Aqui se evacuam idéias e comentários sobre a porcaria humana
quinta-feira, 5 de abril de 2012
Fatalidade de existir
Como indivíduo não elegi a merda desse mundo; viver é encontrar-se em um mundo determinado e insubstituível, neste de agora. Mas esta fatalidade vital não se parece a alguma mecânica histórica ou natural. A fatalidade em que caí ao despencar nesta merda toda, consiste em vez de impor-se uma trajetória, impõem-se várias, todas e nenhuma, e consequentemente, sou forçado a eleger. Viver é sentir-se fatalmente forçado a exercitar a liberdade, a decidir o que vamos ser neste mundo. Nem um só instante se deixa descansar nossa atividade de decisão, inclusive quando desesperados nos abandonamos ao que vier, decidimos não decidir. Ocorre hoje uma estranha dualidade de prepotência e insegurança que se aninha na alma contemporânea: a vida, como repertório de possibilidades, é magnífica, exuberante, superior a todas as historicamente conhecidas. Mas, assim como seu repertório é maior, transbordou todos os caminhos, princípios, normas e ideais legados pela tradição. Temos de inventar nosso próprio destino: o passado não pode dar uma orientação positiva, só negativa; não diz o que fazer, pode no máximo apontar o que evitar. Resta saber se diante dessa crise de valores não encontrarão apenas o que tem preço, sem perceberem o que é valor ou dignidade. Num mundo onde desapareceu o herói, todas babam por celebridades, enquanto eu me cago para tudo.
quarta-feira, 28 de março de 2012
A verdade é para poucos
A verdade é pouco democrática, via de regra, é coisa de especialistas e pouco acessível a grande maioria. Na maior parte das vezes, quando exposta ao grande público, não a entendem, ou pensam que é falsa ou mentirosa, pois mais que apontar a grandiosidade das coisas, revela a simplicidade de tudo. Retira a mágica e a fantasia, e coloca a realidade nua e crua, mais sanguinolenta que espiritual, mais prosaica do que fantástica, mais corpórea do que transcendente, mais rotineira que revolucionária. Ora, a verdade está no melhor argumento que convence, não a todos, pois que isso seria impossível, mas aqueles poucos que importam e determinam o andar dos acontecimentos; é construída no debate constante do seu estatuto, que está sempre em risco devido a novas descobertas ou invenções. E, no entanto, aqueles que ousam mostrar novas verdades são sempre considerados pervertidos, pois o novo parecerá sempre degenerado para velhos hábitos mentais, que não querem largar suas crenças, eis porque só os corajosos conseguiram enunciá-las do decorrer da história. Já a mentira e a falsidade são bem mais abrangentes, convincentes e até mesmo aceitáveis, na medida em que quase todos nascem e crescem dentro das verdades antigas, muitas falsas e ignorando as mudanças que ocorreram e estão ocorrendo. E ainda que se possa superar as ideias falsas conhecendo-se as verdadeiras, já as mentiras são inevitáveis e parecem fazer parte do cotidiano, visto que a honestidade é quase sempre insuportável, mais para aquele que ouve do que para aquele que enuncia, e como não se quer ouvir, também não se fala. O grande dilema da verdade é que, quando ela se torna popular, é quando se acende o alerta de que ela deve ser falsa, pois a aceitação de uma maioria não dá mais certeza à verdade, e quando todos começam a discuti-la, abre-se a brecha que novas ideias surjam, num primeiro momento inaceitáveis, para logo depois se tornarem algo óbvio. Foi sempre assim, alguns poucos enunciam uma nova verdade para só muito depois serem debatidas e mais tempo depois aceitas. Eis porque a verdade muitas vezes é solitária, quando não é enquadrada como imoral, anormal e perversora. De minha parte, quando muito me contento com as minhas poucas verdades, enquanto aprecio o digladiar de todos pela sua posse, pelo que, quando preciso for (ou assim acharem), mentirão para que dela não se afastem, pois em nome da verdade inúmeras mentiras e falsidades foram cometidas pela estúpida humanidade.
