diagnóstico, ou até mesmo se eu estaria imune a essa mediocridade brasileira que descrevo. Creio que sim, aliás, eu me considero quase imune à barbárie local, conseguindo conviver razoavelmente de forma pacífica nesse mar de mesquinharias e violências; além disso, conheço gente sábia e justa por aqui. Todavia, somos tão poucos e a sabedoria é tão difícil de ser absorvida pelos locais, assim como o bom senso tão escasso, e a disposição para agir assim como a coragem para a ação tão raras, que suas existências passam despercebidas, quando não são tidos por tolos quem possui tais qualidades; é que num universo de ignorância generalizada, independente da classe social, a sabedoria dificilmente é reconhecida, e o sabido reina soberano sobre os vulgos. E a merda nem é tanto não saber, mas antes a forte aversão a saber. Eu que não espero grande coisa do futuro, visto que o passado é medíocre e o presente igualmente, aguardo apenas o passar dos dias para assistir antigas cenas se repetir e, dentro das minhas limitações, sofrer o menos possível com a barbárie dos demais e tomando cuidado para não pisar na merda que vejo espalhada por toda parte.
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
Sobrevoo Filosófico
Todo filósofo que leio, aprendo inúmeras coisas
e agradeço a ginástica intelectual que me causam com suas ideias. Verdade que
não concordo muito com elas, mas isso pouco importa, na medida em que não os
procuro para ensinar, porém para pacientemente aprender coisas que não havia
pensado ou outras formas de pensar a mesma coisa; não para pensar como eles,
mas para ver que há sempre mais coisas para se pensar ou outras formas de
pensar. Sob certo aspecto todos estão certos, já que escolhem o objeto, o
método e os conceitos com os quais descrevem uma realidade, que se não estava
oculta, também não existiria sem que eles a enunciasse. Gosto até mesmo do tom
de condutores de homens que muitos ostentam, ainda que seja completamente
contra que se conduzam os homens: as pessoas não sabem nem se conduzir, querer
ousar dirigir os demais me parece de extrema petulância. Por exemplo, Platão,
há filósofo que mais queira nos conduzir no caminho da verdade, da virtude, do
certo, do bom e do belo do que ele, e, no entanto, não se privaria de usar da
mentira, do vício, dos subterfúgios para impor suas máximas, nem de impor uma
tirania ou despotismo para se chegar à cidade ideal: parece que mesmo o bem
precisa de algum mal para se concretizar. Não! Nunca espero perfeição dos
filósofos, pois me contento apenas com alguma inteligência. Há aqueles leigos
que acusam a filosofia de só levantar ou inventar problemas, mas pouco
contribuir para solucionar, quando não complica ainda mais o que aparentemente poderia
ser tratado de forma mais simples. Que haja algum fundo de verdade, se visto de
forma parcial ou sob a ótica de algum autor particular, na realidade o filósofo
surge para tentar interceder naquilo que está problemático, seja do ponto de
vista do conhecimento e sua logicidade, seja do ponto de vista da vida pública,
da política aos costumes. Sei que sou tributário a vários deles, que capturei
alguma sabedoria aqui, alguma sagacidade mais prá lá, algum conhecimento acolá,
até mesmo alguma retórica e forma de argumentar, que mamei, ruminei e despertei
com alguns, porém o que mais aprendi com eles foi pensar por conta própria. Todavia,
todos parecem indicar que a saída é tomar as rédeas do destino nas mãos, não se
ajoelhar diante do forte, nem fazer os demais ajoelhar, que a virtude, a
verdade, o justo, o razoável advém tão somente do próprio aprimoramento, mesmo
que a conjuntura ou a época pareçam impedir, e que a qualidade fundamental que
se tem que adquirir é a coragem para se portar como um homem diante de crianças
assustadas com suas superstições, medos e ignorâncias, ou pior, irritadas com a
impotência de resolver suas dificuldades. Não sou como alguns que pensam que os
filósofos ou a filosofia são fundamentais para a formação das pessoas, visto
que muitos sobrevivem muito bem sem eles, até mesmo desconhecendo-os,
entretanto, acredito que conhecê-los torna a todos mais humanos; é parte integrante
da cultura universal, do que atualmente entendemos por homem ou mesmo
humanidade, para não mencionar a liberdade – temática que os filósofos perseguem
desde os primórdios, que nos prima para agir e dizer como nos autodeterminarmos,
e que dá a cada um a sua originalidade ou singularidade, e que construiu a
nossa história, faz o presente que, invariavelmente, pelo menos até o momento,
realiza um futuro. Aconselho a todos algum aprofundamento filosófico, pois que
se a filosofia não tem um poder curativo sobre os problemas humanos, mesmo
porque não há nem ao menos um consenso de quais sejam, ou mesmo se há problemas,
ela é uma forma de refletir sobre os mesmos e pode assim potencializar a
participação de cada um de nós na busca de uma vida menos tola. Além disso,
alguma cultura sempre aumenta a nossa sensibilidade, torna as pessoas mais
compreensivas e tolerantes, até mesmo mais agradáveis no conversar, senão por
outro motivo, por que aumenta o estoque de conversa à toa que se tem que ter
nos encontros sociais.