domingo, 25 de março de 2012
Desconfie
Não, não confie num olhar, num beijo, numa frase, numa notícia, num livro, numa pessoa. Não confie em ninguém, muito menos em mim ou no que digo. Investigue antes tudo que lhe chega, principalmente, aquilo que pareça para o bem ou desinteressado. Mas, desconfie sem maldade, como aquele que sabe que todos erram, mesmo acertando muitas vezes; como aquele que não quer tanto buscar os equívocos dos demais, mas antes uma verdade própria, isenta de preconceitos que não sejam os próprios, já que desses não nos livramos. Pense que as pessoas antes de quererem nosso bem, querem o próprio, e estranho seria ser diferente. Veja que santos foram poucos e eu cá comigo, não ponho a mão no fogo por nenhum deles. A verdade é que só contamos conosco mesmos, e na hora certa ou mesma nas incertas, seremos nós quem dormiremos o sono dos justos ou dos injustos. Se há alguém em quem possa confiar, parabéns, mas confie com suspeitas, não porque não mereça confiança essa pessoa ou pessoas, mas porque mesmo aqueles em quem muito confiamos também erram. Foram as nossas desconfianças que nos fizeram avançar no conhecimento, nos costumes, na cultura. Verdade que esse avanço não está isento de muita estupidez, que os conhecimentos podem nos matar, que os costumes podem se deteriorar e que a cultura pode ficar tola, eis porque mesmo o sucesso pode ao fim se tornar um fracasso, caso não se calibre a percepção adequadamente. Que o mundo melhore é um fato, mas isso não impede que algum alucinado faça coisas que o levem ao fim, porque alguns se acham no direito de determinar a todos o certo, o justo, o verdadeiro, e se têm ou não o direito de permanecerem vivos. E ainda que não seja um desconfiado, confio muito pouco em muitos poucos, e dos demais, quando preciso, vejo se é possível confiar. Entre a confiança e a desconfiança há uma variedade imensa de possibilidades, e no geral, se não desconfio, também não acho que mereçam minha confiança, pois normalmente estou mais preocupado em sobreviver nesse mundo um tanto caótico, do que em me preocupar se devo ou não confiar. Manda a constituição que se acredite que todos são inocentes até que se prove o contrário, entretanto, a prudência nos recomenda que ainda que a presunção de inocência seja plenamente válida num tribunal, é contraproducente no cotidiano.
Outra confissão
Falo para poucos devido à densidade pastosa do que digo. Muitos perguntam por que não ampliar o público, falando de forma mais moderada ou elegante, ou ainda de outras coisas. Ora, não sou artista, simplesmente, para mim, não há como tornar belo o feio, alegre o triste, ou rico o pobre. Se merda fede ou ofende que culpa tenho, visto que apenas aponto a sua ocorrência..... Que culpa tenha se o ódio e o rancor, assim como a inveja, estão mais presentes no dia a dia que o amor ou amizade? E que me perdoem os fracos, os feios, os oprimidos, os pobres, os excluídos, mas desses quero distância. Não por ser forte, belo, opressor, rico ou incluído, simplesmente, por não suportar as lamúrias da inveja. O fato é que não me incluo facilmente nos adjetivos; dizem alguns que sou um substantivo que dispensa qualitativos. E ainda que não seja uma coisa em si, também não sou uma coisa para os outros, sou apenas um homem que não tem qualidades negociáveis no mercado de qualificação usual, visto que meu negócio é o ócio. Minha virtude difícil de ser vista é a honestidade, que por ser cruel, visto que a verdade é tão pouco apreciada, me faz parecer por vezes um monstro, quando estou apenas enunciando as monstruosidades cotidianas que passam despercebidas, principalmente em pequenos gestos ou opiniões aparentemente inocentes. E como muitas vezes desmascaro aquilo que parece tão virtuoso como um vício de uma consciência estreita, via de regra passo como um chato, tirando o encanto daqueles que parecem querer salvar o mundo, quando o mundo não quer ou precisa ser salvo, senão dos seus salvadores. Se há alguma coisa errada nessa vida não é o mundo, mas antes as pessoas que não sabem se portar diante da riqueza natural sem inveja ou cobiça; não querem o fruto, mas a árvore; não querem a água, mas o rio ou os oceanos. Eu que pouco tenho e menos ainda quero, passo como uma excrescência diante de tantas ambições salientes; minha única ambição é não tê-las, e meu estado marginal de ser é prova de que tenho tido êxito em ser alguém com pouco ou nenhum passado, sem futuro, sendo apenas um ser presente, do presente, sem a ambição de ultrapassar o dia de hoje, o que ocorre (ou deixará de ocorrer) independente da minha vontade ou ambição.
quinta-feira, 22 de março de 2012
Da série pensamentos evacuados
1) Verdades não nos faltam, ainda que se viva grandes mentiras. O que falta é coragem para enunciá-las.
2) O que de mais honesto avisto é a falsidade de tantos, e o que mais aprecio é a depreciação de todos; todos somos igualmente descartáveis!
3) Entre estar morto e morrer prefiro o último, pelo menos, antes de sua ocorrência, posso continuar falando da merda da vida.
2) O que de mais honesto avisto é a falsidade de tantos, e o que mais aprecio é a depreciação de todos; todos somos igualmente descartáveis!
3) Entre estar morto e morrer prefiro o último, pelo menos, antes de sua ocorrência, posso continuar falando da merda da vida.
quarta-feira, 14 de março de 2012
Das férias à crua realidade
Tantos me perguntaram onde estive, por que de minha ausência durante longo tempo. Ora, tirei férias. E me perguntarão: férias? Por que um desocupado, que não trabalha, precisa de férias, e o que é pior, não tendo recursos financeiros, como a desfruta? Todos têm direito às férias, é um direito pétreo, como a preguiça. Creio que me incluo entre todos, ainda que seja bem particular. Não que precise descansar ou mesmo aliviar a tensão da labuta diária, visto que pouco faço, mas mesmo ficar sem fazer nada por vezes é exaustivo e o respiro de novos ares, se não fazem bem ao pulmão, distraem a mente, e é isso que é importante. Afastar-se dos livros, do computador, dos afazeres domésticos é algo necessário para perceber que mesmo as coisas supostamente fundamentais podem ser descartadas, e vive-se bem fazendo menos coisas ainda que se faz cotidianamente.
Convidado por um casal amigo, comecei as férias acompanhando eles e seus filhos nas suas férias de verão, em sua casa de praia. De pouco valeu alertar, antes da partida, que praia, como desejavam, com sol, no verão, só existe em propaganda de cerveja. O normal é chover, por vezes, por dias seguidos, como de fato ocorreu. Aliás, graças a essa observação, lembraram de pegar o baralho e outros jogos, que foi importante para matar o tempo. Acordavam toda manhã e avistavam o nublado do tempo, depois a garoa e a chuva forte, e quando não estavam jogando, sentavam no sofá para assistir a TV, onde viam as enchentes a derrubar casas e arrasar rodovias país afora, e, de certa forma, os deixavam mais conformados; se não estavam pegando sol, não estavam sendo carregados pelas chuvas. Para mim o clima estava ótimo. Saia a caminhar na garoa pela praia, onde outros poucos estavam a caminhar ou correr, tinha até gente jogando bola, alguns corajosos brincavam no mar.