terça-feira, 9 de outubro de 2012
Vida intestina
Que a vida é algo intestinal, ninguém com alguma
inteligência e sensibilidade poderá negar. Sem dúvida, é algo evacuante, expelindo
excremento para todo lado e em quase todos eventos e acontecimentos. Os pobres
indivíduos, em sua labuta diária na busca da satisfação, tudo fazendo de melhor
para pelo menos conseguir um mínimo, e, sem aviso (mas mesmo avisando é a mesma
merda), vem a roda diária dos eventos jogando bosta em todo esforço,
razoavelmente honesto, até que desgostoso, brada: que merda! Desesperar, que de
pouco adianta, é o que mais se vê, faz ou sente. Gritar, blasfemar ou mesmo
xingar, que possa aliviar a dor momentaneamente, é também de pouca serventia
para limpar a sujeira da bosta alheia, visto que a bosta própria é sempre pouco
vista, e, portanto, sentida, e mais remotamente ainda admitida, e quase nunca
limpa. Ora, temos que admitir que o grande problema do mundo são as soluções
que se encontra para resolver os problemas; na maior parte das vezes, causam um
problema maior, ou transferem para outros ou outras épocas: com certeza, o
futuro pagará o preço das soluções adiadas no presente e no passado. Seria redundante
dizer que ao invés de procurar problemas, e, portanto, soluções, não dever-se-ia
evitá-los? Eu, que não tenho filhos, muito menos tendo netos, preocupo-me com
esse tempo, não tão distante, onde talvez assista na decrepitude a decrepitude
do mundo. É óbvio, acostumado e educado na fedentina da vida, não sofrerei
tanto como os otimistas, os esperançosos, os idealistas ou mesmo supostos
realistas com as cagadas humanas, mas ainda sim, tomado de certa vergonha de
pertencer à humanidade, assistirei com dignidade a dor de todos afogando-se na
sujeira diária das embalagens das coisas que compraram, ou escorregando nas
merdas espalhadas pelas ruas e avenidas. Não teria algum tipo de pena ou
compaixão pelas dores dessa existência intestinal? De forma alguma, quanto mais
vejo as desgraças, mais acho que as pessoas as merecem, não porque considere a
punição necessária para se obter algum aprendizado, no que me diz respeito, a
humanidade não aprende nem com castigos, mas estando presente nos eventos, é
parte do resultado e do processo. Mas, e as crianças, não pensa em salvá-las? Para
que? Para uma vida ingrata, para uma morte futura talvez bem mais infeliz? Num mundo
como o nosso, crianças deveriam ser evitadas. Com isso dito, até pode parecer
que seja um pessimista, o que longe está da verdade, visto que não acho nem
mesmo a morte um mal, e nem que a desgraça humana seja uma catástrofe para a
vida, que, aliás, poderá ter muito mais paz depois de nossa partida. É de se
perguntar, o intestino da vida é solto ou preso? Creio que ambas coisas
acontecem, mas não ao mesmo tempo, pois tem horas que vejo a humanidade
escorregando e patinando em substâncias pastosas no mundo das ideias, outras vezes vejo-a obrando
com esforço e dificuldade, quando não poucas vezes causando até hemorroidas, para conquistas pequenas como o alívio. Mas,
o que esperar de um bosta, num mundo onde não há espaço para heróis, coragem,
honra ou até honestidade, um mundo feito para cagões? Nada, senão mais
merda........