Dez dias ininterruptos de chuva e voltaram para sua morada na cidade. Mal pus os pés em casa, afamado que sou por pouco ter o que fazer e estar sempre disponível para novas aventuras, fui procurado por uma amiga para acompanhá-la nas terras dos seus pais, que estavam isoladas devido as enchentes que ocorriam na região. Sabe que além de bom nadador, sou um bom remador. Foi certamente uma aventura antropológica interessante, ver o desespero estampado no rosto dos atingidos, que nada tinham e perderam tudo. Arrumamos um pequeno bote a preço de ouro e fomos remando até a casa dos seus pais, isolados no seu sítio. Depois de algum esforço, lá chegamos, mas seus pais não queriam sair de sua casa, na verdade, nem queriam ser salvos, nem se achavam ameaçados, visto que a casa ficava longe do rio; só queriam suprimentos, pois a ponte que ligava a área rural à cidade havia sido levada pela enxurrada. Enfim, após muito bate boca entre minha amiga e seus pais, acabamos tendo que remar de volta, ir à cidade comprar suprimentos e voltar novamente para entregá-los. Sem dúvida, foi um verão bem esportivo, esportes náuticos, graças a boa natureza que sempre castiga algumas áreas com sua fúria, visto que durante as 2 semanas que lá estive, não foram poucas as vezes que tive de atravessar o rio para ir até a cidade atrás de alimentos. Só ao fim da estadia consertaram a ponte.
Na região, muitos falavam mal das autoridades que não percebiam que todo verão ocorriam sempre as mesmas tragédias, por não terem tomado as providências antecipadas, quando eles mesmos incorriam no mesmo erro, sempre construindo casas em locais onde alaga todos os anos. Na verdade, ninguém quer ver sua parte na tragédia pessoal e nacional, e buscam culpados para infelicidades que todos são responsáveis. A verdade é que ninguém se importa como os demais moram, e as pessoas escolhem suas moradas ainda que saibam dos riscos de lá morarem. Para onde olho, vejo pessoas morando em área de risco, e nem quem lá mora, nem quem por lá passa, nem as autoridades sabem o que fazer. A tragédia só não é maior porque muitos têm sorte, se é que podemos usar esse termo para quem perdeu tudo, quando não seus entes queridos, e mora agora numa sala de aula de uma escola que é usada como abrigo.
Todavia, como fiquei ausente, meu sumiço gerou a curiosidade de bandidos que foram roubar minha casa. Após arrebentarem a porta do fundo inutilmente, uma vez que a porta de frente está com a fechadura quebrada há anos, e só fecho a porta sem trancá-la, constataram que nada havia para ser roubado. Reviraram minhas poucas coisas a procura de algo de valor, sem verem o valor das coisas, e nada encontraram para levarem. Por fim deixaram um bilhete malcriado, dizendo que nunca tinham entrado numa casa onde não tivesse ao menos um par de sapatos para levarem, ou alguma bebida, ou mesmo um pacote de bolacha. Na minha só tinha lixo e coisa usada. Muito ofensiva esta observação, afinal de contas, se uma faca velha é lixo para quem tem muitas novas, para quem não tem nenhuma, é um luxo. E ainda xingaram minha pobre mãe por ter posto um bosta no mundo que não serve nem para ser roubado.
Convidado por um casal amigo, comecei as férias acompanhando eles e seus filhos nas suas férias de verão, em sua casa de praia. De pouco valeu alertar, antes da partida, que praia, como desejavam, com sol, no verão, só existe em propaganda de cerveja. O normal é chover, por vezes, por dias seguidos, como de fato ocorreu. Aliás, graças a essa observação, lembraram de pegar o baralho e outros jogos, que foi importante para matar o tempo. Acordavam toda manhã e avistavam o nublado do tempo, depois a garoa e a chuva forte, e quando não estavam jogando, sentavam no sofá para assistir a TV, onde viam as enchentes a derrubar casas e arrasar rodovias país afora, e, de certa forma, os deixavam mais conformados; se não estavam pegando sol, não estavam sendo carregados pelas chuvas. Para mim o clima estava ótimo. Saia a caminhar na garoa pela praia, onde outros poucos estavam a caminhar ou correr, tinha até gente jogando bola, alguns corajosos brincavam no mar.