Observações intempestivas
A condição
do homem na história é daquele que procura a verdade, não daquele que a
encontrou. O encontro da verdade, se algum dia ocorreu, foi sempre temporário, e na
maior parte das vezes traz tristezas, quando não mais dúvidas, pois o que se
descobre ou se inventa é algo que liquida mais com as autoridades das verdades passadas,
do que inspira confiança nas novas verdades. Há aqueles que acreditam no
progresso humano, que se está mais próximo da verdade que os antigos, que cada
vez mais o conhecimento desvela o desconhecido, o que para mim parece tolo,
pois se toma o mais como se fosse o melhor. Sendo que o que se sabe pode ser
falso ou mesmo mentiroso, saber mais pode significar saber mais coisas erradas,
ou se enganar ainda mais do que os antigos. No entanto, a rigor, foram as
dúvidas que mais fizeram avançar o conhecimento no rumo do desconhecido; as
verdades, de forma geral, só sobrevivem com a estagnação da curiosidade e com a
implantação de ortodoxias e protocolos. A busca da verdade, no geral, foi
sempre uma grande mentira, pois poucos apreciam a verdade, ou gostam de ouvi-la
a seu respeito. O que se busca antes é a aceitação e a boa apreciação alheia. É
que na verdade a verdade é uma mercadoria escassa e pouco conhecida, e se
compra muita porcaria pensando se tratar de joia rara. Naturalmente que tenho
algumas verdades, muitas delas pouco honestas, mas uso-as com muito
comedimento, pois que de forma geral a mentira é sempre mais útil e necessária.
De resto, acredito em poucas coisas, por exemplo, na existência dos
excrementos, no mais duvido das certezas fáceis e confortáveis, e de qualquer
verdade que surja pela decisão de alguma maioria. De minha parte, posso
garantir, continuo sendo daqueles que torcem para que as verdades de alguns não
matem as verdades dos outros, que haja quantas verdades forem as pessoas, desde
que não briguem ou se matem por elas, e que a mentira e a falsidade sejam
postas no seu devido lugar, como ações mais praticadas que a honestidade, visto
que a verdade, se existe, de todos é desconhecida e ainda se procura.
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
um homem só ou só um homem
Sem dúvida,
por ser um celibatário, nem sempre tenho a possibilidade de me relacionar com
mulheres, pois estas ambicionam, sempre e invariavelmente, o casamento, o que
sabem que não obterão comigo. Naturalmente, um celibatário não necessariamente
é um assexuado como usualmente se pensa, apenas é alguém que se recusa a
contrair o matrimônio. No meu caso, não acho saudável, além de considerar uma
instituição cultural arcaica. De um lado, as mulheres educadas para buscar um
macho provedor, hoje já se contentam de só encontrarem um macho, ainda que
parasita. Enquanto eu, que mal consigo ser um homem, não ousaria ser um macho,
pois ainda que considere o homem um animal, e não dos melhores, creio que não deva
nem ser um animal selvagem, muito menos um animal doméstico, mas um animal livre a
perambular na busca dos interesses que se autoinstituiu, e não acho digno
disputar mulheres e territórios como um bicho qualquer: acredito que o homem
tem mais o que fazer com seus neurônios do que ficar em brigas de hormônios. Por
outro lado, considero o amor um sentimento inatingível depois de se ter algum
tipo de compreensão mais refinada, obtida visitando filósofos, antropólogos,
psicólogos, artistas e observando a história da humanidade, repleta de maus
exemplos. De todos os sentimentos, o amor, sem dúvida, é o mais intestinal,
onde mais se faz cagadas, onde mais se toma no cu. Que haja aqueles que
defendam ou mesmo acreditam que é um sentimento nobre, eterno ou que haja
virtude nele, não me espanta, o que me espanta é como as pessoas ainda caem
nessa ingenuidade e simplismo dos sentimentos humanos, imaginando abnegação
onde há exclusão, quando não mera possessividade.