Dez dias ininterruptos de chuva e voltaram para sua morada na cidade. Mal pus os pés em casa, afamado que sou por pouco ter o que fazer e estar sempre disponível para novas aventuras, fui procurado por uma amiga para acompanhá-la nas terras dos seus pais, que estavam isoladas devido as enchentes que ocorriam na região. Sabe que além de bom nadador, sou um bom remador. Foi certamente uma aventura antropológica interessante, ver o desespero estampado no rosto dos atingidos, que nada tinham e perderam tudo. Arrumamos um pequeno bote a preço de ouro e fomos remando até a casa dos seus pais, isolados no seu sítio. Depois de algum esforço, lá chegamos, mas seus pais não queriam sair de sua casa, na verdade, nem queriam ser salvos, nem se achavam ameaçados, visto que a casa ficava longe do rio; só queriam suprimentos, pois a ponte que ligava a área rural à cidade havia sido levada pela enxurrada. Enfim, após muito bate boca entre minha amiga e seus pais, acabamos tendo que remar de volta, ir à cidade comprar suprimentos e voltar novamente para entregá-los. Sem dúvida, foi um verão bem esportivo, esportes náuticos, graças a boa natureza que sempre castiga algumas áreas com sua fúria, visto que durante as 2 semanas que lá estive, não foram poucas as vezes que tive de atravessar o rio para ir até a cidade atrás de alimentos. Só ao fim da estadia consertaram a ponte.
Na região, muitos falavam mal das autoridades que não percebiam que todo verão ocorriam sempre as mesmas tragédias, por não terem tomado as providências antecipadas, quando eles mesmos incorriam no mesmo erro, sempre construindo casas em locais onde alaga todos os anos. Na verdade, ninguém quer ver sua parte na tragédia pessoal e nacional, e buscam culpados para infelicidades que todos são responsáveis. A verdade é que ninguém se importa como os demais moram, e as pessoas escolhem suas moradas ainda que saibam dos riscos de lá morarem. Para onde olho, vejo pessoas morando em área de risco, e nem quem lá mora, nem quem por lá passa, nem as autoridades sabem o que fazer. A tragédia só não é maior porque muitos têm sorte, se é que podemos usar esse termo para quem perdeu tudo, quando não seus entes queridos, e mora agora numa sala de aula de uma escola que é usada como abrigo.
Todavia, como fiquei ausente, meu sumiço gerou a curiosidade de bandidos que foram roubar minha casa. Após arrebentarem a porta do fundo inutilmente, uma vez que a porta de frente está com a fechadura quebrada há anos, e só fecho a porta sem trancá-la, constataram que nada havia para ser roubado. Reviraram minhas poucas coisas a procura de algo de valor, sem verem o valor das coisas, e nada encontraram para levarem. Por fim deixaram um bilhete malcriado, dizendo que nunca tinham entrado numa casa onde não tivesse ao menos um par de sapatos para levarem, ou alguma bebida, ou mesmo um pacote de bolacha. Na minha só tinha lixo e coisa usada. Muito ofensiva esta observação, afinal de contas, se uma faca velha é lixo para quem tem muitas novas, para quem não tem nenhuma, é um luxo. E ainda xingaram minha pobre mãe por ter posto um bosta no mundo que não serve nem para ser roubado.