Parece óbvio
que, com esse tipo de opinião, tenho servido apenas às mulheres carentes, para
não dizer desesperadas, muitas com intuito vingativo, que não considero justo,
mas é humano, sabedoras da minha prática do sexo casual, o que muitas vezes
acaba no bem pouco eventual. Verdade que já ocorreu de algumas mulheres se
apaixonarem por mim, de ser cobiçado, mas logo se dão conta da luta inútil que
seria tentar me distanciar dos meus princípios filosóficos, da minha busca
incessante da verdade e do certo, e do meu horror intestinal ao casamento e a família,
uma doença a ser superada. Verdade também que nunca fui um grande amante para
que se insistisse tanto para comigo ficar; se virtudes tenho, estas não se
encontram nesse campo tão complexo e minucioso, ainda que também não tenha
vícios, encontrando-me no campo dos moderados. Todavia, de forma alguma espero
que as pessoas concordem comigo, conto antes e sempre com a tolerância dos demais.De resto, quando carente estou de práticas sexuais, não me furto à prática masturbatória, este eterno recurso para a nossa autonomia; além de um anticoncepcional excelente e seguro, não se transmite doenças sexuais e revela sinal de independência e maturidade, o que permite a muitos que saiam à rua sem ser em busca de saias ou calças, e apenas para tirá-las. Creio que muito da minha autossuficiência se deve a essa prática milenar, que não poucos filósofos, se não defenderam, praticaram. A verdade é que a filosofia tem alguma coisa de masturbatória.....
terça-feira, 25 de setembro de 2012
O retorno
Fiquei
afastado de tudo e de todos nos últimos tempos. Tinha o que pensar. Sai por aí
a viajar. Fui ver o mar e a montanha, o campo e as cidades. Nem é preciso que
se diga que a tristeza e a alegria é a mesma em toda parte, assim como as bostas,
muito comum quando se trata do humano. Sei que falta não fiz, pois não pediram
que retornasse aos meus escritos excremetais, muito menos sentiram minha
ausência. Meus poucos leitores ou leitoras já cansados do meu repugnante humor,
creio, ficaram aliviados com o meu aparente sumiço; pelo menos, das minhas
merdas estavam livres, ainda que a merda da vida não se livre, a não ser se
morrerem, o que seria outra merda. Enfim, constatado que falta não faço, que
não há leitores para os meus escritos, mais convicções tenho para continuar a
escrever e atuar no espaço da internet, esse lugar que cabe todos e não
pertence a ninguém, pois o que evacuo não ocupa mais que um mínimo espaço na
memória de um computador. Aliviado estou por não precisar mais derrubar árvores
para escrever minhas bostas, e com a consciência tranquila porque não tiro o
sono dos leitores ou leitoras, que a rigor, não tenho, mas que se tiver, não terá
que pagar merda alguma para ler meus urânicos excrementos.
Quanto à minha viagem, foi de estudo,
autofinanciada à base de favores e amizades que permitiram ir por aí, em busca
de novos saberes e novos contatos. Descobri pouca coisa ou mesmo nada. Tudo é
muito igual por toda parte, as mesmas músicas, as mesmas vestes, os mesmos
pratos, e os passeios também são bastante semelhantes. Vi festas de batizados
que mais pareciam de casamento, e vi festas de casamentos que exalavam tristeza;
vi velórios alegres e nascimentos trágicos. De fato, não conheci ninguém
suficientemente sério para depositar alguma credibilidade, ainda que tenha
visto inúmeras pessoas simpáticas. De tudo, o que mais me chamou a atenção, é
que há tão pouca coisa que me chame à atenção no que as pessoas fazem ou
pensam. Todavia, tenho que admitir, arejei as vistas e a mente, e agora tenho
ânimo redobrado para a minha evacuante tarefa de expor os odores fétidos da
convivência humana desarmônica. E é fácil perceber que o que temos de mais
fedido no momento são as eleições municipais, pois um candidato é um bosta, o
outro uma merda, aquele outro um excremento, este outro um coco, e há ainda o
mais refinado que é uma fezes. Enfim, o melhor não presta, visto que o melhor,
no caso, é o que faz o pior.