domingo, 11 de março de 2012
De volta
Por aí andei sem destino, sem nada procurar de significativo, mas encontrei pouca coisa útil ou boa, afora, é claro, a sempre onipresente merda diária – uma guerra aqui, uma chacina mais à frente, alguns estupros e muita extorsão de todos em toda parte, na rua, na família, na igreja, além, também, de muita dívida. Não me espantaram tanto os vícios, o que até considero normal, mas a ausência completa de virtudes. Por toda parte onde andei, a boa vontade é algo que se abate do imposto de renda; o trabalho voluntário dá mais fama e dinheiro para quem o realiza, do que realiza algum tipo de altruísmo com o suposto beneficiário, quando não o lança candidato a alguma mamata política; os heróis são artistas deslumbrados, esportistas desvairados ou simplesmente ricos; e as desgraças de uns ou de muitos acarreta na riqueza de outros, que a doença dá lucro e que a morte é um negócio. Enfim, sem pouco sair de casa e após muito tempo sem andar por aí, descobri que as coisas pouco ou mesmo nada mudam, apenas troca-se de desgraças nas manchetes dos jornais. Cada vez mais me convenço que meu pequeno mundo é melhor que o mundo exterior, pois se não realizo grande coisa, tão pouco cometo grandes cagadas; se não salvo o mundo, também não participo de seu afundamento no excremento diário. Naturalmente, enquanto alento tiver e não estiver completamente mergulhado na merda humana, que cedo ou tarde nos sufocará a todos, bradarei aos quatro cantos, ou pelo menos na internet, o que hoje em dia dá no mesmo, que a salvação do mundo, se tiver, depende de cada um salvar a si, e estarão salvando a todos, ou pelo menos aliviando o mundo do traste que se é sem que se saiba. O primeiro passo para a evolução é se descobrir, não como primata, mas como parasita.....
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
Ortodoxia inconsistente
Nada mais insustentável que a idéia de sustentabilidade. Pressupõe um equilíbrio natural que não existe nem ao menos no desequilibrado do homem, que toda vez que busca algum equilíbrio, apenas desequilibra as idéias de si mesmo. A natureza que desconhece qualquer equilíbrio, que extingue e cria espécie segundo sua necessidade intrínseca, que longe estamos de saber qual seja, não espera que cumpramos nem ao menos com as supostas leis naturais que enunciamos sobre o mundo. Expectativas são coisas tipicamente humanas, e não poucas vezes, bastante desumanas, querendo um homem que não se pode ser. O problema da idéia da sustentabilidade é que ela quer ser uma descrição de uma realidade, quando na verdade ela, antes, contém uma proposta para uma efetividade que depende da concordância dos homens, coisa bastante insustentável. Pelo menos, até o momento.
Aniversário dessa evacuação
Há exato um ano iniciava essa trajetória de evacuadas aqui depositadas para os odores mais refinados. Poucos resistem ao excremento diário que se sente por onde se passa e que teimo em denunciar, portanto, poucos acompanham esse caminhar. Mas, aqueles poucos que resistiram heroicamente a toda fedentina exposta, perceberam como estava exato nas minhas análises, como captei primorosamente a cagada humana, como despretensiosamente enunciei verdades elementares, sem almejar cargos, poder ou dinheiro, senão, talvez, o prazer de despertar a atenção para aquilo que passa despercebido, que parece desaparecer ao apertar a descarga da privada nossa de cada dia: o coco diário! Ora, o coco que desaparece aparentemente inocente de sua privada, pode brotar retumbante, muitas vezes, poucos metros mais adiante, nas baixadas. Assim, após um ano falando merda, de merda e a respeito das merdas humanas, só posso dizer que minha grandiosa missão continua firme e forte (mesmo porque as cagadas não cessaram ou parecem estar caminhando para cessar), não com o intuito de ser algum tipo de papel higiênico para limpar tantas cagadas, mas antes para ser algum tipo de arauto da função de adubo que toda merda pode exercer com muita dignidade. O problema não está em cagar, pois que cagamos, mas não ver a cagada, e, não poucas vezes, ainda derrapar na mesma e se esborrachar no chão. E a tragédia é não ver a própria fedentina e ficar atento apenas a fedentina alheia.
Saudações excrementais!
Saudações excrementais!
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
Da série pensamentos evacuados
Tudo acaba em adubo ou entulho, seja porque faz crescer alguma coisa dentro da gente, seja porque atrapalha o crescimento de qualquer coisa.
Assinar:
Postagens (Atom)