domingo, 26 de agosto de 2012
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
Breves palavras a respeito das mulheres
A mulher,
todos sabem, além de não serem econômicas em seus comentários, nem se
caracterizarem pela brevidade, é inferior ao homem, mesmo o homem não sendo
superior a nada, muito menos a mulher. Verdade que nenhum dos dois vale grande
coisa e que isso possa ser considerado ofensivo, quando é apenas realístico. A inferioridade
é uma condição histórica, cultural, para não falar na mais evidente, a condição
econômica. Mas, se enganam aqueles que consideram que com isso a mulher perde
para o homem; de fato, os dois são perdedores e estão perdidos. Se colocar em
inferioridade faz com que a mulher receba o benefício do exercício do apelo à
piedade, coisa que o homem não pode exercer sem que sua masculinidade seja
colocada em dúvida, pois que se espera de um “suposto” superior que arque com a
custa e as penas de terem que carregar o ônus da existência. Além disso, a
mulher, como qualquer sobrevivente, aprimora suas armas e defesas: a sedução, a
submissão (mais encenada que concretizada) e a conquista. Evidentemente que
isso assim se torna porque a própria linguagem humana acaba privilegiando um em
detrimento do outro, visto que foi elaborada principalmente no universo
masculino, ainda que a mulher fale mais. Ora, por que somos humanos e não
mulheranos? Por que queremos o humanismo e não o mulherismo? E a luta pela
igualdade é a mais descarada submissão ao universo masculino, afinal de contas,
por que ser igual ao medíocre homem, sem dúvida, um bosta? Se for lutar por
alguma coisa, as mulheres deveriam lutar por serem superiores, o que não
exigiria grande esforço devido à rasura masculina. Entretanto, se certo houver,
deveria querer ser diferente, sem luta ou competição. Por fim, mas não menos
importante, as mulheres tem um custo social maior que o masculino, afinal de
contas, há os absorventes, os sutiãs e toda infinidade da parafernália
feminina, inventadas para se escravizarem aos cremes de beleza e operações
plásticas, além de infinidade de roupas e sapatos, para não falar do shampoo,
perfumes e adereços. Ainda que vários homens tenham aderido a alguns hábitos
femininos, da depilação às operações plásticas, mesmo assim, parece pouco
provável vê-los por horas num secador de cabelo (fritadores de cérebros), ou
tanto quanto ficam diante da TV vendo ridículos jogos de futebol. Enfim, homens
e mulheres que não se entendem e brigam até por um pires quebrado, se ajeitam,
cada um, sempre que possível, trepado no ombro do outro. Com isso dito, pode
parecer que esteja acima de todos, o que não é verdade, só não estou abaixo,
nem no mesmo nível, apenas que não tenho nível, nem devo ser nivelado. O fato é
que quanto mais conheço mulheres e homens, mais aprecio os vegetais.
Cobiçar ou não cobiçar, eis a bosta!
Cobiçam as planícies e as montanhas, as veredas
e os vales, os desertos e os pântanos, os rios e os oceanos, o solo e o
subsolo, a água, o ar e a terra, até mesmos nossos sonhos e nossas
expectativas. Cobiçam pessoas e coisas, gente e animal, além do vegetal e do
mineral. Cobiçam o presente e o futuro, os vícios e as virtudes, as verdades e
as falsidades, nossos pensamentos e sentimentos, nossos desejos e nosso
desejar. Cobiçam a mulher ou o homem do próximo e do distante. Cobiçam tudo e
todos. Enquanto eu cobiço não cobiçar, além de cagar para quase tudo que os
homens desejam. De resto, a famigerada frustração de não obter o que se cobiça,
e, é claro, a merda das cobiças se digladiando pelos mesmos objetos e coisas, que pode até serem pessoas.
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